Entendendo

a Bíblia

Parte1. Uma introdução

Bispo Alexander ( Mileant)

Tradução: Dra. Rosita Diamantopoulos

 

 

Conteúdo:

Porque as Sagradas Escrituras nos são tão importantes.

Entendendo as Sagradas Escrituras.

A inspiração da Bíblia.

Linguagens da escritura

A história do aparecimento da Bíblia.

O Antigo Testamento contém os seguintes livros: O Novo Testamento. O Cânon do Novo Testamento. Outros livros?

Traduções da Bíblia.

A tradução grega por 70 intérpretes ( Septuaginta). A tradução Latina (Vulgata). A tradução Eslava. Tradução Russa. Outras traduções da Bíblia.

Conclusão.

Como ler a Bíblia.

(Pelo Reverendo Justin Popovich). O conteúdo da Bíblia. A beleza da Bíblia. Preparação pela oração. Sementes em nossas almas. Palavras do mundo. A Palavra cheia de Graça. A palavra que dá o renascimento.

 

 

 

Porque as Sagradas Escrituras

nos são tão importantes.

O objetivo deste e de outros folhetos seguintes sobre a Bíblia é fornecer ao leitor Ortodoxo quando e por quem os livros da Sagrada Escritura foram escritos, bem como explicar brevemente os seus conteúdos.

A Sagrada Escritura é importante ao fiel Ortodoxo porque ela contém a base da nossa fé.A despeito disto, temos conhecimento de que, enquanto muitos cristãos de diferentes denominações estão estudando ardentemente a Bíblia, os Cristãos Ortodoxos – com algumas exceções à parte- raramente a lêem, especialmente o Antigo Testamento. Naturalmente, desde que milhares de anos nos separam dos tempos que os livros sagrados foram escritos, é difícil para o leitor contemporâneo transporta-se para aquele ambiente. No entanto, uma vez que o leitor começa a familiarizar-se com o contexto histórico da era e com as peculiaridades da linguagem bíblica, ele iniciará a apreciar a sua riqueza espiritual.A conexão entre os Antigos e os Novos Livros se tornará mais evidente ao leitor e, ao mesmo tempo, questões morais e religiosas concernentes ao leitor e à sociedade moderna como um todo se tornará aparente não como problemas específicos de nosso século, mas como um conflito sem fim entre o bem e o mal, entre a fé e a descrença , algo que sempre atribulou a sociedade..

As páginas históricas da bíblia também nos são importantes porque não apenas descrevem verdadeiramente os eventos do passado, mas os colocam em uma perspectiva religiosa. Dessa forma, não há livro leigo-antigo ou contemporâneo-que possa comparar-se à Bíblia.Isto se dá porque a estimativa dos eventos descritos na Bíblia foi dada por Deus e não pelo homem. Portanto, à luz da palavra de Deus, erros ou resoluções corretas de problemas morais de gerações passadas nos servem de guias na resolução de problemas contemporâneos de ambos os níveis, social e pessoal. Familiarizando-se com a substância e o significado dos Livros Sagrados, o leitor irá amá-los gradualmente, e com as leituras repetidas aflorarão novas pedras preciosas da Sabedoria Divina.

Conseqüentemente, a Sagrada Escritura é um estudo para toda a vida-não apenas para os jovens, mas para o maior dos Teólogos; não apenas para os leigos ou para os recém-convertidos, mas para a maior espiritualmentente casta eclesiástica e para os homens mais sábios. O Senhor deixa o seu legado a Josué, líder dos israelitas e discípulo de Moisés: "Este livro da Lei não se afastará da tua boca, mas deve ser meditado murmuradamente por ti noite e dia" (Josué 1:8) enquanto o Apóstolo Paulo escreve a seu estudante Timóteo "desde a mais tenra infância eles devem saber as Sagradas Escrituras, que são capazes de torná-los sábios e dignos da salvação" (2 Tim 3:15).

Por mais de quatrocentos anos a Bíblia foi o livro mais vendido no mundo. Um autor desconhecido sumarizou isto quando escreveu, há muitos anos "Este livro contém a mente de Deus, o estado do homem, a condenação dos pecadores e a alegria dos fiéis... Leiam-no para serem sábios; acreditem nele para serem salvos; e pratiquem o que está escrito nele para serem santos. Ele contém a luz direcionada a você, comida para suportá-lo e conforto para alegrá-lo. Cristo é o seu grande objeto; o nosso bem, o seu objetivo e a glória de Deus o seu fim."

Dentre todos os livros publicados, a Bíblia permanece única. Disponível em todas as línguas em, pelo menos, 97 por cento da população mundial, a Bíblia Sagrada inteira foi publicada em 237 línguas e partes dela aparecem em mais de 1250 linguagens e dialetos. Até os cegos podem ler a Bíblia em Braille.A Bíblia é a publicação universal mais disponível em toda a história da humanidade.

Grande parte da cultura ocidental é derivada da mensagem da Bíblia.A visão ocidental de encarar a realidade, a natureza e o destino do homem, o casamento e a família, a organização da sociedade e da Igreja como estandartes da moralidade pessoal foram todos tirados de exemplos bíblicos. Na maior parte das nações ocidentais a lei civil é baseada primeiramente nos 10 Mandamentos do Antigo Testamento. A personalidade humana é de supremo valor, dizemos, porque o homem foi criado à Imagem e Semelhança de Deus, um ensinamento direto da Bíblia.O senso de dignidade e valor do homem é enraizado nos ensinamentos da Bíblia de que o homem tem uma alma imortal e um destino eterno. A prontidão em curar os doentes, alimentar os famintos, vestir os que não tem roupas e dar aqueles que não o tem vem da mensagem bíblica de que Deus ama toda a raça humana e todos os homens são irmãos.O objetivo de uma sociedade mais perfeita para a qual cada ocidental esforça-se vem do conceito Bíblico do Reino de Deus. A filosofia pública das sociedades democráticas deriva da verdade Bíblica que cada indivíduo tem um valor supremo, e dele se espera colocar as necessidades comuns dos outros acima dos seus próprios desejos.

 

Entendendo as Sagradas Escrituras.

As Sagradas Escrituras da Bíblia são uma coleção de livros que acreditamos terem sido escritas pelos Profetas e pelos Apóstolos, inspiradas pelo Espírito Santo. A palavra "Bíblia" , em grego, signfica "livros."

