O Velho Testamento

e o Criticismo Bíblico Racionalista

Protopresbítero Michael Pomazansky

Tradução de Rafael Resende Daher

 

 

Conteúdo:

A Origem do Atual Criticismo Bíblico. A atitude Cristã em relação ao Velho Testamento. Uma Pequena Conclusão sobre o Criticismo Bíblico Racionalista do Velho Testamento. A Escola Católica Romana nas Derivações do Cânon do Velho Testamento.

O Valor Sagrado do Pentateuco.

Os Nomes de Deus: Yahweh e Elohim. Há uma diferença de estilos? As Repetições do Pentateuco. Qual o significado das narrativas Pré-Abrahâmicas nos Gêneses? Os hebreus poderiam ter se familiarizado com uma cultura tão técnica e complicada quanto a apresentada nos Gêneses e no Pentateuco? Moisés, um romance histórico. Por Sholom Ashe. Sobre as Pesquisas Científicas Que Confirmam a Autenticidade do Pentateuco de Moisés. Novos Horizontes na Pesquisa Bíblica. Uma Visão Geral dos Resultados da Chamada Escola de Criticismo Bíblico Racionalista.

 

 

A Origem do Atual Criticismo Bíblico.

O fenômeno do criticismo bíblico racionalista é um fenômeno de longa data no ocidente, que começou provavelmente no início do século XIX, e que se tornou muito popular em nosso século. Sustenta o título de "científico," mas sabemos que — principalmente na históriaque as opiniões pessoais pré-determinam o resultado dessas pesquisas.

Com qual ponto de vista essas pessoas se aproximam da Bíblia, ou neste caso, do Velho Testamento? Para um judeu, isto é sua herança natural, uma fonte para estudar o modo de vida seus antepassados, sua tradição e história, seus primeiros pensamentos e cultura, etc... Para um infiel, não passa de um livro hostil e rejeitável. Este último, busca estudar o livro para arruinar a crença em sua autenticidade, no geral, suas veracidades idéias e valores. O estudante curioso, busca em seu trabalho como uma raiz procura por terra úmida, considerando a Bíblia uma coleção de literatura que não está de acordo com o positivismo científico, que excluiu de seu campo a possibilidade da Providência Divina. Já uma pessoa de fé, que acredita na Bíblia como um livro sagrado, não faz a aproximação dessa maneira, uma maneira diferente dos métodos utilizados nas ciências exatas.

Devemos admitir que a pesquisa de fatos distantes, cujas fontes são apenas dados históricos e arqueológicos incompletos deve ser feita com muito cuidado, não importando "a magnífica utilização que pode ser feita deles" (como declarou recentemente Prof. A. Kartashev, do Instituto Teológico de Paris, seguidor do criticismo racionalista, sobre os resultados de suas últimas pesquisas). Após as diversas mentiras das pesquisas não-bíblicas, devemos ter cuidado com a literatura do criticismo racionalista e suas conclusões. Há muito a autenticidade de "Slovo? Polku Igoreve" é rejeitada, e atualmente sua autenticidade é pesquisada por um seguidor da escola do criticismo, o francês Dr. Manson. Muitos arqueólogos russos estão determinando somente agora o local de algumas fortificações e locais segundo a informação contida em "Slovo? Polku Igoreve." Também vemos muitos erros nos trabalhos ocidentais sobre a história da Rússia do século XIX, sem falar que somente agora começam a aparecer as verdadeiras causas da Revolução Russa.

Este criticismo bíblico "científico" é fruto do protestantismo. O que é uma ironia o mesmo movimento religioso que rejeitou a voz da Igreja e de sua Santa Tradição, e que reconheceu somente a Bíblia como fonte exclusiva de Fé, que acredita que a Inspiração Divina está apenas nas Escrituras, tenha tentado desmantelar sua própria fundação. Ficando a santidade da Bíblia cada vez mais distante destes teólogos. Eles começaram a pensar: de onde e quando veio cada pedra de fundação, com o que foi cimentada, quais renovações e adições posteriores foram feitas, etc... Hipóteses atrás de hipóteses. Para que o trabalho fosse aceito, era necessário o emprego de pesquisas "científicas." Mas os métodos científicos são baseados nos princípios do positivismo, e um deles é a rejeição de todo elemento sobrenatural no mundo, e principalmente na história. Por bem ou por mal, para a teologia protestante, o criticismo foi incluído em suas universidades, aceitando assim os princípios das outras ciências. Por exemplo, se uma profecia da Bíblia Sagrada é investigada, o pesquisador conclui que a profecia foi escrita após o acontecimento do evento. Este é um dos fatores que está guiando o atual criticismo. Apenas este fator já é suficiente para desconfiarmos do atual criticismo. Como acreditamos na Providência Divina, inerente em todo Cristão, isso significa que temos fé na possibilidade de comunicação Divina com os merecedores (os profetas), ou em avisos de eventos futuros, na forma de imagens visíveis, premonições claras ou até revelações diretas.

O lado negativo do criticismo contemporâneo está nessa dissecação desenfreada no texto bíblico, tornando a Bíblia em apenas um livro para ser analisado por seus seguidores. Já mostramos seus sentimentos pela Bíblia. Não acreditando na integridade do Livro Sagrado, privam suas almas da Bíblia. Dissecando o lado fisiológico, são incapazes de perceber o lado psicológico das suas influências. Como uma pessoa que estuda a fisiologia dos olhos pode descobrir que os olhos são o espelho da alma? O olhar de alguma pessoa consegue penetrar diretamente em você? Este olhar pode ser gentil, aterrorizante, calmo, penetrante, insolente, invejoso, briguento, mal? Este olhar pode hipnotizar? Assim como um fisiologista não pode descobrir estas características estudando os olhos, um crítico positivista jamais encontrará na Bíblia uma confirmação para sua fé, a confiança na Providência Divina deve nutrir a alma. Com este pensamento, eles destroem [c.f. atitude], contaminam outras pessoas, destruindo suas capacidades para a fé. Os críticos ficam exaltados com estes resultados, principalmente os mais ingênuos. De fato, este é um ponto negativo do criticismo. Vivendo em uma era cheia de falsidade nas relações, entre povo e governantes, escondida em baixo dos acordos culturais, os críticos tentam encontrar tais coisas escondias na Bíblia. Em seus pronunciamentos, os líderes religiosos são citados como aqueles que ensinam o que é novo como velho, e que ensinam seus próprios escritos como de grande autoridade, tentando ocupar o lugar dos profetas. Aos olhos do criticismo, todas essas táticas de embuste, falsificação, enganação, são feitas para ajudar os religiosos, para assim atingir fins políticos, e é importante dizer que nos sentimos surpresos, por mais estranho que isso possa parecer, que os resultados, admitidos pelos próprios críticos, são sempre os mais fúteis possíveis!?

A Bíblia não irá nós mostrar sua alma e seu corpo para os que seguem este caminho. É importante mencionar que nada está escondido sob o olhar de Deus, porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber (Mateus 10:26). A Bíblia nos ensina como pensar e viver na verdade, e como ter retidão, pureza de pensamento e santidade nos atos. Isso é contra toda mentira, fraude, maldade e hipocrisia. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos (Mateus 7:18). Isso nos ensina que a retidão não pode chegar pelo engano, a santidade da hipocrisia e que a fé não pode aumentar pela fraude. As sagradas escrituras jamais expressará ensinamentos que não são de Deus, acreditamos que a voz de Deus fala para nossa humildade, e os compiladores desses escritos sabiam que estavam lidando com coisas sagradas.

O trabalho dos críticos é dividido cuidadosamente. Há dois níveis — o primeiro, "baixo criticismo" e o outro "alto criticismo." O primeiro diz respeito aos aspectos fisiológicos, léxicos, lingüística comparada, etc. O segundo busca pesquisar as fontes dos livros bíblicos, levantando questões sobre a autoria dos livros, cópias de obras literárias, utilizando como prova datações arqueológicas. Infelizmente, essas pesquisas seguem sempre o mesmo caminho, sempre sem olhar para trás.

Não devemos nos preocupar pela aceitação do criticismo científico na teologia protestante, e até mesmo por sua chegada à Igreja Católica Romana, sendo até sancionado por suas autoridades, como o Nihil Obstat estampou na recente "Enciclopédia Católica do Século XXI." Mas não podemos nos calar com sua invasão em algumas universidades Ortodoxas. O Instituto Teológico Ortodoxo de Paris o aprovou no discurso do Professor Kartashev, entregue em sua graduação no "Instituto," que teve como convidado de honra o Metropolita Evlogy, em 1944 (publicado em 1947). O Professor Kartashev discursou sua teoria colocando sombras de dúvida sobre o Novo Testamento.

