No Limiar

do Fogo Da Geena.

O ensinamento ortodoxo sobre os maus espíritos

e o seu julgamento por Deus.

Bispo Aleksandr (Mileant)

Tradução: Vladímir Bresgunov e Larissa Bresgunov Kalinin

 

 


Conteúdo: Introdução. Os ensinamentos da Sagrada Escritura sobre os maus espíritos. Da possessão pelo demônio. Das armadilhas do diabo. As tentações do ocultismo. Como proteger-se dos maus espíritos. No limiar do fogo da Geena. Conclusão. Anexo: duas preces para o exorcismo.


 

 

Introdução

"Porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar" (Gen. 3:15)

Um homem que vive somente voltado aos interesses materiais e sensações corporais, não costuma pensar sobre coisas tão "abstratas" como a existência de Deus, o mundo espiritual com seus bons e maus espíritos e sobre a vida além do túmulo. Ele está totalmente absorvido pelos problemas do cotidiano. Porém, se de repente um abalo sacode lhe o ânimo, começa a sentir necessidade de conscientizar sua vida e tomar noção da finalidade de sua existência. Raciocinando sobre o lado espiritual e moral de sua vida, ele rapidamente chega à conclusão de que a ciência é totalmente incapaz de ajudá-lo a orientar-se nas questões essenciais e palpitantes.

Se o seu sentimento religioso não foi totalmente apagado, ele vai sentir a necessidade de dirigir-se a Deus, começar a rezar e ler a Sagrada Escritura. Se isto não for algo superficial e passageiro, mas uma profunda mudança moral e uma vontade sincera de tornar-se melhor, Deus vai tratar de renovar seu coração e abrir na sua visão interna novos horizontes. O homem vai perceber claramente a mão do Senhor que o conduz, sentir a Sua proximidade e o amor Paterno. Ele vai compreender que o mundo é muito mais amplo e tem conteúdo mais rico do que imaginava antes. Ele vai distinguir com maior perspicácia o Bem do Mal, vai compreender também que existe o mundo espiritual, bem como que existem seres invisíveis que influenciam a sua vida: uns no bom e outros no mal sentido. Também, vai aprender que além de Deus existem anjos e demônios.

O conhecimento do mundo espiritual é interessante e importante. Mas, onde devemos buscar noções sobre ele? A literatura sobre este assunto é muito extensa e além disto, bastante contraditória, cheia de invencionices e fantasias. Porém, o ensinamento da Sagrada Escritura, apesar de lacônico, é claro e exato. Ela ensina que existem anjos bons luzentes e que cada cristão tem o seu Anjo da Guarda. (Aos Anjos é dedicado um livrinho a parte - folheto missionário n° 14 "Os Anjos").

Além dos Anjos existem os demônios. A Sagrada Escritura e a própria experiência mostram que eles realmente existem e representam um perigo real e contínuo. A exemplo da sociedade humana, na qual ao lado de pessoas normais e bem intencionadas existem criminosos de toda espécie; degenerados, psicopatas, sadistas e assim por diante, - no mundo dos espíritos, além dos Anjos bons, encontra-se a ralé daquele mundo: o diabo e os demônios. E assim, como no nosso mundo ninguém nasce criminoso, sadista ou depravado, mas acaba transformando-se neles em conseqüência de sua vida desordenada e pecaminosa, no mundo invisível todos os seres no início eram bons e bem intencionados e só depois alguns deles escolheram o mau caminho, perverteram-se e tornaram-se conscientemente maus. Como resultado da sua atividade criminosa, sua mente angelical obnubilou-se, tornaram-se maus e seguiram seus impulsos desordenados. Agora, eles encontram prazer em causar sofrimentos aos outros e propagar toda espécie de Mal.

Neste livrinho nós vamos levar o leitor a conhecer os ensinamentos ortodoxos sobre os anjos caídos, explicaremos quais objetivos eles visam, seus métodos de sedução e de propagação do Mal e também como se defender de suas artimanhas. Dedicaremos um capítulo especial ao ocultismo e ao demonismo na atualidade, que cada vez com maior intensidade e em maior escala atingem a sociedade humana.

Observando com preocupação os sucessos da "espiritualidade negra" vem à lembrança a profecia da Escritura: "Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo" (Apoc.12:12). Mas traz consolo que o próprio sucesso do príncipe das trevas anuncia a proximidade da sua total derrota e castigo - quando virá novamente o Senhor Jesus Cristo, cercado de Anjos e de Santos. Nesta hora "o demônio será posto no tanque de fogo e de enxofre... será atormentado de dia e de noite pelos séculos dos séculos... exulta sobre ela, o céu e vós santos apóstolos e profetas porque Deus, julgando-a, fez vos justiça" (Apoc. 19:20; 20: 2-10).

Após a derrota das forças do reino infernal se instalará a nova fase da existência e os justos que vencerem as tentações do espírito sedutor, resplandecerão como o Sol no reino de seu Pai.

Os maus espíritos segundo

a Sagrada Escritura

A Sagrada Escritura ensina que além do mundo material visível existe um enorme e diversificado mundo espiritual. Este mundo é tão diferente do nosso e é mais rico que este que nós não estamos em condições de entendê-lo, nem sequer imaginá-lo de modo satisfatório. Apesar disso, o mundo espiritual de divide em duas diferentes esferas de existência que chegam a ser opostas. Uma tem o nome de Céu, que é o reino da Luz, onde Deus revela a Sua glória aos espíritos bem-aventurados. Ali habitam os anjos e as almas dos justos. Outra esfera é o Inferno, o reino da escuridão e do suplício onde sofrem os demônios e as almas dos pecadores. Os demônios, assim como os Anjos não vieram à existência por si mesmos. Apesar de imortais, eles não são eternos, - eterno é só Deus. Muito antes da criação do nosso mundo material Deus criou o mundo espiritual e povoou-o de Anjos, - que eram seres racionais e bons. A eles Ele concedeu as faculdades da racionalidade, livre arbítrio e diversas aptidões, semelhantes às nossas, porém mais perfeitas.

Numa certa época, provavelmente ainda antes da criação do nosso mundo material, aconteceu uma tragédia no universo angélico. Uma parte dos anjos encabeçada por Lúcifer - um dos mais próximos a Deus, saiu da obediência ao Criador e partiu para um motim. O Apóstolo São João descreve assim este acontecimento:

 

"Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus Anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo foi precipitado na terra e foram precipitados com ele os seus anjos" (Apoc. 12: 7-9).

 

O nosso Senhor Jesus Cristo só de passagem menciona este acontecimento com as palavras que Ele viu "satanás cair do céu como um raio" (Luc. 10:18).

Os Apóstolos Pedro e Judas mencionam este fato em poucas palavras, apenas dizendo que alguns anjos não preservaram sua dignidade e abandonaram a moradia a eles destinada. Por isso foram presos na escuridão eterna aguardando o juízo final de Deus (2 Ped. 2:4; Jud. 6).

