Doutrina

Cristã Ortodoxa

 

(Baseada nos ensinamentos da teologia Ortodoxa)

 

I. A Fé Crista Ortodoxa

 

 

Conteúdo:

Introdução.

A Revelação Divina.

A Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras.

As Partes Gerais da Doutrina Cristã Ortodoxa.

A "Profissão de Fé Ortodoxa."

As Partes Integrantes do "Credo"

Deus em geral e o Deus Pai — a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade.

Sobre o Sinal da Santa Cruz.

Sobre Deus.

Sobre a Criação do Mundo, Os Anjos e Satanás.

Sobre o Homem, o Paraíso e o Pecado dos Primeiros Homens.

Sobre o Destino, a Graça, e a Providência Divina.

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — O Filho de Deus.

A encarnação do Filho de Deus.

A Terra Santa.

Jesus-Messias.

Os padecimentos e a morte de nosso Senhor.

A ressurreição de Jesus Cristo.

E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

A segunda vinda de nosso Senhor à terra.

A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade — O Espírito Santo.

 

 

Introdução

"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus" (S. Mateus: 5:16).

"Conserva a modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e na caridade que há em Jesus Cristo" (2 Tim: 1:13).

 

 

1. O que denominamos "A Doutrina Cristã?"

Denominamos "Doutrina Crista, a ciência que trata da fé cristã Ortodoxa, ministrada a todo cristão, com o objetivo de instrução no caminho que deve trilhar, para bem servir a Deus e conseguir a salvação da alma.

2. O que devemos fazer para bem servir a Deus e conseguir a salvação eterna?

A fim de bem servir a Deus e conseguir a salvação eterna, devemos:

1. Conhecer o Deus verdadeiro;

2. Possuir a fé inabalável nele;

3. Viver de acordo com a, fé, fazendo sempre o bem.

3. Por que a fé em Deus é absolutamente necessária para a salvação?

Pois como dizem as Sagradas Escrituras: "Sem a fé é impossível agradar a Deus" (Hebr. 11:6), e também: "Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado" (S. Marcos. 16:16).

4. Por que se exige também uma vida de acordo com a fé e as obras do bem?

Pois as Sagradas Escrituras nos ensinam: "A fé sem as obras é morta" (S. Tiago. 2:20).

5. O que é a fé?

S. Paulo explica-nos que a fé é "O firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem" (Hebr. 11:1).

A fé é, portanto, a certeza daquilo que não podemos ver e o desejo e esperança da eterna salvação.

6. Em que consiste a diferença entre a ciência e a fé?

A ciência estuda tudo que podemos ver e compreender.

A fé ocupa-se com aquilo que não podemos ver e raramente conseguimos compreender.

A ciência está apoiada nas pesquisas.

A fé apoia-se na confiança absoluta às revelações da verdade.

A ciência é objeto do intelecto (cérebro), podendo ter uma influência no coração humano (sentimentos).

A fé é objeto do coração, embora nasça no pensamento humano.

7. Por que devemos estudar a Religião?

Porque a Religião é a mais importante das ciências humanas: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mat. 16:26).

Devemos prestar a máxima atenção às aulas de Religião, estudando com o maior empenho possível, para que as verdades se gravem profundamente nos nossos corações e para que possamos atingir a salvação de nossas almas.

8. Por que é necessária não somente a sabedoria, mas antes de tudo a fé, para podermos atingir a salvação eterna?

Porque o estudo da Religião divulga as verdades sobre Deus, que é invisível e impossível de descrever; a sabedoria Dele está escondida em grandes mistérios, disto se compreende, que uma parte do estudo da Religião não pode ser compreendida por meios comuns (cérebro), podendo ser sentida com auxílio da fé.

Diz São Cirílo de Jerusalém: "A fé é o olho que ilumina toda a consciência, a fé torna o homem consciente.

Diz o profeta Isaías: "Se não crerdes, certamente não ficareis firmes" (Is. 7:9).

Ensina também São Cirílo: "Não somos nós os únicos, denominados Cristãos, que consideram a fé como sendo algo de muito elevado, mas tudo o que está acontecendo no mundo, mesmo entre os homens de outras crenças, faz-se por intermédio da fé.

Na fé está apoiada a agricultura; pois se o agricultor não tivesse fé em conseguir uma colheita proveitosa, não teria empenhado todos os seus esforços... Pela fé dirigem-se os marujos, etc. (Ensinamentos: 5).

A Revelação Divina

9. Onde buscamos os ensinamentos sobre a Fé Crista Ortodoxa?

Buscamo-los na Revelação Divina.

10. Que é Revelação Divina?

Chamamos Revelação Divina tudo aquilo que o próprio Deus revelou aos homens, para que estes possam acreditar Nele verdadeiramente, conseguir a eterna salvação e apresentar-lhe constantemente o mais condigno louvor.

11. Deus a todos os homens deu a Revelação Divina?

Sim, Deus deu a todos os homens a Revelação Divina, pois ela conduz à salvação eterna, sendo absolutamente necessária a todos.

A Revelação Divina não podia ser oferecida aos homens diretamente; por isto Deus escolheu para este fim pessoas especialmente piedosas e boas, que receberam de Deus a Revelação, transmitindo-a em seguida aos homens, desejosos em recebê-la.

12. Por que os homens não estão aptos a receber a Revelação Divina?

Devido à imensidade de pecados e à fraqueza do corpo e da alma.

13. Por intermédio de quem revelou Deus tudo aquilo em que devemos crer?

A primeira Revelação Divina foi feita a Adão, em seguida a Noé, depois a Abraão, Moisés e outros profetas. Em toda plenitude, porém, e em toda perfeição apresentou a Revelação Divina aos homens o incarnado Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que a divulgou e expandiu pelo universo todo por intermedio dos Seus santos discípulos — o apóstolos.

Diz São Paulo: "Antigamente havia Deus falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós nos falou nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo" (Hebr. 1:1-2).

O mesmo apóstolo diz também: "Falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus". (1ª Cor.: 2; 7, 8, 10) E também São João Evangelista diz: "Deus nunca foi visto por alguém, o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse o fez conhecer" (S. João. 1,18).

O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (S. Mat. 11:27).

14. Pode o homem conhecer a Deus sem uma Revelação Divina?

O homem pode conhecer a Deus pela observação do mundo visível. Êste conhecimento, porém, é incompleto imperfeito, podendo servir apenas como preparação para o nascimento da verdadeira fé, sendo um auxílio para o conhecimento de Deus dentro da Revelação Divina. "Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua Divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (Rom. 1,20).

"E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós. Porque Nele vivemos e nos movemos e existimos" (Atos 17:26-28).

"Meditando sobre a fé em Deus, predomina o pensamento que Deus existe; conseguimos êste pensamento observando as coisas criadas. Pesquisando com empenho a criação do mundo, chegamos a conhecer que Deus é universalmente sábio, todo-poderoso, bom; conhecemos também as Suas qualidades invisíveis. Desta forma aceitâmo-lo como Poder -Supremo. já que Deus é Criador do mundo e nós mesmos fazemos parte dêste mundo, torna-se obvio, que Deus é também o nosso Criador. Como conseqüência da compreensão desta verdade surge a fé, pela qual prestamos a Deus o nosso louvor e a nossa homenagem (Basílio o Grande, Epistola 232).

15. Podemos compreender as Verdades Reveladas por meio do cérebro (intelecto)?

Algumas Verdades Reveladas podemos compreendê-las por meio do cérebro (intelecto); muitas, porém, nenhum cérebro humano seria capaz de explicar ou compreender.

16. Como se chamam as Verdades Reveladas, que não podem ser explicadas ou compreendidas pelo cérebro humano?

As Verdades Reveladas impossíveis de compreender ou explicar, chamam-se Mistérios da Fé.

 

A Sagrada Tradição

e as Sagradas Escrituras

17. De que maneira difundiu-se a Revelação Divina entre os homens, sendo conservada pela verdadeira Igreja de Deus?

De dois modos:

    1. Pela transmissão verbal de Verdades Divinas de pai a filho, conhecida pelo nome da Sagrada Tradição.
    2. Pelas Escrituras Sagradas que têm o nome de Bíblia.

18. Como devemos compreender o significado da denominação: A Sagrada Tradição?

Pela Sagrada Tradição devemos entender tudo aquilo que sobre a verdadeira fé, os mistérios, etc., os nossos genuinamente piedosos e crentes ancestrais transmitiram aos seus filhos, estes, por sua vez, deixaram essas verdades aos seus filhos e assim por diante, chegando desta forma até aos nossos dias.

19. Onde a Sagrada Tradição se acha conservada de modo infalível?

Todos os verdadeiros crentes, unidos pela Sagrada adição da Fé, em perfeita união e hereditariedade, de acordo com as Leis Divinas, formam a Santa Igreja, que é justamente a eterna conservadora do tesouro da Sagrada Tradição. "Igreja de Deus Vivo, a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim. 3:15). Diz Santo Irineu: "Não se deve procurar a Verdade no meio dos outros, pois é tão fácil encontrá-la no seio da Igreja. Pois, como numa riquíssima caixa de tesouros, haviam os apóstolos depositado em toda plenitude tudo que pertence à Verdade; qualquer um, pois, que deseja, pode obter dela a Água da Vida. A Igreja é a porta da Vida" (Tratado contra heresias — Livro 3, cap. 4).

20. O que são as Sagradas Escrituras?

São o conjunto de livros (obras), escritas sob a inspiração do Espírito Santo, por homens santificados por Deus, denominados Profetas e Apóstolos. Comumente chama-se este conjunto de livros: a Bíblia.

21. Que significa a palavra "Bíblia"?

A palavra "Bíblia" é de origem grega, e significa "Os livros."

Esta determinação indica também, que as Sagradas Escrituras são os livros mais importantes de todos que já foram escritos.

22. O que é mais antigo: a Sagrada Tradição ou as Sagradas Escrituras?

O meio mais antigo de divulgação da Revelação Divina foi a Sagrada Tradição. Dos tempos do primeiro homem, Adão, até Moisés, não havia Escritura Sagrada alguma. O próprio Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, transmitiu os Seus divinos ensinamentos aos Apóstolos, por meio de palavras e de exemplos e não por intermedio de livros. Da mesma forma procediam no começo os Santos Apóstolos, que divulgavam as Verdades verbalmente, firmando os alicerces da Santa Igreja.

A necessidade da existência da Sagrada Tradição é evidente, pois dela pode tirar proveito um número muito maior de pessoas, do que das Sagradas Escrituras, já que nem todos sabem beneficiar-se dos livros.

23. Com que fim foram criadas as Sagradas Escrituras?

Para conservar a Revelação Divina de maneira precisa e inalterável.

Nas Sagradas Escrituras, pois, lemos as palavras proferidas por Profetas e Apóstolos, como se ouvíssemos as Verdades dos próprios lábios destes santos homens, apesar dessas obras divinas datarem de vários séculos ou até milênios.

24. Devemos sujeitar-nos à Sagrada Tradição, uma vez que possuímos as Sagradas Escrituras?

Sem dúvida alguma. Devemos sujeitar-nos à Sagrada Tradição, pois esta é diretamente coligada com a Revelação Divina e com as Sagradas Escrituras; assim, pois, as próprias Sagradas Escrituras nos dão o seguinte ensinamento: "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" (2 Tess. 2:15).

25. Por que então devemos considerar a Sagrada Tradição necessária, nos tempos atuais?

Para orientação e melhor compreensão das Sagradas Escrituras; para execução exata e perfeita dos Santos Sacramentos e para conservação pura e incorruptível dos rituais sagrados.

São Basílio Magno diz: "Alguns dogmas e ensinamentos da Igreja possuímos das fontes escritas, tendo obtido outros da tradição apostólica, hereditariamente e misteriosamente. Tanto estes, quanto aqueles possuem a mesma força" (Regra 97, Do Espírito Santo. Cap. 27).

26. Quando foram escritas as Escrituras Sagradas?

Uma parte foi escrita antes do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo, e outra parte depois do nascimento do Salvador.

27. Em quantas partes principais dividem-se as Sagradas Escrituras?

As Sagradas Escrituras são divididas em duas partes principais: Antigo ou Velho Testamento e Novo Testamento.

28. Que significam as palavras: Antigo e Novo Testamento?

Significam: a antiga união de Deus com os homens e a nova união de Deus com os homens.

29. Quais são os espaços de tempo compreendidos pelos Antigo e Novo Testamentos?

O Antigo Testamento encerra o período antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, todos aqueles Livros Sagrados escritos antes da Era Cristã. O Novo Testamento inicia-se com a sagrada noite de Belém, quando Deus desceu à terra para salvar o gênero humano do pecado e da morte eterna. Os livros do Novo Testamento foram escritos após este acontecimento.

30. Em que consiste a antiga união de Deus com os homens (O Velho Testamento)?

Consiste em promessa solene, dada aos homens pelo Deus Todo-poderoso, de que mandaria o Divino Salvador para salvar os homens dos seus pecados. Consistia também em preparar a humanidade para receber o Filho de Deus.

31. De que maneira preparou Deus os homens para receberem o Salvador?

Por meio de Revelações, Profecias e Ensinamentos.

32. Em que consiste a nova união de Deus com os homens (O Novo Testamento)?

Consiste no fato de Deus ter oferecido realmente o Seu Filho Unigênito, o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, para salvar o gênero humano.

33. De quantos livros estão constituídas as Sagradas Escrituras do Antigo Testamento?

Os Santos Cirílo de Jerusalém, Atanásio o Magno e João Damasceno contam 22 destes livros sagrados, seguindo o exemplo dos antigos hebreus, que mantiveram este cálculo nas suas tradições. (S. Atan. Epistola 39; S. João Damasceno: Teologia — Livro 4, cap. 17).

34. Por que devemos seguir o sistema adotado pelos hebreus?

Diz o Apóstolo Paulo: "Porque, primeiramente as palavras de Deus lhes (aos Hebreus) foram confiadas" (Rom.3:2). A nova união de Deus com os homens, representada pela Santa Igreja Cristã Ortodoxa, que herdou as Escrituras Sagradas do Antigo Testamento, da Igreja da Antiga União de Deus com os homens — a hebraica.

35. De que forma os Santos Cirílo e Atanásio apresentam as Escrituras Sagradas do Antigo Testamento?

Eis a ordem pela qual as Escrituras do Antigo Testamento são apresentadas:

1- Gênesis (livro da criação) — 1 livro de Moisés.

2- Êxodo — 2 livro de Moisés.

3- Levítico — 3 livro de Moisés.

4- Números — 4 livro de Moisés.

5- Deuteronômio (Segunda legislação) — 5 livro de Moisés.

6- Jesus Navin (Josué).

7- Juizes, coligado com o livro de Ruth, na forma de suplemento.

8- 1 e 2 livro dos Reis em conjunto com os 1 e 2 livros de Samuel em forma de dois volumes de uma só obra.

9- 3 e 4 livro dos Reis.

10- 1 e 2 livro de Crônicas (Paralipômenos).

11-1 livro de Esdras e 2 livro do mesmo, chamado, porém, em grego — livro de Neemias.

12-Ester.

13- Jó.

14- Salmos.

15- Provérbios do rei Salomão.

16- Eclesiástes (Ensinamentos do mesmo rei).

17- Cantares do rei Salomão.

18- Isaías.

19- Jeremias.

20- Ezequiel.

21- Daniel.

22- Dos doze profetas: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageo, Zacarias, Malaquias.

36. Por que nestes 22 livros não se fala do livro da Sabedoria, dos livros de: Sirah, Tobias, Judith e dos dois livros dos Macabeus?

Porque estes livros não existem em idioma hebraico.

37. Como devemos encarar estas últimas obras?

Diz Santo Atanásio Magno: "Elas estão destinadas para a leitura daqueles que desejam aderir ao Cristianismo.

38. De que forma se dividem os livros do Antigo Testamento quanto ao seu conteúdo?

Dividem-se nos quatro grupos seguintes:

    1. Os livros legislativos, q. d. aqueles que contêm ensinamentos sobre as Leis. A este grupo pertencem os 5 livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
    2. O próprio Senhor Jesus Cristo denominou estes livros de "Leis Mosaicas" (S. Lucas 24:44).

      Estes livros representam a base principal na qual se apoia o Antigo Testamento na sua totalidade.

    3. Os livros históricos: Josué (Jesus Navin), Juízes, Ruth, os livros dos Reis, os livros das Crônicas, os livros de Ezdras e Ester.
    4. Os livros instrutivos: O livro de Jó, Os Salmos, Os Provérbios do rei Salomão, Eclesiastes e os Cantares do rei Salomão.
    5. Os livros proféticos: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os livros dos doze profetas menores.

39. Que há de importante no livro do Gênesis?

Neste livro encontramos a descrição da criação do universo e do homem, da história primordial da humanidade e do estabelecimento dos sentimentos religiosos entre os primeiros homens.

40. Sobre que tratam os outros quatro livros de Moisés?

Estes livros contam-nos a história da religiosidade nos tempos de Moisés, como também sobre as Leis por ele recebidas do próprio Deus.

41. Que devemos saber sobre o livro dos Salmos?

O livro dos Salmos não somente ensina e eleva a alma às práticas piedosas, mas contém ainda um número considerável de profecias sobre a sagrada pessoa do Salvador. Este livro admirável é um guia magnífico para as preces e a glorificação de Deus, sendo constantemente utilizado em todos os rituais da Santa Igreja Cristã Ortodoxa.

42. Quantos livros contêm as Escrituras Sagradas do Novo Testamento?

Contêm vinte e sete livros. São esses:

43. Quais são?

São esses:

    1. Santo Evangelho de São Mateus.
    2. Santo Evangelho de São Marcos.
    3. Santo Evangelho de São Lucas.
    4. Santo Evangelho de São João.
    5. Os Atos dos Apóstolos.
    6. Epístola Universal de São Tiago.
    7. I Epístola Universal de São Pedro.
    8. II Epístola Universal de São Pedro.
    9. I Epístola Universal de São João.
    10. II Epístola Universal de São João.
    11. III Epístola Universal de São João.
    12. Epístola Universal de São Judas.
    13. Epístola de São Paulo aos Romanos.
    14. I Epístola de São Paulo aos Corintios.
    15. II Epístola de São Paulo aos Corintios.
    16. Epístola de São Paulo aos Gálatas.
    17. Epístola de São Paulo aos Efésios.
    18. Epístola de São Paulo aos Filipenses.
    19. Epístola de São Paulo aos Colossenses.
    20. I Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses.
    21. II Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses.
    22. I Epístola de São Paulo a Timóteo.
    23. II Epístola de São Paulo a Timóteo.
    24. Epístola de São Paulo a Tito.
    25. Epístola de São Paulo a Filemon.
    26. Epístola de São Paulo aos Hebreus.
    27. Apocalipse de São João.

44. Qual é o outro meio de formular as partes do Novo Testamento?

Podemos discriminar os livros do Novo Testamento da seguinte forma:

    1. Os quatro Evangelhos.
    2. Os Atos dos Apóstolos.
    3. Uma Epístola de São Tiago.
    4. Duas Epístolas de São Pedro.
    5. Três Epístolas de São João.
    6. Uma Epístola de São Judas.
    7. Quatorze Epístolas de São Paulo.
    8. misterioso Apocalipse de São João.

45. De que forma discriminamos os livros do Novo Testamento quanto ao seu conteúdo?

De acordo com o seu conteúdo recebem os livros do Novo Testamento a seguinte discriminação:

    1. Os livros legislativos, que são a base principal da nova união de Deus com os homens e levam o nome de Evangelhos.
    2. livro histórico, denominado Atos Apostólicos ou Atos dos Apóstolos.
    3. Os livros instrutivos, que são as Sete Epístolas Universais dos santos apóstolos: Tiago, Pedro, João e Judas e também as catorze Epístolas do santo apóstolo Paulo.
    4. livro profético, que é o Apocalipse do santo apóstolo São João Teólogo.

46. Que quer dizer a palavra Evangelho?

Evangelho é uma palavra grega e significa "Boa Nova" ou então uma "Mensagem feliz (alegre)."

47. Sobre que assunto tratam os Santos Evangelhos e qual é a razão do próprio nome "Evangelho?"

Nos Evangelhos fala-se sobre a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo; da Sua chegada à terra e da Sua vida entre os homens; dos milagres que fez; dos maravilhosos ensinamentos que deixou aos Seus discípulos; das endoenças e da morte na cruz e finalmente da ressurreição e ascensão aos Céus, onde reina com Deus Pai e Deus Espírito Santo em supremo mistério da Santíssima Trindade.

Em virtude de ser a mensagem sobre a chegada do Salvador dos homens, ao mesmo tempo a mensagem da eterna salvação, consideramo-la como sendo a mais feliz de todas as novas. Assim se explica o alegre canto "Glória a ti Senhor!" após a leitura do Santo Evangelho na igreja.