A estrutura do criticismo bíblico é fundada sobre várias hipóteses, e está sempre sendo reconstruída, buscando sempre promover novas maneiras de se achar a verdade. Nós acreditamos que chegará o tempo em que suas hipóteses desmoronarão, causando um colapso nessa construção. Não toda construção, pois isso não trará danos às pesquisas históricas e arqueológicas, que ajudam em algumas questões e casos particulares, e em algumas pesquisas sobre determinado tempo em que foi escrito um livro do Velho Testamento.

Pesquisas sobre o período em que foram escritos os livros sagrados, ou em alguns casos, sobre suas autorias, não irão mudar a autoridade sagrada dos livros do Velho Testamento. A Igreja aceita o Cânon do Velho Testamento compilado e confirmado perto do período de Esdras, sem nenhuma investigação histórica sobre os livros. O importante é que cada livro contém um valioso material sobre doutrina e moralidade, confirmando a expectativa pela vinda do Messias. Como sabemos, grande parte dos livros do Velho Testamento não citam seu autores, e muitos livros são chamados apenas pelo nome de um de seus principais indivíduos. Nos livros de alguns santos escritores, há trechos escritos por outras pessoas, por exemplo, quando nos contam sobre a morte e o enterro do escritor do livro sagrado. O que nos interessa é a inspiração Divina dos livros sagrados, e seus conteúdos testemunham isso. Para nós isso é muito importante: estes livros foram escritos por "homens sagrados de Deus."

Tendo em vista o que foi dito, confiamos que não será fútil explicar a atitudade Cristã Ortodoxa em relação ao Velho Testamento, para após avançar sobre a crítica racionalista, para depois dar uma resposta Ortodoxa, levando em conta os argumentos lógicos, psicológicos e os dados arqueológicos.

A atitude Cristã em relação ao Velho Testamento.

A atitude cristã em relação ao Velho Testamento é ensinada pelo Salvador. Entre todos os livros do Velho Testamento, entre eles a Lei Mosaica, que expõe a lei e os padrões para o dia a dia, Cristo o mais alto e valoroso mandamento eterno: Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6:5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19:18). E ensinou também: Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim. (João 5:39). O valor inquestionável da Bíblia, para nós cristãos, é até maior que para os judeus, devido a este testemunho dado sobre Cristo. Quanto aos livros individuais, eles tem um valor importante para nós, pois nos levam até Cristo (Gálatas 3:29), como ensina o apóstolo Paulo. Alguns aspectos eram pertinentes até a vinda do Salvador (Hebreus 9:8-10). Achamos limitações em algumas concepções de Deus no Velho Testamento, quando Deus ordena a matança de inocentes, no livro de Josué, por exemplo. A fraqueza, o relativismo religioso, e o estado infantil dos primórdios do judaísmo, danificados por um pecado imemorial, freqüentemente mencionados, são sancionados até mesmo no nome de Deus.

Nem mesmos tais fatos fazem o Velho Testamento perder o valor no Cristianismo. Podemos perceber isso em diversos textos que fazem parte da Igreja, que guarda todo seu conteúdo. Há dois mil anos o Velho Testamento acabava. Mais os Salmos continuam fazendo parte da leitura da Igreja Ortodoxa, e várias palavras foram preservadas Israel, Sião, tribo de Judá, tribo de Efraim, e o nome de vários povos antigos: Amonitas, Moabitas, e também diversas palavras que não parecem muito cristãs, como "Todos os dias extirparei da terra os ímpios" (Salmos 100:8). As palavras permanecem, mas seus significados mudaram. Tais palavras adquiriram um novo significado Israel espiritual, o Sião Divino, a batalha contra o inimigo espiritual. Pode-se dizer que os Salmos viraram um modelo para a oração Cristã, fazendo parte de todos nossos serviços divinos.

O conteúdo da Bíblia foi cristianizado pela Igreja. Dentro da Igreja, os livros do Velho Testamento estão cheios de pensamentos sobre Cristo, a Cruz, a Mãe de Deus. "Tendo feito o sinal da Cruz com seu povo, Moisés abriu o Mar Vermelho..."; "Cavalos e cavaleiros seguiram Cristo no Mar Vermelho..."; "os três jovens babilônios foram salvos do fogo eterno por Cristo..."; "Cristo espalhou o orvalho espiritual nos jovens que adoram a Deus..." "O profeta Jonas foi salvo pela Cruz...." Somente para as mentes ingênuas que o Velho Testamento significa uma "história sagrada," como se a "história" fosse a essência de um cristão. Porém, para nós adultos, especialmente pelo conteúdo da hinografia dos serviços divinos, .um maior entendimento da revelação é necessário.Muitos dos pais da Igreja nos ensinam a aderir ao aspecto espiritual da Bíblia, ao invés da interpretação literal. São Máximo, o Confessor, ensina: "Na Bíblia Sagrada é possível distinguir a carne do espírito, como se fosse uma pessoa com duas partes. Podemos dizer que a letra da Bíblia é a sua carne, e seu significado o espírito, que não peca contra a verdade. Está claro então, que devemos nos ater da carne, que é algo corruptível, para nos voltar completamente para o espírito, que não se deteriora." E o próprio São Maximo, em suas interpretações da Bíblia Sagrada, sempre enfatiza o lado espiritual e místico, deixando o aspecto narrativo como a "carne." Santo André de Creta nos mostra em seu Cânon, durante o Grande Jejum, exemplos do Velho Testamento que se tornam símbolos das quedas e renascimentos espirituais do cristão. Porém, se a pessoa não conhece o conteúdo histórico da Bíblia, ela não vai receber a grande edificação do Cânon.

A Bíblia Sagrada é de Inspiração Divina. Mas inspiração não é a mesa coisa que onisciência. Os autores dos livros sagrados eram homens enraizados ao senso moral e religioso comum. "Ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir.." (II Coríntios 12:4). A Bíblia tem uma abundância de tradições sagradas e populares, e também genealogia, leis religiosas e civis, eventos históricos e da vida cotidiana — palavras que os autores consideravam necessárias para as gerações futuras. Em suma, as Escrituras são sagradas, santificadas pelo Espírito Santo, e cada parte corresponde a santidade como um todo, assim como cada pena de um pássaro que compõe, no caso do uso da Bíblia na Igreja, cada parte serve para a maior glória de Deus.

Devemos estar atentos a estas condições antes de analisarmos as teorias do chamado criticismo "científico" dos tempos modernos.

Uma Pequena Conclusão sobre o Criticismo Bíblico Racionalista do Velho Testamento.

Para mostrar este pequeno esboço sobre o criticismo bíblico, apresentaremos abaixo algumas conclusões de algumas pesquisas Protestantes, e mais adiante mostraremos trabalhos de católicos romanos também, concentrando nossa atenção no Pentateuco (Gênesis. Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) de Moisés, pois a crítica do Pentateuco é base de uma séries de questões sobre o Velho Testamento.

Mostraremos aqui um resumo de um trabalho feito um Universidade Protestante, de acordo com várias pesquisas feitas nas seguintes fontes:

Old Testament History, de Iswar Perits, Ph.D., Harvard. (Nova Iorque: 1915-16).

The Growth and Contents of the Old Testament, de Charles Foster Kent, Ph.D., Litt.D., Universidade de Yale (Nova Iorque: 1925).

No começo dos trabalhos literários hebreus, adaptados mais tarde em monumentos literários, várias canções populares foram incluídas, por exemplo, a música de Débora, que tornou-se parte do capítulo V do livro dos Juízes, e a música de Miriam, que tornou-se parte do capítulo XV do livro do Êxodo, além de músicas mencionadas no capítulo do livro dos Números.

1 — Durante o reino de Davi, foram feitos os primeiros registros históricos oficiais, contando sobre os eventos anteriores a monarquia, formando a base do livro dos Juízes e do primeiro livro dos Reis.

2 — No IX século A.C, perto do ano de 850 aproximadamente 600 anos após a morte de Moisés profecias orais e registros rudimentares da lei foram compiladas por um único indivíduo, que mais tarde serviu como base para os outros quatro livros.

3 — Após aproximadamente cem anos, no século VIII A.C, um trabalho paralelo sobre este mesmo material foi feito por um grupo de patriarcas, dando origem a duas narrativas diferentes.

As repetições freqüentes com pequenas variações foram os motores para a sugestão de que havia dois livros diferentes da Bíblia. O fato do nome de Deus "Elohim" aparecer em algumas partes do Pentateuco, e "Yahweh" em outras, muitos especularam sobre duas versões. Nem mesmo o fato, destes nomes apareceram juntos impediu a conclusão de que ambos os textos representam escrituras de dois pessoas que viveram em locais e épocas diferentes, e depois compilados por "editores," que marcaram com ferro o "Y" (Yahweh) e o "E" (Elohim) para indicar os autores de cada versão.