 

Observação: A primeira impressão que o leitor deste texto pode ter, é de que o confronto no mundo angélico ocorreu quando a Terra já existia. Considerando porém que o livro da Revelação reúne vários acontecimentos numa só visão, ligando-os não pela seqüência cronológica, mas em torno de uma idéia, pode-se pensar que o quadro apocalíptico mostra não o fato de que a Terra já tinha existido no tempo do afastamento do diabo de Deus, mas que a guerra que ele trava conosco na realidade começou no Céu. Aquela guerra ele perdeu como também perderá a atual, - quando o Senhor virá e o julgará.

Da comparação de várias passagens da Sagrada Escritura segue que a causa do desprendimento de Lúcifer foi o seu orgulho (Eclesiastico 10:1; 1 Tim. 3:16). O profeta Isaías, numa descrição colorida, o apresenta sob a imagem de soberbo déspota pagão:

"Como caíste do céu, ó astro brilhante, que, ao nascer do dia brilhavas? Como caíste por terra, tu, que ferias as nações? Que dizias no teu coração: subirei ao céu, estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança (situado) aos lados do aquilão. Sobrepujarei a altura das nuvens, serei semelhante ao Altíssimo. E contudo foste precipitado no inferno, até ao mais profundo dos abismos" (Is. 14:12-15).

Este quadro é completado pelo Profeta Ezequiel com a imagem do orgulhoso rei de Tiro:

"Tu (considerado) o selo da semelhança (de Deus) cheio de sabedoria e perfeito na beleza, tu vivias nas delícias do paraíso de Deus: o teu vestido estava ornado de toda a casta de pedras preciosas: o sárdio, o topázio, o jaspe a crisolita, a cornelina, o berilo, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro, tudo empregado em realçar a tua formosura; e os teus instrumentos músicos foram preparados no dia em que foste criado. Tu eras um querubim que estendia as asas e cobria (o trono de Deus) eu coloquei-te sobre o monte santo de Deus: tu caminhavas no meio das pedras (brilhantes) como o fogo. Tu eras perfeito nos teus caminhos desde o dia da tua criação, até que a iniquidade se achou em ti. Com a multiplicação do teu comércio encheram-se as tuas entranhas de iniquidade e caíste no pecado; eu lancei-te fora do monte de Deus e te exterminei, ó querubim, que cobrias (o trono) no meio das pedras como o fogo. O teu coração se elevou no teu esplendor; perdeste a tua sabedoria por causa do teu brilho por isso te lancei por terra e te expus diante da face dos reis para que eles te contemplassem" (Ezeq. 28:12-18).

Assim, um dos mais elevados anjos, portador da Luz Divina desprendeu-se por orgulho da Fonte e tornou-se o negrume e o propagador das trevas. Querendo igualar-se a seu Criador, apropriar-se da Sua glória e poder, ele tão somente mostrou a sua nulidade e ingratidão. Já que ele é incapaz de oferecer algo de verdadeiro valor aos outros, fez da mentira a sua principal arma para desencaminhar. Assim, a mentira tornou-se a sua essência. Tudo o que ele diz, faz e promete - é mentira deslavada, se bem que às vezes é disfarçada habilmente para parecer verossímil. Pelo fato de ele sempre mentir, a Sagrada Escritura denominou-o "satanás"- palavra que em hebraico quer dizer "caluniador." Na língua grega o equivalente é "diávol." Outros nomes atribuídos a ele são: serpente, dragão, belzebu, beliar, príncipe das trevas, príncipe dos demônios, inimigo, príncipe deste mundo, inimigo do gênero humano, o pérfido, e outros semelhantes, indicando a crueldade e a perniciosidade da sua ação. Os anjos que o seguiram a Escritura chama de demônios, de impuros e de maus espíritos.

Tendo perdido o acesso ao Céu, o diabo concentrou toda sua atenção no gênero humano - que foi criado puro e inocente. O terceiro capítulo do livro da Gênese traz os detalhes da sedução dos primeiros seres. Percebendo que Eva será mais maleável do que Adão, o diabo dirige-se propositadamente a ela com a sua pergunta capciosa:: "Por que vos mandou Deus que não comêsseis de toda árvore do paraíso?" Eva, sem perceber a malícia da pergunta assim formulada, explica ao tentador o que é permitido e o que é vedado para seu uso. Já que o diabo certificou-se ter encontrado em Eva um interlocutor loquaz e ingênuo, começa a tentar induzi-la a mudar de opinião. Ele explica que Deus os proibiu de comer da árvore do conhecimento do Bem e do Mal por inveja e se eles seguirem o seu conselho, tornar-se-ão iguais aos deuses conhecendo todos os mistérios. Conseguindo levar Eva a desobedecer ao mandamento de Deus, agora, o diabo já com sua ajuda, seduz também a Adão. Assim, o diabo atinge a natureza humana com o veneno mortal do pecado. Apontando este trágico momento na vida de nossos ancestrais, o Salvador chama o diabo de "homicida desde o princípio" (João 8:44).

Ao pecar, os seres humanos privaram-se da alegria da permanência junto a Deus e da possibilidade de habitar no Éden. O equilíbrio entre as suas forças espirituais e físicas foi prejudicado, eles tornaram-se moralmente débeis e inclinados para o pecado. E sendo pecadores eles perderam o acesso à árvore da Vida, tornando-se mortais. O autor do livro "Sabedoria" vê no diabo a causa inicial de todas as desgraças que abateram-se sobre o gênero humano:

".... Deus criou o homem imortal, e o fez à sua imagem e semelhança. Mas por inveja do demônio, entrou no mundo a morte" (Sabed. 2;23-24).

Ferindo com seu ferrão mortífero os seres humanos ingênuos a serpente cantou vitória. Mas o Senhor prediz a ela que a guerra que o diabo começou não estava finda, - pelo contrário, - apenas iniciava-se.

"Porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar" (Gen. 3:15).

Esta notável predição determinou a ulterior história do gênero humano, que apresenta na sua essência a guerra entre o espírito aliciador e os homens que procuram Deus. No sentido mais restrito, esta previsão cumpriu-se quando o Senhor Jesus Cristo padecendo na Cruz (sofrendo picada no calcanhar), destruiu a cabeça do antigo dragão. Naquela hora na Cruz o Senhor "despojando os principados e potestades (do reino das trevas) levou-os (cativos) gloriosamente, triunfando em público deles em Si mesmo" (Col. 2:15). No sentido mais amplo, esta profecia se realiza também na vida de cada cristão, quando ele, armado com a força de Cristo, rechaça o tentador (Luc.10:19), apesar de que às vezes a exemplo do próprio Cristo, é sujeito a sofrimentos físicos. As ulteriores narrativas do Antigo Testamento falam pouco do diabo, mas assim mesmo elas retratam-no como um astuto sedutor e semeador do Mal de toda espécie.

Assim, pela sua obra o justo Jó foi acometido por chagas purulentas da cabeça aos pés. (Jó. 1: 6-22); ele dominou o rei Saul e atormentava-o (Reis 16:14-15). O diabo insinuou a Davi a idéia vaidosa de fazer o senso de seu povo (1 Crôn. 21:1). O demônio Asmodeu matava os maridos de Sara, filha de Raguel (Tob. 3:8). Com os mesmos traços de inveja, astúcia e malícia o mau espírito é apresentado no livro dos Reis (Portug.: Crôn. 18:20-22) e no livro do Profeta Zacarias (Zac. 3:1-2).