48. Sobre que assunto tratam os Atos Apostólicos e quem é o autor desta obra?

Nos Atos Apostólicos chegamos a conhecer o modo pelo qual se constituiu a Santa Igreja Cristã Apostólica e Ortodoxa; do dia em que o Espírito Santo pousou nos apóstolos e da divulgação das Sagradas Verdades da nossa religião pelos santos apóstolos.

Esta obra maravilhosa foi escrita pelo santo apóstolo Lucas.

49. Que significa a palavra apóstolo?

A palavra apóstolo é de origem grega e significa enviado ou mensageiro.

Com este nome chamamos os discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo, enviados pelo Divino Mestre ao mundo para pregação do Evangelho.

50. Que significa a palavra Apocalipse, e sobre que assunto trata este livro?

Esta palavra é, também, de origem grega e significa Revelação. Nesta obra profética é apresentado em forma misteriosa o futuro da Santa Igreja Cristã e do mundo.

51. Como devemos ler as Sagradas Escrituras?

Devemos lê-las:

    1. Piedosamente e com divino respeito, pois é desta forma que deve ser lida e estudada a Palavra de Deus; rezando para que as Sagradas Palavras cheguem à nossa compreensão.
    2. Com sinceras intenções, a fim de que a leitura possa instruir-nos na Fé e levar-nos aos atos do Bem.
    3. Meditando e compreendendo-as de acordo com as explicações da Santa Igreja Apostólica Ortodoxa.

52. Quais são os outros indícios, que demonstram serem as Sagradas Escrituras — a Palavra de Deus?

São estes os indícios da divindade das Palavras das Sagradas Escrituras:

    1. A magnitude do ensinamento, que demonstra não ter podido nascer no intelecto humano, mas sim ter encontrado origem na própria Sabedoria de Deus.
    2. A pureza e a sinceridade do ensinamento, demonstrando que descende do puríssimo Espírito Divino.
    3. As profecias, que são as predições extraordináriamente exatas dos acontecimentos futuros.
    4. Os milagres, que são curas do corpo e da alma causadas pela fé inabalável e pela graça de Deus; curas essas inexplicáveis do ponto de vista das ciências humanas oficiais.
    5. A atuação poderosíssima das verdades e ensinamentos, contidos nas Sagradas Escrituras, sobre os intelectos (cérebros) e corações (sentimentos) humanos, própria, única e exclusivamente do poder Supremo de Deus.

53. Que são as profecias?

São as predições exatas das coisas futuras, que não podem ser conhecidas de alguém, além do Deus Todo-Poderoso.

54. Por que consideramos as profecias o início da verdadeira revelação divina?

Explicaremos esta pergunta por meio do seguinte exemplo:

O profeta Isaías predisse com antecedência de vários séculos, o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo da Virgem Maria, fato este sob hipótese alguma sequer imaginado naquela longínqua época histórica. Não resta dúvida alguma de que as palavras desta profecia foram ditadas ao profeta Isaías pelo próprio Deus.

Sobre este assunto diz-nos o santo apóstolo Mateus: "Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta que diz: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco" (Mat. 1:22-23).

55. Que são os milagres?

Os milagres são atos sobrenaturais, que não podem ser efetivados pela força humana ou conhecimentos humanos, não atingíveis por qualquer outra força natural, mas sim unicamente com participação direta da força infinita de Deus.

Exemplos: cura de moléstia incurável, ressurreição de um morto, etc..

56. Por que consideramos os milagres como sendo indício da verdadeira Palavra de Deus?

Porque, quem faz milagres, procede com graça do Poder Divino; disto se compreende que ele agradou a Deus de forma tão eficaz, que por intermédio dele Deus demonstrou as Suas forças supremas. Um homem que possui essas qualidades superiores, indubitavelmente só fala a Verdade. Por isso, tudo o que ele diz em nome de Deus deve ser considerado Verdade absoluta — a Palavra de Deus Vivo.

Nosso Senhor Jesus Cristo considerava os milagres um testemunho importantíssimo da Sua sagrada missão entre os homens: "As obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou" (S. João.5:6).

57. Em que nos apoiamos quando afirmamos a poderosa atuação do ensinamento cristão no espírito humano?

Apoiamo-nos no fato de que os doze apóstolos pertenciam à classe de homens iletrados; apesar do que conseguiram compenetrar-se ao fundo dos Divinos Ensinamentos do seu Mestre, divulgando o Evangelho e conduzindo ao Cristo os poderosos deste mundo: os reis, sábios e ricos e até povos inteiros.

 

As Partes Gerais

da Doutrina Cristã Ortodoxa

 

58. Em quantas partes dividimos a Doutrina Cristã Ortodoxa?

De acordo com o livro intitulado: "A Religião Ortodoxa," aprovado pelos Beatíssimos Patriarcas Ortodoxos do Oriente, consideramos como base da Doutrina Cristã a indicação do santo apóstolo Paulo, que nos ensinou como conduzir a nossa vida inteira pelos três princípios fundamentais: A Fé Cristã, a Esperança Cristã e o Amor Cristão (chamado também de Caridade). "Agora pois permanecem estas três: a Fé, a Esperança e a Caridade, mas a maior delas é a Caridade" (l-a Cor. 13:3).

Por isso necessita o Cristão:

    1. de ensinamentos divinos sobre a Fé, colhidos nas obras divinamente inspiradas (As Escrituras Sagradas) e nos mistérios Sagrados da Santa Igreja.
    2. de ensinamentos divinos sobre a Esperança e dos meios para se afirmar neles.
    3. de ensinamentos divinos sobre o Amor (Caridade) a Deus e a tudo aquilo que Deus nos indicou para ser amado.

59. De que forma nos ensina a Santa Igreja sobre a Fé?

A Santa Igreja ensina-nos sobre a Fé Cristã por meio do credo (profissão de Fé).

60. Em que nos baseamos, quando falamos sobre ensinamentos da Esperança Cristã?

Baseamo-nos na Oração ensinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, denominada "Pai nosso," que chamamos também "Oração do Senhor," e também nas "Bem-aventuranças Evangélicas."

61. Onde encontramos ensinamentos para compreensão do Amor Cristão (A Caridade)?

Nos 10 Mandamentos de Deus.

 

A "Profissão de Fé Ortodoxa"

62. A "Profissão de Fé Ortodoxa" denomina-se também o "Credo". Que significa esta palavra?

"Credo" é uma palavra latina, que significa "A Fé," sendo um-conjunto de Verdades escritas, que representam, em forma concentrada, tudo aquilo em que devem crer os Cristãos.

63. Como se apresenta em forma original e inalterada a "Profissão de Fé Ortodoxa?"

Esta é a forma original e inalterada:

1 . Creio em um só Deus Pai, Onipotente, Criador do Céu e da Terra, de tudo que é visível e invisível.

2. E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos.

Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gênito e não feito, consubstancial ao Pai, por quem foram feitas todas as coisas.

3. Que desceu dos céus por causa de nós homens, e por nossa salvação, e encarnou-se pelo Espírito Santo e da Virgem Maria e, se fez Homem.

4. E foi crucificado por nossa causa, sob o poder de Poncio Pilatos, padeceu e foi sepultado.

5. E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras.

6. E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

7. E novamente virá, com Glória, para julgar os vivos e os mortos e cujo Reino não terá fim.

8. E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que do Pai procede e que é com o Pai e o Filho adorado e glorificado, e que falou pelos profetas.

9. E numa só Igreja; Santa, Universal e Apostólica.

10. Confesso, também, um só Batismo para a remissão dos pecados.

11. E espero a ressurreição dos mortos.

12. E a vida de século futuro. Amém.

64. Qual é a denominação que se dá ao "Credo"?

Chamamos este Credo — a profissão de Fé "Niceo-Constantinopolitana." Esta denominação explica-se pelo fato de ter sido o "Credo" redigido pelos Santos e sábios Pais da Igreja nos dois primeiros Concílios Universais, que se realizaram nas cidades de Nicéia e Constantinopla, respectivamente.

65. O que é o Concílio Universal?

Denominamos Concílio Universal uma reunião de Pais e Ensinadores da Santa Igreja, Universal, Apostólica e Ortodoxa, vindos de preferência do mundo inteiro, para resolver as questões da Fé, Ética e Moral cristãs e estabelecer os alicerces da verdadeira e certa interpretação das Verdades Divinas.

66. Quais foram os Concílios Universais?

Houve sete Concílios Universais:

    1. Em Nicéia no ano 325 D. C.
    2. Em Constantinopla no ano 381 D. C.
    3. Em Éfeso no ano 341 D. C.
    4. Em Calcedônia no ano 451 D. C.
    5. Em Constantinopla no ano 553 D. C.
    6. Em Constantinopla no ano 680 D. C.
    7. Em Nicéia no ano 787 D. C.

67. Quais os assuntos deliberados nesses Concílios Universais?

Foram os seguintes:

    1. O primeiro Concílio Universal em Nicéia deliberou sobre a heresia de Ário, que dizia ser nosso Senhor Jesus Cristo somente homem inspirado por Deus e não a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Nessa reunião, foi condenada a doutrina errônea de Ário, sendo criados os primeiros 7 pontos do Credo.
    2. Seguindo o mau exemplo de Ario, que rejeitou a divindade de nosso Senhor, surgiu outro herege chamado Macedônio, que se atreveu a descrer da divindade da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Para condenar este horrível erro, foi convocado o segundo Concílio Universal em Constantinopla, que não somente afirmou sobremaneira a verdadeira Fé, mas também completou o "Credo" da Santa Igreja, deixando-o na forma utilizada até os nossos dias.
    3. O terceiro Concilio em Éfeso reuniu-se para condenar a Nestório, que espalhava crença errônea, ensinando que a Virgem Maria não era Mãe de Deus, mas sim só de um homem chamado Jesus, que era unido a Deus únicamente de modo espiritual.
    4. O quarto Concílio em Calcedônia julgou a doutrina errada de Eutíquio, o qual querendo combater Nestório, o causador do Concílio anterior, cometeu por sua vez erros ainda piores, recusando a nosso Senhor toda e qualquer parte humana. Neste Concílio foi definitivamente estabelecido, que nosso Senhor uniu em Si duas naturezas: A divina e a humana. A heresia de Eutíquio chama-se Monofisitismo, que quer dizer, em grego, uma só natureza.
    5. O quinto Concílio Universal em Constantinopla condenou as obras escritas pelos seguidores do herege Nestório (vide o terceiro Concílio Universal). contribuindo desta forma para a eliminação do perigo que representa a divulgação de doutrinas errôneas.
    6. Apesar dos esforços da Santa Igreja, eram constantes as rixas entre os verdadeiros seguidores da doutrina cristã, e os heréticos, seguidores de Nestório, condenado no 3o Concílio. Para abrandar os ânimos resolveu o Imperador Eráclio fazer aos heréticos algumas concessões, fato este que causou ainda piores transtornos no seio da Igreja. Os seguidores da nova corrente religiosa, que surgiu por motivo dessas concessões, passaram a chamar-se Monofelitas. A desunião dentro da Santa Igreja começou, no entanto, a ameaçar com piores conseqüências devido ao perigo que surgiu do lado dos seguidores do Maomé. (Foi um reformador árabe, que fundou uma religião própria baseando-se numa revelação, que dizia ter recebido do Arcanjo Gabriel. Essa religião caracteriza-se pela mistura das religiões hebraica e cristã, possuindo também vários elementos das religiões pagãs.
    7. Em vista disso foi convocado um novo Concílio Universal em Constantinopla, que condenou definitivamente os erros dos hereges, restabelecendo a Verdade, que nosso Senhor Jesus Cristo integrava não somente duas naturezas bem distintas (a divina e a humana) mas também duas vontades, não contrárias uma a outra, mas a vontade humana sujeita-se à vontade divina.

      Como complemento deste Concílio Universal foi convocado alguns anos depois outro Concílio, que costumamos chamar de quinto-sexto, pois representava a continuação das deliberações destinadas a afirmar as decisões dos quinto e sexto Concílios Universais. Este Concílio suplementar decidiu sobre a introdução na Igreja de 85 Regras Apostólicas, Regras dos 6 anteriores Concílios Universais, dos sete Concílios locais e a das Regras de alguns Santos Pais da Igreja. Essas Regras foram reunidas em um livro só, denominado "Nomocanon," que representa o principal documento legislativo da Igreja.

    8. O sétimo Concílio Universal foi convocado na cidade de Nicéia para condenação da heresia, que consistia em proibição de veneração e adoração das Imagens Santas (ícones), introduzida pelo próprio imperador Leão Issavr.

Além dos grandes 7 Concílios Universais houve vários Concílios locais de menor importância, entre os quais devemos destacar as reuniões em Anquira, Neocesárea, Gangra, Antióquia, Laodicéia, Sardiquia, Cartagena e os 1e 2 de Constantinopla.

As Partes Integrantes do "Credo"

(Os Artigos)

68. De que forma podemos conhecer a fundo os ensinamentos da Fé, guiando-nos pelo "Credo"?

A fim de facilitar aos fiéis a melhor compreensão dos ensinamentos da Fé, foi dividido o "Credo" em 12 artigos.

Meditando separadamente sobre cada um destes artigos, chegaremos a compreender a fundo as verdades sobre a Fé Cristã.

69. Sobre que tratam os artigos do "Credo"?

Os artigos do "Credo" falam sobre:

    1. Deus em geral e o Deus Pai — a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade, — em particular.
    2. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — O Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.
    3. A encarnação do Filho de Deus.
    4. Os padecimentos e a morte de nosso Senhor.
    5. A ressurreição de Jesus Cristo.
    6. A ascensão do Filho de Deus.
    7. A segunda vinda de nosso Senhor à terra.
    8. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade — O Espírito Santo.
    9. A Santa Igreja.
    10. Sacramento do Batismo (compreendendo-se também os outros Santos Sacramentos).
    11. A esperança da ressurreição futura dos mortos.
    12. A esperança da vida eterna.

 

SOBRE O PRIMEIRO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

 

 

Creio em um só Deus Pai, Onipotente,

Criador do Céu e da Terra, de tudo

que é visível e invisível.

70. O que significa "Crer em Deus"?

Crer em Deus significa possuir viva certeza da Sua existência, das Suas faculdades, da Sua perfeição e da Sua atividade, considerando verdade inabalável tudo aquilo que Deus revelou sobre Si próprio e sobre a salvação da humanidade.

"Ora, sem fé não se pode agradar a Deus: porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam" (Hebr. 11:6).

A ação da fé no meio dos cristãos apresenta o santo apóstolo Paulo na seguinte oração: "Para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes compreender perfeitamente, com todos os santos" (Efés. 3:16-18).

71. Como devemos crer?

Devemos crer:

A) Em tudo, sem exceção, que nos ensina a Santa Igreja Cristã Apostólica Ortodoxa.

    1. Devemos crer, sem nenhuma dúvida, ou incerteza e desprovidos de todo e qualquer espírito de criticísmo.
    2. Possuindo a fé viva e inabalável nas verdades reveladas.
    3. Professando nossa fé com sinceridade e permanentemente.

72. Que quer dizer professar a fé?

Professar a fé significa afirmar sempre e de maneira inabalável, que pertencemos à Santa Igreja Cristã Ortodoxa, fazendo isto com tanta sinceridade e firmeza, para que nem ameaças, nem persuasões, nem martírio, nem mesmo a própria morte possa forçar-nos a abandonar ou trair a verdadeira fé de Jesus Cristo.

Devemos manter a consciência do nosso dever cristão, como chama sempre viva e ardente, lembrando-nos do exemplo dos mártires, que seguiram o caminho espinhoso dos mais atrozes sacrifícios, com sorriso de felicidade nos lábios, tendo diante de si um único objetivo, uma única glória — O Deus Único, Verdadeiro, no Supremo Mistério da Santíssima Trindade.

73. Por que a profissão da fé é absolutamente necessária?

Diz o santo apóstolo Paulo: "Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação" (Rom. 10:10).

74. Por que é necessário para salvar-se, não somente crer em Deus, mas também professar a santa fé cristã Ortodoxa?

Pois, quem renunciaria ou abandonaria a Santa Fé Cristã Ortodoxa com intuito de obter quaisquer benefícios de ordem material ou para escapar de perseguições ou por outra qualquer razão, — renunciaria e abandonaria simultaneamente a própria verdadeira fé em Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo, na ressurreição dos mortos e na vida futura eterna e feliz dos eleitos de Deus. "E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma: temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo" (Mat. 10:28).

"Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante do meu Pai, que está nos Céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante do meu Pai, que está nos Céus" (Mat. 10: 32-33). .

75. É suficiente crermos superficialmente em tudo que Deus revelou?

Não é absolutamente suficiente ter fé superficial e imperfeita nas Verdades Reveladas. Devemos envidar os máximos esforços a fim de conhecer a fundo todas as verdades divinas e procurar chegar à compreensão dos Mistérios da Santa Igreja, pois só desta forma transformaremos nossa fé vacilante e fraca em fé inabalável e poderosa.

 

Sobre o Sinal da Santa Cruz

76. Com que sinal especial professam os cristãos Ortodoxos a sua santa fé?

O cristão Ortodoxo professa a sua fé, antes de tudo com o sinal da santa cruz.

Em todas as ocasiões da vida e em todas as circunstâncias, devemos lembrar-nos da presença de Deus, que vê tudo e sempre está presente a todos os nossos atos. Lembrando-nos do Todo-poderoso, devemos fazer o sinal da santa cruz, pois desta forma não somente professamos a verdadeira fé perante todos aqueles que nos cercam, mas também nos preservamos do mal, já que o sinal da santa cruz é um verdadeiro escudo contra o mal e o pecado.

Não devemos sentir acanhamento diante das pessoas presentes, nem devemos tanto menos recear quanto aquilo que essas pessoas vão pensar de nós. Lembremo-nos que fazendo o sinal da cruz publicamente, nos tornamos verdadeiros soldados do Cristo na luta pela Verdade Eterna no meio do mundo decadente e falho, que nos cerca.

"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a ' coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amaram a sua vinda" (2 Tim. 4:7-8).

77. Como fazemos o sinal da santa cruz?

Da seguinte maneira:

Unimos os dedos polegar, indicador e médio, simbolizando a Santíssima Trindade- unida em um só DEUS. Os dois dedos restantes colocamos na palma da mão simbolizando as DUAS NATUREZAS — divina e humana, que se uniram em nosso Salvador Jesus Cristo para salvar a humanidade.

Após ter colocado os dedos da forma acima indicada tocamos com as pontas dos dedos unidos primeiramente a fronte (a testa), pronunciando: "Em nome do Pai," em seguida passamos a mão para o peito dizendo: "e Filho," em seguida para o ombro direito pronunciando "e Espírito Santo" e finalmente para o esquerdo com a palavra final "Amém," que significa "Assim seja."

A colocação dos dedos unidos na testa, peito e ombros tem um profundo significado e representa a forma mais antiga do sinal da cruz adotada e usada nos tempos primários do cristianismo. Colocando os três dedos unidos na testa pedimos a Deus que ilumine e purifique os nossos pensamentos; colocando-os no peito solicitamos inspiração para dignos e elevados sentimentos; passando-os para os ombros direito e esquerdo imploramos ao Senhor, que nos de forças para conseguirmos vencer o mal e tornar-nos dignos do nome de CRISTÃOS.

O sinal da santa cruz, feito com o movimento da nossa mão, representa o mesmo que o próprio nome de nosso Senhor crucificado, pronunciado com profunda fé.

Diz São Círio de Jerusalém: "Não devemos envergonhar-nos de professar o Crucificado; façamos o sinal da cruz com ' toda atenção na testa e sobre tudo: sobre o pão, que comemos, sobre: os vasilhames, dos quais bebemos; façamo-lo nas entradas e nas saídas, quando ao deitar e quando ao levantar, quando nos encontramos em viagem e quando estamos descansando. O sinal da Santa Cruz é o poderoso escudo oferecido aos pobres como presente e aos fracos sem esforço algum. Pois isto é a Graça de Deus, sinal para os fiéis, e tormento para os espíritos maus" (Ensinamentos 13:36).

78. Qual é a origem da utilização do sinal da Santa Cruz?

Já nos tempos dos Santos Apóstolos era costume utilizarem-se os Cristãos do sinal da Santa Cruz, para selar a sua Fé em Cristo Crucificado.

Sobre isto podemos encontrar provas nas obras de Santo Dionísio Areopagita (Da hierarquia eclesiástica, cap. 2 e 5) e de Tertuliano (Da Ressurreição, cap. 8).

Sobre Deus

79. Qual é o significado do nome "Deus"?

Deus é o Ser infinitamente perfeito, que existe em Eternidade, quer dizer, que sempre existiu, existe agora e existirá por todos os séculos dos séculos. "E disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou" (Êxodo 3:14). "Ninguém lia semelhante a Ti, ó Senhor: Tu és grande, e grande é o Teu Nome em força" (Jerem. 10:6).