Porém, um estudo mais detalhado provou o contrário, pois as características do nome de Deus não eram exatas, e nem sempre estavam de acordo com cada versão. Entretanto, isso fez surgir uma nova oportunidade para os críticos, sem mudar a teoria de "Y" e "E," agora explicando que a diferença era geográfica, o "Y" seria da tribo de Judá (Yooda), e o "E" seria a versão para a tribo de Efraim, em outras palavras, a Bíblia teria sido formada após a morte de Salomão, quando o reino foi dividido por Joroboão, que pertenceu a tribo de Efraim.

Tais críticos acharam duas versões para a criação do mundo no livro dos Gênesis, uma "Yahwista," de 2:4 até 3:24, e a outra "Elohista," de 1:1 até 2:4. A história do dilúvio também foi divida em duas versões, com base nas repetições existentes, dividindo a história em vinte e oito partes, quatorze para cada versão. Tais separações são encontradas até no livro do Êxodo, na passagem pelo Mar Vermelho. Esta teoria não é chamada de "teoria do corte" por acaso. Ela divide a história em duas versões, a versão "Yahwista" é considerada mais terrestre, mais pitoresca e poética, apresentando Deus de uma maneira mais humana, com ações e pensamentos humanos. Na versão "Elohista," Deus é apresentado como um ser mais elevado, como o regente do mundo, que cria tudo com a palavra, mas também é pobre em imagens, em representação própria.

4 — Logo após tais conclusões, é apresentado o historiador "D," o "Deuteronomista, autor do Deuteronômio. É atribuído a ele a autoria dos capítulos I, XXVII, XXIX, e todos os seguintes. Acredita-se que este autor teria vivido durante o século VII, quase dez séculos após a morte de Moisés. Ele teria escrito como um grande profeta, aumentando a fé das pessoas e as conduzindo para a prosperidade, culpando a decadência pela tribulação da fé. Quase na mesma época, teria sido escrita a história da Conquista da Canaã, que mais tarde ficou conhecida como o livro de Josué, e o primeiro e segundo livro dos Reis.

A compilação do Deuteronômio é atribuída ao período de renovação religiosa do reino de Judá, após a morte do profeta Isaías, após uma luta contra a idolatria e apostasia tolerada nos reinos de Manasses e Amon (698-643-631 A.C.). O conteúdo do livro dos Reis teria sido encontrado dentro do "Livro da Lei" (621 A.C.), pelo sacerdote Hilkiah, durante o reino de Josias, sendo assim colocados no livro do Deuteronômio. Alguns críticos acreditam que este livro foi escondido por um tempo, para que fosse evitado um possível roubo, mas foi encontrado por Hilkiah, que o compilou como um livro Mosaico (opinião do Prof. Kartashev). A descoberta e leitura deste livro, trouxe uma grande reforma religiosa no reino de Judá.

5 — historiador "S" (para sacerdote) deu uma forma final para o Pentateuco e também para o livro de Josué. Ele compilou o "E" e o "Y" em apenas uma narrativa, escolhendo de cada versão, os que tinham mais coerência entre sim, colocando depois suas próprias versões. O texto teriam uma visão dos sacerdotes da época, valorizando os rituais e as leis que haviam evoluído durante oito séculos da vida política de Israel (durante a época dos Juízes), e que foram atribuídos ao profeta Moisés.

Os críticos não chegaram a um acordo sobre a compilação de duas versões diferentes. Alguns consideram que a compilação foi feita após a queda do Reino de Israel, quando os sacerdotes escaparam para Jerusalém, em 722 A.C., levando a versão do primeiro dos quatro livros do Pentateuco, sendo que a validade das lendas Eframitas só foram aceitas após um estudo em Jerusalém. A compilação definitiva só teria ocorrido após o cativeiro da Babilônia, durante o reino de Ciro, como afirmam outros críticos.

6 — O "Eclesiástico" ou história da Igreja, teria sido criado perto do ano 300 A.C, quando o livro da Lei foi novamente editado, dos Gênesis até Reis. Teria sido incluídos também os livros I e I das Crônicas, e também o livro de Neemias.

Este trabalho teria sido feito com um método de pesquisa histórica, com situações de uma séries de informações (c.f. II Crônicas). O criador do livro também teria colocado escritos pessoais de Esdras e Neemias, além de documentos arameus (não traduzidos). Este escritor teria introduzido uma nova história para o Velho Testamento mas com o ponto de vista de um clérigo. Este trabalho poderia ser chamado de "história da Igreja de Jerusalém."

Há também críticas sobre a autoria dos Salmos, colocando sobre suspeita a autoria de diversos Salmos de Davi, que teriam sido escritos sob a dominação Persa, durante o cativeiro da Babilônia. Estes seriam os "Salmos do Segundo Templo."

Uma série de livros são considerados como do mesmo período, a saber: Judite, Ester, Rute, Tobias, a história de Suzana, a história de Bel e o dragão, o terceiro e o quarto capítulo do livro dos Macabeus. Também é incluído neste mesmo período o livro de Jô.

7 — O último período é conhecido como Helenização. Durante o tempo dos Macabeus (175-63 A.C.), que é considerado o período da finalização dos trabalhos dos profetas, quando finalizaram os livros de Esdras, Neemias e as Crônicas. A literatura da "sabedoria" teria aparecido. O motor para isto teria sido o contato com o mundo grego e sua filosofia, mas com o pensamento judeu seguindo seu próprio caminho. Também atribuem a este período a autoria dos Provérbios e do livro da Sabedoria. Um fragmento da Sabedoria de Josué, teria sido achado em hebraico, no Egito. Foi quando o primeiro e o segundo livro dos Macebeus foram compilados. O livro do profeta Daniel também é considerado do mesmo período, pois contém muitas palavras em persa e em grego. Os críticos também atribuem as profecias das setenta semanas ao período do profeta Antiochus Epiphanes, vendo a profecia como "uma crítica a um evento já ocorrido," e o criticismo também reagem assim contra várias profecias.

A Escola Católica Romana nas Derivações do Cânon do Velho Testamento.

É interessante para nós, ver como a teologia católica romana chega a novas conclusões sobre o criticismo bíblico. Entre as confissões cristãs,. no segundo milênio, a Igreja Romana foi a que teve um trabalho teológico e histórico mais desenvolvido, e suas alterações também foram influentes na teologia russa dos últimos séculos. Mas como ela está cada vez mais distante de suas tradições!

A tendência do pensamento eclesiástico católico romano foi conservado. Podemos afirmar que foi por causa da liderança do Vaticano até os mais altos graus. Mas as últimas décadas trouxeram muitas tendências liberais. O Papa, apoiado pelo Concílio de Trento, proibiu que a leitura das Bíblia aos leigos, durante a reforma de Lutero. Hoje, os teólogos romanos explicam que esta proibição era apenas às traduções não autorizadas pela Igreja.

Como a igreja romana reagiu ao criticismo bíblico?

Nas primeiras décadas de nosso século, foi alvo de condenação. Porém, algumas vozes proclamaram a necessidade de se fazer uma abertura no pensamento católico, para que diversas conclusões das ciências naturais pudessem entrar. Houve uma reversão no pensamento teológico, com a aceitação de novas visões do conteúdo e da origem da Bíblia. A "Enciclopédia Católica do Século XX," feita em 150 volumes, começou a ser imprensa em 1956, em francês, inglês, italiano e outros idiomas. Os títulos da série "O Homem" eram: "A Origem do Homem," "Evolução," "O que é o homem?" "O que é vida?" buscando assim harmonizar os achados científicos com os dogmas católicos romanos. A sexta série dos volume teve como assunto "A Palavra de Deus," em outras palavras, a Bíblia, suas partes e aspectos, e o criticismo e suas conclusões contemporâneas foram plenamente aceitos. Todos os volumes passaram pela censura e pela autorização católica romana: Imprimatur e Nihil Obstat.

Percebemos aqui um acordo em diversos pontos, entre as visões do Velho Testamento entre os protestantes esquerdistas, e a teologia católica romana. As fundações destes novos pensamentos são válidos? De fato, são totalmente hipotéticos, e estão repletos da paixão pela descoberta e pela inovação, numa atitude suspeita e cética, para um passado que é puro, elevado e santo. Estas visões minam os méritos dos protestantes para conduzir os homens até Cristo, pois lançaram uma sombra de dúvida sob o Novo Testamento e escritos dos apóstolos. Pois o conteúdo do Pentateuco é citado nos Salmos, e nas orações dos apóstolos (veja o sermão do Apóstolo Paulo em Coríntios 13), e pelo próprio Salvador. Ele, quando instruía os judeus, deixou estas palavras para o nosso bem: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?" (João 5:46-47).