Levando em conta a religiosidade natural dos seres humanos, o diabo procura pervetê-la, dirigindo-a para o lado das superstições e das aberrações no campo espiritual. Foi ele quem os ensinou a adorar como deuses falsos as forças da natureza, os astros, os planetas, heróis mitológicos, animais e monstros, ou seja, tudo o que poderia excitar a imaginação do homem primitivo. Obscurecidos pelas superstições, os pagãos não se davam conta de que com o endeusamento de objetos eles alegravam os demônios que aceitavam esta adoração como se lhes fosse dirigida (Deut. 32: 17; Cor. 10:20).

Os Maus Espíritos Segundo

o Novo Testamento

A propagação da idolatria e das mais variadas superstições na época do Nascimento de Cristo contribuiu para a abundância dos maus espíritos no meio da sociedade humana. Como sinal externo desta abundância serve o fato do surgimento de grande número de endemoninhados - de pessoas possuídas por maus espíritos. Ao vir ao nosso mundo por compaixão aos seres humanos, o Senhor Jesus Cristo em primeiro lugar passou a livrá-los da subjugação pelo diabo. (Mat. 12:24-29; 1 João. 3:8; Hebr. 2:14). Nas páginas do Evangelho o leitor achará numerosos casos de cura dos endemoninhados (Mat. 4:24; 8:16; 9:31; Marc. 17:14-21; Luc. 4:41; 8:2; 11:4). Com mais detalhes do que os outros são descritos os casos de cura do jovem em poder do demônio (Mat. 8:28-34; Marc. 5:1-19). O último caso é mais notável porque o homem era habitado não por um único demônio, mas por uma legião inteira, ou seja um número enorme.

Um estudo atento das narrações evangélicas sobre a cura dos endemoninhados convence-nos de que não se trata de epilepsia ou de outras enfermidades do sistema nervoso, mas da expulsão de seres absolutamente reais apesar de invisíveis, seres estes consciosamente maus que deliciam-se em torturar os outros.

Para demonstrar aos que possam ter alguma dúvida, toda a crueldade dos demônios, o Senhor permitiu-lhes mudar-se para os porcos que pastavam por perto e a multidão pasmada viu como a enorme vara de porcos endemoninhados correu para um despenhadeiro e precipitou-se ao lago (Marc. 5:13). Já este único fato da migração de espíritos de um ser para o outro exclui totalmente qualquer doença psíquica comum. Ao ler o Evangelho e outras narrativas sobre a expulsão de demônios aparece um número de determinados sintomas de endemoninhamento. Em primeiro lugar, os endemoninhados demonstram uma reação negativa específica a tudo o que é Sagrado e Divino. Assim, por exemplo, ao ver Cristo, eles foram acometidos por convulsões. Muitas vezes os demônios refugiados no infeliz, reconheceram em Cristo o Filho de Deus e pela boca do endemoninhado imploraram-no a postergar a punição e não mandá-los para o inferno. Nesta ocasião a voz do endemoninhado tornava-se não natural, não humana. Aos que assistiam a isso era óbvio que quem falava não era o homem, mas alguém que fazia isso por ele. Imediatamente após a expulsão do demônio, os endemoninhados voltavam ao normal e todos os sintomas desapareciam sem deixar vestígios. Estes mesmos sintomas podem ser observados nas vítimas também atualmente. Portanto, se os cépticos não querem acreditar em milagres, - pelo menos, que cheguem à conclusão de que realmente existe o mundo espiritual.

Mais tarde nós voltaremos ao tema do endemoninhamento.

 

A expulsão dos demônios pelos Apóstolos

Preparando os Seus discípulos para a futura missão de pregar ao mundo, o Senhor também os incumbiu de proceder com a obra da libertação dos homens da subjugação pelo diabo: "começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos, para expulsá-los" (Mat. 10:1; Luc. 9:1; Marc. 6:7). Os Apóstolos não esperavam que os espíritos impuros obedecessem resignadamente à sua palavra e por isso na sua volta contaram ao Salvador com alegria: "Senhor, até os demônios nos se submetem em virtude do Teu nome" (Luc. 10:17). Então, ainda com maior clareza o Senhor confirmou que os encarregou de afugentar toda força impura vinda do além. "Eis que vos dei poder de caminhar impunemente sobre serpentes e escorpiões, e (vencer) toda a força do inimigo, nada vos fará dano" (Luc. 10:19). Antes da Sua ascensão ao Céu o Senhor adiantou que o sinal distintivo da Igreja será o poder de calcar a força diabólica: "Eis os milagres que acompanharão os que crêem: Expulsarão os demônios em Meu nome..." (Marc. 16:17).

Realmente, a divulgação do Evangelho como regra foi acompanhada pela expulsão dos espíritos impuros. O livro dos Atos dos Apóstolos torna conhecidos casos de cura dos endemoninhados pelos Apóstolos Pedro (Atos 5:16); Apóstolo Felipe - quando "espíritos imundos saiam dando grandes gritos" (Atos 8:7) e também pelo Apóstolo Paulo, que "expulsou o espírito profetizador de uma jovem" (Atos 16:16-18). Às vezes a graça Divina se manifestava em tal abundância que bastava somente tocar os possessos com objetos pertencentes ao Apóstolo Paulo para que os demônios abandonassem os doentes (Atos 19:12).

Desde o tempo dos Apóstolos as preces dirigidas contra os demônios tornaram-se partes obrigatórias do sacramento do Batismo. Apesar do Senhor Jesus Cristo ter vencido o príncipe das trevas, retirado o seu poder sobre os seres humanos e outorgado à Igreja grande força para lutar contra ele e seus espíritos imundos, deve-se ter em mente que até a hora do Juízo Final por Deus, estes espíritos impuros vão representar para nós um perigo grande e permanente. Por esta razão o Senhor Jesus Cristo ensinou-nos sempre a pedir a Deus "não nos deixai cair em tentação, mas livrai nos do mau." O Apóstolo Pedro exorta: "Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar" (1 Ped. 5:8).

Depois de enxotados do Céu, o diabo e seus demônios concentraram toda sua atividade no nosso âmbito - na assim chamada "esfera aérea." Pessoas que se contrapõem à fé cristã ou que levam uma vida pecaminosa o diabo considera como seus súditos e os aproveita na luta contra a Igreja. Segundo as palavras do Apóstolo, essas pessoas vivem "segundo o príncipe que exerce poder sobre este ar, espirito que agora domina sobre os filhos da incredulidade" (Efes. 2:2).

Vamos agora submeter a um exame mais detalhado o modo do diabo agir entre os seres humanos e os métodos que ele usa. Em particular, falaremos sobre o endemoninhamento e a possessão, sobre os métodos de sedução e o jeito de escravizar por meio do ocultismo e da magia.