80. Que quer dizer, que Deus é infinitamente perfeito?

Quer dizer, que Deus é possuidor de todas as perfeições em supremo sentido.

81. Do que deduzimos a própria existência de Deus e a Sua perfeição infinita?

A existência de Deus e a Sua infinita perfeição deduzimos:

    1. da Revelação Sobrenatural,
    2. do mundo visível: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus" (Salmos 14:1) — O santo e sábio rei Davi considerou louco aquele que duvidasse da existência de Deus.
    3. Da voz da nossa consciência: "Os quais (pagãos) mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando justamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os" (Rom. 2:15). "Ninguém duvida da existência de Deus, a não ser aquele a quem representaria vantagem a inexistência de Deus" (Beato Agostinho).

82. Por que afirmamos no nosso CREDO, que cremos em um só Deus?

Pela rejeição das crenças pagãs, que, divinizando as Obras de Deus, mantiveram a fé errônea em muitos deuses.

83. Como ensinam as Sagradas Escrituras sobre a Verdade que há um só Deus?

Ensina-nos o santo apóstolo Paulo: "Não há outro Deus, senão Um só." "Todavia para nós há um só Deus, o Pai de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós para Ele" (1 Cor.. 8:4-6).

"Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém (1 Tim. 1:17).

"A ti te foi mostrado, para que soubesses que o Senhor é Deus: nenhum outro há senão Ele" (Deuteronômio 4:35).

"O Senhor, nosso Deus é o único Senhor" (Deut.: 6, 4).

"Eu sou o Senhor, e não há outro: fora de mim não há Deus" (Isaías. 45:5).

84. Podemos conhecer ao próprio Deus diretamente com auxílio de nossos sentidos físicos?

Não podemos, pois Deus é infinitamente superior à compreensão não somente dos homens, mas também dos Anjos.

"Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver" (1 Tim. 6:16).

85. Que sabemos sobre Deus, ou melhor, o que sabemos sobre as Suas perfeições, da Revelação Divina?

Da Revelação Divina conhecemos as seguintes perfeições de Deus, que devemos bem gravar em nossa memória:

    1. Deus é o Espírito Universal.
    2. Deus não foi criado, é Criador de tudo que existe.
    3. Deus é eterno.
    4. Deus é bom e benigno.
    5. Deus vê tudo e está ciente de tudo o que acontece no Universo.
    6. Deus é a justiça Suprema.
    7. Deus é a Verdade Suprema e a Maior Fidelidade.
    8. Deus é Todo-poderoso.
    9. Deus é Onipresente, quer dizer, presente em todos os lugares ao mesmo tempo.
    10. Deus é Imutável, q. d. nunca muda.
    11. Deus é a Sabedoria Suprema.
    12. Deus é a Santidade Magna.
    13. Deus é a Misericórdia por excelência.
    14. Deus é infinitamente altruísta, q. d. não deseja nada para Si.
    15. Deus é o mais abençoado.

86. Que quer dizer: Deus é o Espírito Universal?

Quer dizer, que Deus é Espírito, possuidor do mais perfeito Intelecto e da mais perfeita Vontade, não possuindo, porém, o corpo.

"Deus é Espírito" (S. João 4:24).

87. Que quer dizer: Deus não foi criado?"

Significa, que Deus não recebeu a Sua existência e a Sua perfeição de quem quer que seja.

88. Que significa: "Deus é eterno?"

Quer dizer, que Deus sempre existiu, existe e existirá.

"Antes que os montes nascessem, ou que Tu formasses a terra e o mundo, sim de eternidade em eternidade, Tu és Deus" (Salmo 90:2). "Eu, o Senhor, o primeiro, e com os últimos Eu mesmo" (Isaías 43:40). "Para que o saibais, e me creiais e entendais que Eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá" (Isaías 43:10). Diz o santo apóstolo Paulo, que o Evangelho é pregado "Por ordem do Deus Eterno" (Rom. 14:25). (Convém anotar, que em algumas das edições do Novo Testamento de origem ocidental, edições essas que não carecem de arbitrariedades, os versos 24, 25 e 26 são omitidos no capítulo 14 da Epístola de S. Paulo aos Romanos). "Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era o que é,, e que há de vir" (Apocalipse 4:8). "E o Seu Reino não terá fim" (S. Lucas 1:33).

89. Que quer dizer Deus é bom e benigno?

Quer dizer, que Deus é cheio de amor para com a Sua criação, e que tudo que representa a bondade e a benignidade tem origem em Deus. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Não há bom senão um só, que é Deus" (S. Mat. 19:17). "Deus é caridade (amor)" (1 S. João. 4:16). "Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia. O Senhor é bom para todos, e as Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras" (Salmo 145:8-9; convém anotar, que nas edições ocidentais o Salmo 144 equivale ao 145).

90. Que quer dizer: "Deus vê tudo?"

Significa, que Deus sabe tudo que era, que é e que será no futuro. Ele conhece todos os nossos pensamentos, mesmo os mais secretos e pessoais. "Sabendo, que se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que os nossos corações, e conhece todas as coisas" (1 S. João 3:20). "E não ha criatura alguma, encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com quem temos que tratar" (Hebr. 4:13).

91. Que significa que Deus é a "Justiça Suprema?"

Quer dizer, que Deus julga os homens conforme os seus merecimentos; beneficia os bons, caridosos e piedosos, castigando os maus, egoístas e desprovidos de espírito religioso. "Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o Seu rosto está voltado para os retos" (Salmo 11:7). "Justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, e Santo em todas as Suas obras" (Salmo 145:17). "da manifestação da Justiça de Deus; o qual recompensará cada um segundo as suas obras; porque para com Deus não há exceção de pessoas" (Rom. 2:5, 6, 11). "O Pai, que sem exceção de pessoas, julga segundo a obra de cada um" (1 Pedro 1:17).

92. Que quer dizer: "Deus é a Verdade Suprema e a Maior Fidelidade?"

Significa, que Deus sempre fala verdade nas Suas Revelações aos homens, cumprindo também sempre o que Promete. "Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa; porventura diria Ele e não faria? ou falaria e não o confirmaria?" (Números 23:19). "Aquele que Me enviou é verdadeiro" (S. João 8:26).

93. Que significa que "Deus é Todo-poderoso?"

Quer dizer, que Deus pode tudo e que tudo que existe repousa na base inabalável de Sua força e de Sua vontade. "Porque falou e tudo se fez; mandou e logo tudo apareceu" (Salmo 33:9). "Mas o nosso Deus está nos Céus; faz tudo que Lhe apraz" (Salmo 115:3). "Tudo o que o Senhor quis, Ele o fez, nos Céus e na terra, nos mares e em todos os abismos" (Salmo 135:6).

"Porque para Deus nada é impossível" (S. Lucas 1:37).

94. Que quer dizer: "Deus é Onipresente?"

Significa, que Deus está presente em todos os lugares; no céu e na terra, nos fundos dos mares e dentro das minas as mais profundas. Em lugar algum do universo podemos esconder-nos Dele, pois Ele preenche tudo com Seu supremo amor. "Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua face? Se subir ao céu, Tu ai estás, se fizer nos abismos a minha cama, eis que Tu aí estás também. Se tomar as asas de alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará... Nem ainda as trevas me escondem de Ti" (Salmo 139:7-10, 12).

95. Qual o significado da afirmativa, que "Deus é Imutável?"

Quer dizer, que Ele permanece sempre o mesmo, exatamente como era no princípio, agora e por todos os séculos dos séculos.

"O Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (S. Tiago 1:17). "Porque eu, o Senhor, não mudo" (Malaquias. 3:6).

96. Como devemos compreender, que Deus é a "Sabedoria Suprema?"

Pela beleza maravilhosa e sábia, com que ficou organizado o universo; vê-se também da própria Revelação Divina, que contém verdades tão elevadas, tão sublimes e antes de tudo tão sábias, que somente o próprio Deus podia ser o autor delas. "Ó Senhor, quão variadas são as Tuas obras! todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das Tuas riquezas" (Salmo 104:24). "O profundidade das riquezas, tanto da Sabedoria, como da Ciência de Deus" (Rom. 11:33). "Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém" (1 Tim. 1:17).

97. Que quer dizer: "Deus é a Santidade Magna?"

Pois não existe ninguém, nem jamais existirá, nem possa existir, mais santo do que Deus em Santíssima Trindade. Deus é o mais santo de todos os santos, pois é alheio ao pecado, só ama o belo e o bom e só deseja o bem e a felicidade para o Universo, que criou. "Porque Eu sou o Senhor vosso Deus: portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque Eu sou Santo" (Lev. 11:44).

98. Que quer dizer: "Deus é a Suprema Misericórdia?"

Significa, que Deus está sempre disposto a perdoar os nossos pecados, quando demonstramos arrependimento sincero e profundo. A maior demonstração, porém, da misericórdia divina, foi o fato de ter Deus sacrificado o próprio Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, que sofreu padecimentos atrozes e morreu na cruz, para a remissão dos nossos pecados. "Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta a seu caminho e viva" (Ezequiel 33:11).

99. Que significa, que "Deus é infinitamente altruísta?

Quer dizer, que Deus não deseja nada para Si, mas sim almeja única e exclusivamente o bem e a felicidade das Suas criaturas. "Deus tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas" (Atos 17:25).

100. Que quer dizer: "Deus é o mais abençoado?"

Quer dizer, que Deus concentra em Si todas as bênçãos que possam ser imaginadas, como também aquelas que nunca podem ter surgido na mente humana, por causa da nossa imperfeição e fraqueza. "Bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores" (1 Tim. 6:15).

101. Se Deus é realmente um Espírito, por que encontramos nas Sagradas Escrituras termos como: "Coração de Deus," "Olhos de Deus," Ouvidos de Deus," "As mãos de Deus" etc?

Neste caso as Sagradas Escrituras utilizam a fala puramente humana, a fim de tornar mais compreensíveis as diversas faculdades de caráter divino, por exemplo: "O Coração de Deus significa a bondade e o amor de Deus," "Os Ouvidos e os Olhos de Deus" significam a Suprema Sabedoria de Deus," "A Mão de Deus" quer dizer a Força Suprema de Deus, etc.

102. Se Deus é Onipresente (presente em todos os lugares), por que então falamos que Deus está no céu ou então na igreja?

Deus realmente é Onipresente (presente em todos os lugares), porém no céu encontra-se em glória toda especial, pois ali é a morada dos espíritos luminosos (arcanjos, anjos), e de almas felizes, gozando a eterna alegria. Também na igreja Deus encontra-se manifestado de forma ampla e concreta personificado nos Santos Sacramentos, evocado em preces e diversos rituais da Santa Igreja Ortodoxa, etc. Disse o próprio Salvador: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles" (S. Mat. 18:20).

103. Como devemos entender as palavras do "CREDO" "Creio em um só Deus?"

Devemos entender estas palavras como aplicadas ao Mistério da Santíssima Trindade.

104. Em que consiste o Mistério da Santíssima Trindade?

Consiste em ser Deus UM-Só em três pessoas distintas.

105. Como se chamam essas três Pessoas de Deus?

Chamam-se:

1. O Pai.

2. O Filho.

3. O Espirito Santo.

Todas as três Pessoas formam Um Deus em Santíssima Trindade eternamente unida e indivisível.

106. Onde encontramos a explicação sobre a Santíssima Trindade no Novo Testamento?

Os principais trechos do Novo Testamento que tratam sobre este assunto são os seguintes: "Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (S. Mat. 28:19). "Porque três são os que testificam no Céu: O Pai, O Verbo e o Espírito Santo; e estes três são UM" (l Epístola de S. João 5:7).

107. Podemos encontrar o testemunho sobre a Santíssima Trindade no Antigo (Velho) Testamento?

No Velho Testamento encontramos também o testemunho sobre a Santíssima Trindade, porém com menor precisão: "Pela palavra do Senhor foram feitos os Céus e todo o exército deles pelo Espírito da Sua boca" (Salmo de Davi 33:6, Edição da Sociedade Bíblica Internacional). "E clamavam uns para os outros dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos" (Isaías 6:3).

108. Como é possível que Um Deus fique em três Pessoas?

Não podemos compreender a plenitude deste supremo Mistério de Deus em virtude da enormidade das nossas imperfeições e pecados, porém temos a profunda e inabalável fé nesta verdade principal e fundamental da nossa Santa Religião Ortodoxa, inclinando-nos com temor e humildade perante a grandiosidade do Criador de acordo com as palavras santificadas do Apóstolo das Nações: "Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Epístola aos Coríntios do S. Ap. Paulo 2:11)

109. Essas três Pessoas da Santíssima Trindade possuem características iguais ou diferem entre si?

As três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma essência e a mesma natureza divinas, sendo infinitamente perfeitas.

110. As três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma dignidade divina?

Sim. Todas as três Pessoas da Santíssima Trindade possuem a mesma dignidade divina. Da mesma forma como o Deus Pai é o Deus Verdadeiro, o Deus Filho também é Deus Verdadeiro e o Deus Espírito Santo também o é; com tudo isto, porém, em três Pessoas acha-se Um-único Deus.

111. Em que concerne a diferença entre as três Pessoas de Deus?

A diferença entre as três Pessoas da Santíssima Trindade consiste nos seguintes pontos:

    1. O Deus Pai não é criado nem procede de pessoa alguma.
    2. O Deus Filho é criado pelo Deus Pai antes de todos os tempos.
    3. O Deus Espírito Santo procede do Deus Pai antes de todos os tempos.

"O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei" (Salmo de Davi 2:7 — Edição da Sociedade Bíblica Internacional). "Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim" (S. João 15:26).

112. Quais são os atos principais que atribuímos a cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade?

Atribuímos os seguintes:

1. A Deus Pai — A Criação do Universo;

2. A Deus Filho — A Remissão dos pecados do gênero humano;

3. A Deus Espírito Santo — A iluminação e santificação dos espíritos.

113. Qual é a denominação que damos às três Pessoas de Deus em conjunto?

Denominamos: Santíssima Trindade.

114. Por que denominamos Deus "Onipotente?"

Porque Ele tem em Seu poder Supremo tudo e governa sobre todo o mundo visível e invisível por meio de leis universalmente sábias, por Ele estabelecidas.

115. Que quer dizer tem tudo em Seu poder Supremo?

Significa, que o Universo inteiro existe e perdura em maravilhoso equilíbrio e com absoluta precisão enquanto Deus Todo-poderoso assim o deseja.

116. Que quer dizer governa sobre todo o mundo visível e invisível?

Quer dizer, que as leis divinas se estendem sobre todos os seres vivos, sobre toda a natureza e finalmente sobre todos os seres invisíveis e que nada acontece dentro do Universo sem vontade de Deus ou sem a Sua direta permissão.

117. E as desgraças e sofrimentos são da mesma forma dirigidos por Deus para o bem?

As desgraças e os sofrimentos são da mesma forma dirigidos por Deus para o bem dos homens, pois deles utiliza-se Deus para castigar e corrigir os maus, aplicando-os, de outro lado, aos bons, a fim de expor à prova os valores espirituais e a resistência moral deles, tornando-os mais dignos da felicidade eterna no Céu.

118. Que significam as palavras do "CREDO": "Criador do Céu e da terra, de tudo que é visível e invisível?"

Significam que tudo que existe foi criado por Deus, e que nada surgiu sem a Vontade. "No princípio criou Deus os céus e a terra" (1 Moisés 1:1). "Porque nele, foram criadas todas as coisas que há nos Céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele" (Epíst. de S. Paulo aos Colossenses 1:16).

119. Que significa a palavra "Criar?"

Criar, quer dizer fazer algo do nada.

 

Sobre a Criação do Mundo,

Os Anjos e Satanás

120. Com que finalidade Deus criou o mundo?

Deus criou o mundo:

    1. Para a Sua maior glória.
    2. Para a felicidade e o benefício da criação (dos seres criados).

121. Como devem ser compreendidas as coisas discriminadas no "CREDO" como sendo "tudo que é invisível?"

Sob esta discriminação devemos entender todo o mundo invisível, quer dizer o mundo espiritual ao qual pertencem também os anjos.

122. Que são os anjos?

São as criaturas divinas, as mais perfeitas. Espíritos Puríssimos, Possuidores de intelecto superior, da livre e espontânea vontade, de enorme poder, porém, sem possuir corpo visível e material.

123. Com que finalidade criou Deus os anjos?

Deus criou os anjos para ser por eles adorado e louvado, para ser por eles amado e para ser por eles servido. "Bendizei ao Senhor, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra" (Salmo de David 103:20, Edição da Sociedade Bíblica Internacional).

124. Que significa a palavra "anjo?"

Esta denominação descende da palavra grega "Angellose significa mensageiro. A razão desta denominação consiste no fato de Deus utilizar-se com freqüência dos anjos para transmitir as Suas mensagens aos homens. Temos como exemplo a anunciação da Nossa Senhora sempre Virgem Maria, pelo arcanjo Gabriel.

125. Em quantos grupos se dividem os anjos?

Os anjos dividem-se em 9 coros angélicos:

    1. Anjos.
    2. Arcanjos.
    3. Principados.
    4. Poderes.
    5. Potestades (As Forças).
    6. Domínios.
    7. Tronos.
    8. Querubins.
    9. Serafins.

(Epístola de S. Paulo aos Efésios 1:21).

126. Como eram os anjos quando criados por Deus?

Na ocasião da sua criação os anjos eram Espíritos bons e felizes; possuidores da Graça Santificadora e de todas as Virtudes.

127. Todos os anjos continuam a ser bons e todos eles conservaram a divina Graça Santificadora?

Não! Nem todos os anjos são bons e nem todos eles conservaram a Graça Santificadora. Alguns deles perderam essa Graça divina e tornaram-se espíritos maus.

128. Por que se tornaram espíritos maus?

Na realidade foram criados bons e puros, como aliás todos os anjos, porém devido ao orgulho não mais obedeceram às ordens de Deus. Desta forma abandonaram Deus, caindo em horríveis erros de egoísmo, orgulho e maldade. O Santo Apóstolo Judas Tadeu diz que esses anjos são "Aqueles que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação" (Epístola de S. Judas, 6).

129. Como Deus castigou os anjos orgulhosos?

Destituindo-os dos seus poderes e derrubando-os dos Céus para o inferno. "Eu via Satanás, como raio, cair do céu" (Ev. de S. Lucas 10:18). "Porque se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo" (Epístola de S. Pedro 2-4).

130. Como denominamos os anjos decaídos?

Os anjos que caíram em pecado de orgulho e foram por Deus condenados ao inferno, denominamos: "Espíritos maus, "Espíritos malignos," "Diabos," "Demônios" etc.

131. Que significa a palavra -diabo- e por que denominamos assim os espíritos maus?

A palavra "diabo" procede do têrnio grego "diavolos" e significa tentador. Assim denominamos os espíritos maus pela razão de procurarem eles constantemente tentar os homens para as más ações, induzindo-os a pensamentos errôneos e desejos impuros. Assim falou Nosso Senhor Jesus Cristo aos pecadores: "Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Ev. de S. João 8:44).

132. Como são os anjos bons?

São, afetos a nós, amam-nos, guardam os nossos corpos e as nossas almas do mal, induzem-nos para os atos bons e oram por nós a Deus Todo-misericordioso.

133. Como denominamos os anjos especialmente destinados por Deus para nos guardarem do mal?

Denominamos "Anjos de guarda."

134. De onde surgiu esta denominação?

Surgiu das próprias Sagradas Escrituras: "Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos" (Salmo de Davi 91:11, Edição da "Sociedade Bíblica Internacional"). Além deste trecho da Bíblia Sagrada temos vários outros trechos da mesma fonte tirados da vida de Lot, de Tobias, etc.

135. Todos nós temos um anjo de guarda?

Sem dúvida, cada um de nós possui um anjo de guarda. Temos para isto o testemunho nas palavras do próprio Salvador: "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus" (Ev. de S. Mateus 18:10).

136. Quais são os nossos deveres perante os anjos de guarda?

São os seguintes:

    1. Adorá-los e obedecerás suas instruções, apresentar-lhes a nossa gratidão e orar a eles.
    2. Imitá-los em tudo, quer dizer: Ser puros, piedosos, serviçais e prontos a servir e ajudar o nosso próximo.

137. Como se comportam a nosso respeito os espíritos maus?

Como verdadeiros encarniçados inimigos: odeiam-nos e invejam-nos, induzem-nos ao pecado, procuram por todos os meios prejudicar o nosso corpo e a nossa alma e antes de tudo desejam a nossa eterna condenação aos suplícios do inferno. Temos provas disto nas Sagradas Escrituras:

A condenação de Adão e Eva, induzidos para o mal e à desobediência a Deus por Satanás, os suplícios de Jó, infligidos por Satanás, o terrível crime de traição cometido por Judas contra a sagrada pessoa do Divino Mestre Jesus, crime este insuflado por Satanás etc. Além disto encontramos nas Sagradas Escrituras inúmeros casos de alienação mental provocada pelo diabo. "Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1 Epístola de S. Pedro 5:8).