 

O Valor Sagrado do Pentateuco.

Dentre as questões colocadas pelo criticismo positivista do Velho Testamento, a principal é a feita sobre a compilação do Pentateuco. Claro que seria muita ingenuidade tentar traçar a compilação de um dos antigos trabalhos literários da humanidade. Não é necessário provar que o Pentateuco foi escrito pelo profeta Moisés. O importante é reconhecer a autoridade do que foi escrito por ele. Para nós, e para cada pessoa que chega para a leitura da Bíblia sem preconceitos, não pode existir nenhuma dúvida sobre a autoridade do livro Mosaico. Razões textuais e psicológicas podem confirmar isso sem sombras de dúvidas.

Não faremos uso das vozes de pesquisadores que não aceitam as conclusões e pesquisas do criticismo. Ainda, que não precisemos recorrer a autoridades, uma série de simples considerações nos virariam para longe do criticismo o leitor comum da Bíblia. O mesmo poderia acontecer com os críticos que são defensores de seus conceitos hipotéticos, como uma pessoa que está no meio de uma floresta, e que perde aquela visão espontânea, após uma perspectiva mais particular.

Os Nomes de Deus: Yahweh e Elohim.

É necessário reconhecermos, quem ambos os nomes eram reconhecidos no tempo de Moisés, para podermos entender que um escritor não pode ignorar um nome de Deus, como se ele não fosse necessário para o livro, usando apenas um. Nas epístolas, os apóstolos chamam nosso Salvador de Senhor, Jesus ou Cristo. As vezes, até os três juntos. Vemos o mesmo em nossas orações, quando atribuímos a Deus o título de Senhor, intercalando-o.

Os adeptos do criticismo não fazem esforço algum, para pensar que Moisés tenha utilizado dois nomes para o mesmo Deus. O nome de Deus "Elohim" é exaltado, primário, ancestral e místico. Sua forma gramatical no plural (no singular é Eloah) é tida como uma reverência dos hebreus, assim como o "BH" em russo (você, na linguagem formal). Porém, esta forma vistosa, no plural, significa para os cristãos o dogma da Santíssima Trindade, poderia levar os antigos hebreus para o politeísmo. Era necessário um nome que não tivesse uma forma gramatical no plural. Que evidentemente, não seria nada estanho na linguagem hebraica. Quando Deus se revelou a Moisés na sarça ardente, Ele se revelou com o nome de Yahweh — "Eu Sou Aquele que É." E Moisés registra este significado em seu livro.

Yahweh é apresentado no Pentateuco como Deus dos hebreus? Não, pois no livro dos Gênesis, Deus não cria o antecessor dos hebreus, mas sim o antecessor de toda a humanidade. Moisés foi introduzindo este nome gradualmente na narrativa dos Gênesis e do Êxodo, pois era o mais utilizado na linguagem oral do dia-a-dia, sem sombras de dúvida.

Há uma diferença de estilos?

Os críticos enxergam uma radical diferença entre o primeiro e o segundo capítulo do livro dos Gênesis. Entretanto, não chegaram a nenhuma conclusão, em mais de duzentos, se o primeiro capítulo foi escrito no primeiro período dos Reis, ou no cativeiro da Babilônia.

É possível indicar um caminho no próprio texto, para atestar sua época e origem dos capítulos. Este caminho é chamado "chamando os nomes." No primeiro capítulo: "...Deus chamou à luz DIA, e às trevas NOITE. Deus chamou ao elemento árido TERRA, e ao ajuntamento das águas MAR..." E na segunda parte vemos: "...Deus criou os monstros marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua espécie, e todas as aves segundo a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. ‘Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.’" Vemos então detalhes dos nomes e da criação do mundo. Encontramos em ambos capítulos uma unidade de pensamento. Qual idioma o autor dos Gênesis tinha em mente? Atribuímos esta escritura aos tempos remotos, na era de Moisés, quando se tinha em mente uma época em que havia apenas um idioma, antes da Torre de Babeltradição que foi foram mantidas após serem trazidas pelo Patriarca Abrasão.

Há uma unidade de pensamento, como demonstrada aqui, quando Deus dá os primeiros nomes, e depois Adão? Nós respondemos: a unidade está no conceito da palavra, no valor da fala humana, como um presente de Deus. Originalmente, no primeiro capítulo, os nomes das criações procedem de Deus, e depois, no seguindo capítulo, o presente da fala é dado por Deus a Adão. A formas das ações de Deus mudam, mas o pensamento do autor continua único, em um harmonioso plano. Esta é a forma de ambos os textos.

Vemos os mesmo conceitos intimamente entrelaçados, não de maneira acidental, mas de maneira orgânica, como nos primeiros e terceiros capítulos dos Gêneses. O problema maior surge no primeiro capítulo. Se, como nós lemos, tudo feito pelo Criador é perfeito, "Deus viu que isso era bom," então porque existe o mal, a doença, fome, sofrimento, morte, etc...? A resposta é imediatamente colocada no fim do segundo e do terceiro capitulo, por causa do pecado.

A diferença de estilos entre as "duas versões" é determinada pelos críticos da seguinte maneira: a versão do "E" é seca, mas elevada intelectualmente, enquanto a versão "Y" é mais espiritual, sólida, mais ingênua. Mas esta ausência de unidade pode ser explicada naturalmente. Podemos assumir que Moisés teve duas fontes de narrativas. Uma, era a tradição oral, que era mais pitoresca, o material "Y," as outras eram as fontes de escritos cuneiformes, feitos em antigas tábuas, com histórias de eventos do passado que poderiam ter sido da família de Abraão, vindo da Mesopotâmia, cujo os críticos classificaram como "E."Além de que, é possível chamar de simplista o profundo conteúdo contido na expressão "a árvore da ciência do bem e do mal.," considerada pelos críticos parte do "Y." Toda a cultura da humanidade teve sempre dois elementos opostos — o bem e o mal — definimos assim, o complicado acesso à árvore da Vida, pois seus frutos eram capazes de conduzir a morte, espiritual e física.

As Repetições do Pentateuco.

As pessoas repetem as coisas por várias razões. O compilador do Pentateuco não teve apenas uma razão para suas repetições. Talvez, os compiladores posteriores tiveram duas fontes, duas versões, e se Moisés teve até três fontes paralelas diante de seus olhos, como sobre a origem dos Cananeus, caldeus, ou até sobre a Caldéia, Egito antigo e suas escrituras? Isto pode ter sido uma das possíveis causas das repetições. Outra razão pode estar na complica técnica de escrita, feitas com inscrições em placas de barro ou madeira, folhas de papiros que foram transferidas para rolos de papel, graças a lentidão dessas escritas, a continuidade da narrativa era quebrada, sendo então necessário o retorno para dar detalhes de um evento já registrado.

É essencial também que consideremos os fundamentos psicológicos das repetições. O escriba antigo, não tendo à disposição uma variedade de opções ou expressões, devido ao escasso vocabulário da época, recorria ao uso de repetições para voltar a atenção do leitor para um fato, enfatizando a importância de uma determinada declaração. Mas o crítico escrupuloso, sem levar isto em conta, pode deduzir, utilizando como exemplo do título da Primeira Crônica Russa: "Esta é crônica dos últimos anos, da origem da terra russa que começou a governar Kiev e de onde a russa veio.," as duas versões escondias neste título, contém duas cláusulas subordinadas, de um mesmo conteúdo. As repetições da Bíblia podem expressar a determinada importância de uma ação. Como em "E Deus disse" durante a descrição da criação do mundo, e também em diversos outros lugares, como: "Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados" (Salmos 39:2).

Deixamos aqui um bom pensamento do Metropolita Macário de Moscou, escrito há mais de cem anos atrás, quando os críticos usavam os mesmos argumentos que usam hoje: "Nele (no Pentateuco) são encontradas muitas repetições do mesmo pensamento, e que parecem até contraditórias.... narrativas são interrompidas por longas divagações freqüentemente, leis são colocadas no meio de eventos, sem estar na mesma ordem em que achamos nos códigos. No geral, nenhuma atenção é colocada no arranjo e na proposição dos assuntos. Tudo isso deve estar no livro se seu autor for Moisés. Ele descreveu os eventos ocorridos. Então, é natural que ao narrar algo, ele interrompa a narração para colocar seus comentários, e as vezes mostrando a lei que deu origem a tal evento. Moisés não teve necessidade em colocar notas de rodapés em seu livro. As freqüentes repreensões e ameaças tudo isso fazia parte das características de Moisés em sua relação com o povo hebreu, e é claro que em seus livros também. "(Introduction to Orthodoxy Theology, Macário, Arcebispo da Lituânia e Vilno, DD, 4º ed. [São. Petersburgo, 1871], p. 365).