 

O Endemoninhamento

e a Possessão

A Sagrada Escritura distingue tanto o endemoninhamento da possessão quanto das doenças psíquicas propriamente ditas (Mat. 4:24, 9:32; Marc. 1:34; Luc. 7:21, 8:2). Devido à grande complexidade da natureza humana torna-se difícil explicar o sentido do endemoninhamento. É evidente, porém, que ele se distingue da simples influência demoníaca que se resume na tentativa do espírito das trevas de inclinar a vontade do homem ao pecado. Neste caso conserva-se o poder sobre os atos e a tentação pode ser afastada pela prece. O endemoninhamento distingue-se, também da possessão, na qual o diabo apodera-se da razão e da vontade humana.

Aparentemente, no caso do endemoninhamento o mau espírito se apossa do sistema neuromotor do organismo - como se estivesse introduzido entre seu corpo e sua alma, de modo que o homem perderia o controle sobre seus movimentos e atos. É de se pensar porém, que no endemoninhamento o mau espírito não chega a possuir o pleno controle sobre as forças da alma do endemoninhado - elas somente ficam impedidas de se manifestar. A alma, até certo ponto continua a pensar e sentir independentemente, mas perde a capacidade de dirigir os órgãos do corpo. Se imaginarmos a alma como um pianista e o corpo como um piano, podemos comparar o mau espírito a um macaco malvado que se interpõe entre os dois e bate nas teclas do instrumento loucamente. Já que os endemoninhados não dominam o próprio corpo, eles são vítimas do espírito malvado que os escravizou e, portanto, não são responsáveis pelos seus atos - são escravos do mau espírito.

O endemoninhamento pode assumir diversas formas de manifestação. Às vezes os endemoninhados são furiosos e arrebentam tudo à sua volta, deixando os presentes apavorados. Nisto, eles exibem uma força descomunal, como no caso do endemoninhado de Gerasa que rompia todas as cadeias com as quais se tentava prendê-lo (Marc. 5:4). Nestas ocasiões, eles provocam ferimentos em si mesmos, como o rapaz endemoninhado que em tempo de lua nova jogava-se no fogo ou na água (Mat. 17:15). Não são raros porém, casos em que o endemoninhamento manifesta-se de uma forma mais branda e as aptidões são suspensas temporariamente. Assim, como exemplo, o Evangelho traz o caso do mudo que voltou a falar normalmente tão logo Senhor o livrou do demônio e da mulher encurvada que conseguiu endireitar-se após a sua libertação do diabo pelo Senhor - isto depois de permanecer encurvada durante dezessete anos (Luc. 13:11).

Em alguns casos os endemoninhados demonstram capacidade premonitiva e de clarividência. Assim, nos Atos dos santos Apóstolos menciona-se o caso de uma moça que predizia coisas, o que trazia lucro a seus donos, pois adivinhava o futuro aos interessados. Quando o Apóstolo Paulo expulsou o demônio ela perdeu esta habilidade (Atos 16:16-19). Com a propagação da Fé cristã, o endemoninhamento tendeu a desaparecer, porém ainda existe em nossos dias.

O que leva, então ao endemoninhamento e quem dá o direito ao mau espírito de apossar-se do ser humano e torturá-lo? Segundo a opinião do professor Kurt Koch, um alemão, pastor, que dedicou mais de quarenta anos a este assunto e é autor de uma série de destacados trabalhos neste gênero de pesquisa, - na totalidade dos casos que chegaram ao seu conhecimento, a causa do endemoninhamento residiu no interesse pelo ocultismo: ou a pessoa numa certa época de sua vida praticou-o, ou ela recorreu aos serviços de ocultistas, ou ainda alguém da sua família dedicou-se a esta prática. Sob ocultismo entendemos a invocação de espíritos, o espiritismo como tal, a cartomancia e a procura de serviços de cartomantes, a yoga, terapias alternativas por "extrassensos," magia "branca" e "negra"; de um modo geral qualquer atividade que tem por fim a obtenção de préstimos dos espíritos degradados. (mesmo sem dar-se conta disto). Deste modo, os que se dedicam a práticas de ocultismo expõem ao perigo não somente a si mesmos, como também os seus filhos e netos.

No nosso tempo, marcado pelo afastamento do cristianismo e do crescimento acentuado do interesse pelo ocultismo, cada vez mais aumenta o número dos que se sujeitam à dominação violenta pelos maus espíritos. Os psiquiatras sentem-se constrangidos em reconhecer a existência dos demônios e como regra, incluem as manifestações do endemoninhamento no rol das doenças de natureza psíquica. O homem que possui Fé deve porém, compreender que nem os remédios, nem os recursos psicoterapêuticos podem afastar os maus espíritos. Aqui faz-se necessária a força Divina.

Eis, os traços característicos do endemoninhamento que o distinguem das doenças psíquicas propriamente ditas. (Kurt E. Koch, - "Demonology Past and Present," Kregel Publ. Grand Rapids, Michigan, 1973, pgs. 31-52).

Apesar do Senhor Jesus Cristo ter dado a seus Apóstolos meios poderosos para a expulsão dos demônios, não é qualquer pessoa que deve tentá-lo. A Sagrada Escritura no Novo Testamento revela um fato impressionante com relação aos espíritos imundos, - que eles não podem resistir ao nome de Cristo: O Senhor Jesus Cristo tem sobre eles um poder absoluto e inelutável. Ainda no tempo da vida do Salvador na terra, os Apóstolos chamaram a atenção para o fato de que um homem expulsava os demônios pelo nome de Cristo. Perturbados, eles contaram isto a Cristo e pediram Sua permissão para proibir o desconhecido de usar Seu nome. Mas o Senhor respondeu: "Não lho proíbas, porque quem não é contra vós, é por vós" (Luc. 9:50). Provavelmente este desconhecido tinha fé sincera em Cristo, apesar de manter-se separado.

É perigoso para o homem comum entrar na luta contra os espíritos impuros, mesmo tendo como arma o nome de Cristo. O livro dos Atos narra sobre a grande impressão que causaram os milagres feitos pelos Apóstolos em nome de Cristo, particularmente as expulsões de demônios. E assim, os filhos de um sacerdote judeu de nome Sceva, eles mesmos não cristãos, mas praticando o exorcismo para lucrar com este, resolveram experimentar um novo procedimento, - o dos Apóstolos. Assim, eles começaram a invocar o nome de Cristo para expulsar o espírito mau de um endemoninhado. De repente, este falou: "Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo, mas vós, quem sois?. E o homem possuído pelo mau espírito saltando sobre eles e apoderando-se de ambos, maltratou-os de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa" (Atos 19:14-17).

Disto devemos deduzir que o nome de Cristo deve ser invocado com grande fé e veneração - para a salvação da pessoa e não visando fins práticos ou por vaidade. Nisto é extremamente importante ser protegido pela força de Cristo, que vem através do modo de vida Cristão. De um modo geral, é melhor deixar a expulsão dos demônios com as pessoas autorizadas para isto pela Igreja: sacerdotes, bispos, anciãos e guias de vida espiritual elevada. Neste âmbito, todo entusiasmo pessoal e atrevimento são extremamente perigosos. O diabo é um inimigo muito perigoso e astucioso. O homem, que por auto confiança entrar numa luta aberta, poderá pagar caro por sua imprudência.