138. De que forma devemos combater as tentações de Satanás?

Vigiando, orando e combatendo-as ininterruptamente. Devemos tomar cuidado para não nos tornarmos semelhantes aos espíritos malignos ou nos tornarmos sócios deles por causa de alguma tentação.

139. Que foi criado antes — o mundo visível ou o mundo invisível?

O mundo invisível foi criado antes do mundo visível "A Profissão de Fé Ortodoxa," 1 Parte. Perg. 18).

140. Como falam as Sagradas Escrituras sobre a criação do mundo?

No princípio Deus criou do nada o céu e a terra. A terra era sem forma e vazia. Em seguida Deus procedeu na criação da seguinte maneira:

    1. No primeiro período, chamado na Bíblia "primeiro dia," Deus criou a luz.
    2. No segundo período, chamado "segundo dia," Deus criou o firmamento celeste, ou melhor, o céu visível;
    3. No terceiro período, chamado "terceiro dia," Deus criou as grandes bacias aquáticas (oceanos, mares, lagos e rios), continentes, ilhas e a plantação que recobre a terra.
    4. No quarto período, chamado "quarto dia," Deus criou as estrelas, o sol e a lua;
    5. No quinto período, chamado "quinto dia," Deus criou os peixes, o mundo animal aquático e os pássaros;
    6. No sexto período, denominado "sexto dia," Deus criou o mundo animal que vive em terra firme, os répteis e os ofídios e finalmente, como coroamento da sua criação, criou Deus o homem;
    7. No sétimo período, denominado "sétimo dia," Deus descansou da sua obra.

Esta é a razão por que o sétimo dia da semana é destinado ao descanso e ao louvor a Deus. Antigamente era denominado Saabath, que significa descanso ou sossego. A Santa Igreja Ortodoxa denominou o sétimo dia da semana "Domingo," em memória eterna de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, que se sacrificou voluntariamente para a salvação da humanidade (Dominus em latim significa "Senhor") sendo a denominação Sábado (Saabath) conservada em honra do sétimo dia da criação.

141. Foram os seres visíveis criados na mesma aparência, como podemos apreciá-los atualmente?

Não! Quando Deus criou os seres visíveis "Tudo quanto tinha feito, eis que era muito bom" (Gen. 1:31). Tudo, portanto, era puro, belo e tranqüilo.

142. Como fala o Antigo Testamento sobre a criação do homem?

Deus em Santíssima Trindade disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gen. 1:26).

E criou Deus o corpo do primeiro homem do pó da terra e insuflou-lhe o espírito da vida. E denominou Deus o primeiro homem "Adão," nome que significa "Tirado da terra."

"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente" (Gen. 2:7).

Após ter criado o homem, levou-o o Senhor Deus para o jardim maravilhoso denominado Éden ou Paraíso, subordinou a ele todos os animais, tornando-o um senhor verdadeiro da terra. Em seguida fez descer em Adão um pesado sono, durante o qual tomou uma das costelas do seu corpo, formando dela a mulher, que denominou Eva e que devia tornar-se a mãe do gênero humano. (Gen. 2: 15-22). (*)

Este trecho da Bíblia possui um profundo sentido simbólico, que, todavia, exigiria, para ser elucidado, amplas e demoradas pesquisas teológicas, que, naturalmente, não podem entrar no reduzido estudo, que é representado nesta obra.

 

Sobre o Homem, o Paraíso e o Pecado

dos Primeiros Homens

143. De que é composto o homem?

É composto do corpo e de alma imortal.

144. Como devemos compreender que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?

Devemos compreender, que a semelhança do homem com o seu Criador consiste em "Verdadeira justiça e santidade" (Epístola de S. Paulo aos Efésios 4:24) e também no fato de possuírem os homens uma alma imortal dotada de intelecto e de livre e espontânea vontade.

145. Que é o espírito (ou o fôlego) da vida?

O espírito ou o fôlego da vida é justamente a alma que pode ser descrita também como Espírito imortal.

146. Para que criou Deus os homens?

Deus criou os homens, para ser por eles louvado, amado e servido e para que os mesmos alcançassem a eterna felicidade no caminho da compreensão das verdades divinas.

"Deus quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1 Epístola de S. Paulo a Timóteo 2:4).

147. Foram os primeiros homens iguais àqueles que vemos atualmente?

Quando Deus criou os primeiros homens: Adão e Eva, foram eles bons e felizes pois:

    1. Possuíam a Graça Santificadora, eram santos e justos.
    2. Possuíam o direito à eterna felicidade no céu.
    3. Possuíam um intelecto superior.
    4. Possuíam um corpo imortal.
    5. Desconheciam qualquer sofrimento.
    6. Viviam no Paraíso.

148. Que significa a palavra "Paraíso"?

Significa "jardim" e discrimina o lugar onde viviam os primeiros homens após serem criados por Deus.

149. O Paraíso em que viviam os primeiros homens era um lugar material ou espiritual?

Para os corpos de Adão e Eva, o Paraíso era um lugar material abençoado e visível; para as almas deles, porém, era um lugar espiritual, que correspondia a uma convivência espiritual com Deus e contemplação espiritual de Suas obras divinas. (Sermão de São Gregório o Teólogo 38:42, e "A Teologia" de S. João de Damasco, livro 2 cap. 12, lin. 3).

150. Os dons recebidos de Deus foram de propriedade exclusiva dos primeiros homens?

Não! Os dons e os benefícios que Deus deu aos primeiros homens deveriam passar também aos seus descendentes.

151. Para que Eva foi criada da costela de Adão?

Para que o gênero humano inteiro fosse descendente de um só corpo e para que possa amar-se socialmente e ajudar-se mutuamente em todos os séculos.

152. Como se chamavam as duas árvores misteriosas e sobrenaturais que cresciam no Paraíso?

No Paraíso cresciam duas árvores de qualidades misteriosas e sobrenaturais:

    1. "A árvore da vida," cujos frutos tornavam o corpo humano imortal e não sujeito às enfermidades.
    2. "A árvore do conhecimento do bem e do mal."

153. Qual foi o preceito que Deus deu aos homens quando lhes entregou o Paraíso?

Deus proibiu aos homens comer os frutos da "árvore do conhecimento do bem e do mal," advertindo-os de que se acaso transgredissem essa ordem, morreriam.

154. Os primeiros homens permaneceram para sempre bons e felizes?

Não. Tornaram-se infelizes de corpo e de alma em virtude de grave pecado que cometeram.

155. Que pecado foi este?

Atenderam os conselhos de Satanás, comeram os frutos da árvore proibida, q. d. da "árvore do conhecimento do bem e do mal."

156. Após terem cometido este pecado, os primeiros homens pediram perdão a Deus?

Não! Após terem pecado, os primeiros homens não chegaram a pedir perdão ao seu Criador, culpando-se, entretanto, reciprocamente.

157. Quais foram as conseqüências do pecado dos primeiros pais da humanidade?

Foram as mais desastrosas. Além de tornarem-se profundamente infelizes de corpo e de alma, sofreram Adão e Eva os seguintes castigos:

    1. Atraíram sobre si a ira de Deus e a Sua maldição.
    2. Perderam a Graça Santificadora.
    3. Perderam o direito à eterna felicidade, merecendo a eterna condenação.
    4. O intelecto deles ficou anuviado e a vontade tornou-se predisposta ao mal.
    5. Foram condenados a inúmeras enfermidades, dores etc., e finalmente à morte.
    6. Foram expulsos do Paraíso.

158. O pecado de Adão e Eva prejudicou somente a eles?

Não. Não, prejudicou somente a eles, mas estendeu-se a todos os seus descendentes, acompanhado de todas as conseqüências terríveis daí advindas.

"Pelo quê, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens." (Epístola de S. Paulo aos Romanos, 5:12).

159. Como se chama, portanto, o pecado com o qual todo ser humano nasce para a vida terrena?

Chama-se "Pecado Original" ou "Pecado hereditário," pois herdamo-lo dos primeiros homens.

160. Quem, dos nascidos na Terra, se libertou do "Pecado Original?"

O único nascido na Terra, que se libertou deste pecado, foi o Filho Unigênito de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, nosso Senhor Jesus Cristo. "E nele não há pecado" (1 Epístola de S. João 3:5).

 

Sobre o Destino, a Graça,

e a Providência Divina

161. Que denominamos "Destino de Deus?"

Destino de Deus, quer dizer tudo aquilo que Deus decidiu e se destina à eterna felicidade dos homens.

162. Podem os homens alcançar a eterna felicidade, exclusivamente por seus próprios meios e esforços?

Não, não podem alcançar a eterna felicidade exclusivamente por seus próprios meios, pois a felicidade, para a qual são destinados, é sobrenatural, podendo ser alcançada só por meio da "Graça" com a condição de que a mesma fique estreitamente coligada com a fé.

163. Que é a "Graça de Deus?"

A "Graça de Deus" é a salvadora Força Divina.

164. O Destino de Deus é irrevogável em relação à felicidade dos homens?

Sim, em relação à felicidade dos homens é irrevogável apesar de que atualmente a permanência do homem na Terra não pode ser considerada feliz.

Deus, em sua infinita misericórdia, sabendo do erro em que cairam os primeiros homens, destinou à humanidade outro meio de salvação, abrindo-lhe novo caminho para a felicidade eterna por intermédio do Seu Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo. "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo" (Epístola de S. Paulo aos Efésios 1:4).

165. Que fez Deus, para que os homens, após terem cometido o pecado original, Pudessem novamente tornar-se felizes?

Deus prometeu a Adão e Eva enviar o Divino Salvador, para a salvação do gênero humano.

166. Quem é este prometido Salvador do gênero humano?

É nosso Senhor Jesus Cristo.

167. Em que consiste o destino de Deus em relação ao gênero humano?

Consiste em oferecer à criatura a graça santificadora como também meios seguros para alcançar a felicidade eterna. O homem, portanto, que procura estes meios e segue os preceitos da Sagrada Religião Cristã Ortodoxa, pode ter a certeza de que o destino de Deus lhe será irrevogavelmente aplicado e que a recompensa final de todas as lutas contra o mal e o pecado, será a eterna felicidade. "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho" (Epistola de S. Paulo aos Romanos 8:29).

"Pois, já que Ele previu, que uns vão aproveitar-se: da livre e espontânea vontade para o bem e outros para o mal, assim também destinou a uns para a glória e a outros condenou" (Profissão da Fé dos Patriarcas do Oriente, Artigo 2.9).

168. Após a criação do mundo e do homem, Deus abandonou a Sua criação ou continua a exercer a Sua supervisão paternal sobre ela?

Deus jamais abandonou Sua criação e principalmente o homem, continuando a exercer o Seu poder paternal por meio da Providência Divina.

169. Que é a Providência Divina?

É a ininterrupta ação do poder, da sabedoria e da bondade divinos, por intermédio dos quais Deus mantém a existência e as forças dos seres por Ele criados, inclusive dos homens; dirigindo-os para objetivos bons, conservando-os em boas ações, refreando o mal e combatendo as forças infernais.

"Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?" (Ev. de S. Mateus 6:26). Neste trecho maravilhoso do Santo Evangelho transpira a infinita providência divina não somente em relação ao homem, mas a toda a natureza.

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.

Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Porque ele te livrará do laço do passarinharia, e da peste perniciosa.

Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas estarás seguro: a Sua verdade é escudo e broquel.

Não temerás espanto noturno nem seta que voa de dia.

Nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assola ao meio-dia.

Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido.

Somente com os teus olhos olharás e verás a recompensa dos ímpios.

Porque Tu, O Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação.

Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.

Porque aos Seus Anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.

Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.

Pisarás o leão e o áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.

Pois que tão encarecidamente me amou, também Eu o livrarei; Po-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu Nome.

Ele me invocará, e Eu lhe responderei; estarei com Ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei.

Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

(Salmo de Davi 91 — Edição da "Sociedade Bíblica Internacional").

Neste Salmo do Santo Rei e Profeta Davi encontramos múltiplas provas da providência divina.

 

SOBRE O ARTIGO SEGUNDO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigenito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos.

Luz de Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gênito e não criado, consubstancial ao Pai, por quem foram' feitas todas as coisas.

170. Que quer dizer: Jesus Cristo, Filho de Deus?

Quer dizer, que Jesus Cristo é o Filho de Deus, pela Sua divindade na qualidade de Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; o Filho de Deus recebeu o nome de "Jesus," quando nasceu na terra como homem; já os profetas do Antigo Testamento o denominaram "Cristo."

171. Qual é o significado do nome "Jesus"?

Redentor ou Salvador.

172. Por que razão o Filho de Deus é denominado Redentor ou Salvador?

Porque nos livrou do pecado e da condenação eterna, trazendo-nos a graça e a salvação.

173. Quem e por que deu este nome ao Filho de Deus?

O nome Jesus foi dado ao Filho de Deus por ordem do Criador e por intermédio do arcanjo Gabriel, e porque Ele nasceu para salvar o gênero humano.

"Eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; E dará à luz um filho, a quem chamarás Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Ev. de S. Mateus 1:20-21).

174. Que significa o nome "Cristo?"

Quer dizer — Messias ou Ungido.

175. De onde surgiu o nome Ungido?

Vem da antiga tradição de ungir com óleos a cabeça do rei durante a coroação. Assim "Ungido" equivale a "Coroado" ou melhor — o Rei. A Santa Igreja Cristã Ortodoxa transmite o dom do Espírito Santo por intermédio dos óleos Sagrados.

176. Nosso Senhor Jesus Cristo é o único denominado Ungido?

Não! Era costume antigamente chamar de Ungido os reis, grandes sacerdotes dos templos e os profetas, que recebiam por intermédio de óleos o poder supremo em dignidade e respeito.

177. Por que então damos a nosso Senhor esta denominação?

É chamado "Ungido" ou "Messias," porque a natureza humana de que é revestido possui todos os dons do Espírito Santo em supremo desenvolvimento, concentrando desta forma de modo o mais elevado a sabedoria dos profetas, a santidade dos grandes sacerdotes e o poder máximo dos monarcas, sendo o Supremo Mestre, Sacerdote e Rei.

178. Por que chamamos a Jesus Cristo — "Senhor?"

Porque Ele é o Verdadeiro Deus e Salvador dos homens. Por esta razão, também, pertencemos a Ele integralmente. Podemos ler nas Sagradas Escrituras a demonstração da verdadeira divindade do nosso Senhor:

"No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Ev. de S. João 1:1). Neste misterioso trecho do Evangelho o santo apóstolo João Evangelista denomina nosso Senhor Jesus Cristo de "Verbo" (Em grego "Logos"). "E sabemos que já o Filho de Deus é vindo (veio), e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Epístola de S. João 5:20).

179. Por que denominamos Nosso Senhor Jesus Cristo "O Unigênito Filho de Deus?"

Assim denominamos nosso Senhor Jesus Cristo pela razão de ser Ele e Só ÊLE, o Filho de Deus, nascido da essência do Deus Pai, sendo por isso mesmo da mesma essência que o Criador, e infinitamente superior a todos os anjos e homens santos, que recebem freqüentemente o nome de "Filho de Deus" pelo fato de possuírem um a graça divina toda especial. Como aliás diz o Santo Evangelho: "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome" (Ev. São João 1:12).

180. Quais são os trechos das Sagradas Escrituras nos quais nosso Senhor é denominado "Filhode Deus?"

Eis alguns trechos:

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Ev. S. João 1:14).

"Deus nunca foi visto por alguém, o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este, o fez conhecer" (Ev. São João 1:18).

181. Por que o "Credo" nos ensina que o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo é nascido do Pai?

O "Credo" ensina-nos desta forma para indicar as qualidades (características) especificas, pelas quais o Deus Filho difere do Deus Pai, e do Deus Espírito Santo.

182. Por que razão lemos no "Credo," que Nosso Senhor nasceu do Deus Pai antes de todos os séculos?

Para que ninguém possa afirmar que houve tempo, quando a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade não havia existido; a fim de concretizar a inabalável verdade, que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus igualmente eterno, como Deus Pai.

183. Que significam as palavras do "Credo" — Luz de Luz?

Essas palavras são destinadas a explicar no exemplo da luz visível o supremo mistério do nascimento do Deus Filho do Deus Pai. Olhando o sol, vemos a luz; desta luz solar nasce a luz que preenche o nosso mundo visível; no entanto, tanto a luz solar, quanto a luz que nos cerca é sempre a mesma luz, da mesma natureza e das mesmas características. Assim, também, Deus Pai é a Luz Suprema e o Filho de Deus, nascido dele, é igualmente a mesma Luz Suprema e eterna. Chegamos, pois, à compreensão, que Deus Pai e Deus Filho representam a mesma Luz indivisível da mesma Natureza Divina. "E a luz resplandece nas trevas" (Ev. de São João 1:5).

184. Que significam as palavras do "Credo" — Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro?

Significam, que o Filho de Deus é Deus Verdadeiro da mesma forma como o é Deus Pai.

185. De onde podemos saber que nosso Senhor Jesus Cristo é Filho de Deus e Deus Verdadeiro?

Inúmeros trechos das Sagradas Escrituras indicam esta sagrada Verdade:

"E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Ev. de São Mateus 3:17).

"O sumo sacerdote, que lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre, as nuvens do céu" (Ev. de São Marcos 14:61-62).

"E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Ev. de São Mateus 16:16). "Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu e Deus meu" (Ev. de São João 20:28).

"E sabemos que já o Filho de Deus é vindo (veio), e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro, e no que é verdadeiro estamos, isto é, Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Epístola de São João 5:20).

A Sagrada Tradição da Santa Igreja Cristã Ortodoxa do Oriente possui inúmeras provas para a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo.

186. Por que razão esta definição do "Credo" — Nascido mas incriado?

Esta definição foi necessária para demonstrar o erro do herege Ário, condenado no primeiro Concilio Universal de Nicéia no ano 325 da Era Cristã. Ário afirmava que nosso Senhor Jesus Cristo não era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que nasceu antes de todos os séculos e somente veio à Terra para salvar a humanidade, mas sim, que era um simples inspirado, criado, como qualquer outro ser humano. Felizmente o 1o Concílio demonstrou a horrível falsidade desta afirmação.

187. Como devemos compreender as palavras do "Credo" — Consubstancial ao Pai?

A palavra "Substância" indica todos os elementos de que algo é composto. Quando falamos que Deus Filho é consubstancial ao Deus Pai, queremos dizer que os elementos supremos, que fazem a estrutura divina do Deus Pai, são idênticos aos que formam o Deus Filho. "Eu e o Pai somos Um" (Ev. de São João 10:30).

188. Como devemos comprender as palavras: "Por quem foram feitas todas as coisas?"

Estas palavras indicam que Deus Pai criou tudo por intermédio do Seu Eterno Filho, que é a Eterna Sabedoria e o Eterno Verbo Divino. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e nada do que tem sido feito, foi feito sem Ele" (Ev. de São João 1:1-3).

SOBRE O ARTIGO TERCEIRO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

 

Que desceu dos Céus por causa de nós homens e de nossa salvação, e encarnou-se do Espírito Santo e da Virgem Maria, e se fez Homem.

189. De quem se fala na "PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA" quando se diz: "O qual... desceu dos céus?"

Fala-se do Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo.

190. Como devemos entender isto, uma vez que sabemos que Deus Filho, como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, está presente em todo lugar?

Sem dúvida o Filho de Deus está presente em todo lugar, como está da mesma forma presente tanto nos céus como na terra. É evidente, porém, que nos tempos antigos o Filho de Deus era desconhecido dos homens da época, tornando-se aspecto humano. Esta, portanto é a explicação correta das palavras "desceu dos Céus."

"Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu" (Ev. de São João 3:13).

191. Por que o Filho de Deus desceu dos céus?

O Filho de Deus desceu dos céus por causa de nós homens e por causa da nossa salvação, como podemos ler no "Credo."

Devemos compreender, que nosso Senhor Jesus Cristo redimiu o gênero humano com o terrível sacrifício da Cruz, que aceitou voluntariamente a fim de salvar-nos a nós todos da eterna condenação, abrindo-nos as portas da eterna felicidade no seio de Deus.

192. Por que está escrito no "Credo," que o Filho de Deus desceu dos Céus por causa de nós homens?

Assim consta no "Credo," para indicar que nosso Senhor não veio à terra para salvar só alguns homens ou uma determinada nação, mas sim, para levar a salvação a todo o gênero humano, sem distinção de raças, classes sociais, etc.

193. Por que veio o Filho de Deus salvar o gênero humano?

Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, veio à terra a fim de salvar o gênero humano do pecado, da maldição e da morte eterna.

194. Que é "pecado?"

Pecado é tudo aquilo que se encontra em contradição com a lei de Deus; é portanto tudo que representa a trans-

gressão das leis de Deus.