Se deseja realmente apreciar qualquer livro da Bíblia, o fiel precisa conhecer o seu tema e o propósito que guiou a sua escrita. A Bíblia é a palavra de Deus escrita. É um registro das ações de Deus com o homem, revelando como Deus agiu e como o homem respondeu. É um livro que contém, na verdade, uma biblioteca de vários livros, produto não apenas de um período e lugar, mas de muitas mentes e de muitas épocas. Não é um livro científico; é um livro religioso, supremo em sua moral e ética. Ele assegura a sua posição de honra e autoridade máximas dentro da Igreja na medida que aponta para a vontade de Deus e as formas com que Ele as executa.Um antigo Pai da Igreja escreveu "Deus não se transformou em palavras, Ele se tornou carne" Nós reverenciamos e acreditamos no Livro, mas adoramos o Deus que por ele se tornou conhecido.

A Bíblia é um livro para a fé religiosa. O Deus da Bíblia é o Deus da criação. Ela inicia dizendo "E no começo Deus..." Ele é a causa principal, a fonte de tudo o que se seguiu. Ele deu forma ao que não existia e luz à escuridão e, finalmente, ele criou a vida. O Homem é visto nas páginas da Bíblia ora andando com Deus ora não, uma vez em que foi criado com a liberdade da escolha moral ele pode fazer o bem ou o mal.Ele vive em um universo de leis tão inexoráveis quanto as leis da natureza. Mentir, trair, cobiçar é destruir a sua personalidade exatamente como alguém que toma um veneno para destruir o seu corpo físico.Deixe o homem violar as leis morais universais e o castigo o esperará. A Bíblia torna isso bem claro.

Mas a Bíblia diz algo mais.O tema central da Bíblia baseia-se no fato de uma vez que o homem não pode livrar-se a si mesmo, nem guardar as Leis de Deus por esforço próprio, Deus agiu para ajudá-lo.Deus entrou na história para salvá-lo, porque a Bíblia também é a história da redenção do homem. Deus deu o "seu único filho" porque Ele amou os homens e queria que eles tivessem a vida em plenitude, que pertencia à criação perfeita a qual Ele já tinha proposto aos mesmos no início. Deus não criou o homem e depois o abandonou. Ele entrou na vida do homem. A vida e a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é o tema central de toda a história bíblica, o propósito principal pelo qual ela foi escrita.

A Bíblia tem uma história, a da revelação de Deus à humanidade e a resposta dela a isto. O Antigo Testamento relata um povo unido por um pacto em uma comunidade de fé, a Antiga Israel, dirigindo-se a um novo e melhor lugar no tempo, algumas vezes obediente outras vezes desobediente a Deus, que sempre se esforçou para revelar-se. Ele falou por seus profetas, através dos santos, visionários e juízes e através de todos os eventos da história até o tempo em que disse "a plenitude virá quanto tudo nos céus e na terra deverão ser unificados em Cristo" (Efs 1:10) como escreveu Paulo "e a Palavra se tornou carne e habitou entre nós" (Jo 1:14) como escreveu João.Deus falou da Palavra viva em termos que a humanidade pudesse compreender " o caminho, a verdade e a vida" em uma Pessoa. O Novo Testamento continua o tema com o povo em um novo pacto, a nova Israel de Deus, o Corpo de Cristo, a Igreja das testemunhas através da história.Aqui o Livro fala da peregrinação do homem através e pelo tempo, aprendendo a conhecer a Deus, a discernir a Sua vontade e fazê-la, morando em comunidades de fé, sempre voltadas para o reino vindouro, a Lei do amor e o governante que será o Deus transcendente na consumação final da história.

Mas o maior tema da Sagrada Escritura é a Salvação da humanidade pelo Messias, o filho encarnado de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. O Antigo Testamento proclama a salvação em forma de símbolos e profecias sobre Messias e o reino dos Céus. O Novo Testamento anuncia a verdadeira realização de nossa salvação através da encarnação, vida e ensinamentos do Deus-homem, selados com sua morte e Ressurreição. Dependendo do tempo em que foram escritas, as Sagradas Escrituras são agrupadas no Antigo e no Novo Testamentos. O primeiro contém o Senhor revelado ao mundo através da palavra inspirada dos profetas antes da aparição de Cristo na Terra e o segundo grupo descreve o que foi ensinado pelo próprio Salvador e por seus apóstolos.

A inspiração da Bíblia.

Nós acreditamos que os profetas e os Apóstolos não escreveram através de seu próprio intelecto humano, mas através da inspiração de Deus. Ele purificou suas almas, iluminou sua razão e revelou a eles mistérios da fé e do futuro, normalmente inacessíveis à mente humana. É por isso que seus escritos são divinamente inspirados. "Pois nunca uma Profecia foi proferida pela palavra humana, mas os santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" ( 2 Pe 1:21).

O apóstolo Paulo também chama as Escrituras de divinamente inspiradas em 2 Tim 3:16. Em relação à importância das Sagradas Escrituras, Jesus disse "até que passem o céu e a terra, nem um i nem um ponto do i serão retirados até que a lei seja cumprida" (Mat 5:18). Moisés e Aarão são exemplos da revelação de Deus aos profetas. Deus mandou a um Moisés muito reticente um intermediário, o seu irmão Aarão. Já que não tinha o talento da oratória, a confusão de Moisés sobre como ele iria expor a vontade de Deus às pessoas foi respondida pelo Senhor "Moisés falará através de Aarão e colocará palavras em sua boca e ensinará o que vocês devem fazer. Eu estou com a sua boca e lhe direi o que fazer. Ele falará ao povo em teu lugar, ele será a tua boca e Eu serei o teu Deus."(Ex 4:15-16).

Enquanto acreditamos nas qualidades divinamente inspiradas da Bíblia, devemos lembrar que ela é o Livro da Igreja. De acordo com o plano de Deus, as pessoas são chamadas para servir não para salvar a si mesmas em uma base individual, mas em uma sociedade em que Ele guia e trabalha. Esta sociedade é chamada de Igreja. Pela definição histórica, a Igreja é dividida em Antigo Testamento, governada pelo povo judeu, e Novo Testamento, ao qual pertence a Igreja Ortodoxa.

O Novo Testamento herdou a riqueza espiritual do Antigo Testamento, denominado a palavra de Deus. A Igreja não apenas preservou a palavra de Deus, mas reteve o seu entendimento correto. Justamente porque o Espírito Santo falou através dos profetas e dos Apóstolos, Ele continua a viver na Igreja e a guiá-la. Conseqüentemente, a Igreja nos dá as diretrizes corretas para a aplicação dos seus valores escritos: o que é mais atual e importante e aquelas passagens que retém um significado histórico, mas não são relevantes para os tempos modernos.