A possessão difere do endemoninhamento, nela o diabo apodera-se da própria razão e volição do homem. No endemoninhamento o diabo escraviza o corpo humano, deixando a razão e a volição relativamente livres. Evidentemente o diabo não pode apoderar-se de ambas pela força. Ele consegue isto gradativamente, - na medida em que o homem com seu afastamento de Deus ou pela sua vida pecaminosa, sujeita-se à sua influência. O exemplo de possessão demoníaca temos em Judas, o traidor.

As palavras do Evangelho: "Ora satanás entrou em Judas"(Luc. 22:3) denotam não o endemoninhamento, mas a escravização da vontade do discípulo - traidor. No começo, Judas filiou-se aos Apóstolos movido pelo bom sentimento, sem nenhuma intenção de lucrar com isso. Logo, porém, seus sentimentos para com Cristo esmoreceram e ele desiludiu-se de sua própria missão. Para que seus esforços até aí, não tivessem sido em vão, ele começou à guisa de recompensa a usar às escondidas o dinheiro da caixa que abrigava as esmolas dadas pelos benfeitores e destinadas às necessidades dos Apóstolos e para ajuda aos pobres. Ele não percebeu, que gradativamente o diabo escurecia a sua mente e começava a dirigir as suas vontades. Enfim, na Última Ceia o diabo apoderou-se totalmente do infeliz, levando-o primeiro ao ato ignominioso da traição e depois ao suicídio.

Outro exemplo de possessão demoníaca temos nos dirigentes judaicos e nos escribas que hostilizavam Cristo. Tudo aquilo que Ele pronunciava - eles contestavam e rejeitavam; tudo o que Ele fazia de grandioso e nobre - eles reprochavam e ridicularizavam. Soberbos como eram, não perceberam que o diabo apoderou-se de suas mentes e das suas vontades - para obstar o caminho da salvação da humanidade. Por isso o Senhor disse-lhes: "Vós tendes por pai o demônio e quereis satisfazer os desejos do vosso pai" (João, 8:44). Entre os que lutam contra Deus, encontram-se muitos tipos semelhantes no decorrer da História da Igreja, - especialmente nos dias da revolução em nossa pátria sofredora, martirizada ao extremo.

As pessoas possuídas pelo diabo não são simples ignorantes em matéria de religião, nem pecadores comuns, não - eles são criaturas que fazem jús às palavras: "de quem o deus deste século cegou os entendimentos" (2 Cor. 4:4).

 

As redes do malvado

(as armadilhas do diabo)

"Ai do mundo por causa das tentações" - disse o Senhor, mas acrescentou: "porém, elas precisam vir" (Mat. 18:7). "Precisam" - provavelmente para o nosso benefício. O Senhor não quer que nós confiemos só em nós mesmos, sem nos preocuparmos com a vida, mas deseja o nosso crescimento e aperfeiçoamento espiritual.

O Senhor revelou até certo ponto o sentido das tentações na parábola sobre as ervas daninhas (tentações). O semeador (neste caso, o Senhor) semeou boas sementes (o Bem) no seu campo, mas o seu inimigo (o diabo) semeou no meio delas ervas daninhas (tentações). Quando os servos do semeador, ao perceberem as ervas daninhas crescerem, pediram permissão para arrancá-las, este negou dizendo: "Não, para que, talvez, não suceda que, arrancando as ervas daninhas, arranqueis juntamente com elas o trigo. Deixai crescer uma e outra coisa até a ceifa" (quer dizer, até o julgamento). Só então, os anjos removerão do Seu Reino todas tentações e os desregrados para que sejam arremessados ao tanque de fogo" (Mat. 13:24-42). Em outras palavras, a remoção antecipada das tentações prejudicaria o processo de aperfeiçoamento das almas.

A exemplo dos mundos vegetal e animal, onde a luta pela existência leva ao desenvolvimento de espécies mais perfeitas e resistentes, a luta contra as tentações traz à formação de almas mais firmes e também mais caridosas. Como uma liga preciosa é submetida à prova de fogo, ou como um estudante é sujeito a um exame, assim, o futuro habitante do Reino Celeste é experimentado pelas tentações (1 Pedro 1:7). Destes e de outros trechos da Sagrada Escritura deve-se deduzir que uma atividade limitada do espírito tentador enquadra-se nos desígnios de Deus, e Ele a tolera para o benefício dos homens. Entretanto, Deus não permite seu domínio irrestrito, mas somente sobre aqueles que por si mesmo se submetem a ele.

Como seria explicado o fato de que um anjo outrora luzente e chegado a Deus, dedica-se agora a atividades tão baixas e sujas que têm por objetivo levar os seres humanos a toda espécie de torpeza? Alguns pensam que ele, sádico como é tem prazer em torturar. Isto é verdade, mas existe outra causa importante. Lembremos, que Lúcifer afastou-se de Deus por orgulho. Ele quis equiparar-se ao Criador na Sua glória e poderio, mas sofreu derrota pelos anjos que permaneceram fiéis a Deus. Agora, ele procura, na medida do possível, subordinar o maior número de seres humanos. Isto ele não consegue somente por esforço próprio, enquanto as pessoas que conservam em si parcelas do Bem acham-se sob a proteção de Deus. Para apoderar-se de alguém, o diabo primeiro tem que deformá-lo moralmente, o que consegue por meio do pecado. Acostumado a tentar os seres humanos no decorrer de muitos milênios, o diabo se aperfeiçoou nesta arte imunda. Eis, os seus principais artifícios:

Para que o homem sucumba à tentação, é importante antes de tudo, que ele a confunda com a sua própria vontade. Então, ele mesmo vai lutar por aquilo que sente como importante para a sua felicidade e seu bem estar. Para isso o diabo oculta por todos os meios a sua presença e esconde-se por trás de um quadro de circunstâncias aparentemente casuais, benéficas para o homem. Além disso, antes de tentar, o diabo estuda atentamente o caráter do homem, - suas propenções, fraquezas, e ajusta a elas as suas tentações. A narração do livro dos Atos dos santos Apóstolos, que vemos a seguir, ilustra estes métodos de tentação. Como é sabido, os primeiros cristãos viviam de tal modo unanimemente, que tudo era considerado propriedade de todos. Os mais abastados vendiam seus bens para com o dinheiro ganho ajudar aos irmãos necessitados. Graças a este amor sincero, fraternal, ninguém dos cristãos passava por privações, e os estranhos viam neles um exemplo para toda sociedade. Então, um homem próspero, de nome Ananias com receio de adquirir fama de avarento, resolveu também vender suas propriedades e doar o dinheiro para a comunidade. Temendo ficar pobre, combinou com a esposa Safira entregar aos Apóstolos apenas parte do dinheiro ganho com o negócio, guardando o resto para eventuais dias difíceis. Em si, isto não era reprovável - a eles cabia o direito de dispor livremente sobre seus bens. Mas eles não queriam nem de longe parecer interesseiros e recorreram à mentira. Ao entregar para o Apóstolo Pedro uma parte do seu dinheiro, Ananias declarou solenemente que oferecia todas as suas posses. O Apóstolo, sabendo por revelação Divina, que Ananias o estava enganando, disse: "Ananias, como é que satanás se apossou de teu coração, para que mentisse ao Espírito Santo e retivesse do preço do campo? Não é verdade que conservando-o, era teu, e mesmo depois de vendido, não estava em teu poder o (preço)?... Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ananias, ao ouvir estas palavras, caiu e expirou" (Atos, 5:1-11).