"Pecado é iniqüidade" (I Epístola de São João 3:4).

195. Se os homens são criados conforme a semelhança e a imagem de Deus, como pode ser que entre eles exista o pecado, uma vez que Deus é sem pecado?

É Satanás quem induz os homens ao pecado: "Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio" (Epístola de São João 3:8).

196. Como foi que o pecado passou de Satanás (do diabo) aos homens?

Satanás tentou Eva e por intermédio dela, Adão, induzindo-os desta forma a transgredir as leis de Deus.

197. Por que o processo de ingerir os frutos da "árvore do conhecimento do bem e do mal" tornou-se mortal para os homens?

Porque foi causa direta da desobediência à vontade divina, separando imediatamente os homens da graça de Deus e tornando-os alheios da vida divina.

198. Como a própria denominação da árvore ("árvore do conhecimento do bem e do mal") corresponde àquilo que havia acontecido aos primeiros homens?

Realmente a própria denominação da árvore bem indica o que havia acontecido aos primeiros homens, uma vez que transgredindo a ordem de Deus o homem se tornou ciente da suprema verdade que: O Bem consiste em seguir exatamente a vontade de Deus, enquanto o Mal é o caminho da negação desta vontade, a revolta contra ela.

199. Como pôde acontecer, que Adão e Eva obedeceram às instigações de Satanás contra a própria vontade de Deus?

Deus, na Sua infinita bondade (no ato de criação do homem), deu-lhe a livre e espontânea vontade, que sendo, por sua própria natureza, propensa ao amor a Deus, era, no entanto, completamente livre, podendo o homem usá-la como bem lhe aprouvesse. Aconteceu, portanto, que o homem fez uso dela, contradizendo as leis divinas e desobedecendo à vontade do seu Criador.

200. De que maneira Satanás tentou Adão e Eva?

O eterno inimigo do gênero humano — Satanás — apresentou-se a Eva sob a forma de uma serpente e afirmou que comendo os frutos da "árvore do conhecimento do bem e do mal," os primeiros homens não somente não morreriam, mas pelo contrário iriam tornar-se exatamente como Deus, pois teriam conhecimento de todas as verdades. Eva deixou-se convencer pelas palavras do diabo e pela beleza do fruto, comendo-o e dando em seguida a Adão, que lhe seguiu o exemplo (*).

201. Quais foram as conseqüências do pecado de Adão e Eva?

Foram — a maldição divina e a morte.

202. Que é "maldição divina?"

É a condenação do pecado por meio de julgamento justo e sagrado. Conseqüentemente a maldição divina é, também, o próprio mal que surgiu na terra, originário do pecado, para o castigo dos homens.

203. Que forma de morte surgiu como conseqüência do pecado dos primeiros homens?

Em conseqüência do pecado de Adão e Eva surgiu a morte da seguinte forma:

    1. A morte física, quer dizer, a separação da alma, que vivifica o corpo, do corpo material.
    2. A morte espiritual, que equivale à perda da graça divina, que vivifica a alma com elementos supremos da vida espiritual.

204. Pode a alma morrer do mesmo modo que morre o corpo?

Não! A alma pode morrer, porém de modo diferente que o corpo. 0 corpo, quando morre, é desprovido de sentidos e passa a processo de decomposição. A alma, porém, quando morre em conseqüência do pecado, torna-se desprovida da Luz Espiritual, da felicidade e da alegria. Não está, no entanto, sujeita à decomposição e, assim sendo, não desaparece; permanece no estado de obscuridade, tristeza e sofrimento.

205. Por que razão não foram só os primeiros homens a serem castigados com a morte, mas sim todos os homens em todos os tempos?

Todos os homens morrem porque descendem de Adão e Eva, herdando por esta razão o terrível contágio do pecado original. Além disto os homens morrem, também, porque continuam

(*) É profundamente simbólico este trecho da Bíblia

pecando. Como de uma fonte contagiada corre um córrego, que se transforma em seguida num imenso rio, da mesma maneira dos primeiros homens contagiados pelo terrível pecado da desobediência a Deus, corre durante séculos um enorme rio de seres humanos, que, além de carrear consigo o contágio original, aumentam constantemente a carga do mal, adicionada de pecados cada vez mais horripilantes. Assim também, a morte, o terrível castigo, imposto pelo Criador aos primeiros homens, continua em vigor até os nossos dias e continuará até quando o gênero humano voltar ao caminho do Bem.

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram" (Epístola de S. Paulo aos Romanos 5:12).

206. Por que Deus não impede aos homens de cometer pecados?

Deus não impede aos homens de cometer pecados, pois não deseja privá-los da livre e espontânea vontade, deixando sempre aberto o caminho do Bem, que os homens podem escolher.

207. Após cometer o pecado original, podiam os primeiros homens continuar a consumir os frutos da "árvore da vida," obtendo conseqüências benéficas para eles?

Não! Consumindo os frutos da "árvore da vida," os primeiros homens não poderiam morrer, continuando desta forma na permanência contínua no estado de pecado em que foram induzidos por Satanás. Esta, pois, foi a razão pela qual Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso.

208. Havia qualquer esperança de salvação para o genero humano?

Deus, em Sua infinita misericórdia, ofereceu aos homens uma esperança de salvação, prometendo enviar-lhes o Salvador, que venceria o diabo e levaria os homens à redenção dos seus pecados, da maldição e da morte eterna.

"Esta (semente da mulher) te ferirá a cabeça da serpente" (1 Moisés 3:15) (*).

209. Por que o prometido Salvador, que foi nosso Senhor Jesus Cristo é denominado "semente da mulher?"

Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador dos homens, é denominado na Bíblia "semente da mulher," em vista de ter nascido na terra da santíssima Virgem Maria, que não possuía esposo terreno.

210. A que obrigava os homens a promessa da vinda do Salvador à terra?

Esta promessa obrigava os homens a ter fé no Salvador, que estava por vir, da mesma forma que estão convocados a tê-la nos tempos atuais, depois que o Salvador já veio.

211. Todos os homens dos tempos antigos possuíam fé na chegada do Salvador?

Não. Não foram todos os homens da antigüidade, que possuíam esta fé, pois muitos deles se esqueceram da promessa de Deus neste sentido.

212. Havia Deus renovado a Sua promessa outras vezes?

Sim. Várias vezes Deus relembrou aos homens Sua promessa. Por exemplo: Disse a Abraão nas seguintes palavras: "E em tua semente serão benditas todas as nações da terra" (Gênesis

(*) O livro de Moisés é o Gêneses.

22:18). Também disse Deus ao santo rei Davi: "Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti a tua semente, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o teu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre" (2 Samuel 7:12-13).

213. Qual é o significado dos seguintes dizeres contidos no "Credo: "Encarnou-se pelo Espírito Santo e da Virgem Maria?"

Significam, que o Filho de Deus milagrosamente e pelo poder do Espírito Santo, adotou o corpo humano, desprovido do "pecado original," tornando-se homem, sem, no entanto, deixar de ser Deus.

"E o Verbo se fez carne" (Evangelho de São João 1:14).

"E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão?

E respondendo o anjo disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Evangelho de São Lucas 1:34-35).

214. Por que além da palavra "Encarnou-se" ainda lemos no "Credo" "E se fez homem?"

Essas palavras "E se fez homem," foram adicionadas propositalmente, para que alguém não possa pensar que o Filho de Deus havia adotado somente o aspecto externo do homem. A realidade é que nosso Senhor Jesus Cristo assumiu todas as qualidades de homem perfeito, constituído de corpo e de alma, porém desprovido totalmente de qualquer pecado.

"Porque há só um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1 Epístola do santo apóstolo Paulo a Timóteo 2:5).

215. Quantas naturezas, pois, há em Jesus Cristo?

Na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo são indivisíveis e inconfundíveis as duas naturezas: A divina e a humana.

216. Quantas vontades há em Jesus Cristo: Uma ou duas?

De acordo com as determinações do sexto Concílio Universal (em Constantinopla no ano 680), em vista de possuir duas naturezas, divina e humana, acham-se em nosso Senhor Jesus Cristo duas vontades — divina e humana, sendo que a vontade humana não está em desacordo ou desobediência à vontade divina, mas subordinada a ela.

217. Quantas pessoas há em Jesus Cristo?

Em nosso Senhor Jesus Cristo há uma só pessoa: Deus e homem — unidos numa só Unidade. Nosso Senhor é Deus-Homem.

218. Qual a razão por que denominamos nosso Senhor: "Deus-Homem"?

Denominamos nosso senhor Jesus Cristo "Deus-Homem," em virtude de ser Ele Deus desde o início dos tempos, tornando-se homem no ano 748 desde a fundação da cidade de Roma (cálculo do tempo em uso naquela ocasião), adotando a natureza humana, quer dizer: o corpo e a alma, na completa perfeição e desprovidos de qualquer pecado.

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória" (Evangelho de São João 1:14).

219. Quem é a mãe de nosso Senhor Jesus Cristo?

Como homem, nosso Senhor Jesus Cristo tem mãe, cujo nome é Santíssima Virgem Maria.

220. Como homem, possui nosso Senhor Jesus Cristo um pai?

Não. Como homem, nosso Senhor Jesus Cristo não possui um pai. São José era única e exclusivamente o tutor do nosso Salvador.

221. Quem era a Santíssima Virgem Maria?

Nossa Senhora descendia da família de Abraão e Davi, da qual devia surgir o Salvador de acordo com a promessa de Deus. Estava sob a tutela de São José, que, pertencendo à mesma família, estava incumbido de tê-la sob os seus cuidados, sendo a Virgem Maria oferecida a Deus e devendo, por esta razão, permanecer no estado de virgindade para sempre.

222. Nossa Senhora permaneceu para sempre em estado de virgindade?

Realmente, nossa Senhora nunca deixou de ser virgem. Tanto antes do nascimento do Salvador, quanto durante e depois deste nascimento, permaneceu no estado de virgindade. Por esta razão, dirigimo-nos a ela em nossas orações chamando-A de "Santíssima Virgem," "Sempre Virgem," "Puríssima" etc.

223. É admissível sustentar esta afirmativa, apesar dos conhecimentos científicas atuais, que recusam admitir a possibilidade de ser uma mulher Mãe, permanecendo no estado de virgindade?

Esta afirmativa não somente deve ser sustentada, mas deve ser considerada também como um fato absolutamente irrefutável. A ciência materialista não possui competência para discutir os assuntos de caráter divino, pois nem nos casos puramente terrenos ela chegou a ser perfeita. As opiniões científicas mudam de ano para ano, mesmo tratando-se de casos típicos do desenvolvimento da inteligência humana.

224. Quais são os exemplos de falta de firmeza nas convicções da ciência contemporânea?

Poderíamos citar inúmeros exemplos de falta de firmeza e de segurança nas convicções da ciência. Eis alguns deles: Por ocasião da invenção da locomotiva pelo engenheiro Stefenson, os cientistas contemporâneos alegaram ser impraticável e impossível esse invento. O mesmo aconteceu com quase todas as grandes invenções: O aeroplano, o automóvel, o submarino etc. No entanto, as grandes invenções foram realizadas! No campo da medicina as controvérsias da ciência são maiores ainda. De ano para ano, os "grandes médicos mudam de opinião relativamente a toda espécie de assuntos vitais ligados com esta ciência, uma vez adiantando-se nas pesquisas, outra vez recuando, à procura de meios mais eficazes.

Em outros ramos da ciência dá-se exatamente a mesma coisa.

225. Em que se baseia a ciência atual, refutando a possibilidade de ser uma mulher-mãe, permanecendo no estado de virgindade?

A ciência atual refuta esta possibilidade, alegando que isto é contra as leis físicas." No entanto, os cientistas materialistas, de curta visão, que proferem estas opiniões esquecem que as leis físicas" foram criadas por Deus, e que Ele possui o poder de alterar e modificar essas leis, especialmente tratando-se de oferecer a salvação ao gênero humano.

226. As "leis físicas," descobertas pela ciência, são inalteráveis?

Não. No decurso dos séculos a ciência humana modificou várias vezes os seus pontos de vista sobre as "leis físicas fundamentais" ou "leis básicas que regem o Universo." Os célebres pensadores e sábios não chegaram nunca a um entendimento completo entre si. No decurso dos séculos, as opiniões mudaram de tal forma, que nos tempos atuais consideram-se absurdas as afirmações das grandes autoridades nos assuntos científicos dos tempos passados. A descoberta da energia nuclear revolucionou por completo as noções científicas, tornando obsoletas as "leis físicas," consideradas inabaláveis há poucos anos atrás.

227. Devemos, pois, dar fé às afirmativas arbitrárias da ciência, quanto à "impossibilidade- de nossa Senhora ter permanecido no estado de virgindade?

Não. Não devemos dar atenção a essas afirmativas em vista do que expusemos nos pontos anteriores e porque para Deus tudo é possível!

228. Por que razão damos a nossa Senhora e sempre Virgem Maria o nome de "Mãe de Deus?"

De acordo com a resolução do terceiro Concílio Universal, devemos considerar que, apesar de ter nosso Senhor Jesus Cristo nascido da Virgem Maria, como homem e conseqüentemente sob o aspecto da natureza humana, (já que a Sua natureza divina era eternamente existente), deve nossa Senhora levar o nome de mãe de Deus, pois o Filho que teve foi Deus Verdadeiro.

229. Por que conferimos a nossa Senhora o nome de Santíssima, glorificando-a logo em segundo lugar depois de Deus?

Procedemos desta forma em virtude de ser nossa Senhora a Mãe de Deus, possuidora de graça suprema e mais próxima de Deus, superando assim em dignidade todos os seres criados por Deus e todos os Espíritos Celestiais.

Esta é a razão por que a Santa Igreja Ortodoxa venera à Mãe de Deus como sendo superior aos querubins e aos serafins.

230. Que mais devemos saber quanto ao nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo da Santíssima Virgem Maria?

Com relação ao nascimento de nosso Senhor, devemos saber que, sendo este nascimento santo e desprovido de pecado, não foi ele acompanhado das dores habituais que caracterizam o nascimento natural, fazendo parte do castigo infligido por Deus pelos pecados da humanidade. (São João Damasceno, "Deus," livro 4; capítulo 14, vers. 6).

231. Onde nasceu nosso Senhor Jesus Cristo?

Em Belém, pequena cidade vizinha a Jerusalém, capital da Judéia, na Palestina.

 

A Terra Santa

232. Onde se encontra a Palestina?

O país denominado atualmente "Palestina" ou "Terra Santa" fica localizado na Ásia Menor, entre 29,5 graus e 33 graus de longitude oriental, e entre 34 graus e 35,5 graus de latitude setentrional. Nos tempos atuais forma este território um estado soberano, denominado "Israel"; uma república com capital em Jerusalém. Do lado ocidental é banhado pelas águas do Mar Mediterrâneo. Ao norte limita-se com a República do Líbano, ao nordeste com a República da Síria, ao leste com o Reino da Jordânia e ao sudoeste com a República do Egito.

233. Qual é a origem do nome "Palestina"?

O nome "Palestina" descende da palavra "Filistin," que era a denominação do povo que habitava essas regiões antes de serem as mesmas conquistadas pelos Hebreus guiados pelo profeta Moisés.

234. Por que razão denominamos a Palestina Terra Santa?

Em virtude de ter ali nascido, vivido, ensinado, padecido e ressuscitado o nosso Salvador, Filho de Deus — Jesus Cristo.

235. A Palestina dos tempos atuais e a Palestina dos tempos de nosso Senhor, apresentam o mesmo aspecto?

Geograficamente apresentam o mesmo aspecto. Tanto mais que, apesar de todas as dificuldades surgidas nos vinte séculos passados, (tais como guerras, desordens etc.), foi possível conservar a integridade dos principais lugares, que relembram a vida e a obra de nosso Senhor, e isto graças ao carinhoso zêlo dos cristãos, cujo trabalho e dedicação permitiram a subsistência e a conservação desses lugares santos.

Entretanto, a própria capital do país — Jerusalém, — como está atualmente, não se assemelha àquela maravilhosa cidade de palácios e monumentos, conhecida nos tempos em que ali ensinava o Salvador dos homens, como sendo uma das mais belas e suntuosas cidades do mundo. Conforme nosso Senhor Jesus Cristo havia profetizado, não sobrou "pedra sobre pedra" da cidade de Jerusalém. Após o levante promovido por Bar-Hoteba, um fanático-nacionalista judeu, levante este afogado num mar de sangue pelos dominadores exércitos romanos do imperador Adriano, este último ordenou a destruição total e completa da cidade. Simultaneamente foi destruído o magnífico templo de Solariam, considerado uma das mais belas obras arquitetônicas da antigüidade.

A destruição do templo de Salonião representa o início do longo período da dispersão do povo hebreu, que, privado do seu centro religioso e cultural, passou a procurar refúgio nos países distantes. As terríveis palavras exclamadas pelos judeus no ato da condenação de Jesus: O seu sangue caia sobre nós e os nossos filhos!" cumpriram-se com toda exatidão do seu trágico significado, o sangue do justo e santo Rei dos Reis caiu na verdade sobre este povo, que havia levantado a mão sacrílega contra o seu Benfeitor!

236. Qual é a situação da Fé Cristã Ortodoxa na Palestina, nos tempos atuais?

Após a queda do Império Romano, passou a Terra Santa por diversas etapas de dominação. Finalmente os turcos, apoderando-se do Império Bizantino, estenderam a mão à Palestina, que mantiveram sob seu domínio até a queda do Império Otomano, durante a primeira guerra mundial (19141918).

O domínio muçulmano o sobre a Terra Santa deu origem a vários empreendimentos de caráter militar por parte dos príncipes cristãos da Europa, que se iniciaram em 1097 D. C. com a "Primeira Cruzada." Foi realmente levada a efeito a tomada de Jerusalém e criado o "Reino de Jerusalém." A duração deste "Reino," porém, foi muito curta. já em 1187 o sultão Saladino arrebatava a Terra Santa das mãos dos Cristãos. Seguiram-se várias outras expedições desta natureza, organizadas pelos reis e papas ocidentais, que, no entanto, preferiram encarar o assunto do ponto de vista econômico, deixando de lado a sagrada missão de libertar os Lugares Santos, das mãos dos Maometanos. Assim, transformaram-se as Cruzadas em expedições, organizadas à cata de riquezas e cheias de episódios de incrível barbaridade e crueldade indizível. Entre outras cidades, foi impiedosamente saqueada a cidade de Constantinopla (atual Istambul), centro da Ortodoxia Bizantina. Imagens santas, jóias e adornos riquíssimos, pertencentes à Igreja Ortodoxa, foram carregados pelos "Cavaleiros Cruzados."

O único efeito positivo que as Cruzadas tiveram em relação aos Lugares Santos, foi a permissão concedida pelos pertencentes à Igreja Ortodoxa, foram carregados pelos "Catãos a possibilidade de visitar a Terra Santa. É mister pôr em relevo o alto e generoso espírito do sultão Saladino, homem de inigualável cavalheirismo e profunda compreensão da alma humana. Sendo um dos maiores inimigos dos Cruzados, conseguiu, no entanto, superá-los sobremaneira em demonstração de generosidade, prestando-lhes ensinamentos valorosos sobre as relações justas e honestas entre os homens. Por mais estranho que isto possa parecer foi por várias vezes que este muçulmano indicou aos Cavalheiros Cristãos o caminho certo que deve seguir um verdadeiro servo de Cristo!

Atualmente os lugares santos da Palestina são livres à visitação dos peregrinos e não se encontram sob qualquer pressão por parte de quem quer que seja.

O centro principal, onde se reúnem, por assim dizer, todos os fios da fé cristã, é a Igreja do Santo Sepulcro, erigida no lugar exato, onde se encontrava o sepulcro de nosso Senhor Jesus Cristo. Ali todas as seitas do Cristianismo reúnem-se em prece, dirigida Aquele que na sua derradeira "Oração enviada ao Seu Eterno Pai, no jardim das Oliveiras, disse:

"E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; PARA QUE TODOS SEJAM UM, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti, que também ÊLES SEJAM UM EM Nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (Evangelho de S. João 17:20-21).

No entanto, por mais terrível que seja, os Cristãos não estão unidos em Cristo, nosso Senhor! Em vinte séculos, que se passaram, surgiram milhares de seitas, as quais todas elas se consideram as únicas possuidoras dos verdadeiros mistérios da fé e detentoras do meio certo para a obtenção da felicidade eterna! Na Igreja do Santo Sepulcro e em outros lugares santos, os ministros e frades das mais diversas religiões lutam entre si em constante competição saturada de inimizade. É um quadro mais do que dramático! Aqueles que deveriam ser unidos entre si para serem unidos em Deus, são mais do que DESUNIDOS; são literalmente alheios aos sentimentos do amor fraternal!