Qual o significado das narrativas Pré-Abrahâmicas nos Gêneses?

Se colocarmos de lado a história da queda de Adão e Eva, a de Noé e o dilúvio, veremos que a narração curta de certos nos Gênesis chamaria nossa atenção. Subtraindo o período de 2000 anos, de Abraão para o Novo Testamento, teríamos um período de 5508 a anos da criação do homem até o nascimento de Cristo, tendo então 3500 anos em onze livros da Bíblia, se cortamos os livros sobre a queda e o dilúvio, teremos apenas sete capítulos. Três mil anos e meio em sete capítulos, tendo um pouco mais que árvores genealógicas e a história da construção da Torre de Babel, e a confusão das nações. Este é o tipo de cuidado, que devemos ter ao analisar as fontes das narrativas observadas pelos compiladores. Teríamos o mesmo número se eles tivessem incluído lendas populares de suas épocas, além de outras epopéias orais ou outros mitos religiosos? Nós não temos os fatos para julgar o nome dos antigos patriarcas, pois não conseguiremos construir uma genealogia pré-diluviana, mas tais nomes adquiriram algum significado (talvez eles não eram de fácil assimilação oral, mas foram registrados em tumbas, pois sua preservação era uma responsabilidade religiosa dos patriarcas — estas são perguntas que dizem respeito somente aos arqueólogos). Mas alguns registros caldeus estavam disponíveis para que os hebreus os incluíssem em sua literatura. Os primeiros capítulos dos Gêneses é de origem semelhante, mas claro que, pela iluminação do Espírito Santo na consciência do escritor, eles foram livres do politeísmo que era a essência dos mitos. E não é correto falar sobre a existência de mitos na Bíblia. A inspiração divina do profeta, no caso o servo de Deus Moisés, que foi merecedor de uma série de revelações feitas por Deus, pois neste trabalho oral e material feito em escrita cuneiforme, o temor a Deus foi levado de maneira séria, além da elevação do constate pensamento em Deus, é nestes casos que a Providência Divina é inserida no mundo.

Os compiladores das lendas, canções poderiam durante um período de 800 a 100 anos, depois da morte de Moisés, dar cabo a tal tarefa, e quase ao mesmo tempo, em dois reinos? Porque os compiladores, sacerdotes e profetas, começaram a incluir nos Gêneses, tradições que poderiam aparecer em seu tempo como provocações, já que a razão de seus trabalhos era apenas a elevação moral das pessoas?

Com relação a palavra "mito," farei uso das palavras do excelente exegeta católico romano, o francês F. Vigourue. Ele escreve: "O significado da palavra mito foi distorcido pelos racionalistas, para negar os milagres e deformar o verdadeiro caráter da revelação. A palavra "mito" ao contrário da história atual, é um tipo de história fictícia, um tipo de fábula que é usada esconder idéias religiosas ou teorias metafísicas, ou até mesmo fenômenos físicos. Nada é tão contrário ao mito como a Bíblia Sagrada. Uma das metas do Velho Testamento era estabelecer uma barreira contra as tendências místicas, que atraía todo povo da antiguidade, após a era de Augustus, quando estes livros foram escritos, eles vieram para por fim a todos pagãos do mundo civilizado, sem mencionar os judeus." (Instructions for Reading the Bible, vol. I, F. Vigourue, [Traduzido da 9º Ed. Francesa, Moscow, 1897], pp. 176-177). Infelizmente, este exegeta francês colaborou na Enciclopédia Católica do Século XX, que foi contrária a posição de F. Vigourue, um dos mais respeitados trabalhadores nas pesquisas científicas da Bíblia Sagrada.

A "destruição do mito," veio pela revelação de Deus, tirando a tradição comum corrompida pela humanidade, escurecida por adições políticas, restaurando a pureza original da verdade do Monoteísmo, porém, na expressão verbal, a verdade continua sendo representada de maneira figurativa, as ações de Deus são descritas como ações humanas. Isto ocorre por causa da pobreza de palavras nos idiomas primitivos, que não correspondiam conceitos elevados e abstratos. Até mesmo nos idiomas contemporâneos, não encontramos de maneira suficiente tais palavras.

Os hebreus poderiam ter se familiarizado com uma cultura tão técnica e complicada quanto a apresentada nos Gêneses e no Pentateuco?

Até mesmo o animal domesticado já fazia parte da vida dos antepassados dos judeus, portanto, não é correto chamá-los de nômades ou povo errante, que vivia vagando por interesses mal-resolvidos. A imigração de Jacó e seus filhos para o Egito, foi suficiente para uma familiarização de seus descendentes com a cultura egípcia, especialmente quando desfrutavam de algumas liberdades e concessões. A chegada de José a um posto influente no Egito, colocou seu povo no mesmo nível does egípcios. O interesse dos egípcios no passado dos hebreus nos já conhecemos, isto pode ter proporcionado a possibilidade dos judeus terem a chance de voltar ao passado, relembrar da vida na Palestina, tentando preservar sua memória a seus descendentes. Poderiam ter escrito diversos recordações antes da época de Moisés.

Ninguém pode presumir que Moisés, líder de Israel, limitou-se a conduzir as pessoas para fora do Egito, e depois tenha deixado seu povo a clemência do destino. Podemos imaginar que ele elaborou um plano político para seu povo, esboçando os meios necessários para unificar seu povo, nacionalmente e religiosamente? Isso não seria uma tarefa difícil, pois: a) ele tinha muito conhecimento sobre a cultura egípcia, caso contrário, não teria ganho a confiança do povo. b) ao compilar leis especiais para Israel, Moisés teve que assumir um poder paralelo antes de criá-las, e também teve que usar sua influência no estado egípcio. Ele não poderia ter feito o contrário. Morando no deserto com seu sogro Jetro, Moisés foi imergido profundamente quando Deus o inspirou, e de acordo com o raciocínio humano, ele estava inseguro. Quando era necessário superar a força de seu espírito, e a teimosia do Faraó e de seu povo, ele teve que considerar que tudo aquilo era necessário para o futuro da nação hebréia, indo para um território que poderia ser pago com o sangue do próprio povo. Era difícil prever como seria estabelecida a vida da nação naquele território. O povo hebreu, menosprezando os egípcios como opressores, assimilou seus costumes, e também a religião egípcia, como a multiplicidade de sacerdotes, templos e sacrifícios, por isso que vemos no Êxodo a formação do primeiro culto religioso-nacional dos hebreus.

O criticismo considera o Pentateuco um trabalho recente, que aumentou e glorificou Moisés, c.f., colocando nele uma grandeza e uma glória exagerada. Mas os escritos de Moisés não apresentam tal imagem, pois não escondem seus momentos de queda e desespero, pelo fato de ter que vagar por muito tempo, e não escondeu seus defeitos físicos, apresentando-o como um homem de "fala lenta e gago," como aparece no hino da Igreja.

Seria necessário, esperar de 800 a 1000 anos após a morte de Moisés, para compilar as particularidades e preceitos da viagem, ficando cada vez mais longe dos fatos ocorridos no Êxodo?

Surgindo durante os costumes da antiguidade, quando a educação, e principalmente, a narração dos fatos estavam nas mãos dos religiosos, é natural pensar que de Aarão, irmão de Moisés, como alto sacerdote, e tendo seus filhos como sacerdotes também, tenha registrado as primeiras crônicas dos eventos ocorridos, além de registrar as leis e ordens promulgadas por Moisés, durante os 40 anos em que vagaram. Não precisamos entender a autoria do livro Mosaico como um registro da própria mão de Moisés. Junto com seus manuscritos, seus ditados também tiveram seu lugar. Como nos eventos atuais, eles teriam registrado com respeito as diretrizes e tarefas dadas a eles. O nascimento de Moisés e sua educação na casa do Faraó, foi provavelmente escrito por seu irmão. O registro de Moisés, no leito de morte, e a descrição de seu repouso, pode ter sido escrito por Josué, escolhido por Moisés para liderar o povo, após sua morte. Assim os exegetas descrevem este trabalho. Para um líder do povo, como Moisés foi, poderia ser muito difícil compilar o primeiro livro, pois isto só poderia ser feito esporadicamente, podendo assim aparecer discrepâncias e repetições nos registros.

Moisés, um romance histórico. Por Sholom Ashe.