Daí vemos como o diabo jogou com a fraqueza e a vaidade de Ananias. Ele era muito apegado às suas posses, mas queria granjear a fama de grande benfeitor. Nisto, o diabo inspira-lhe um compromisso genial de como conservar a propriedade e, ao mesmo tempo, assegurar a gratidão de todos. Se Ananias admitisse honestamente que ofereceu apenas uma parte do seu dinheiro, não seria censurável. Ele porém, movido pela vaidade, escolheu o engano. Pôde ludibriar os seres humanos, mas não Deus, porque o Senhor prometeu recompensa para quem doar os seus bens aos indigentes e segui-Lo, carregando a cruz da pobreza.

A prática de agir paulatinamente constitui outra arma que o tentador usa com sucesso. Levando em consideração a aversão natural do homem ao vício, o diabo o acostuma a pecar aos poucos, facilitando as pequenas fraquezas. Ao mesmo tempo, ele tranqüiliza com o pensamento de que isto vai ser um caso isolado de desvio da conduta e que após alcançar o desejado ele continuará a ser honesto e virtuoso. Caso o homem se renda à tentação, o diabo irá lhe oferecer outra semelhante, porém um pecado mais grave, sob a camuflagem de um pequeno afastamento da norma. "Você se retratará mais tarde," tranqüiliza o sedutor. Assim, na medida em que o homem deixa as tentações dominarem-no, afunda cada vez mais no lamaçal do pecado sem perceber que tornou-se escravo de suas paixões, sem força de vontade própria e uma presa para o príncipe das trevas.

Vamos dar um exemplo disto: Suponhamos que alguém no seu caminho se depara com uma carteira no chão. Ao abri-la descobre uma certa quantia de dinheiro. Na carteira também há um cartão com o nome e o endereço do dono. O seu primeiro impulso seria devolver depressa o bem alheio. Mas o tentador se aproxima do seu ouvido e sussurra que seria mais sensato apossar-se do achado. "É como se a Providência lhe mandasse o dinheiro em hora difícil. Aqui, não podemos falar em roubo, pois o dinheiro estava à vista de todos e qualquer um poderia pegá-lo." Nisto, a consciência, num aparte insiste que apoderar-se da propriedade alheia é um pecado, e assim sendo, urge descobrir o dono, pois ele também necessita do dinheiro. Mas o diabo contesta a consciência e procura, usando a lógica convencer de que tudo está em ordem, - você não meteu a mão no bolso de ninguém e o que foi achado é seu. Se o homem atender ao apelo da voz da consciência e devolver o achado - decerto experimentará uma satisfação no íntimo por ter agido honestamente e não ter se aproveitado do azar de outra pessoa. Se, porém, não resistir à tentação dará oportunidade ao diabo de empurrá-lo para procedimentos ainda mais desonestos, num esforço de transformá-lo em um enganador, ladrão e bandido.

O método diabólico de agir gradativamente pode ser observado com maior evidência no caso de Judas - um dos doze Apóstolos. Judas, por ser tesoureiro, tomava conta da caixa que guardava o dinheiro proveniente de donativos para as necessidades dos Apóstolos e para a distribuição entre os pobres. Lidar com o dinheiro sempre oferece oportunidade à tentação e, como mostram os Evangelhos, Judas cedeu a esta. Assim, ele começou pouco a pouco a "emprestar "para seus próprios gastos. Com pena do pecador, o Senhor delicadamente procurou corrigir Judas, mas sem resultado. Judas transformou-se em ladrão sem se dar conta disto. Finalmente, a paixão pelo dinheiro dominou-o de tal modo, que por trinta moedas de prata ele vendeu o seu Mestre. Assim, gradativamente, o diabo apoderou-se de um dos discípulos mais próximos a Cristo e levou-o ao terrível pecado e ao suicídio.

Sem ter acesso direto à vontade do homem, o diabo tenta dirigi-la por meio de pensamentos e sentimentos que, por sua vez, dependem de influências externas. Por isso, o diabo se esforça para apresentar aos nossos olhos e ouvidos algo sedutor. Nisto, na medida em que o homem deixa os pensamentos e sentimentos pecaminosos tomarem conta dele, o diabo domina a sua vontade e o escraviza.

O diabo leva em consideração a nossa inconstância. Ele sabe que a princípio, qualquer homem, por mais que já tenha vencido as tentações milhares de vezes, pode cair em pecado num momento de fraqueza ou descuido. Por isso, ele não o deixa em paz até o último suspiro. Não tendo êxito numa das sucessivas tentações, ele espera com tenacidade uma nova chance para tentar levar ao pecado. Psicólogo experiente, o diabo sabe que o homem está mais fraco nos momentos de cansaço ou aborrecimento. Em alguns casos ele espera que o homem relaxe e fique com a vigilância afrouxada e assim, menos cauteloso. Então, neste instante o diabo aparece e como um furacão investe contra a pessoa, empurrando-a precisamente para o pecado ao qual ela é mais suscetível.

Justamente pela perseverança é que o diabo conseguiu seduzir o maior justo do Antigo Testamento - o rei Davi. Davi, após sobreviver a muitas perseguições e sair vencedor de outras provações, chegou a reinar sobre Israel. Seus inimigos perderam a força, as guerras acabaram, vieram os anos de paz e de prosperidade e Davi ficou um pouco descuidado. Numa certa ocasião, quando ele saiu na cobertura do palácio real, viu na casa vizinha uma bela mulher banhar-se na piscina. Quis saber quem era. Era a esposa de um oficial de seu exército. O conhecimento travado com a bela vizinha despertou um ardente desejo e o rei caiu em pecado. Betsabéia engravidou, e como esta era fruto de adultério, pelas leis hebraicas ela deveria ser morta por apedrejamento. Querendo salvá-la desta morte desonrosa e cruel, Davi chamou o seu marido que participava de uma campanha para dar-lhe a oportunidade de conviver com Betsabéia e assim pensarem que ele a engravidou. Mas, por alguma razão, ele não quis ficar com ela e logo retornou à sua unidade que estava sitiando uma cidade inimiga. A situação tornou-se desesperadora para Davi, e aí, o diabo sugeriu uma saída genial: mandar Urias, o marido de Betsabéia para o lugar mais perigoso do campo de batalha para que fosse morto pela mão do inimigo. De fato, chegando à linha de frente, Urias caiu atingido por uma seta. Com isto, Davi teve a possibilidade de desposar a viúva e ocultar o crime de adultério. O diabo escureceu a mente de Davi a tal ponto, que ele perdeu a noção do quanto era terrível seu duplo pecado. Somente depois que o profeta Natan com uma parábola levou o rei a pronunciar-se sobre um caso parecido, Davi compreendeu que ditou o veredicto sobre si mesmo. Aterrorizado, ele caiu de joelhos perante Deus e penitenciou-se publicamente. Ele nunca conseguiu perdoar a si mesmo este pecado, continuou a lembrar-se dele pelo resto da vida e deixou-nos a súplica que até hoje comove os corações dos pecadores arrependidos (Salmo 50). Assim, o benevolente Senhor livrou das redes do diabo Seu justo, que havia sofrido uma queda.