Nestas condições é realmente difícil de concretizar qual das situações foi mais proveitosa para a fé cristã: aquela, quando os Lugares Santos estavam em poder dos infiéis, mas os cristãos podiam, à custa de enormes sacrifícios, homenagear as santas relíquias da Fé; ou então a situação atual, quando ninguém os impede de adorar o Senhor nos próprios lugares onde Ele viveu, permanecendo, entretanto, num terrível estado de desunião? (Em nossa Obra: "A História da Santa Igreja Ortodoxa," trataremos deste assunto com maior afinco e apresentaremos provas históricas do benéfico papel representado pela Ortodoxia, na perspectiva dos acontecimentos históricos).

Jesus-Messias

237. Quando nasceu nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu no dia 25 de dezembro do ano 748 desde a fundação da cidade de Roma. (Ver Questão 218).

238. Que nos dá a certeza de que Jesus Cristo é o prometido Messias?

Temos certeza que nosso Senhor Jesus Cristo é justamente o prometido Messias, pois nele se comprovaram todas as profecias dos profetas, proferidas acerca da vinda do Messias.

239. Quais foram as profecias sobre nosso Senhor Jesus Cristo?

São as seguintes:

1. Época da chegada do Senhor.

2. Circunstâncias ligadas com a chegada do Senhor.

3. Lugar da chegada do Senhor.

"O cetro não se arredará de Judá nem o legislador dentre seus pés, até que venha Shiloh (palavra hebraica podendo ser traduzida como: "Pacificador"); e a Ele se congregarão todos os povos" (Gênesis 49:10). "E tu Beth-Lehen Ephrata, posto que pequena entre milhares de judá, de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Miquéias 5:2). No belíssimo livro do profeta Daniel encontramos vários trechos, que indicam, sem qualquer sombra de dúvida, que este santo e sábio servo de Deus, soube prever, 490 anos antes da chegada do nosso Salvador, vários acontecimentos e mistérios de Sua vida terrena (Daniel 9).

4. Os milagres de nosso Senhor.

5. Os padecimentos de nosso Senhor.

6. A morte de nosso Senhor.

"Dizei aos turbados de coração:

Esforçai-vos, não temais: eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; Ele virá e vos salvará.

Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão.

Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará" (Isaías: 35:4-6). "Eis que eu envio o meu anjo, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos Exércitos" (Malaquias 3:1).

"Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor" (Malaquías 4:5).

Nestes últimos trechos extraídos do livro do profeta Malaquias, percebe-se visivelmente uma alusão a São João Batista, que é comparado ao profeta Elias, destinado a preparar os Caminhos do Senhor. Essas palavras proféticas foram profetizadas pelo iluminado profeta por ocasião da edificação do segundo templo de Jerusalém, quando os seus olhos espirituais anteverem a vinda para este templo do Salvador dos homens. Eis mais um trecho que fala da gloriosa entrada do Senhor na cidade de Jerusalém, montado num jumentinho:

"Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis que o teu Rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta" (Zacarias: 9:9).

São profundamente comoventes as profecias do profeta Isaías que discorrem sobre os padecimentos e a morte do Senhor:

"Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido...

Ele foi oprimido, mas não abriu a boca: como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca.

Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida?

Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo foi Ele atingido. E puseram a Sua sepultura com os ímpios, e com o rico esteve na Sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na Sua boca" (Isaías: 53:4-7-8-9).

O santo profeta e rei Davi conta-nos os padecimentos do nosso Salvador em palavras que surpreendem pela sua exatidão. É admirável o dom sagrado, concedido por Deus aos profetas, que permite antever os acontecimentos futuros com tão espantosa precisão! "Transpassaram-me as mãos e os pés... Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha túnica" (Salmo 22:17-18).

O profeta Daniel também previu os padecimentos do nosso Salvador (Daniel 9).

7. Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo e sua ascensão:

"Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção" (Salmo 16:10).

8. A fundação da Santa Igreja e a sua permanência em eternidade:

"Dominará de mar a mar... E todos os reis se prostrarão perante Ele; todas as nações O servirão" (Salmo 72:8-11).

240. Quem e de que maneira se reconheceu em Jesus Cristo o prometido Salvador?

    1. Os pastores de Belém souberam por intermédio do Anjo da feliz nova do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
    2. Os Reis Magos do Oriente foram guiados por uma estrela resplandescente até a gruta do nascimento.
    3. O rei Heródes teve conhecimento pelos Reis Magos do nascimento de Nosso Senhor.
    4. São Simão — o justo e Sant'Ana — a profetisa obtiveram do Espírito Santo a compreensão da divindade de Jesus, quando Ele foi levado ao Templo de Jerusalém no quadragésimo dia após seu nascimento.
    5. O povo soube do nascimento de Nosso Senhor por intermédio de São Simão e de Sant'Ana.
    6. São João Batista reconheceu em Nosso Senhor Jesus Cristo o Unigênito Filho de Deus, por ocasião do batismo no rio Jordão, quando o Espírito Santo desceu dos céus em forma de pomba branca.
    7. Os santos apóstolos: Pedro, Tiago e João ouviram a voz de Deus Pai, confirmando a divindade do nosso Salvador, por ocasião da transfiguração no cume do monte Tabor.
    8. Todos aqueles que ouviram os divinos ensinamentos de Nosso Senhor, que assistiram ou se beneficiaram com os Seus milagres e também todos aqueles que posteriormente tiveram contato com os Seus santos discípulos, reconheceram, sem sombra de qualquer dúvida, que Nosso Senhor Jesus Cristo é o UNIGÊNITO FILHO DE DEUS, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

 

241. Que sabemos nós dos anos da meninice de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Dos anos da meninice do nosso Salvador podemos registrar os seguintes acontecimentos:

    1. No oitavo dia após seu nascimento, por ocasião da circuncisão, recebeu Nosso Senhor o nome de JESUS.
    2. Com a idade de 12 anos foi, acompanhado da Santíssima Virgem Maria e São José, à cidade de Jerusalém a fim de assistir aos festejos da Páscoa. Nesta ocasião realizou-se a disputa que o menino Jesus manteve com os doutos e sábios do templo, quando demonstrou espantosos conhecimentos das Sagradas Escrituras, deixando perplexos os seus ouvintes.
    3. Até o dia em que iniciou a sua sagrada missão de Salvador dos homens, aos 30 anos de idade aproximadamente, levou uma vida retirada de práticas sagradas e estudos, auxiliando São José em seus trabalhos de marcenaria, dando assim um exemplo edificante de humildade e amor.

242. Quando iniciou nosso Senhor as suas atividades evangélicas?

Iniciou-as aos 30 anos de idade.

243. Quais são os acontecimentos que antecederam ao início das atividades públicas de Nosso Senhor?

São os seguintes:

    1. São João Batista pregava a penitência e certificou que Nosso Senhor era o Cordeiro de Deus, que redimia os pecados do mundo.
    2. Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou a São João Batista que O batizasse nas águas do rio Jordão.
    3. No ato do batismo do nosso Salvador, desceu sobre: Ele o Espírito Santo sob a forma de pomba branca, ouvindo-se simultaneamente a Voz do Deus Pai que dizia: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Evangelho de São Mateus 3:17).
    4. Após o batismo seguiu Nosso Senhor Jesus Cristo para o deserto onde jejuou durante 40 dias e 40 noites, foi tentado pelo diabo, venceu-o e foi servido pelos anjos.

244. De que forma exerceu nosso Senhor a Sagrada Missão de ensinar o Evangelho?

Da seguinte forma:

    1. Levou o Santo Evangelho ao povo em diversas localidades da Terra Santa.
    2. Reuniu numerosos discípulos entre os quais escolheu os 12 apóstolos.
    3. Ensinou as verdades eternas, que devem ser o alicerce da nossa Fé e fez-se portador das virtudes celestiais que devemos imitar sempre.

245. Quais são as provas, que revelam serem verdadeiros os ensinamentos de Nosso Senhor?

São:

A) A santidade de Sua vida:

"Quem dentre vós me convence de pecado?" (Evangelho de São João 8:46).

B) As provas contidas nas Sagradas Escrituras:

"Examinai as Escrituras... e são elas que de Mim testificam" (Evangelho de São João 5:39).

C) Os milagres e as profecias:

"Porque as obras que o Pai Me deu para realizar, as mesmas obras que Eu faço, testificam de Mim, que o Pai me enviou" (Evangelho de São João 5:36).

246. Quais são os milagres de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo manifestou o seu infinito amor para com o gênero humano por meio de diversos milagres: expulsava os espíritos malignos; com uma única palavra curava doentes desenganados pelos médicos; transformou água em vinho; uma vez com cinco e outra vez com sete pães alimentou milhares de pessoas, que assistiam aos seus ensinamentos; andou sobre as águas; com seu poder divino acalmava a tempestade; ressuscitava os mortos (o filho da viúva de Nain, a filha de Jairo e Lázaro no quarto dia após o falecimento).

247. Quais são as profecias de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo profetizou: a traição de Judas; a negação do apóstolo Pedro; o modo pelo qual ia morrer; a sua ressurreição e ascensão; a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos (Pentecostes); a destruição de Jerusalém; a divulgação do Santo Evangelho no mundo inteiro e numerosos outros acontecimentos.

248. Quem não acreditou nos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

O Sumo-Sacerdote do Templo de Jerusalém, os Saduceus e os Fariseus rejeitaram os ensinamentos de Nosso Senhor, antevendo neles uma ameaça ao seu modo, de viver caracterizado pelo egoísmo, orgulho, corrupção e ilimitado luxo. Essas foram também as causas do ódio, que os lideres da religião hebraica sentiram contra o Salvador, que demonstrou os mais elevados exemplos de altruísmo, humildade, caridade e pobreza.

249. De que modo efetuou Nosso Senhor a obra de salvação?

Nosso Senhor efetuou a obra de salvação com Seus divinos ensinamentos, com o exemplo de Sua vida, com Sua morte em prol da salvação do gênero humano e com Sua ressurreição.

250. Quais, foram os ensinamentos de nosso Senhor?

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinava o "Evangelho do Reino de Deus" (Evangelho de São Marcos 1:14), quer dizer, as verdades sobre a salvação e a eterna felicidade dos justos nos Céus de Deus, verdades essas, conservadas na sua integridade e incorruptas no Tabernáculo Sagrado da Fé da Santa Igreja Grego-Ortodoxa.

251. De que forma devemos receber os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que esses ensinamentos sejam para nós um caminho direto da salvação?

Para que os ensinamentos de nosso Senhor sejam para nós um caminho direto da salvação devemos, antes de tudo, aceitá-los de todo, coração e com a máxima sinceridade e amor; seguindo, durante toda a vida, de acordo com Seus preceitos.

Assim como a mentira de Satanás tornou-se a semente do pecado e da morte; a verdade semeada nas Palavras Sagradas de nosso Senhor, tornou-se o grão da vida santificada e pura, que leva à felicidade eterna: "Eu sou o Caminho e a Verdade e a Vida" (Evangelho de São João 14:6).

Diz o santo apóstolo Pedro, que os Cristãos são natos: "Não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre" (Epistola Universal do santo apóstolo Pedro 1:23).

Devemos, pois, agradecer a Deus, que, pelo amor para com o gênero humano se tornou homem; devemos apegar-nos com ilimitado entusiasmo e amor aos Seus divinos ensinamentos, imitando constantemente o Seu sagrado exemplo e espalhando ao redor de nós aquela maravilhosa luz, que Ele deixou na terra nos quatro Evangelhos e nas palavras dos Seus santificados discípulos.

252. Como devemos proceder para que a vida terrena de nosso Senhor Jesus Cristo possa tornar-se um meio de salvação para nós?

Devemos seguir o exemplo de nosso Salvador, de acordo com as suas próprias palavras: "Se alguém me serve, siga-Me, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo" (Evangelho de São João 12:26).

253. Por que Nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado, uma vez que os Seus ensinamentos e feitos só deveriam causar amor e admiração?

Além das causas, já mencionadas no ponto 248, não devemos esquecer que nosso Senhor Jesus Cristo mereceu profunda adoração do povo pelos inúmeros atos de bondade e caridade e os ensinamentos claros e explícitos, que caíam diretamente na alma da gente simples. Isto, como também a profunda, divina sabedoria do nosso Salvador, causou grande inveja e ódio profundo no íntimo dos corações daqueles que estavam na liderança da religião hebraica. Havia, afora isto, outro fator, que se tornou uma das causas preponderantes da falsa acusação, assacada pelos sacerdotes, fariseus e saduceus perante Pôncio Pilatos, cuja conseqüência foi o terrível martírio do Gólgota. Este fator foi essencialmente político. Para compreender bem este importante assunto, necessário é' que recordemos um pouco de história.

Na época em que Nosso Senhor Jesus Cristo pregava a chegada do "Reino de Deus" na terra, a Palestina era governada por um rei, que estava simultaneamente sob a tutela do Imperador Romano, cujo representante no país, o procônsul Pôncio Pilatos, exercia "de fato" todo o poder. Nestas condições, tanto o rei Heródes, quanto o procônsul Pôncio Pilatus anteviram o perigo para o vigente estado de coisas, das pregações do sagrado Messias. Em resumo, não podiam aceitar de bom grado o aparecimento de um Filho de Deus, que pelo próprio povo foi proclamado Rei e fizera sua entrada triunfal em Jerusalém, montado num jumento. Evidentemente, os receios dos governantes da Judéia eram completamente infundados, já que Nosso Senhor Jesus Cristo de forma alguma -pretendia apoderar-se do poder civil na Palestina, pois o Seu único e exclusivo objetivo era a Salvação das Almas Humanas. Todavia a cegueira, motivada pela inveja e pelo ódio, causou tamanhos transtornos nos corações obscurecidos dos governantes e sacerdotes, que ousaram erguer as suas mãos sacrílegas, derramando o sangue sagrado daquele que veio para salvá-los da morte eterna.

254. Por que razão consta na "Profissão de Fé Ortodoxa," que a Crucificação se deu "sob o poder de Pôncio Pilatos?"

Para indicar com absoluta precisão o momento histórico do drama do Gólgota.

255. Quem era Pôncio Pilatos?

Pôncio Pilatos era "Procônsul romano," titulo equivalente ao de comandante supremo das forças de ocupação na Palestina e ministro plenipotenciário do Imperador Romano. Foi designado para este elevado cargo após tornar-se célebre na guerra contra os bárbaros ao lado do desafortunado Germânicus, posteriormente assassinado pelo Imperador Tiberius. Sucedeu a Valério Gratus no ano 26 D. C., sendo substituído no ano 36 D. C. por Marcellus. A residência oficial do Procônsul Romano encontrava-se na cidade de Cesaréia Philippa junto ao palácio do Tetrarca (rei) Heródes Antipater. Em Jerusalém havia somente uma guarnição permanente do exército romano, alojado na Fortaleza Antónia. Desta forma o próprio Procônsul visitava Jerusalém somente: por ocasião das grandes festas religiosas dos hebreus, quando havia grande afluxo de peregrinos ao templo, ocasião esta propicia para toda sorte de distúrbios e levantes, e quando a presença do comandante romano emprestava um aspecto de maior segurança e garantia na manutenção do estado de coisas reinante na Palestina.(*).

256. Qual a importância que se dá à indicação do nome de Pôncio Pilatos dentro do texto da "Profissão de Fé Ortodoxa?"

A indicação do nome de Pôncio Pilatus é importante não somente pelo fato de ser indicado com absoluta precisão o momento histórico dos acontecimentos magnos de nossa fé, mas também porque ficam comprovadas as palavras proféticas do patriarca Jacó, encerradas no 1o Livro de Moisés (49:10): "O cetro não se arredará de Judá nem o legislador dentre seus pés até que venha Shiloh (Conciliador); e a Ele se congregarão os povos."

257. Em que lugar foi crucificado nosso Senhor Jesus Cristo?

No alto do morro denominado "Gólgota," que em hebraico, quer dizer "a caveira." Essa sinistra denominação foi aplicada ao lugar em virtude de ser ele uma espécie de patíbulo, onde os condenados eram executados.

A crucificação era um meio oficial de execução dos condenados à morte introduzida pelos romanos em todas as províncias conquistadas, sendo, porém, aplicada exclusivamente a "não-romanos," possuindo estes últimos o privilégio de morrer a golpe de espada. Isto explica o fato de nem todos os santos apóstolos haverem padecido na cruz.

O santo apóstolo Paulo foi decapitado justamente pela razão de ser cidadão romano.

A própria condenação à morte na cruz era considerada sobremaneira humilhante e consistia em tremendo e vagaroso padecimento. Amarrava-se o condenado na cruz com os braços fortemente distorcidos e com o corpo todo esticado ao máximo, exposto aos raios abrasadores do sol. Vigiado pelos guardas especialmente destinados a este fim, não podia receber qualquer ajuda ou alívio, morrendo, às vezes, após vários dias de inanição.

Para os que condenaram nosso Senhor Jesus Cristo à morte na cruz, na forma rotineira, pareceu sobremaneira suave. O ódio mortal que lhes preenchia os corações ditou-lhes outros meios — que chegavam ao cúmulo do sadismo. Cravos de ferro substituíram as cordas! As mãos e os pés Santificados do nosso Salvador foram traspassados por pregos aguçados, que os prenderam ao lenho da Cruz!

Desta forma sinistra e selvagem agradeceram os homens Aquele que veio para salvá-los das eternas trevas da injustiça e do pecado.

A perda de sangue do torturado corpo do Senhor como também a Sua constituição física frágil, contribuíram para que a morte sobreviesse num prazo excepcionalmente curto.

O lenho da cruz tornou-se para os seguidores de nosso Senhor Jesus Cristo o mais sagrado dos símbolos e o sinal perpétuo da salvação e da vitória da vida sobre a morte; da justiça sobre a falsidade; da verdade sobre a mentira e da luz sobre: as trevas.

258. Em que consiste a morte de nosso Senhor Jesus Cristo? Consiste em ter-se-lhe a alma separado do corpo:

"E clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas Tuas Mãos entrego o Meu Espírito" (Evangelho de São Lucas 23:46).

"E quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o Espírito" (Evangelho de São João 19:30).

(*)No fim deste volume, o leitor encontrará diversas tabelas sinápticas referentes ao período histórico em que processaram os acontecimentos relacionados com a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo.

259. No ato da morte de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus ficou separado do homem?

Deus não ficou separado do homem; Deus ficou estreitamente ligado com a alma e o corpo de nosso Senhor Jesus Cristo.

260. Quais foram os acontecimentos milagrosos, que se deram no ato da morte de nosso Senhor Jesus Cristo?

Houve diversos acontecimentos milagrosos: o sol ficou obscurecido; a terra tremeu; o véu do templo de Jerusalém rasgou-se ao meio (*) as rochas racharam-se; os túmulos abriram-se e muitos santos ressuscitaram e foram vistos em Jerusalém.

261. Por que lemos na "Profissão de Fé Ortodoxa," que nosso Senhor Jesus Cristo padeceu?

O termo "Padeceu" foi propositadamente incluído no texto da nossa "Profissão de Fé Ortodoxa," a fim de salientar que a Crucificação de nosso Salvador não era somente um símbolo do sofrimento e da morte, como o haviam afirmado certos heréticos, mas sim foi um sofrimento real e terrível e uma morte essencialmente material.

262. Por que foram mencionadas as palavras: "E foi sepultado"?

Essas palavras foram mencionadas com expresso objetivo de sublinhar a naturalidade dos fatos que forçosamente se sequem após a morte, como também para realçar com maior clareza a subsequente ressurreição do nosso Salvador. Este último fato, sendo profetizado pelo, próprio Salvador e conhecido dos que O condenaram, foi causa de várias providências destinadas a evitar que a ressurreição acontecesse.

Assim pois a entrada da gruta na qual permaneceu o sagrado corpo do Senhor, foi obstruída por uma grande pedra, que por sua vez ficou selada com selos do Sumo-Sacerdote. Além disto providenciou-se para que o túmulo fosse guardado permanentemente durante três dias e três noites por um destacamento de guardas armados.

263. Quem cuidou do sepultamento de Nossa Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo foi sepultado por José de Arimatéia e Nicodemos, dois homens dignos e justos, merecedores de elevada estima e alto conceito entre os seus contemporâneos. Os dois pertenciam à seita dos fariseus, sendo, apesar disto, fervorosos adeptos de Nosso Senhor. Pela elevada posição que ocupavam entre os membros do Sanedrim (**), receavam seguir abertamente os passos do Salvador, freqüentando-O e ouvindo-Lhe os ensinamentos secretamente, encobertos pela escuridão da noite.

Foram, entretanto, esses dois "desconhecidos" discípulos, que prestaram o último serviço terreno a Nosso Senhor Jesus Cristo.

264. Por que razão Nosso Senhor Jesus Cristo desejou sofrer os padecimentos e morrer?

Desejou sofrer os padecimentos e morrer:

A) A fim de satisfazer totalmente a justiça de Deus em relação a nós homens.