Recentemente, na literatura, há uma tentativa promissora em se recriar a história de Moisés, e a história do êxodo, como no livro de Shalom Ashe, escritor judeu do século XX. Seu nome é bem conhecido, graças aos jornais russos no período pré-revolucionário, e hoje em dia, há uma série americana que trata deste assunto. O longo trabalho de Moisés (mas 500 páginas) merece nossa atenção, pois mostra a naturalidade dos caminhos que se seguem em seus livros. O valor deste trabalho nos mostra que o autor não faz apenas parte da Bíblia, mas preserva a idéia de que Deus conduziu seu povo nesses dias, estimulando a narrativa pitoresca dos eventos registrados na Bíblia Sagrada. Neste caso, o autor fixa o olhar do leitor no método de organização do Pentateuco: a preparação do material para escrita, a obtenção de tinas; e mais a frente — a coleção das tradições feitas junto aos anciões de Israel, a seleção de escribas, etc... Geralmente, é descrito como eram as preparações do tabernáculo durante a curta estadia ao pé do Monte Sinai, por exemplo: quando Moisés, subindo ao Sinai, descobre uma área coberta por uma vegetação de aroma delicioso, junto de uma moita de acácias enormes, e depois este material é colocado em partes do tabernáculo, e as plantas aromáticas são usadas durante os serviços, além da correta administração do ouro e de objetos de prata de maneira correta para os utensílios do tabernáculo;além dos trabalhadores voluntários, que não trabalham mais em baixo do chicote dos inspetores, fazendo um trabalho para seu próprio povo, e não para os opressores, também vemos os artesões que levaram suas habilidades aprendidas no Egitos — alguns desses homens começaram o trabalho do zero, modelando placas de ouro com martelos de pedras, outros fundiam a prata, após a busca no Monte Sinai, outros eram mestres em marcenaria e da estampagem de couro; as mulheres, de acordo com suas habilidades, trabalhavam a lã, para depois bordar, preparando as vestimentas e objetos para os serviços religiosos. Tudo isso aconteceu sob a observação dos diretores escolhidos por Moisés, junto com o conselho dos anciões. Após, vemos a descrição da santificação do tabernáculo, a organização e consagração do sacerdócio de Aaronic, etc... Em suma, tudo aquilo que foi considerado inefável pelos críticos da Bíblia, pode ser facilmente desconsiderado. O testamento e a vida de Moisés, sua morte, estão diante de nós no livro do Deuteronômio, e isso encerra a questão.

Sobre as Pesquisas Científicas Que Confirmam a Autenticidade do Pentateuco de Moisés.

A defesa do valor sagrado do criticismo bíblico, foi trabalhado de maneira desastrosa, e teve seu apogeu no fim do século XIX. Não é possível apresentarmos atualmente, trabalhos de vasta pesquisa científica e fisiológica. Mostraremos o trabalho do exegeta bíblico F. Vigourue, que viveu neste mesmo século: O livro, "Guide to Reading and Studying the Bible," que teve várias edições na França, e que foi traduzido para o russo. Este livro nos dá uma completa bibliografia contra o criticismo positivista anterior ao século XX. O autor coloca diversos argumentos contra o criticismo racionalista. Ele também prova a autenticidade do livro Mosaico, mostrando provas além da própria Bíblia, com a doo próprio Pentateuco paralelo, o"Samaritano," descoberto há pouco tempo, além das evidências dos monumentos egípcios, que atestam que o autor do Pentateuco estava bem familiarizado com a cultura do Egito, também mostra vários detalhes triviais, como o do fato do Egito estar sob o comando de Ramsés, e finalmente, é colocada uma análise do idioma dos livros do Pentateuco. Em nosso caso, é interessante como F. Vigourue mostra que não há motivos para separar o Pentateuco em duas versões, com os nomes e Yahweh e Elohim, pois eles são usados juntos ou separados, mostrando que as "discrepâncias" no Pentateuco não são adições pessoais, mas possuem uma explicação histórica, geográfica e diversas outras.

Desde então, muitos críticos vêem um grande exagero na descrição do tabernáculo (v.g: Kartashev diz que o tabernáculo é uma "esplendorosa lenda), além de um exagero em alguns números (como o de pessoas, animais sacrificados, quantia de ouro e prata no tabernáculo), vendo nisto uma prova de que as histórias bíblicas foram escritas posteriormente, mas aqui nós colocaremos algumas informações científicas.

Vemos no artigo "Ouro," de A. Mikçashevsky (no "the Brokhaus and Efron Encyclopedic Dictionary"): "Julgando os resultados de escavações e pesquisas científicas, vemos que o outro foi um dos primeiros metais trabalhados pela humanidade. Era facilmente encontrado e processado, nos tempos remotos era usado em todos os tipos de objetos. Escavações na Dinamarca, mostraram que muitos objetos para uso doméstico eram feitos de ouro, apenas algumas partes tinham ferro. (em um museu, você pode ver o cabo de uma lança todo feito de ouro, e somente a ponta de ferro). Em "Minar," no Vol. XVII, do mesmo trabalho, lemos: "A mineração foi desenvolvida até 3000 A.C, no Alto Egito, e teve seu apogeu durante o reinado de Ptolomies, de acordo com o testemunho de Strabo e PlYNI (a Fenícia era vizinha da Palestina), os fenícios começaram a fundir o ouro e o cobre na Trácia (região que hoje faz parte da Grécia), além do achado de ouro pulverizado, no Sul da Espanha, datado de aproximadamente do ano de 1100 A.C. Podemos citar também uma recente nota da imprensa: Em Erevan (Geórgia), no monte de Mestsamor, encontraram complexos trabalhos em metal, datados de aproximadamente 3000 A.C. Arqueólogos, astrofísicos e historiadores colaboraram no trabalho. Além de fornos para fundição, encontram aproximadamente quatorze tipos de trabalhos feitos em bronze, e diversas fundições cavadas no basalto.

Devemos considerar, em alguns casos, que é muito natural uma leitura incorreta dos números e cálculos da bíblia, feitos por escribas que fizeram as cópias posteriores. A escrita cuneiforme da Mesopotâmia, os hierógrafos do Egito, os manuscritos dos arameus, dos possuíam suas particularidades em relação aos números, e isto poderia ter acarretado alguns enganos não intencionais. Para efeito de comparação, permita-nos a utilização da escrita de nossa Igreja, o Eslavônico, onde representamos o número com o símbolo "***" para a adição, e "***" para o número um (compare com o sistema numérico grego, que a Igreja emprestou para o Eslavônico, onde os números são idênticos, mas os de 11 a 19 possuem as unidades em ordens inversas, por exemplo, o número quinze é igual a "ιέ” em eslavτnico, mas no eslavônico eclesiástico é "fi"). O sistema cuneiforme babilônico para número é curioso. Um "cone" significa um, dois significam dois, etc..., até dez, a partir da aí os números são expressados por dois cones unidos em um ângulo "<," vinte dois ângulos, trinta três ângulos, etc...O cem é feito com dois cones, uma vertical próxima a um horizontal, o mil é representando com um símbolo após o número cem "<!" Podemos exemplificar uma abreviação assim: em vez de escrever o número 90 por meio de nove sinais (10 antes do 9), era possível escrever um símbolo especial pra grandes número, que valiam 60, ou três símbolos para dez ("Babylonia," um artigo de A. Lopukhin; "Encyclopedic Dictionary of Brokhaus and Efror") Este sistema era muito conveniente; porém, não é nada fácil para uma pessoa não familiarizada com isso!

F. Vigoure cita vários exemplos que apóiam a possibilidade de erros dos cálculos no atual texto bíblico, apesar de todo o cuidado tido em guardar os textos e cópias da Bíblia após o cativeiro da Babilônia.Segundo o texto em hebraico de II Crônicas; Salomão teve 4000 pares de cavalos, mas de acordo com III Reis, ele teve 40000, segundo o livro dos Reis, Davi exigiu 700 cavaleiros sírios, mas de acordo com II Crônicas, 7000. Segundo II Crônicas, Jehoiachim tinha oito anos quando subiu ao trono, mas o livro dos Reis afirma que ele tinha dezoito (Vigourue, "A Guide to Reading and Studying the Bible" Vol. I, p. 109). Está claro que estes cálculos estão discrepantes, devido a erros dos escribas na tradução.

Os críticos apontam que os hebreus, durante a caminhada não deserto, não possuíam certos materiais e equipamentos. Mas não há como negar que eles poderiam ter obtido esses materiais comerciando, ou comprando das Caravanas do Lesto do Egito. Assim como José, que se tornou escravo no Egito, porque seus irmãos o venderam para comerciantes que passavam em uma caravana, isto também pode ter ocorrido nos Gêneses. "E, sentando-se para comer, eis que, levantando os olhos, viram surgir no horizonte uma caravana de ismaelitas vinda de Galaad. Seus camelos estavam carregados de resina, de bálsamo e de ládano, que transportavam para o Egito." (Gênesis 37:25)

Novos Horizontes na Pesquisa Bíblica.