Linguagens da escritura

Inicialmente, os livros do Antigo Testamento eram escritos na língua dos Judeus. Mais tarde , livros da Era Babilônica continham muitas frases assírias e babilônicas enquanto que os livros "deuterocanônicos"– com exceção do terceiro livro de Esdras que está em latim- foram escritos em grego.

Os livros da Sagrada Escritura não deixavam as mãos dos seus santos autores no formato que os vemos agora. Eles eram inicialmente escritos em pergaminhos ou papiros (uma haste de papel que se disseminou prolificamente no Egito e em Israel) usando um bambu com a ponta afiada que era embebida em tinta. Com efeito, o que era escrito não eram livros, mas papiros ou pergaminhos que pareciam muito longos, apertados em uma haste de madeira. Esses rolos eram escritos apenas de um lado, conseqüentemente, para serem manuseáveis, ao invés de ajuntar todos em grandes rolos, eles foram organizados no formato de livros.

O texto original destes rolos era escrito em letras maiúsculas sem espaços entre as palavras então as frases pareciam-se com uma só palavra. O leitor tinha de dividir a sentença em palavras , e ocasionalmente isto originava erros. Ao mesmo tempo, estes manuscritos antigos não continham vírgulas ou qualquer pontuação, bem como a antiga língua judaica, que não utilizava vogais, apenas consoantes.

No quinto século, a divisão das sentenças em palavras foi feita pelo Diácono Eulálio, da Igreja de Alexandria. Vagarosamente, mas com segurança, a Bíblia começou a tomar o seu formato atual. Devido à divisão contemporânea em capítulos e versículos, a leitura e a localização de passagens específicas tornou-se algo fácil.

 

A história do aparecimento da Bíblia.

Os livros sagrados não foram escritos subitamente. O tempo entre Moisés (1450 A.C.) e Samuel ( 1050 A. C.) podem ser chamados de anos de formação da escritura.Inspirado por Deus, Moisés escreveu suas revelações, leis e narrações, decretando aos levitas que carregavam a arca com os Mandamentos de Deus "Levem este livro da Lei e coloquem-no ao lado da arca do Pacto do Senhor nosso Deus" ( Deutrn 31:26). Os autores sucessores continuaram a escrever os seus livros requisitando especificamente que eles fossem incluídos aos cinco livros de Moisés, como em um único livro.Por exemplo, em Josué 24: 26 lemos " e Josué escreveu essas palavras no Livro da Lei," isto é, no livro de Moisés. Similarmente de Samuel, o profeta e juiz que viveu no começo do período dos reis,foi escrito "Samuel explicou ao povo o comportamento da realeza e escreveu-o em um livro , que depositou diante do Senhor" (1 Sam 10:25), isto é, no lado da arca onde os outros livros de Moisés eram guardados. Durante o tempo de Samuel e a servidão babilônica (589 A.C.), os anciãos israelitas e os profetas agiram como guardiões dos livros sagrados do Antigo Testamento. No livro das Crônicas, os profetas eram sempre mencionados como os autores principais dos escritos Judeus, mas deve-se observar uma notável testemunha da história judaica, Flavius Josefius, que aponta para a prática dos antigos judeus de reexaminar o texto das Escrituras sagradas depois de várias tribulações, por exemplo, uma guerra prolongada.Isto algumas vezes resulta no que parecia a emergência de novos Escritos Sagrados, que poderiam ser produzidos pela inspiração de Deus aos profetas com o seu conhecimento dos eventos antigos e sua habilidade de recordar a história de seu povo com notável acurácia. É de interesse observar que a história Judaica relembra seu piedoso rei Ezequiel (710 A.C.), junto com outros anciãos, produzindo um livro que continha palavras de Isaías, dos Provérbios, do Cântico dos Cânticos e do Eclesiastes. O período entre a dominação babilônica e a Grande Sinagoga de Esdras e Neemias (400 A.C.) aparece como o estágio conclusivo dos "livros canônicos"do Antigo Testamento.O protagonista principal é o príncipe Esdras, em seu enorme esforço para o ensino das leis de Deus (Esdras 7:12). Em colaboração com Neemias, conhecido por sua biblioteca, Esdras reuniu "Relatos nos escritos e comentários de Neemias e como, ao encontrarmos a sua biblioteca, juntamos os atos dos reis, dos profetas , de Davi e as epístolas dos reis sobre as dádivas divinas (2Mac. 2:13)" .Ele examinou cuidadosamente todas as escrituras divinamente inspiradas e publicou-as em um único arranjo, incluindo o livro de Neemias como seu, com o seu nome próprio.Os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias vivam em sua era e, indubitavelmente, o ajudaram em seu esforço, tendo os seus livros incluídos nas escrituras. Depois de Esdras, o povo judeu não recebeu nenhum profeta inspirado por Deus e todas os livros a partir deste ponto não foram considerados santos. Por exemplo, o livro de Jesus filho de Siraque, que também foi escrito na língua dos judeus e considerado significativo pela Igreja não faz parte do Cânon Sagrado.

O conteúdo dos livros sagrados do Antigo Testamento prova os seus inícios antigos. Nos livros de Moisés é descrito claramente o modo de vida daqueles dias e a estrutura patriarcal da sociedade, que correspondem com exatidão a tradições antigas dessas pessoas, fazendo com que o leitor sinta que o autor realmente estava presente naquele tempo.

A análise dos especialistas em língua judaica confirma que o estilo literário desses livros é extremamente antigo: os meses não tem nomes e são referidos somente como números, como primeiro, segundo, etc e os próprios livros não têm identificação individual em suas palavras iniciais , como por exemplo BERESHIT ("no começo-Gênesis), WE ELLEH SHE’MOT ( " e esses são os nomes"- Êxodo), provando que uma vez que não havia outros escritos em sua existência, não havia necessidade de identificar os livros pelo nome. Depois de Moisés, os escritos subseqüentes dos pais sagrados carregam características correspondentes ao espírito e às pessoas daqueles tempo antigos.

O Antigo Testamento contém os seguintes livros:

Cinco livros do Profeta Moisés do Tora (compreendendo a fundação da fé do Antigo testamento): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Livros Históricos: Livro de Josué, Livro dos Juízes, Livro de Ruth, Primeiro e Segundo Livros de Samuel, Reis e Crônicas, Primeiro Livro de Esdras, Livro de Neemias e o Segundo Livro de Ester.

Livros Educativos (com conteúdo instrutivo): Livro de Jô, Salmos, Provérbios, Livro do Eclisiastes e Livro das Canções de Salomão.