B) A fim de, por meio dos Seus sofrimentos e Sua morte na cruz, livrar-nos:

(*)Este véu vedava a entrada ao Santuário (o Santo dos Santos) do templo de Jerusalém, local onde se conservava a Arca da Aliança.

(**) Sinhedrim – Conselho permanete dos doutos, sábios e sacerdotes do templo de Jerusalém.

    1. Do pecado:
    2. "A quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas de Sua Graça" (Epístola de S. Paulo apóstolo aos Efésios 1:7).

    3. Da maldição e do cativeiro de Satanás:
    4. "Cristo nos resgatou da maldição da lei (Epístola de S. Paulo apóstolo aos Gálatas: 3:13).

    5. Da morte e da condenação eterna:

"E visto como os filhos participaram da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo: E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Epístola de S. Paulo, apóstolo, aos Hebreus: 2:14-15).

C) A fim de tornar-nos possuidores da graça santificadora e da eterna felicidade.

265. De que maneira Nosso Senhor Jesus Cristo satisfez totalmente à justiça de Deus em relação a nós homens?

Nosso Senhor Jesus Cristo satisfez totalmente à justiça de Deus em relação a nós-homens, pois sendo Ele-próprio DEUS, os Seus padecimentos e a Sua morte possuíam um valor infinitamente grande.

A fim de chegar à perfeita compreensão deste mistério devemos prosseguir no ligeiro estudo da sua concepção teológica: Adão é a cabeça e o princípio da humanidade inteira, com a qual se encontra unido pela descendência direta.

Nosso Senhor Jesus Cristo, no qual o divino está unido com o humano, tornou-se uma cabeça Todo-poderosa da humanidade; um princípio que constitui a união dos homens com Deus por intermédio da fé.

Desta forma é evidente que, como por Adão, nos tornamos sujeitos ao pecado, à maldição e à morte, assim por Nosso Senhor Jesus Cristo nos livramos do pecado, da maldição e da morte.

O voluntário sofrimento e a morte na cruz do DeusHomem — alheio a todo e qualquer pecado ou impureza, é um ato supremo de infinito valor e dignidade, que satisfaz plenamente à Justiça de Deus em relação ao gênero humano, condenado ao terrível castigo da morte por causa do pecado original de Adão.

Simultaneamente o mérito do supremo ato de amor de Nosso Senhor Jesus Cristo é tão incalculável, que permite ao Nosso Salvador redimir os nossos pecados e oferecer-nos a graça para o combate contra o mal e a morte, sem infringir a justiça de Deus.

"O mistério que estava oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifestado aos seus santos;

Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Colossenses 1:26-27).

"Porque, se pela ofensa de um-só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da Graça e dom de justiça, reinarão em vida por um-só — Jesus Cristo" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Romanos 5:17).

"Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.

Porque a lei do espírito de vida, em Jesus Cristo, me livrou da lei do pecado e da morte.

Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho, em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado da carne;

Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Romanos 8:1-4).

266. Como pôde Nosso Senhor Jesus Cristo padecer e morrer, se Ele próprio era Deus?

Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu os padecimentos e a morte não com o lado divino do Seu Ser, mas sim com o lado humano.

Da mesma forma sofreu e morreu, não porque, querendo, não poderia evitá-lo, mas sim, oferecendo-Se voluntariamente em holocausto para a remissão dos pecados da humanidade:

"Por isto o Pai Me ama, porque dou a minha vida, para tornar a tomá-la.

Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim-mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la" (Evangelho de São João 10:17-18).

267. Quais foram os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo foram de caráter físico e espiritual.

268. Quais foram os sofrimentos espirituais de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Inicialmente Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu uma imensa angústia e tristeza no Jardim de Getsêmani:

"A minha alma está cheia de tristeza até a morte" (Evangelho de São Mateus 26:38).

Posteriormente sofreu o nosso Salvador duros sofrimentos espirituais causados pelo desprezo, malícia, calúnia, insultos e inúmeras outras ofensas.

269. Quais foram os sofrimentos físicos de nosso Senhor Jesus Cristo?

Foram terríveis. Além de ser açoitado, foi ainda cingido com a coroa de espinhos por maliciosos guardas, cujos corações insensíveis se tornaram cegos para os sofrimentos do silencioso Cordeiro de Deus. Em seguida, os algozes obrigaram nosso Senhor a carregar a pesadíssima cruz, instrumento do seu martírio e finalmente a sofrer as incríveis dores da própria crucificação. Foram estes o ponto máximo do Seu sofrimento físico.

270. Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu realmente por todos os homens?

Oferecendo-se a Si próprio em holocausto, nosso Senhor Jesus Cristo sofreu realmente por todos os homens, conseguindo em prol deles a graça e a salvação.

"E vimos e testificamos que o Pai enviou Seu Filho para Salvador do Mundo" (1 Epístola de São João 4:14).

Todavia só aqueles que participam voluntariamente no drama místico da crucificação do Salvador, podem tirar proveito do Seu sacrifício:

"Para conhecê-lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação das Suas aflições, sendo feito conforme a Sua morte" (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Filipenses 3:10).

271. De que forma podemos participar nos padecimentos e na morte do Senhor?

Participamos nos padecimentos e na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo:

    1. Pela fé viva e sincera.
    2. Pela participação nos Santos Sacramentos da Igreja, nos quais se encontram consubstanciadas e misticamente ocultas a potência e a santidade suprema dos salvadores padecimentos e da morte do Filho de Deus.
    3. Pela crucificação dos nossos próprios corpos com os seus malignos desejos e tentações: "já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a Si mesmo por mim" (Epístola de São Paulo aos Gálatas 2:20). "Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte?" (Epístola de São Paulo aos Romanos 6:3). "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor" (1 Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 11:26). "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências" (Epistola de São Paulo, apóstolo, aos Gálatas 5:24).

272. Como podemos crucificar nosso corpo com todos os seus malignos desejos e tentações?

Travando luta constante e encarniçada contra os desejos malignos e tentações.

Todavia, não é suficiente lutar contra o mal; o essencial é saber vencê-lo.

A Santa Igreja nos fornece vários meios eficientes para que nosso corpo crucificado em nome de nosso Senhor Jesus Cristo permaneça puro e santificado, representando, desta forma, moradia digna e radiosa para a nossa alma imortal.

Além dos Santos Sacramentos, jejuns e participação freqüente e sincera em diversas práticas religiosas efetuadas nos nossos santos templos, possuímos outra arma poderosíssima que é a PRECE. Pois o santo apóstolo Paulo disse: "Orai sempre," é afirmou esta grande verdade, já que sabia que a oração é uma arma terrível, contra todas as tentações de Satanás. Não se pode vencer sem lutar, e não vale a pena lutar sem fé ilimitada na misericórdia divina e na vitória final!

 

SOBRE O QUINTO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras.

273. Qual é a prova de que os padecimentos e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo se tornaram a salvação da humanidade?

É a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que representa o alicerce espiritual para a nossa própria ressurreição e a nossa felicidade eterna:

"Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem" (*)(l

Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:20).

(*)Quer dizer: dando exemplo àqueles que morreram

274. Como devemos conceber o estado em que se encontrava Nosso Senhor Jesus Cristo após a morte, antes porém da ressurreição?

O sagrado corpo de nosso Senhor Jesus Cristo foi depositado na sepultura, enquanto o lado espiritual do nosso Salvador, isto é, Jesus-Deus, preenchendo o universo inteiro, desceu ao inferno a fim de libertar as almas de todos os justos, que morreram antes da chegada de nosso Senhor, não podendo, apesar dos seus méritos, alcançar a felicidade eterna, devido ao peso do pecado original, causado por Adão, pecado este, que não fora expiado a não ser pelo sacrifício da cruz. Simultaneamente, lemos no Santo Evangelho, que Nosso Senhor Jesus Cristo foi ao paraíso celeste, levando consigo o bom ladrão, que lhe implorou piedade na cruz.

O seguinte maravilhoso cântico da nossa Santa Igreja Ortodoxa descreve magnificamente todos estes acontecimentos:

"Com o corpo estavas no sepulcro; com a alma, porém, sendo Deus, desceste ao inferno; com o ladrão estavas no paraíso, e no trono sentaste, ó Cristo, com o Pai e o Espírito Santo, tudo preenchendo; Tu, que és indescritível!"

275. Como pode ser que nosso Senhor Jesus Cristo esteve em vários lugares, ao mesmo tempo?

É perfeitamente possível, uma vez que nosso Senhor é Deus verdadeiro em Santíssima Trindade.

276. Que é o inferno?

Há inúmeras determinações para o termo "inferno" em idiomas tanto antigos, quanto modernos. De qualquer modo essa palavra descreve a "escuridão espiritual," ou melhor, o calabouço escuro e terrível em que se encontra a alma pecadora depois da morte do corpo." Na única verdadeira e certa interpretação, que é da Santa Igreja Ortodoxa, o inferno é o terrífico estado das almas, que, devido aos seus pecados, se viram afastadas eternamente da contemplação da face divina, que por si só é a única eterna fonte da luz e da felicidade:

(Entre freqüentes descrições do estado terrível das almas pecadoras após a morte dos corpos terrenos, convém citar: a Epístola do santo apóstolo Judas Tadeu 1:6 e o cântico na 5o voz, estrofe: 2, 4, do Livro "Octoicon").

277. A descida de Nosso Senhor Jesus Cristo ao inferno era absolutamente necessária?

Sim. Porque a justiça divina exigia que não somente os homens justos, contemporâneos a Nosso Senhor e os que viveriam após o Seu sagrado sacrifício, obtivessem a salvação eterna, mas também aqueles justos que, encerrados no inferno por causa do pecado original de Adão, esperavam com fé a chegada do Salvador;

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado no Espírito. No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão (*)(Epístola do santo apóstolo Pedro 3:18-19).

278. Que significa a palavra "Ressuscitou?"

Estas palavras quer dizer que Nosso Senhor Jesus Cristo, com o poder supremo que possuía, uniu novamente a Sua alma divina com o Seu corpo, saindo da sepultura no estado da eterna glória e imortalidade.

(*) Prisão: deve compreeder-se – "O inferno"

279. Como devemos entender os dizeres contidos na "Profissão de Fé Ortodoxa:" "E ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras?"

 

Devemos entendê-los de acordo com o que nos foi ensinado no seguinte trecho da Epístola apostólica:

"Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras.

E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:3-4).

280. Que quer dizer: "Segundo as Escrituras?"

Significa que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu e ressuscitou, exatamente como o haviam assinalado os livros proféticos do Antigo Testamento:

"Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.

Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados.

Ele foi oprimido, mas não abriu a boca: como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda, perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca.

Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes: pela transgressão do meu povo foi Ele atingido. E puseram Sua sepultura com os ímpios, e com o rico esteve na sua morte; porquanto nunca fez injustiça; nem houve engano na Sua boca" (Livro do profeta Isaías: 53:4-5-7-8-9). Da ressurreição de Nosso Senhor, fala-nos o santo apóstolo Pedro com as palavras do Salmo 15 do santo rei Davi: "Pois não deixarás a minha alma no Hades (*)nem permitirás que Teu Santo veja a corrupção(**).

281. Podemos encontrar no Antigo Testamento alguma menção do fato de ter Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado no terceiro dia, após Sua morte?

Sim. Podemos encontrar uma descrição simbólica deste fato na belíssima comparação da permanência de Jonas nas entranhas do peixe no período de três dias (Livro de Jonas 2:1 etc).

282. Como se soube na ocasião, que Nosso Senhor Jesus Cristo havia ressuscitado?

    1. Os guardas, designados para guardar o sepulcro de Nosso Senhor, foram testemunhas oculares da ressurreição: "E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removeu a pedra, e sentou-se sobre ela. E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco como neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos" (Evangelho de São Mateus 28:2-4).
    2. Os Anjos anunciaram a ressurreição a Santa Maria Madalena e a outras piedosas mulheres: "E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado. E acharam a pedra revolvida do sepulcro. E entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando elas per-
    3. (*) Hades — uma das denominações do "inferno"

      (**) corrupção — deve entender-se — decomposição do corpo após a morte; Atos Apostólicos 2:27

      plexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões (*), com vestes resplandescentes. E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou" (Evangelho de São Lucas 24:1-6).

    4. próprio Salvador deixou-se reconhecer em diversas ocasiões, logo após a ressurreição:
    5. A) Apareceu a Santa Maria Madalena: "Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram. "E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela cuidando que era o hortelão(**) disse-lhe: Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei. Disse-lhe Jesus: Maria!" (Evangelho de São João: 20:13-16).

      B) Apareceu aos dois discípulos, no caminho de Emaus: "E eis que, no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaus; E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.

      E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles" (Evangelho de São Lucas 24:13-15).

      C) Apareceu a São Pedro e alguns outros apóstolos na praia do mar de Tiberíades: "Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se assim: Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná de Galiléia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram e subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam. E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia" (Evangelho de São João 21:1-4).

      D) Apareceu a todos os apóstolos reunidos para oração num aposento fechado: "Chegada, pois, a tarde de aquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas, onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntados, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco" (Evangelho de São João 20:19).

    6. Posteriormente apareceu Nosso Senhor Jesus Cristo: por diversas vezes, aos seus apóstolos, que tiveram oportunidade, não somente de falar-lhe, mas também, de tocar-lhe e cear com Ele.
    7. Certo dia, Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a mais de 500 dos seus seguidores: "Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte (1 Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:6).

283. Por que Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu aos seus apóstolos, no período de 40 dias, após a sua ressurreição?

(*) Varões deve entender-se — os anjos

(**) HorteIão — jardineiro

Para instrui-los nos supremos mistérios do Reino de Deus:

"Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando do que respeita ao Reino de Deus" (Atos Apostólicos 1:3).

284. Qual é a certeza que adquirimos em virtude da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Adquirimos a certeza de que:

    1. Cumpriram-se as profecias dos profetas do Antigo Testamento, de São João Batista e do próprio Salvador:
    2. "Derribai este templo e em três dias o levantarei... Mas Ele falava do templo do seu corpo" (Evangelho de São João 2:19-21).

    3. Jesus Cristo é o Deus Verdadeiro e que os Seus ensinamentos são essencialmente verídicos: "E, se Cristo não ressuscitou logo é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé" (1 Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Coríntios 15:14).
    4. Devemos renascer para a vida espiritual, a fim de adquirir a felicidade eterna no céu de Deus: "De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade da vida" (Epístola de São apóstolo Paulo aos Romanos 6:4).
    5. Nós também ressuscitaremos dos mortos: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora e, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão" (Evangelho de São João 5:25).

 

SOBRE O SEXTO ARTIGO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

E subiu aos Céus e sentou-se à direita do Pai.

285. Em que se baseia a afirmação contida no sexto artigo da "Profissão de Fé Ortodoxa" sobre a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Baseia-se nos seguintes trechos do Novo Testamento:

"Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas" (Epístola de São apóstolo Paulo aos Efésios 4:10).

"Ora a suma do que temos dito é que temos um Sumo Sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade" (Epístola aos Hebreus 8:1).

286. Quando e onde se deu a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Deu-se no 40o dia após a Sua ressurreição em Betânia no cume do morro denominado "das Oliveiras" ou "Eleão":

E levou-os até Betânia; e, levantando as Suas mãos, os abençoou.

E aconteceu que, abençoando-os Ele, se apartou deles e foi elevado ao céu" (Evangelho de São Lucas 24:50-51).

Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias (Atos Apostólicos 1:3).

287. Nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus com a sua natureza divina ou a sua natureza humana?

Subiu aos céus com a sua natureza humana, isto é, com seu corpo e sua alma, da maneira como foi visto pelos seus santos apóstolos.

A natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo sempre existiu, existe e existirá nos céus, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — Deus Eterno e Indivisível.

288. Para que Nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus?

    1. Para receber, na qualidade de Homem, a Sua gloria merecida: "Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na Sua glória?" (Evangelho de São Lucas 24:26).
    2. A fim de enviar à Sua Santa Igreja o Espírito Santo: "Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque se eu não for, o Consolador não virá a vos; mas se eu for, enviar-vo-lo-ei" (Evangelho de São João 16:7).
    3. A fim de permanecer no céu na qualidade de nosso supremo auxiliador e amigo junto ao Eterno Deus Pai: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo" (1 Epistola de São João 2:1).
    4. A fim de que nos fosse aberto o Reino dos Céus, e reservada nele uma eterna morada: "Na casa do meu Pai ha muitas moradas; ... vou preparar-vos lugar" (Evangelho de São João 14:2).

289. Qual é o significado dos dizeres: "E sentou-se à direita do Pai, se sabemos que Deus é onipresente (presente em todos os lugares)?

Devemos entender estas palavras, no sentido simbólico, isto é, como uma afirmação, que o Deus-Filho é IGUAL em poder e glória ao Deus-Pai e evidentemente ao Deus-Espirito Santo, formando a Santíssima Trindade:

"E, achado na forma do homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.

Pelo que também Deus o exaltou soberaniamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome;

Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra.

E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Epístola de São Paulo, apóstolo, aos Filipenses 2:8-11).

 

SOBRE O ARTIGO SÉTIMO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

 

290. Para que Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente?

Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente para julgar os vivos e os mortos, descendo dos Céus em incalculável glória e poder:

"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória" (Evangelho de São Mateus 24:30).

291. Como descrevem as Sagradas Escrituras a futura chegada do nosso Salvador?

Descrevem por meio das palavras dos anjos:

"E estando com os olhos fitos no céu, enquanto Ele, subia eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco,

Os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir" (Atos Apostólicos 1:11).

292. Com que escopo virá novamente Nosso Senhor Jesus Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo virá novamente no dia do Juízo Final a fim de julgar toda a humanidade; os vivos e os mortos; os bons e os ruins:

"Porque todos devemos comparecer ante o Tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal" (2 Epístola de São apóstolo Paulo aos Coríntios 5:10).

 

293. Como descrevem as Sagradas Escrituras o Juízo Final e o futuro Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Do Juízo Final disse o Nosso Salvador:

"Porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz.

E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação" (Evangelho de São João 5:28-29).

Sobre o infinito Reino de Nosso Senhor, disse o Anjo a Nossa Senhora e Sempre Virgem Maria no ato da Anunciação:

"Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, Seu pai;

E reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu Reino não terá fim" (Evangelho de São Lucas 1:32-33).

294. A futura vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo processar-se-á nas mesmas circunstâncias em que se processou em Belém?

Não. A futura vinda de Nosso Senhor será de todo diferente. Anteriormente, nosso Senhor veio a fim de salvar a humanidade dos pecados e males, tendo padecido voluntáriamente e demonstrado o ápice de humildade e abnegação.

A futura e derradeira chegada, porém, do Nosso Salvador, terá todos os aspectos da vinda do Rei dos Reis e juiz Supremo, ocasião em que a humanidade será julgada de acordo com os seus merecimentos:

"E quando o Filho do Homem vier em Sua Glória, e todos os santos anjos com Ele, então se assentará no trono da Sua glória; E todas as nações serão reunidas diante Dele, e apartará uns dos outros" (Evangelho de São Mateus 25:31-32).

295. O julgamento de Nosso Senhor Jesus Cristo será igual em relação a todos os homens?

Sim, será completamente igual em relação a todos os homens, sem nenhuma distinção.

296. Como será denominado este julgamento?

Será denominado "O Juízo Final" ou "O Temível juízo do Senhor," em virtude de ser o último tribunal do mundo no qual será julgada toda a humanidade.

297. De que maneira serão julgados os homens no Juízo Final?

No juízo Final, Nosso Senhor Jesus Cristo julgará os vivos e os mortos da seguinte maneira:

1) Revelará perante o mundo inteiro a consciência de cada um, isto é, serão revelados todos os atos bons e maus cometidos durante a vida terrena, como também todas as palavras, desejos escondidos e pensamentos: "Portanto nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor" (l Epístola de São Paulo aos Coríntios 4:5).

2) Separará os bons dos maus: "E todas as nações serão reunidas diante Dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à Sua direita; mas os bodes à esquerda" (Evangelho de São Mateus 25:32-33).

3) Propiciará o paraíso celeste aos bons e justos, arremessando os maus para o inferno: "Então dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Então dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Evangelho de São Mateus 25:34-41).

298. Seremos também julgados pelas palavras más, intenções pecaminosas e pensamentos impuros?

Sim. Evidentemente seremos julgados por todas as palavras, intenções e pensamentos, que estiverem contrários aos preceitos de Deus, se não aproveitarmos a oportunidade de limpar-nos desses pecados por meio do Santo Sacramento da Confissão e da sincera penitência, que, pela profunda fé, nos levariam a corrigir e purificar a nossa vida:

"Mas Eu vos digo, que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo.

Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado" (Evangelho de São Mateus: 12:36-37).