Um livro com este título, foi publicado por W. F., um dos maiores arqueólogos bíblicos do passado, este livro contém um série de fatos populares relacionados a arqueologia bíblica (a introdução de seu livro, na versão inglesa, lemos: "Willliam Albright é um dos melhores arqueólogos bíblicos, um renomado pesquisador cujo trabalhos são eruditos, seja qual for o assunto da história da Terra Santa. É autor de mais de 800 artigos e livros, recebendo 20 prêmios de universidades. Seu conhecimento de idiomas, moderno ou antigo, e a solidez e a variedade de suas credencias, dá ainda mais importância ao seu estudo da Bíblia e seus aspectos. William foi o primeiro pesquisador com conhecimento de aramaico a reconhecer o valor dos pergaminhos do Mar Morto, e mostrando a importância deles para a solução de diversos problemas históricos relacionados a Bíblia.").

A informação apresentada por este autor é valiosa, pois sua doutrina desmente a teoria do criticismo racionalista. Também é importante notar que autor não escreve como um "cientista barato," mas sim de acordo com os métodos da ciência, c.f, um método que não nega a inspiração divina da Bíblia, mas deixa isso a parte, para não violar princípios metodológicos.

No livro mencionado acima, no capítulo "a Tradição e Israel," o autor prova que o livro dos Gêneses tem a autenticidade comprovada por materiais escritos na antiguidade, encontrados em escavações fora da Palestina, a saber, na Mesopotâmia e na Síria.

A cidade "Mary" (hoje Teel-El-Harim), situada acima do Eufrates, foi escavada em 1933 po M. André Parrot. Durante a escavação, encontraram restos de um palácio, datado de 1730 A.C, ou seja, após o dilúvio. Encontraram milhares de tábuas cuneiformes, escritas pelo rei e seus escribas, com leis das províncias vizinhas, a maioria colonizadas por Semitas do norte ocidental, que falavam um idioma quase idêntico ao idioma bíblico do tempo dos primeiros Patriarcas — em termos de vocabulário, expressões, sintaxe e nomes pessoais. Assim, uma grande quantidade de material está disponível para quem deseja ver os antepassados de Israel, da primeira metade do segundo milênio A.C. A arqueologia bíblica não é limitada a Palestina, pois é feita também em terras longínquas da Palestina.

Nuzi, um local mais distante, em direção ao leste, esta sendo continuamente pesquisado por americanos, que acharam restos de uma fortaleza de uma antiga cidade. Neste local, as ruínas foram preservadas, além de milhares de tábuas com escritas cuneiformes, ilustrando o costumes descritos nos Gênesis, e ambos são idênticos. Todas as passagens dos Gêneses, que não tinham explicações nos textos hebraicos, começam a aparecer desde 1925, com a ajuda as tábuas de Nuzi.

Uma cidade no norte da Síria, Alakh, foi escavada recentemente por Leonard Wooley, durante uma de suas expedições científicas. Hoje este local não é mais semita, pertence a um dos antigos povos indo-europeus, que ainda deve ser determinado. Porém, foram encontradas diversas tábuas cuneiformes de grande valor, que descrevem práticas e leis de Canaã e seus arredores durante o décimo sétimo, décimo sexto, e décimo quinto séculos A.C.

Claro que este material é de fácil acesso apenas para aos estudiosos de história, arqueologia, filologia e lingüística, e suas perspectivas históricas.

O estudo comparativo de idiomas antigos, feito de acordo com fontes antigas, nos proporcionam uma maneira para entender as tradições mais remotas dos judeus. Nos mostra também uma linha entre as tradições hebraicas e os Gêneses, ligando-as com Canaã, Fenícia e o Egito antigo. A comparação das antigas tradições religiosas não é muito comum, mas ambas as tradições surgiram de uma única tradição da Mesopotâmia antiga. A história do dilúvio, dos Gêneses, também é encontrada nos escritos sumérios, acádios, e mesopotâmicos. Assim o autor coloca suas colocações sobre o livro dos Gênesis.

Os primeiros onze capítulos do livro são de caráter político, envolvidos por um espírito religioso, e o restante foi reservado para o estudo das tradições orais. Como no primeiro capítulo dos Gêneses, o autor confessa que ficou assustado sobre as explicações da origem do mundo a partir do século XIX.

O autor cita exemplos de passagens obscuras que ficaram esclarecidas, graças a resultados de escavações arqueológicas. Assim, em Gêneses 15:2, vemos que Abraão deixará sua herança a Eliezer de Damasco, pois o patriarca não tinha um herdeiro (antes do nascimento de Ismael e Isaac). Segundo o Professor Albrigth, a propriedade era deixada sempre para a família, isto era uma antiga prática dos Patriarcas, mais foi inventada uma "brecha" legal. Se alguém, forçado a hipotecar sua casa para um credor, devido a uma colheita ruim ou qualquer outra razão, o credor virava o herdeiro da propriedade. Isso explica este caso: Eliezer, rico comerciante de Damasco, como muitos outros comerciantes, emprestava dinheiro para Abraão e seus vizinhos criadores de gado, tornando-se então um grande credor de Abraão, virando assim seu herdeiro direto. Outra história, em Gêneses 21, descreve quando Raquel, filha de Labão e esposa de Jacó, antes de deixar a casa de seu pai, roubou as imagens dos ídolos da casa, as escondeu, apesar da busca efetuada por seu pai. Nos texto de Nuzi, há uma lei dizendo que quando surge uma dúvida sobre a herança, e não há um texto formal, a herança deveria ficar com quem estivesse possuindo os ídolos da casa. Claro que isto não encerra o fato de porque o roubo existiu, mas este evento trivial foi incluído na história, pois os escribas preservaram esta história, devido a algum significado que ela deve ter tido na época. O significado da atitude de Raquel pode ser explicado hoje em dia. Há vários outros exemplos em complicadas passagens, em que as descobertas de Nuzi e outros locais esclareceram. Graças a essas descobertas, os críticos mais instruídos aceitam a narrativa dos Gênesis, reconhecendo os escritos como narrações de histórias e tradições hebraicas. Além disso, o valor religioso e educacional é muito maior que as descrições das guerras, imigrações de grupos tribais descritos na Bíblia. Se, como afirmaos, os costumes legais descritos nos Gênesis são a autêntica reflexão da sociedade daquela época, as práticas sociais e jurídicas descritas correspondem exatamente a era dos Patriarcas, e não como escritos pós-mosáico, então, segundo o Professor Albright, não podemos considerar as histórias patriarcais como escritos de um período posterior. Não podemos distorcer o resultado das pesquisas sobre a tradição oral e a era dos profetas, que foram ligeiramente modificadas durante o tempo, com a atenção de todos voltada para certos ponto significativos. Deve-se, de modo geral, dar valor a essas histórias de um passado distante. As tentativas de certos críticos, em transferir os escritos sobre o tempo da vida de Abraão e do Êxodo para um tempo posterior, é injustificável, segundo o autor;

Mantendo o ponto de vista de um pesquisador, que aceita a Bíblia como um dos fenômenos da cultura humana, isto é, como parte da cultura religiosa, o Professor Albright não nega a possibilidade de algumas adições ou retiradas de alguns textos, ao longo dos séculos, assim como ele não é contrário a marcação com E, Y, P, etc... Mas, o professor declara definitivamente que: "ao destrinchar o texto bíblico em pequenos pedaços, dividindo-os em versos individuais, as pessoas acabam se enganando sobre o verdadeiro significado do texto." Assim, ele escreve que "não podemos admitir a hipótese de que todos estes escritos são falsos, por isso devemos pesquisá-los com muito cuidado" (pág. 14-15).

Qual o lugar que Moisés ocupa na história? Além dos escritos do Pentateuco relativos a cultura, ritual e prescrições civis, devemos dar uma atenção aos décimo quarto e décimo quinto séculos A.C, pois a religião na época dos patriarcas já era essencialmente monoteísta. Vemos alguns detalhes no Pentateuco, como na construção do Tabernáculo, cujo o autor descreve como um aperfeiçoamento do que estava escrito, quando os escribas colocaram adições posteriores no texto, desta maneira, o autor exemplifica: "a Constituição americana de 1789 foi emendada, mas ela não perdeu sua unidade original, nem a integridade de seu caráter."