Livros Proféticos (com conteúdo primariamente profético): um livro de cada um dos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e doze livros dos profetas menores Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Ezequiel, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Os nomes da lista de livros sagrados acima citados foram tirados das traduções do 70 intérpretes gregos (Septuagintas). Os Judeus e algumas modernas tradições da Bíblia os tratam com nomes diferentes.

Além da lista de livros do Antigo Testamento, a Bíblia contém outros nove livros denominados "deuterocanônicos," os livros de Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Jesus Filho de Siraque, Segundo e Terceiro livros de Esdras e os três livros dos Macabeus, que foram escritos depois da lista de livros "canônicos" foi completada por Esdras. Esses livros sempre foram respeitados pela Igreja Primitiva. De fato, a Bíblia Grega conhecida como Septuaginta, usada pelos Apóstolos e pelos primeiros Pais da Igreja, não distingue entre os livros "canônicos" e os "deuterocanônicos." Na versão russa da Bíblia, que segue a Tradição Cristã Primitiva, estão ambos os grupos de livros e algumas versões modernas excluem os "deuterocanônicos."

O Novo Testamento.

A Igreja nasceu no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos (Atos 2). Naquele tempo ainda não existiam os livros do Novo Testamento e nos primeiros anos de sua existência a Igreja não continha nenhum livro escrito, com exceção dos livros do Antigo Testamento, descritos anteriormente. Os acontecimentos do Evangelho foram relatados de um fiel para outro pela palavra falada, a fim de preservar a cultura na qual a Igreja vivia, que era uma cultura oral. Relativamente poucas pessoas sabiam ler e menos ainda escrever, então elas escutavam a Palavra de Deus e a guardavam (conforme Lucas 8: 21; 11:28). O Santo Apóstolo Paulo insiste nesse assunto: "Uma vez inspirados, permaneçam firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas por nossas palavras ou por nossas cartas" (2 Ts 2:15) .

Em seu curso, no momento propício, quando a Igreja começou a sua propagação além do local de origem em Jerusalém e na Galiléia, as comunicações entre as Igrejas locais tornaram-se necessárias e eram escritas cartas. Algumas delas foram tão importantes para o entendimento de Fé que passaram a ser lidas nos serviços litúrgicos, juntamente com as escrituras (Antigo Testamento). As cópias existiam inicialmente apenas nas Igrejas locais a quem tinham sido endereçadas; viajantes movimentavam-se de um lugar ao outro e portavam cópias escritas à mão dessas cartas para a edificação de outros fiéis. Algumas dessas cartas foram escritas pelos Apóstolos, mas existiam outras, escritas também por outros fiéis. Eventualmente, algumas delas tinham a característica conhecida como "cartas abertas," endereçadas à Igreja como um todo antes do que a uma congregação em particular. Estas são as epístolas "universais," "católicas" ou "gerais."

Com a disseminação da Igreja, tornou-se necessário entregar a essência dos eventos da vida de Nosso Senhor e de Seu ensino à palavra escrita, providenciando um Evangelho escrito para aqueles que abraçavam a fé em lugares distantes daqueles em que o Senhor viveu e morreu e assim nasceram os quatro Evangelhos escritos. Porém, isso aconteceu após o Evangelho ter sido proclamo e foi passado de um fiel para o outro através da palavra falada pela tradição, durante muitos anos. É prontamente aparente, à comparação, que nenhum dos Evangelhos escritos contém a história completa. Também importante talvez mais, é que os quatros juntos são menos do que a totalidade da Tradição da qual fazem parte. Como o Evangelho de São João conclui: "e há muitas outras coisas que Jesus fez, e se todas elas fossem escritas, eu suponho que o mundo inteiro não poderia conter os livros que teriam sido escritos" (Jo 21: 25).

Certamente, tudo que é essencial a ser ensinado sobre a vida do senhor deve ser encontrado nos Evangelhos- mas nem tudo o que é desejável ou útil para a nossa salvação. Nenhum e nem os quatro Evangelhos juntos foram escritos para esgotarem o assunto e serem definitivos; se este fosse o caso, é lógico, não teríamos necessidade do restante do Novo Testamento ou mesmo do Antigo Testamento (houve heréticos que proclamaram justamente essas tolices).

A Revelação de São João o Teólogo (ou o "Apocalipse") e os Atos dos Apóstolos são casos especiais. O primeiro, quase certamente o último livro do Novo Testamento a ser escrito, é visto por muitos estudiosos como tendo sido escrito por São João perto do final de sua vida, durante o reino de Domeciano, provavelmente em 95 D.C. ( embora partes dele possam ter sido escritos em uma data anterior). Ele é o único livro do Novo Testamento preocupado com discordâncias significativas na Igreja. Ele não foi aceito em algumas Igrejas dos primeiros séculos como parte das Escrituras. Os Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas não foi completado antes de 63 D.C. , uma vez que relata a prisão de Paulo em Roma que deu-se nesse ano.

 

O Cânon do Novo Testamento.

A mais antiga lista de livros que aparentemente foi reunida como "Escritura" na história da Igreja data de 130 D.C. e é conhecida como Cânon Muratoriano. Porções desse trabalho foram perdidas, mas ele aparentemente inclui os quatro Evangelhos, a maioria das Epístolas de São Paulo bem como vários outros livros, mas dúvidas existem sobre a Epístola aos Hebreus, a Epístola aos Judeus, a Segunda Epístola de Pedro a Segunda e Terceira Epístolas de João e o Apocalipse ( este último foi finalmente aprovado no Concílio que confirmou o cânon). Como visto anteriormente, em algumas Igrejas esses livros não eram reconhecidos ou aceitos como pertencentes ao Novo Testamento.

Apenas depois de 369 D.C., quando viveu São Atanásio, podemos encontrar a lista do conteúdo do Novo Testamento, correspondente àquela que aceitamos atualmente. Por 336 anos a Igreja viveu, cresceu e se desenvolveu guiada pelo Espírito Santo e apenas quando foi possível ( mesmo que isso não seja universalmente aceito) imprimir a "Bíblia Sagrada" é que ela foi conhecida e aceita como tal. Isto compreende um período de quase quatro décadas depois do Concílio de Nicéia, depois que o "Creio" foi escrito, depois de que a Igreja foi finalmente corrompida por São Constantino (como acreditam muitos protestantes). A nossa forma de celebração litúrgica foi bem definida e é similar à forma Ortodoxa atual (um fato definitivamente estabelecido de acordo com documentos históricos indisputáveis), de forma que se um fiel daquela época fosse transportado aos nossos dias se sentiria perfeitamente familiarizado a ela.