Através deste e outros acontecimentos semelhantes o Senhor nos ensina a não sermos confiantes somente em nós mesmos.: "Aquele, pois, que crê estar de pé, veja não caia" (1 Cor. 10:12), quem estaria, então a salvo de suas artimanhas? Por isso, prevenindo - nos, o Senhor ensina: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca" (Mat. 26:41). Mas o principal método que orienta toda sua atividade e denota seu próprio sentido consiste de mentira - a mais deslavada e impudica mentira, à qual ele, não raro, acrescenta migalhas de verdade para maior verossimilhança. Esta é a razão porque o Senhor chamou-o de "mentiroso e pai da mentira" (João 8:44).

O diabo esforça-se para perverter tudo em nossa imaginação a ponto de tornar irreconhecível: o pequeno insucesso, apresenta como uma tragédia para a qual não há solução, um prazer insignificante ou uma vantagem em uma coisa passageira, como algo da maior importância, - quase a finalidade da própria existência. Forçando-nos a pecar, ele tranqüiliza com o pensamento de que trata-se de uma fraqueza natural, perdoável. Mas, quando o homem cai em pecado, - o diabo leva-o ao desalento e procura convencê-lo de que ele atraiu a ira de Deus e portanto nem adianta penitenciar-se. Ao homem que é dominado por uma paixão, ele afirma que este é muito fraco para tentar corrigir-se. Já um outro, que leva uma vida de santo, procura levar ao pecado do orgulho. Os devaneios dos filósofos e as mais variadas invenções religiosas ele apresenta como notáveis revelações, ao passo que, o ensinamento do Evangelho - como algo tedioso e esquisito. O homem que com toda sua força se dirige para a vida espiritual, ele procura perverter pelo orgulho e confiança excessiva em si mesmo. Às vezes, ele aparece na imagem de um anjo luzente ou do próprio Cristo para que o homem comece a se julgar melhor do que os outros.

Movido pela insaciável sede de poder, o diabo não poupa nem forças, nem tempo para transformar qualquer fraqueza natural do ser humano numa paixão indomável e abjeta. Ele quer que o homem se macule, ficando pior do que um animal. Assim, através do pecado, o diabo adquire o poder sobre ele e o torna seu escravo e sua arma facilmente manejável.

Graças ao Senhor Jesus Cristo este poderio do diabo é frágil e as suas correntes - mais fracas do que uma teia de aranha. Basta que o pecador, em seu arrependimento apele a Deus para que todo o poder do diabo se desmanche como um castelo de cartas. "Para destruir as obras do demônio é que o Filho de Deus veio ao mundo" (João 3:8). "O Senhor é Aquele Forte que prendeu o valente e saqueou a casa dele" (Mat. 12: 29). Portanto, apressemo-nos em procurar ajuda e proteção do Salvador. Com a fé firme e a vida virtuosa enfrentaremos o espírito caído e ele fugirá de nós, segundo a promessa do Evangelho (Tiago 4:7).

 

As tentações do ocultismo

"Ora, o Espírito diz claramente que nos

últimos tempos alguns apostarão da fé,

dando ouvidos a espíritos enganadores

e a doutrinas de demônios" (1 Tim. 4:1).

A exemplo da criança que estende suas mãos para a mãe, o ser humano por instinto dirige-se a Deus, sobretudo nos momentos difíceis da sua vida. Em Deus ele vê o seu Pai Celeste, o Qual deseja para ele o bem e pode fazer até o impossível. O Senhor Jesus Cristo prometeu: "Pedi, e vos será dado; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-a" (Mat. 7:7). Uns pedem a cura para um mal físico, ajuda no trabalho, fortalecimento da família, o bem para os filhos. Já outros, a firmeza na fé, o dom da súplica compenetrada, forças para viver de maneira que leve à graça do Espírito Santo, - isto é, - cada um conforme seu nível espiritual. Deus aceita as súplicas de todos que com fé ardente e sincera recorrem a Ele.

Além da prece trazer para nós a ajuda de Deus, ela é notável por contribuir para o crescimento interno do homem. Isto acontece porque a prece, longe de ser um monólogo, - é uma conversação, na qual o Senhor responde à alma e a ilumina pela graça do Espírito Santo. Clareando o mundo interior do homem, Deus o ensina a buscar não somente o que é material e temporal, mas sobretudo o eterno, o que realmente é valioso. O homem que conversa através da prece com Deus, tem consciência de que Deus é o Altíssimo e Todo-Poderoso Ser, pleno de amor, mas, também justo - ao Qual devemos temor. Não podemos pensar em manipulá-Lo como uma força cega. Ele é o Pai Que deve ser obedecido. Assim, a experiência pessoal da prece que vem em função das diversas necessidades, contribui para o aperfeiçoamento moral da pessoa e a leva para o bem sublime que é o Reino Celeste.

O oposto desta religiosidade sadia baseada na Fé e na obediência a Deus é a malsã "espiritualidade negra"' do ocultismo. Aqui, também encontra-se o elemento do sobrenatural e a busca por ajuda, porém, esta não é procurada junto ao Criador, mas, em espíritos desconhecidos e duvidosos ou então, apelando para forças imateriais misteriosas. Ao passo que a invocação de Deus desperta a consciência do homem e lhe dá um impulso para penar seus pecados e corrigir-se, - a prática do ocultismo, pelo contrário não impõe nenhuma obrigação de cunho moral: pegue e delicie-se ! Nesta liberdade imaginária, que exclui a moralidade, reside aparentemente a principal atração do ocultismo. Mas, como veremos adiante, os espíritos do além não são de modo algum altruístas, e aquele que se valer de seus préstimos pagará muito caro por eles. No começo, porém tudo parece fácil e simples.

O ocultismo é tão velho como a própria humanidade. Comer o fruto proibido foi a primeira tentativa do homem de adquirir conhecimentos e aptidões por meio oculto (Gen. cap. 3). Feiticeiros, xamãs, invocadores dos mortos, etc... - existiram sempre. O marcante em nossa época, é a crescente popularização do ocultismo e o grande interesse por ele, como mostram várias pesquisas atuais idôneas. Um cientista da Universidade de Chicago que atua na área comparativa de religiões e do ocultismo, Mircea Eliade, faz esta observação no seu livro: "Occultism, Witchcraft and Cultural Fashions": "Como historiador da Religião não posso deixar de ficar perplexo frente à enorme popularidade da feitiçaria no âmbito da cultura e subcultura ocidental contemporâneas. Nisto, o interesse para a feitiçaria somente faz parte de um fenômeno mais amplo: o forte interesse para as diversas ciências ocultas e esotéricas (The University Press, Chicago, Ilns. 1976).