O Professor Albright é totalmente contra a aplicação de que foram adicionados "mitos" na Bíblia. Para ele, a introdução do termo "desmistificação" seria mais correto, devido ao atual estudo de idiomas e exegese. Ele escreveu:

"Nos Gêneses, vemos várias passagens da Bíblia onde elementos claramente mitológicos são desmistificados. Por exemplo, na mitologia Cananéia, há uma enorme criatura chamada ‘tanin’, que na Bíblia aparece como ‘baleia’. O ‘tanin’ teria sido um monstro pré-histórico, que teria existido antes dos deuses, e que foi destruído pelo grande deus Baal, ou sua esposa Anat, ou até por outra deidade Cananéia. Mas nos Gêneses, vemos que no quinto dia da Criação, Deus criou ‘tananin gedolim’, uma das primeiras criações gigantescas depois do caos (no eslavônico aparece como ‘grandes baleias’). Eles não eram antecessores dos deuses, eram criações de Deus, este é o começo da desmistificação. Também é impossível considerarmos algumas teorias, como por exemplo, a de que ‘tekhom’, — o grande abismo — descrito no primeiro capitulo dos Gêneses, é o mesmo ‘tekhmatu’ descrito na mitologia Cananéia. Tais alusões a mitologia Cananéia não passam de algumas sugestões em relação ao significado de alguns nomes, da mesma maneira em que a palavra ‘cereal’ representa a fé na deusa Ceres. A Bíblia usa vários nomes de deusas e deuses antigos como nomes comuns, assim como o nome Astarte significa pastor, Shumem, o deus da saúde, virou a palavra ‘saúde’, ou ainda, uma divindade que emprestou seu nome à árvore de carvalho, sempre para entreter. Todo isso é um bom exemplo para a desmistificação." (W.F. Albright, "The Ancient Israelite Mind,’ em New Horizons in Biblical Research).

Atualmente, fica bem claro que a tarefa de Moisés era rejeitar lendas míticas pagãs, repletas de deuses e deusas, confirmando o monoteísmo entre seu povo, preservando a oração e a fé em Um Deus, Criador e Onisciente.

Uma Visão Geral dos Resultados da Chamada Escola de Criticismo Bíblico Racionalista.

Como limitamos esta pesquisa ao assunto do Pentateuco, vamos colocar algumas conclusões sobre as principais idéias relativas ao caráter e ao trabalho do criticismo bíblico e seus objetivos.

Para a Igreja Cristã primitiva, aparentemente, as posições dos rabinos em relação aos livros da Bíblia não possuíam nenhum caráter dogmático. Porém, eles a preservaram. Mas Por que? Isto não é apenas para uma compreensão espiritual, já que a retidão e a consciência de Deus fazia parte do homem do Velho Testamento, Porque o Senhor é justo, ele ama a justiça; e os homens retos contemplarão a sua face (Salmos 10:7). Conseqüentemente, o judeu religioso tem medo de qualquer falsidade, decepção, injustiça e tudo aquilo que traz o escândalo do próximo: "Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor. Mas Deus me ouviu; atendeu a voz da minha súplica" (Salmos 65:18-19). "Guarda-te da ira, depõe o furor, não te exasperes, que será um mal, porque os maus serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra" (Salmos 36:8-9). "Detesto a companhia dos malfeitores, com os ímpios não me junto" (Salmos 25:5). "Aceitai, Senhor, a oferenda da minha promessa e ensinai-me as vossas ordens" (Salmos 118:104). O princípio de retidão é um rumo para a compreensão da "fé" para o judeu do Velho Testamento, e o judaísmo era a religião que desenvolveu no Velho Testamento a idéia de "uma pessoa íntegra" significa um homem religioso, e isso passou para o Cristianismo.

A "Escola do Criticismo" constrói suas hipóteses em um argumento contraditório, pois coloca que tudo tem tendência a falsificação, pois os líderes espirituais de Israel criavam antigas tradições nos livros da Bíblia. Se isso é verdade, uma série de erros se segue.

Como uma criação artificial, mentirosa, poderia ter uma exortação pessoal elevada, além do grande entusiasmo dado na alma dos dirigentes do povo hebreu e finalmente, como teria aparecido o temor a Deus? De onde veio todo esse zelo pela religião, além das exortações dirigidas as pessoas, para as prontificar para a abnegação, e para o sacrifico de sim mesmo, que eles faziam? Encontramos esta contradição em diversas passagens.

Vamos mostrar uma passagem específica. Como pode uma falsificação, feita pelo Sacerdote Hilkiah (segundo o artigo do Professor Kartashev "como podemos concordar com uma história incrível [IV Reis 22-23], da descoberta do ‘Livro da Lei’, durante a renovação do Templo de Jerusalém, — um livro totalmente desconhecido, para o Sacerdote Hilkiah, que o achou — na época do reinado de Josias, íntegro e fiel a Yahweh e sua nação? Isto ocorreu mil anos após Moisés, no ano de 621, trinta e seis anos antes de Jerusalém ser levada ao cativeiro por Nabucodenozor. Não, isto não pode ser facilmente compreendido, pois um livro não é facilmente esquecido, este livro achado durante o reinado de Josias era completamente novo. A ilusão de que o Pentateuco existiu num tempo imemorial é como uma fumaça. Realmente, o Pentateuco não existiu." (isto significa que do ponto de vista de Kartashev, uma falsificação grotesca e perigosa foi feita), e até mesmo se um trabalho novo fosse passado como velho, porque a primeira revificação religiosa dos hebreus foi chamada de "primeiro renascimento"? UMA pergunta semelhante pode ser feita em relação a atividade de Esdras. Se Esdras, chamando as pessoas para a volta da prática da lei de Moisés, criada por Deus (Neemias 10:29), baseando-se na autoridade de Moisés, estava estão induzindo o povo ao erro, e as pessoas não suspeitavam dos grandes sacrifícios, e auto-renúncia, quando o povo removeu todas as mulheres não-judias? Um "segundo renascimento" poderia ter sido colocado em um lugar mais duvidoso da história.

O criticismo mantém a posição de que o cativeiro da babilônia fez o povo judeu ser muito influenciado pelos povos estrangeiros — babilônios, persas e gregos e que esta influência é notada em diversos livros da Bíblia, que foram adotados como anteriores, mas emprestaram diversas crenças religiosas dos povos opressores. É desta maneira que os críticos enxergam uma instabilidade e contradição no Velho Testamento e nas crenças judaicas. Há argumentos para confirmar tal posição? A opressão não cria uma tendência contrária a ideologia de uma nação? Não a inclina para a rejeição (dos opressores) e uma determinação em rejeitar toda influência estrangeira? Uma indicação deste tipo de reação pode ser vista no Salmo 136. "Às margens dos rios de Babilônia, nos assentávamos chorando, lembrando-nos de Sião." Uma parte do povo escravizado esquece de seu idioma, mas isso ocorre independentemente de sua vontade. Por outro lado, na área religiosa, é inspirado um senso de preservação e de rejeição a intrusão do estrangeiro em sua espiritualidade. Podemos citar como exemplo um período mais recente. Os gregos e eslavos ocidentais, conservaram a Ortodoxia ao longo de muitos séculos de dominação turca, permanecendo a fé inalterada. O povo russo preservou sua fé, mesmo debaixo do jugo de Tatar. Mas o antigo Império Romano, criou dentro de si mesmo um sincretismo religioso, que assimilou várias religiões das nações incluídas em seu domínio. Essa é uma característica do povo que também se aplica a seus líderes.

A autonomia, estabilidade e independência religiosa presente na Bíblia, pode ser gradualmente confirmada por estudos de antigos manuscritos hebreus, achados na Palestina e nos pergaminhos do Mar Morto. Tais achados não são apenas recortes do Velho Testamento, mas refletem uma época do Novo Testamento também. Deixe-nos recorrer ao testemunho da arqueologia, de acordo com o Professor Albright:

"Eles afirmam que o pensamento filosófico grego teve influência em uma parte do Velho Testamento, especialmente nos livros de Jó e Eclesiastes. Dato o livro de Jô como de aproximadamente do século VII A.C. O problema mais profundo estudado atualmente, é de como achar o rastro do pensamento filosófico grego nestes trabalhos. Eclesiastes é datado como perto do final do século V A.C. Entretanto, não reconheço a semelhança de pensamento entre os escritos dos Profetas e de pensadores gregos do século VI A.C, além de um material fenício do mesmo período, a literatura hebraica é tão velha quanto a grega, e pode ser comparada em conteúdo. No geral, em nenhuma parte do século VI nos escritos pagãos do Leste, ou no Velho Testamento, ou até em Homero ou Hesíodo, é possível achar um rastro de pensamento filosófico autêntico." (W.F. Albright, "The Ancient Israelite Mind").

 

O mesmo autor descreve a independência do pensamento bíblico em relação a influência grega, com base nas pesquisas feitas nos pergaminhos do Mar Morto. Este material é da época do Novo Testamento.

 

Folheto Missionário número P077k

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(biblical_criticism_pomazansky_p.doc, 01-06-2005)