No entanto, apenas cinco anos antes, a Epístola de São Atanásio e o Concílio de Laodicéia (dos quais os cânones foram confirmados pelo sexto Concílio Ecumênico) promulgaram uma lista idêntica de Livros do Novo Testamento, com exceção de não incluírem o Apocalipse (Revelação) entre os "livros que poderiam ser lidos." Isso se deu apenas um pouco de tempo antes que houvesse uma concordância universal sobre quais eram os livros do Novo Testamento e mil anos antes do aparecimento de um livro idêntico ao que hoje chamados de Bíblia.

Outros livros?

A figura que temos mostra uma literatura cristã florescendo depois de 70 anos do início da vida da Igreja e alguns dos livros eram conhecidos apenas nas Igrejas locais, enquanto outros ganhavam, rapidamente, uma audiência mais disseminada. O que era considerado "escritura" em uma Igreja local em particular era proveniente das leituras litúrgicas locais, juntamente com os livros da Lei e os Profetas e os Salmos, do Antigo Testamento. Mas ainda não consideramos que nesse clima rico em tradição oral e em livros que falavam sobre a salvação havia outros livros, de fato muitos, alguns escritos no mesmo tempo daqueles no Novo testamento ou logo depois. Alguns desses livros podem realmente ter sido escritos pelos Apóstolos (por exemplo, a Epístola de Barnabás e as Constituições Apostólicas) , outros podem ter sido escritos por membros da Igreja Cristã Primitiva ou por sucessores imediatos dos Apóstolos no governo da Igreja (por exemplo o Livro de Hermes, as Epístolas de São Clemente, São Ignácio e São Policarpo). Alguns desses livros eram considerados como "escrituras" em certas Igrejas, associados aos livros do Novo Testamento e aos Evangelhos como os conhecemos hoje. Eles não devem ser confundidos, no entanto, com os livros não autênticos escritos posteriormente, no segundo e terceiro séculos, por vários heréticos, que atribuíam suas falsificações aos Apóstolos em uma tentativa de afirmar seus ensinos – como o "Evangelho de Tomás, "O Evangelho Essênio da Paz"e vários outros.

Uma coisa é certa: a Bíblia é um livro difícil, mesmo de falar, selado, com sete selos (ver Rev 5: 1) mas não porque foi escrita em alguma linguagem desconhecida ou código. Podemos, de fato, atrevermo-nos a dizer que a grande dificuldade da Bíblia é a sua magnificente clareza e objetividade.

Os mistérios de Deus nos são dados no contexto de nossas vidas diárias comuns. Pode ser que, de fato, toda a história da nossa salvação pareça muito humana-justamente como Jesus Cristo, Nosso Senhor, Deus Encarnado, que tem a aparência de um homem comum, o filho de um carpinteiro. A Bíblia preserva e nos transmite a Palavra de Deus em uma forma que os humanos podem compreender. Quando Deus fala ao homem, a comunicação deve ser feita em uma forma que possa ser ouvida e entendida. A inspiração Divina não exclui o que é humano, mas transfigura o que é humano. Não devemos pensar que a linguagem humana degrada ou obscurece a glória da revelação nem que ela restringe o poder da Palavra de Deus, ao invés devemos acreditar que as palavras humanas podem ser usadas adequadamente como convém ao Senhor transmitir-nos a Sua Palavra. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gen 1:27; 5:1; 9:6) e isto torna essa comunicação possível. A afirmação de que as nossa forma de expressão do pensamento e da fala permite que Deus fale conosco engrandece a nossa linguagem.

A Teologia (literalmente, "palavras sobre Deus") é possível através da Sua revelação e é a nossa resposta a Deus, que primeiramente nos falou, de quem ouvimos e do qual recordamos as palavras que agora proclamamos. Esse processo nunca é completo, porque nunca seremos perfeitos no desenvolvimento de nossa Teologia, devemos continuar trabalhando nisso. Sempre voltamos ao ponto inicial, a Palavra de Deus e as Sagradas Escrituras, que são a Sua revelação. Através das crenças e das doutrinas da Igreja, a Liturgia Eucarística e outras orações litúrgicas, os símbolos e os sinais sagrados e a Teologia em si (a verdadeira filosofia) testemunham o significado dessa revelação.

Devemos perceber, no entanto, que por outro lado as próprias Escrituras são uma resposta a Deus, ao mesmo tempo em que são a Palavra de Deus. A Bíblia é a Palavra de Deus trazida através da resposta fiel das pessoas que a escreveram e a deram a nós. De fato, em cada caso no qual alguém escrevesse sobre inspiração de Deus, trabalho destinado a se tornar parte da Bíblia, produzia-se um trabalho com uma característica daquela pessoa, uma resposta a Deus em interpretação da mensagem de Deus recebida por ela. Portanto, há certamente a concepção de que todas as partes da Escritura refletem o contexto em que foram concebidas e seria impossível não ser assim.

Tendo recebido a revelação em forma de Escrituras a Igreja, através de sua experiência secular, achou necessário conceber algumas explicações as quais, vistas como um todo, formam a estrutura e padrão de crenças que podem ser encontradas nos Concílios Ecumênicos e também nos escritos de grandes teólogos da Igreja como São Gregório (chamado de "o Teológo"), São Basílio o Grande, São João de Damasco, São Simeão o Novo Teólogo e outros. Elas também podem ser encontradas nos serviços litúrgicos, especialmente nos canções e nas orações.

 

Traduções da Bíblia.

A tradução grega por 70 intérpretes ( Septuaginta).

A tradução de maior acurácia do texto original da Bíblia Sagrada pode ser encontrada na versão Alexandrina, conhecida como aquela que foi produzida por 70 intérpretes. Este esforço iniciou no ano 271 A.C. por ordem do Rei Ptolomeu Filadéldio. Renomado por sua sede de conhecimento, o rei queria adquirir os livros da lei judaica para a sua biblioteca e destinou o seu bibliotecário Demétrio para obter a sua tradução em grego, a língua mais propagada daquele tempo.Seis dos mais talentosos representantes de cada tribo de Israel foram selecionados e trazidos a Alexandria, levando com eles a réplica exata da Bíblia Judaica. Esses tradutores ficaram na ilha de Faros, perto da capital e concluíram sua tarefa em um curto período de tempo. É essa tradução dos livros sagrados pelos "setenta" que é usada pela Igreja Ortodoxa.