299. O último Juízo do Senhor é o único juízo, ao qual seremos submetidos, ou haverá ainda outro julgamento?

Exceto o "último Juízo do Senhor," haverá ainda outro julgamento, que os Santos Pais da Igreja denominam: "O Juízo Pormenorizado." Alguns santos luminares da Igreja indicam, que a alma passa por este temível juízo no quadragésimo dia após a morte do corpo.

300. Por que se realizará o "Juízo final do Senhor," uma vez que cada um dos homens deve passar obrigatóriamente pelo "juízo Pormenorizado" no 40o dia após a morte?

O "Juízo final do Senhor" é essencialmente necessário:

    1. A fim de que sejam demonstrados perante o mundo inteiro o poder, a justiça e a sabedoria de Deus;
    2. A fim de que todos os homens possam reconhecer em Jesus Cristo o verdadeiro Deus, prestando-Lhe o devido louvor;
    3. A fim de que os justos possam receber a glória merecida e os maus, o castigo merecido.

301. Quando virá Nosso Senhor para julgar os vivos e os mortos?

Esta pergunta não pode ser respondida, pois as Sagradas Escrituras não precisam exatamente a época da chegada de Nosso Senhor. Todavia, não pode haver dúvida, que o silêncio sobre este assunto é proposital e destinado a induzir a humanidade a permanecer em constante vigília, a fim de que este temível acontecimento não a encontre desprevenida:

"O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânime para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.

Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão" (2 Epístola de São apóstolo Pedro 3:9-10).

"Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir" (Evangelho de São Mateus 25:13).

302. Foram revelados alguns indícios da próxima chegada de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Sim. São eles:

    1. Guerras horríveis e destruidoras;
    2. Fomes;
    3. Terríveis doenças;
    4. Freqüentes terremotos;
    5. Perseguição terrível dos Cristãos;
    6. Desmoralização geral;
    7. ódio desenfreado entre os homens;
    8. Vacilação e enfraquecimento da fé;
    9. Esfriamento do amor sagrado entre os homens;
    10. Difusão da falsidade.

Simultâneamente haverá:

    1. A divulgação do Santo Evangelho no mundo inteiro e
    2. A chegada do anticristo.

"E ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras; olhai não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes e pestes, e terremotos, em vários lugares.

Mas todas estas coisas são o princípio de dores. Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do Meu Nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trairse-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas, aquele que perseverar até o fim será salvo. E este Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes; e então virá o fim" (Evangelho de São Mateus 24:6-14).

303. Quem é o anticristo?

O anticristo é uma terrível personagem que, revestida do mais encarniçado ateísmo, e tendo como arma o engano e a falsidade, procurará destruir o Cristianismo.

O aparecimento do anticristo será a última prova, à qual a humanidade será exposta, a fim de que os verdadeiros justos possam demonstrar a sua firmeza na fé.

A dominação do anticristo sobre a terra será temporária, sendo ele destruído no ato da gloriosa chegada do Senhor para o "Último juízo:"

"E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca, e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda;

A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira.

E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem" (2 Epístola de São apóstolo Paulo aos Tessalonicenses 2:8-10).

304. Como será o "Reino de Cristo Deus?"

Será:

    1. Mundo inteiro, isto é, o "Reino da Natureza."
    2. Toda a humanidade, que, como o alicerce permanente da vida, possui a fé em Cristo, isto é, o "Reino da Graça."
    3. Todos os bem-aventurados nos céus de Deus, isto é, "Reino da Glória."

305. A qual dos 3 " Reinos aplicam-se as palavras da "Profissão de Fé Ortodoxa:" "Cujo reino não terá fim?"

Essas palavras aplicam-se ao "Reino da Glória."

 

SOBRE O ARTIGO OITAVO DA

"PROFISSÃO DE FÉ ORTODOXA"

 

E no Espírito Santo, Senhor Vivificante, que do Pai procede; e que é com o Pai e o Filho, adorado e glorificado, e que falou pelos profetas.

 

306. Quem é o Espírito Santo?

    1. É a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade;
    2. É o Deus Verdadeiro;
    3. É o Consolador, prometido à Santa Igreja por Nosso Senhor Jesus Cristo.

307. Por que razão se denomina a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade — "O Espírito Santo?"

Assim se denomina a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pois exerce sobre nós a ação santificadora, sendo que, toda a santidade provém do Espírito Santo.

308. Em que sentido o Espírito Santo é denominado "Senhor"?

A denominação "Senhor" é aplicada ao Espírito Santo, no sentido de demonstrar a sua igualdade, em relação ao Filho de Deus na qualidade de Deus Verdadeiro.

309. Podemos encontrar a prova dessa afirmação nas Sagradas Escrituras?

Sim. O apóstolo Pedro comprova esta verdade nas palavras dirigidas a Ananias:

"Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?

Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?

Por que formaste este desígnio em teu coração?

Não mentiste aos homens, mas sim a Deus" (Atos Apostólicos 5:3-4).

310. Em que sentido o Espírito Santo denomina-se "Vivificante?"

A denominação "Vivificante" aplica-se ao Espírito Santo," pois é a Ele que se deve toda a vida no mundo.

Seja uma planta ou um ser animado; em todos os casos de aparecimento de uma nova vida, o Espírito Santo está presente, em conjunto com o Pai e o Filho, a fim de transmitir-lhes o misterioso sopro vivificante, que lhes permitirá seguir o caminho natural do seu desenvolvimento. No caso dos homens, além do milagre da vida, produz o Espírito Santo ainda outro supremo mistério. Este mistério é a criação e o desenvolvimento progressivo da vida espiritual, a qual recebe alicerces inabaláveis no santo sacramento do batismo, quando a alma humana, purificada do peso do pecado original, adquire forças celestiais para vencer o mal e conseguir a suprema recompensa no Reino dos Céus:

"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (Evangelho de São João 3:5).

311. Como podemos saber que o Espírito Santo descende do Deus Pai?

As palavras do próprio Senhor Jesus Cristo comprovam esta verdade:

"Mas quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de Verdade, que pro- cede do Pai, testificará de Mim" (Evangelho de São João 15:26).

312. Este ensinamento sobre o Espírito Santo pode ser modificado ou ampliado?

Não, pois:

    1. Nesta forma de ensinamento sobre o Espírito Santo, a Santa Igreja Cristã Ortodoxa repete com absoluta exatidão as palavras proferidas pelo Nosso Salvador, palavras que representam a essência da mais pura verdade;
    2. segundo Concílio Universal, cujo principal objetivo era a determinação definitiva da "Profissão de Fé Ortodoxa," deixou indubitavelmente bem preciso o ensinamento sobre o Espírito Santo.
    3. A Santa Igreja Universal Apostólica e Ortodoxa aceitou este ensinamento de modo tão irrevogável, que no terceiro Concílio Universal, havia proibido terminantemente qualquer modificação ou ampliação do artigo sobre o Espírito Santo (Sétimo parágrafo das Resoluções do terceiro Concílio Universal).

No livro primeiro, capítulo 11, verso 4, da sua obra intitulada "Deus," escreve São João Damasceno:

"Confessamos o Espírito Santo, que descende do Pai, denominando-O — "Espírito Paterno;" de forma alguma confessamos a descendência do Espírito Santo do Filho" (Teologia).

313. Nas palavras da promessa, proferidas por Jesus Cristo, de acordo com as quais é Ele, Nosso Salvador, que ia enviar-nos o Espírito Santo do Deus Pai, poderíamos subentender que este Espírito Santo pudesse descender também do Deus Filho?

Não podemos subentender coisa semelhante, pois:

    1. Prometendo aos apóstolos, que Lhes enviaria o Espirito Santo, afirmou Nosso Senhor Jesus Cristo que o faria "Do Pai";
    2. próprio Salvador disse com toda exatidão, que o Espírito Santo procede do Pai:
    3. "Aquele Espírito da Verdade, que procede do Pai" (Evangelho de São João 15:26).
    4. Se estivéssemos dispostos a encarar o fato de ter Nosso Senhor Jesus Cristo enviado o Espírito Santo, como, sendo equivalente ao de este último descender do Deus Filho, incorreríamos em gravíssimo erro, pois o raciocínio levar-nos-ia a inúmeros outros erros semelhantes. Com a mesma lógica errada poderíamos afirmar, que Deus Filho descende do Pai, baseando-nos nas palavras do próprio Salvador: "Aquele que Me enviou" (Evangelho de São João 8:26). Entretanto, é sabido que Deus Filho não descende nem do Deus Pai, nem de ninguém, sendo gênito pelo Pai antes de todos os séculos.

Nestas condições torna-se claro que o Espírito Santo procede única e exclusivamente do Deus Pai, não se podendo aceitar qualquer outra interpretação.

314. De onde sabemos, que ao Espírito Santo são devidas a adoração e a honra iguais às do Deus Pai e Deus Filho?

Sabémo-lo da ordem que nos foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo, de acordo com a qual deve-se batizar: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Evangelho de São Mateus 28:19), que demonstra claramente a igualdade de condições em que se encontram as Três Pessoas da Santíssima Trindade.

315. Porque a "Profissão de Fé Ortodoxa" menciona que o Espírito Santo falou pelos profetas?

Menciona com o fim de comprovar que os livros sagrados do Antigo Testamento foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo e para admoestar os falsos ensinadores:

"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram, inspirados pelo Espírito Santo" (2 Epístola de São Pedro, apostolo 1:2)

316. O Espírito Santo não falou também pela boca dos Santos Apóstolos?

Sim. O Espírito Santo falou pela boca dos Santos Apóstolos, isto é — os Santos Apóstolos estavam inspirados pelo Espírito Santo:

"Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho: para as quais coisas, os anjos desejam bem atentar" (1 Epístola de São Pedro 1:12).

317. Por que razão, então, não se mencionam os santos apóstolos na "Profissão de Fé Ortodoxa?"

Porque, por ocasião dos Concílios Universais, ninguém duvidava que eles fossem inspirados pelo Espírito Santo.

318. Quando e de que forma o Espírito Santo desceu sobre os Santos Apóstolos?

O Espírito Santo desceu sobre os santos apóstolos, no qüinquagésimo dia após a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e no décimo dia após a sua ascensão.

Manifestou-se sob a forma de "línguas de fogo" que pousaram nas cabeças dos santos apóstolos, reunidos para a prece em comum.

O dia em que comemoramos este glorioso acontecimento denomina-se "Pentecostes:"

"E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

E de repente veio do céu um som como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.

E foram vistos por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (Atos Apostólicos 2:4).

319. Qual a ação que o Espírito Santo produziu sobre os santos apóstolos?

    1. Santificou-os.
    2. Iluminou e fortificou-os.
    3. Facultou-lhes o dom de conhecer diversos idiomas, sem, todavia, haver procedido aos estudos, que comumente são necessários para alcançar esses conhecimentos.
    4. Deu-lhes o poder de fazerem milagres.

320. Atualmente há alguém inspirado pelo Espírito Santo?

Sim. Todos os verdadeiros cristãos são inspirados e iluminados pelo Espírito Santo:

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espirito de Deus habita em vós?" (1 epístola de São Paulo aos Coríntios 3:16).

321. Como devemos proceder a fim de tornar-nos dignos da inspiração do Divino Espírito Santo?

São dois os caminhos para conseguir esta graça suprema:

    1. A participação nos Santos Sacramentos.
    2. A oração constante e sincera.

"Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai Celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?" (Evangelho de São Lucas 11:13). "Mas quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, Nosso Salvador, para com os homens, Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo. Que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, Nosso Salvador" (Epístola de São Paulo, Tito 3:4-6).

322. Qual é a ação do Divino Espírito Santo no seio da Santa Igreja?

No seio da Santa Igreja a ação do Divino Espírito Santo é a seguinte:

    1. Instrui a Santa Igreja e governa-a,
    2. Distribui as Suas graças celestiais por intermédio da Santa Igreja: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu Nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Evangelho de São João 14:26).

323. Que causa em nós o Divino Espírito Santo?

Causa-nos o seguinte:

    1. Santifica-nos pelo poder da graça santificadora e graça movedora.
    2. Concede-nos os Seus divinos dons.

324. Como devemos entender o termo "A Graça?"

O termo Graça corresponde ao poder divino, isto é, um dom interno e sobrenatural, o qual nos é concedido por Deus, pela razão do Seu infinito amor e pelos méritos do Seu unigênito Filho Nosso Senhor Jesus Cristo.

325. Por que denominamos a Graça o Dom Divino?

Chamamos de dom a graça, que nos é concedida por Deus, pois só podemos considerá-la como sendo um presente, uma vez que nunca chegaríamos a merecê-la, recebendo-A pelo amor divino e os méritos de Nosso Senhor.

326. Por que razão denominamos a Graça: "Dom interno e sobrenatural?"

Denominamos a Graça Divina, como sendo um dom interno em vista de ser ele concedido diretamente por Deus às nossas almas. Consideramos a Graça Divina um dom sobrenatural, porque o ser humano, na sua qualidade física, não a possui, nem pode adquiri-la procurando-a dentro da natureza, que o cerca, não possuindo, da mesma forma, qualquer direito a essa Graça. O fato de o homem poder adquiri-la decorre única e exclusivamente da incalculável grandeza da misericórdia de Deus em relação com a Sua criatura.

327. Com que objetivo Deus concede ao homem a Graça sobrenatural?

Deus concede ao homem a Graça sobrenatural a fim de elevá-lo à altura do Filho de Deus, tornando-o digno do Reino dos Céus.

328. Qual é a outra discriminação para a "Graça Santificadora" e a "Graça Movedora?"

A "Graça Santificadora" é aquela que ilumina as nossas almas.

A "Graça Movedora" é aquela que nos induz para ações boas e dignas.

329. Qual é a ação sobre nós da "Graça Movedora?"

A Graça Movedora instrui e inspira-nos a fim de que possamos atingir a salvação.

330. De que maneira a Graça Movedora nos ajuda a concretizar as boas ações, e, por si só, pode ela levar-nos à salvação?

    1. Auxilia-nos em efetivar atos de bondade e de dignidade, iluminando o nosso intelecto e fortalecendo a nossa vontade, induzindo-nos aos atos benéficos e proveitosos para a salvação das nossas almas e dos nossos semelhantes.
    2. A Graça Movedora, por si só, não pode levar-nos à salvação, visto não exercer nenhuma pressão sobre nós, sustentando-nos unicamente na luta que mantemos pela vitória do bem.

Não devemos, pois, resistir à penetração da Graça Divina que tende a instalar-se em nós e viver no nosso íntimo, aceitando-a de boa vontade e colaborando efetivamente, para o aprofundamento dos laços que nos unem a ela. "E nós, cooperando também, vos exortamos a que não recebais a Graça de Deus em vão" (Epístola de São apóstolo Paulo aos Coríntios 6:1).

A fim de que este assunto seja totalmente compreendido transcrevemos abaixo a parábola dos talentos que explica nas palavras do próprio Salvador o modo pelo qual a Graça Movedora atua no íntimo de cada um de nós:

"Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens; E a um deu cinco talentos ( * ), e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. E tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e ganhou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, ganhou também outros dois; Mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.

Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E chegando o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles ganhei outros dois talentos. Disse-lhe o seu senhor; Bem está, bom e fiel servo. Sobre, o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mas chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes que eu ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes" (Evangelho de São Mateus 25:14 a 30).

Esta maravilhosa parábola indica, de um modo sobremaneira nítido, que os homens recebem do divino Espírito Santo a "Graça Movedora," que lhes é transmitida no ato do sacramento do batismo. Desde então, ao livre arbítrio do homem está destinada a tarefa de conservá-la e desenvolvê-la. Como se ela fosse uma pequena chama vivificadora, que a vontade do homem pode transformar em um incêndio da fé ou então deixá-la diminuir e apagar-se nas trevas da ignorância e da maldade.

A parábola dos talentos esclarece também, de modo absoluto, outra particularidade, isto é, o destino, que espera aqueles que souberam aproveitar-se dignamente dos dons celestiais, que lhes foram oferecidos, como também a desgraça, que aguarda aqueles que, ao invés de assim proceder, dedicaram-se, tão somente, à crítica estéril e injusta do seu Criador.

"Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no Seu trono" (Apocalipse de São João 3:20-21).

Ele está batendo na "porta dos corações" da humanidade! Da grandeza da Chama Divina que está em nós, e exclusivamente dela depende de essas "portas" serem abertas e a salvação tornar-se o seu merecido tesouro!

331. A "Graça Movedora" é de utilidade para os homens?

Sim, é imprescindível para todo e qualquer ato do bem. Ela proporciona ao pecador a força necessária para converter-se a Deus, e ao justo, concede a persistência, a fim de que possa permanecer no estado da "Graça Santificadora," promovendo ações benéficas, que lhe proporcionarão a eterna felicidade no Reino dos Céus:

Porque sem mim nada podeis fazer" (Evangelho de São João 15:5).

332. Qual é a ação sobre nós da "Graça Santificadora?"

(*)Talento — moeda de alto valor em curso na Palestina, nos tempos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A "Graça Santificadora" cria em nossas almas uma vida espiritual de caráter superior. É um estado sobrenatural, em que a alma se encontra mergulhada; estado este, que permanece para sempre.

333. De que maneira a -Graça Santificadora- nos proporciona uma nova vida sobrenatural?

    1. Santificando-nos e tornando-nos por isso gratos aos olhos de Deus;
    2. Elevando-nos da categoria de escravos do mal, à categoria dos filhos de Deus e herdeiros do paraíso celeste;
    3. Facultando-nos exercer atos necessários para alcançar a salvação.

334. Por que meio abrigamos e fortalecemos a "Graça Santificadora?"

Por meio da calorosa oração, do jejum, da vida pura e apoiada nos preceitos da moral e da ética cristã, e, antes de tudo, por meio da participação nos Santos Sacramentos.

335. Quais são os dons que se denominam "Os dons do Divino Espírito Santo?"

Os dons do Divino Espírito Santo são aqueles por meio dos quais o Divino Espírito Santo nos torna acessíveis de Sua santificação. Esses dons induzem-nos a receber de bom grado a sua suprema iluminação, seguir a sua sagrada inspiração, alcançando, desta forma, o alto grau da virtude.

336. Quais são os dons principais do Divino Espírito Santo?

De acordo com o profeta Isaías, os dons principais do Divino Espírito Santo são os seguintes:

    1. Dom da Sabedoria Suprema.
    2. Dom da Compreensão.
    3. Dom do Bom Conselho.
    4. Dom da Força (Heroísmo).
    5. Dom do Conhecimento (Inteligência).
    6. Dom da Beatitude.
    7. Dom do Temor Divino. (*)

"Porque brotará um rebento do trono de Jessé, e das raízes um renovo frutificará. E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de Sabedoria e de Inteligência, o Espírito de Conselho o de Fortaleza, o Espírito de Conhecimento e de Temor do Senhor" (Livro do Profeta Isaías 11:1-2).

337. Em que nos auxilia o Dom da Sabedoria Suprema?

Auxilia-nos na compreensão, na admiração e no amor de Deus em Sua infinita Majestade e Perfeição.

338. Em que nos auxilia o Dom da Compreensão?

Auxilia-nos na melhor penetração no espírito, contido nas verdades supremas da Fé.

339. Em que nos auxilia o Dom do Bom Conselho?

A escolher aquilo que agrada a Deus, nos casos em que surgirem dúvidas e incertezas.

340. Em que nos auxilia o Dom da Força (Heroísmo)?

Auxilia-nos a superar os obstáculos no caminho que conduz à salvação.

341. Em que nos auxilia o Dom do Conhecimento (Inteligência)?

A adquirir a certeza absoluta da Verdade, contida nos ensinamentos da nossa sagrada Fé e instruí-nos a reconhecer as ações que devemos praticar e aquelas que devemos evitar.

342. Em que nos auxilia o Dom da Beatitude?

Auxilia-nos a conservar permanentemente os sentimentos filiais em relação a Deus, nunca deixando dê adoração.

343. Em que nos auxilia o Dom do Temor Divino?

A evitar tudo aquilo que possa, porventura, desagradar a Deus, sentindo, constantemente, sobre nós o poder de Sua infinita Majestade e conservando a consciência de Sua Onipresença.

(*) Os 7 Dons do Espírito Santo são um dos significados simbólicos do lampadário de 7 luzes colocado atrás do Altar Sagrado nas nossas igrejas.

 

 

Editado por determinação do

Reverendíssimo Pe. Arquimandrita

ISSAIA ABBUD

Excelentíssimo Legado Patriarcal no Brasil

Por

JERZY BERKMAN KARENIN

Professor do "Colégio Vítor Viana,"

Ex-secretário particular

do Arcebispo de Varsóvia e Protodiácono.

Publicação da Santa igreja Grego-Ortodoxa do Brasil 1957

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Reprinted by

Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Redator: Bispo Alexandre Mileant

 

 

 

(doutrina_crista_ortodoxa_1.doc, 08-15-02)