A tradução Latina (Vulgata).

Em torno do século quatro de nossa era, dentre as várias traduções Latinas da Bíblia, a versão traduzida para o Latin Antigo (a Ítala) tornou-se a mais popular porque foi baseada no conteúdo original dos 70 tradutores, refletindo com clareza inalterada e excepcional conformidade ao texto sagrado. Contudo, depois que São Jerônimo, um dos mais conhecidos pais da Igreja do século quatro, publicou a sua tradução das Sagradas Escrituras no ano 384 D.C. (baseado nos escritos judeus autênticos) , a Igreja Ocidental lenta mas certamente começou a abandonar a versão original em Itala em favor de sua interpretação. No século quatorze, o Concílio de Trento estabeleceu a versão de São Jerônimo como a Sagrada Escritura oficial (intitulada Vulgata, que significa "edição popular") da Igreja Católica Romana.

A tradução Eslava.

No século nove, o príncipe Rostilav, não satisfeito com o trabalho dos missionários alemães, pediu ao rei grego Michel que mandasse a ele alguns instrutores competentes da Fé Cristã. Em resposta, o Rei Michel mandou-lhe dois irmãos tessalonicenses, os Santos Cirilo e Metódio, que acompanharam estudiosos da tradução da Sagrada Escritura para a língua eslava quando esta havia sido iniciada ainda na Grécia. No caminho para as terras eslavas, os dois santos permaneceram um tempo na Bulgária, não apenas continuando a sua tradução, mas também iluminando o país com a Palavra de Deus. Em 863 eles chegaram a Moravia, continuando a sua tradução bem como os seus esforços apostólicos em terras eslavas. Depois da morte de São Cirilo, São Metódio completou a tradução em Pannonia, para onde se mudou (devido a perturbações civis na Moravia) sob o Patronado do piedoso Príncipe Kotsella.

Tradução Russa.

Com a passagem do tempo, cresceram marcadamente as diferenças entre as línguas russa e eslava, trazendo grandes dificuldades na leitura da Sagrada Escritura. Em conseqüência, em 1815, por ordem do Imperador Alexandre I e com a bênção do Sagrado Sínodo Russo, a Sociedade Bíblica Russa iniciou a publicação do Novo Testamento na língua russa moderna. De todos os livros do Antigo Testamento apenas os Salmos foram traduzidos, porque este livro, antes de todos os outros, era grandemente usado nos Serviços da Igreja Ortodoxa. Subseqüentemente, durante o reinado de Alexandre II, em 1860, uma nova e mais acurada versão do Novo Testamento foi publicada, seguida da publicação dos livros "canônicos" do Antigo Testamento em 1868, que foi abençoada pelo Sagrado Sínodo no ano seguinte. Os livros da sabedoria receberam o mesmo tratamento em 1872.Enquanto isso, as traduções russas dos livros sagrados apareciam cada vez com mais freqüência nas revistas espirituais, por isso em torno de 1877 o texto completo da Bíblia poderia ser encontrado popularmente na língua russa. Contudo, nem todos simpatizavam com a tradução russa, preferindo a versão original da Igreja Eslava. Defensores vocais da versão russa incluíam iluminados notáveis como São Tikhon de Zandosk, o Metropolitano Filário de Moscou e, posteriormente, o Bispo Teofânio o Recluso, o Patriarca Tikhon e muitos destacados pastores da Igreja Russa.

Outras traduções da Bíblia.

Em 1160, a Bíblia foi traduzida para a língua francesa por Peter Valde. A primeira tradução em alemão apareceu em 1460, seguida de uma versão atualizada por Martinho Lutero em 1522-32. No século oito, Bede o Venerável foi a primeira pessoa a traduzir a Bíblia para o inglês. A versão inglesa "King James" foi produzida em 1603 durante o reinado de James I e publicada em 1611. Através dos anos, a Bíblia em russo foi traduzida em várias línguas indígenas. A Inocente Metropolita foi traduzida para línguas aleutianas enquanto a Academia de Kazan foi traduzida para muitas outras, inclusive o tártaro.As Sociedades Bíblicas Britânicas e Americanas foram as mais sucedidas em traduzir e difundir a Bíblia em muitas línguas.

Concluindo essas observações, deve ser notado que cada tradução tem suas vantagens e pontos fracos. Tentado traduzir o texto em um sentido literal, a interpretação sofre sob fracas ponderações e dificuldades no entendimento do texto original. Por outro lado, traduções que tentam comunicar o significado da Bíblia em sua forma mais compreensível e aceita freqüentemente sofrem distorções. A tradução do Sínodo Russo evita ambos esses extremos, contendo em linguagem simples a maior proximidade do texto original. Os padres orotodoxos preferem a versão "King James" dentre os textos ingleses disponíveis por razões similares.

Em nossos folhetos missionários da Bíblia, propusemos a sua publicação na seguinte ordem:

1 — Introdução

2 — Cinco livros de Moisés

3 — Livros Históricos do Antigo Testamento

4 — Livros de sabedoria do Antigo Testamento

5 — Livros dos profetas do Antigo Testamento

6 — Os quatro Evangelhos

7 — Os Atos dos Apóstolos e as Epístolas

8 — As Epístolas do Apóstolo Paulo

9 — A Revelação de São João (Apocalipse).

 

Conclusão.

Portanto a Bíblia tornou-se o que ela é, iniciou sua existência, no contexto da vida dinâmica da Igreja de Cristo, que teve sua origem em Pentecostes (embora seus primórdios, é claro, fossem encontrados nas Pessoas Escolhidas cuja história levava à encarnação do Filho de Deus).Foi a vida da Igreja através do primeiro século de sua existência que, guiada pelo Espírito Santo, originou os textos escritos que compreenderiam o Novo Testamento. E foi a continuidade da vida Eclesiástica por mais trezentos anos que definiu o conteúdo exato das Escrituras.

Portanto, é sem razão e mesmo perigoso discutir as Escrituras fora da vida da Igreja. Sabe-se que elas só existiram pela ação do Espírito Santo e da Igreja por um período de centenas de anos, obviamente o resto da experiência da Igreja durante os séculos é de vital importância para o seu entendimento.

E o que é esta "Igreja"? É a mesma Igreja fundada por Nosso Senhor, governada pelos Apóstolos nas primeiras décadas depois guiada e pastoreada por seus sucessores, os bispos. É a mesma Igreja que sofreu perseguições por centenas de anos e finalmente ficou livre sob o reinado de São Constantino, que guiado pelo Espírito Santo definiu o significado das Escrituras confrontando-as com diversas heresias. É a mesma Igreja sobre a qual os santos Concílios escreveram no Credo de Nicéia, resumindo a essência da Fé e das Escrituras, em quais esses mesmos concílios escreveram os Cânones com as recomendações para a vida diária, mesmo em nossos dias. É a mesma Igreja que nos ensina a venerar os santos e as suas relíquias. Inspirada pelo Espírito Santo, a Igreja aprendeu a celebrar a Santa Liturgia e a ceia do Senhor, com dignidade e esplendor, muito tempo antes que pudéssemos identificar uma concordância final sobre os conteúdos da Bíblia.

Somos forçados, ao confrontar os fatos com honestidade e integridade, a uma conclusão de que não podemos escapar: somente através da Igreja podemos acessar a Bíblia em sua plenitude e é a ela que devemos nos voltar para esse entendimento.

O enigma clássico "Quem vem primeiro, o ovo ou a galinha?’é muito para ser considerado aqui. Em tempo, deve ser aparente que a Igreja precede a Bíblia como coleção integral de livros, mais consideravelmente precedendo os livros do Novo Testamento. Portanto, é quase certo de que a Igreja criada pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes não tinha Bíblia como a conhecemos e não precisou dela para ser a verdadeira Igreja.

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Como ler a Bíblia.

Pelo Reverendo Justin Popovich.

A Bíblia reflete a biografia de Deus em Sua Palavra. As Escrituras Sagradas do Novo Testamento são a biografia do Deus Encarnado neste mundo.Nelas é relatado como Deus, ao revelar-se ao homem, mandou o Verbo, que se tornou homem em carne, e como homem contou quem é Deus e tudo o que Deus deseja desse mundo e das pessoas nele. O Verbo revelou o plano de Deus para o mundo bem como o seu amor para com o mundo. A Palavra de Deus falou aos homens com a limitação das palavras que não podem conter o Deus que não pode ser contido. Tudo o que é necessário para este mundo e para as pessoas nele já foi declarado na Bíblia. Nela estão as respostas para todas as questões que atormentam a alma humana, direta ou indiretamente. Os homens não podem arquitetar mais questões do que aquelas que já estão respondidas na Bíblia. Se você não encontrar respostas as suas questões na Bíblia, significa que a sua questão é insensata ou que você não leu a Bíblia e não terminou a leitura a fim de respondê-la.

O conteúdo da Bíblia.

Na Bíblia Deus nos faz conhecer:

1) O que o mundo é; de onde veio; por que existe; para onde se encaminha; como irá terminar;

2) O que o homem é; de onde ele veio; para onde ele vai; do que ele é feito; que seu propósito é como ele irá terminar;

3) O que são as plantas e os animais; qual o seu propósito; para que são usados;

4) O que é o bem; de onde ele vem; para onde ele leva; qual é o seu propósito; a que ele é ligado;

5) O que é o mal; de onde ele vem; como ele veio a existir; porque ele existe;como ele irá terminar;

6) O que são os justos e os pecadores; como um pecador se torna justo e com um justo arrogante se torna pecador; como um homem serve a Deus e como ele serve a satanás; toda a trajetória do bem para o mal, de Deus para satanás;

7) tudo- do começo ao fim; a trajetória completa do homem desde seu corpo até Deus, de sua concepção até a sua ressurreição dos mortos

8) O que é a história do mundo, a história do céu e da terra, a história da humanidade; qual a sua trajetória, propósito e fim.

A beleza da Bíblia.

Na Bíblia Deus disse tudo o que era absolutamente necessário ser dito para o homem. A biografia de cada homem- qualquer um, sem exceção- é encontrada na Bíblia. Nela, cada um de nós pode achar-se retratado e, portanto, descrito em detalhes; todas as virtudes e vícios que você pode e os que não pode ter. Você encontrará as trajetórias de sua própria alma e a jornada de cada um, dos pecadores aos sem pecado, e o caminho inteiro do homem para Deus e do homem para satanás e encontrará os meios para libertar-se do pecado.

Em resumo, você encontrará a história completa do pecado e da santidade e da justiça e dos justos.

Se você estiver de luto, encontrará consolação na Bíblia; se estiver triste, encontrará alegria; se estiver raivoso, tranqüilidade; se estiver cheio de desejos, continência; se for tolo ,sabedoria; se for mau, bondade; se for criminoso, justiça e misericórdia ; se odiar seu companheiro, amor. Nela você encontrará o remédio para todos os seus vícios e pontos fracos e sustento para todas as suas virtudes e qualidades. Se você for bom, a Bíblia o ensinará a se melhor; se for gentil, ela lhe ensinará a ternura angelical; se for inteligente, ela lhe ensinará sabedoria.

Se você aprecia a beleza e a música do estilo literário, não há nada mais bonito ou comovente do que o contido em Jó, Isaías, Salomão, Davi, João o Teólogo e o Apóstolo Paulo. Aqui a música-a música angelical da verdade eterna de Deus-é disposta em palavras humanas. Quanto mais alguém lê e estuda a Bíblia, mas ele encontra razões para estudá-la quão freqüentemente possa. De acordo com São

João Crisóstomo, ela é como uma raiz aromática, que produz cada vez mais aroma quanto mais é raspada.

Preparação pela oração.

Tão importante quanto o conhecimento de que devemos ler a Bíblia é o conhecimento de como devemos lê-la. Os melhores guias para isso são os Santos Pais da Igreja, encabeçados por São João Crisóstomo que, falando, escreveu um quinto Evangelho.Eles recomendam uma preparação séria antes de ler e estudar a Bíblia, mas, no que ela consiste? Antes de tudo, em oração. Reze para que Deus ilumine a sua mente, para que você possa entender as palavras da Bíblia, e que preencha o seu coração com a Sua Graça, para que você possa sentir a verdade e a vida dessas palavras. Esteja atento para o fato dessas serem as palavras de Deus, que Ele está dizendo pessoalmente para você.

A oração, juntamente com outras virtudes encontradas nos Evangelhos são a melhor preparação que uma pessoa pode ter para entender a Bíblia.

Como devemos ler a Bíblia,

Em oração e com reverência, já que em cada palavra há uma gota da verdade eterna e todas as palavras juntas formam o Oceano sem fundo da Verdade Eterna.

A Bíblia não é um livro, mas vida, porque suas palavras são vida espiritual (Jo 6:63). Portanto, suas palavras podem ser compreendidas se as estudamos com o espírito de seu espírito e com a vida de sua vida. É um livro que deve ser posto em prática: deve-se primeiramente vivê-lo e, então, entendê-lo.Aqui se aplicam as palavras do Salvador: "no entanto, é desejável fazê-lo, entenderemos que é o ensinamento de Deus" (Jo 7:17). Faça-o de modo a compreender; esta é regra fundamental da exégese Ortodoxa.

Primeiramente, tendemos a ler a Bíblia rapidamente, depois cada vez mais vagarosamente, até que, finalmente, começamos a lê-la palavra por palavra, porque em cada palavra descobrimos uma palavra perene e um mistério inefável.

A cada dia, leia ao menos um capítulo do Antigo e do Novo Testamento e, conjuntamente, coloque em prática uma virtude deles e a pratique até se tornar um hábito para você.Deixe-nos dizer, por exemplo, que a primeira virtude é o perdão das ofensas; deixe isso ser a sua obrigação diária e juntamente ore: " Ó gentil Senhor, conceda-me amor por aqueles que me insultam!" Quando você tornar esta virtude um hábito, todas as outras virtudes lhe serão mais fáceis, até o seu final.

O principal é ler a Bíblia tanto quanto possível. O que a mente não entende, o coração irá sentir e se a mente não entende e o coração não sente, leia novamente, pois lendo você espalhará as palavras de Deus em sua alma, onde não irão perecer, mas passarão a ser, gradual e imperceptivelmente, parte de sua alma e lhe acontecerá o que o Salvador disse: "sucede com o Reino de Deus o mesmo que um homem que lança a semente à terra: quer ele durma, quer esteja levantado, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como (Marcos 4:26- 27).

A principal coisa é: semeie, e é Deus que causa e permite que a semeadura cresça (1 Cor 3:6). Mas não apresse o sucesso, a fim de não seres como o homem que semeia hoje e quer colher já amanhã.

Sementes em nossas almas.

Lendo a Bíblia você estará adicionando fermento à massa de seu corpo e alma, que irá expandir-se gradualmente e preencher a sua alma até que ela subleve-se com a verdade e correção do Evangelho.A cada momento, a parábola do Salvador sobre o semeador e a semente pode ser aplicada a cada um de nós. A Semente da Verdade Divina nos é dada através da Bíblia. Lendo-a espalhamos a semente em nossa alma. Ela cai na terra rochosa e espinhosa de nossa alma, mas um pouco também cai em solo bom e dá fruto. E quando você vê o fruto e prova dele, a sua doçura e alegria irão incitá-lo a limpar podar as áreas rochosas e espinhosas de sua alma e semeá-las com a semente da palavra de Deus.

Você sabe quando um homem é sábio vendo Jesus Cristo, o Senhor? Quando ele ouve a Sua palavra e a carrega consigo. O começo da sabedoria é ouvir a Palavra de Deus (Mat 7:24-25). Cada palavra do Salvador tem poder e pode curar os sofrimentos, tanto da alma quanto do espírito. "Diga uma palavra e meu servo será salvo." (Mat 8:8). O Salvador disse a palavra e o servo do centurião foi curado.

Da mesma forma que Ele fez uma vez, o Senhor diz, mesmo agora, incessantemente, as Suas palavras para mim, para você, para todos nós. Mas devemos parar e mergulhar nelas, recebendo-as com a fé do centurião, e um milagre nos acontecerá, nossas almas serão curadas como foi curado o servo do centurião.Foi relatado no Evangelho que ele trouxe muitas possuídas a Ele, que Ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes (Mat 8:16). Ele continua fazendo isso hoje, porque o Senhor Jesus "é o mesmo ontem, hoje e sempre." (Heb 13:8).

Tenham cuidado: aqueles que não ouvem as palavras de Deus serão julgados no Julgamento Final, e será pior para eles no dia do julgamento do que foi para Sodoma e Gomorra (Mar 10:14-15). Tenham cuidado: no Julgamento Final você será levado a justificar o que fez com as palavras de Deus, se as ouviu e as guardou, se alegrou nelas ou se envergonhou-se delas e o Senhor também se envergonhará de você quando vier na glória de Seu Pai com os santos anjos (Mar 8:38). Há poucas palavras dos homens que não são vaidosas ou preguiçosas, portanto há poucas palavras pelas quais não devemos ser julgados (Mat 12:36). A fim de evitar isto, deve-se estudar e aprender as palavras de Deus na Bíblia e torná-las parte de nós. Se Deus as proclamou aos homens então eles devem aceitá-las e isso significa também aceitar a própria Verdade de Deus.

Palavras do mundo.

Grande é o mistério da palavra, tão grande que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus Cristo, o Senhor, é chamado de " a Palavra"ou "o Verbo"na Bíblia. Deus é a Palavra (Jo 1:1). Todas essas palavras que provém do eterno e a palavra absoluta são cheias de Deus, da Verdade Divina, da Eternidade e da Correção. Se você as houve, estará ouvindo Deus; se as lê, estará lendo as palavras diretas de Deus.

A Palavra se tornou carne, tornou-se homem (Jo1: 14) e de forma muda, balbuciante, os homens começaram a proclamar as palavras da verdade eterna e da correção de Deus.

A Palavra cheia de Graça.

Em cada palavra do Salvador há muito de sobrenatural e cheio de graça e é isto que derrama graça na alma do homem quando a palavra de Cristo a visita. Por isto os Apóstolos chamaram a toda estrutura da casa da salvação de "A palavra de graça de Deus" (Atos 20: 32). Como um poder vivo cheio de graça, a palavra de Deus tem um efeito de maravilhar e dar vida ao homem, desde que ele a ouça e a receba com fé (1 Tess 2:13). Pela verdade e pelo poder que carrega em si mesma, a Palavra de Deus é mais afiada do que qualquer espada e penetra ao ponto em que se divide a alma e o espírito, as juntas e a medula, e discerne os pensamentos e as intenções do coração (Heb 4:12). Nada permanece secreto para ela.

A palavra que dá o renascimento.

Devido ao fato de que cada palavra de Deus contém a sua Verdade Eterna, o Verbo, ela tem o poder de renascer e regenerar os homens e quando um homem é nascido da palavra de Deus é nascido da Verdade. Por essa razão, São João o Apóstolo escreveu aos cristão que Deus santificou-os "palavra da verdade" (1:18) e São Pedro conta que eles "foram novamente gerados... pela palavra do Deus vivo, que permanece para sempre" ( 1 Pe 1:23).

 

 

Folheto Missionário # P011

Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission

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Editor: Bishop Alexander (Mileant)

bible1_p.doc, 6-23-2004