Sob a influência dos ensinamentos do "Novo Século" que estão atualmente em moda, milhares de americanos declaram-se "channelers" (médiuns) e "psychics" (videntes). Milhões recorrem a eles em busca de conselhos e serviços, como também são atraídos por suas publicações. Alguns destes "channelers" são muito conhecidos nos meios artísticos e na televisão. Na Europa, no Canadá, no Brasil e na Rússia, como também em outros países, nota-se o grande interesse pelas coisas do outro mundo. A influência das idéias ocultas começou a ser sentida até nas ciências sérias, como: psicologia, medicina, filosofia e arqueologia entre outras. Começaram a proliferar seitas pseudo cristãs que sob manto da terminologia cristã e da linguagem falsamente apresentada como sendo científica, propagam idéias antigas de ocultismo. Nas livrarias podemos encontrar uma seção especial dedicada à doutrina do "Novo Século." Abundam títulos como: "As bruxas na Idade Média," "Magia Egípcia Antiga," "História das Sociedades Secretas," "Serpentina e o Arco Íris," "As palavras secretas dos xamãs" e "Zumbi do Haiti," "A enciclopédia dos conhecimentos proibidos da Antiguidade," "Da Cabala aos mundos astrais: energias da mente e os segredos dos relacionamentos íntimos," "O livro da sagrada magia: a necessária fonte negra dos conhecimentos ocultos," "Manual atualizado das bruxas: tudo o que você precisa saber para poder encantar," "Alcance o desejado com a ajuda da energia oculta" e "Levitação, o que é e como praticá-la."

O doutor Walter R. Martin, um destacado conhecedor dos cultos na América, afirma que sessenta porcento dos americanos, de uma ou de outra maneira, usam técnicas ocultas ou se interessam pelo oculto. Existem mais de três mil editoras de livros e revistas dedicadas ao ocultismo, o que implica em um giro da ordem de um bilhão de dólares por ano. Até as revistas tradicionais, que a princípio não se interessam por este assunto, publicam artigos sobre as práticas ocultas, sinais astrológicos, cura pelos cristais, etc. Na Rússia, a queda para o ocultismo assume proporções epidêmicas também. Estes tristes fatos indicam a degeneração da sociedade contemporânea e predizem a proximidade da Segunda Vinda de Cristo.

O nome ocultismo vêm da palavra em latim occultus, que quer dizer: algo encoberto e inacessível à maioria. A esfera do ocultismo inclui diversos fenômenos e ações inexplicáveis causados por forças imateriais misteriosas. As atividades no campo do ocultismo visam as seguintes finalidades: 1) Adquirir conhecimentos inalcançáveis por meios comuns; 2) estabelecer o relacionamento com os espíritos ou forças sobrenaturais; 3) aprender a manejar estes espíritos ou forças. Eis a relação aproximada das ciências ocultas e atividades a elas ligadas: cartomancia como profissão, astrologia, quiromancia, numerologia, teosofia (a sociedade de Blavátskaya), cabala, antroposofia, espiritismo, viagens astrais, algumas modalidades de misticismo, meditação transcendental, mediunidade (channeling), yoga, medicina alternativa (tratamentos por extrassensos), tratamento através dos campos de bio-energia, prática dos xamãs, feitiçaria e toda a espécie de magia, "branca" e "negra."

Nos nossos tempos vem se tornando muito popular o ensinamento do "Novo Século," que absorveu numerosas ciências ocultas antigas. Algumas seitas-culto atuais pretendem atribuir o seu surgimento à revelação por parte dos espíritos ou exibem elementos de ocultismo e usam as suas práticas. Dentre estas destacam-se: "A ordem Rosacruz," doutrina dos Rerich ("A ética viva "ou "Agni -Yoga"), sociedade dos "Irmãos Brancos," sociedade de Blavátskaya, movimento "New Age," "Aum Sinrike," o Krishnaismo, "Lucius Trust" (Alice Bailey), "Ekankar" (Paul Twitchel), "The Children of God" (David Berg), "Unification Church" (Soon Moon), Antroposofia (Rudolf Steiner), "Astara" (Earline Chaney), a "igreja" dos mórmons (Josef Smith com seu "angel Moroni"), "Cristian Science" (Mary Baker Eddy) e outros.

O que impele as pessoas ilustradas, em pleno século vinte a recorrer a tais práticas duvidosas, como a invocação de espíritos, destituídas de qualquer fundamento científico? A resposta é: somente a ciência e as doutrinas materialistas não podem satisfazer as sublimes aspirações do homem. Algo dentro de nós procura por coisas elevadas, espirituais, anseia pela resposta para as questões principiais: para que nós vivemos; existem outros mundos e modos mais perfeitos da existência; o que nos espera além do túmulo; se há mesmo as forças imateriais capazes de ajudar o homem a vencer as leis físicas e obter a felicidade estável? Mas então, as pessoas, ignorando o ensinamento cristão, ou não lhe atribuindo importância, recorrem às doutrinas esotéricas. Estas pretendem possuir as respostas para as questões da existência e abrir caminho às forças sobrenaturais. Porém, estas respostas são falsas e as receitas - nefastas. O mais terrível é que elas suprimem no homem o temor a Deus e o senso de responsabilidade pelos seus atos. Os espíritos caídos procuram convencer o ocultista novato de que o julgamento Divino não existe, nem o Juízo Final e nem os suplícios eternos, - mas, pelo contrário, de que tudo no além é fácil e agradável. Portanto, enriqueça-se com os conhecimentos e absorva a força que lhe é dada. De fato, às vezes como resultado de exercícios ocultos, o homem desenvolve aptidões fora do comum - a telepatia, a clarividência, a capacidade de tratar de doenças pelo campo da bio-energia, de movimentar os objetos à distância (telecinese), etc. Como veremos, estas aptidões não se desenvolveram sozinhas, mas pela colaboração de espíritos imundos, e são portanto muito perigosas e nocivas. Por isso, para não assustar o ingênuo novato, os demônios escondem a sua presença habilmente e deixam que pensem que trata-se de: a) inofensivos espíritos errantes, ou b) uma energia impessoal contida no Cosmo ou que se abriga dentro do próprio homem. Veremos, até que ponto isto corresponde à visão dos próprios ocultistas.

a) A natureza dos espíritos ocultos:

O relacionamento com os espíritos ocorre ou por meio do espiritismo ou através da mediunidade. A prática da invocação dos espíritos tem uma longa história que remonta a tempos muito antigos. É também mencionada na Bíblia como uma ocupação pecaminosa e proibida por Deus: "Não vos dirijais aos magos, nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles" (Levit. 19:31). "a pessoa que se dirigir a magos e adivinhos e fornicar com eles, eu porei o Meu rosto contra ela, e a exterminarei do meio do seu povo" (Levit. 20:6; 20:27). Durante as sessões, o espírito aparece ou em forma de um fantasma ou se manifesta através de sua influência sobre vários objetos, como por exemplo, deslocando um pires, batendo na mesa, fazendo oscilar um pêndulo (Quija board), etc. O médium em transe põe seu corpo à disposição do espírito, que alojando-se nele, apodera-se de seus órgãos e executa várias ações e faz revelações por meio deles. O "Novo Século" dá preferência à popularização justamente deste tipo de relacionamento com os espíritos (ou 'forças") e o chama de "channeling," - equivalente inglês de "conduzir." Na medida em que o médium (channeler), entra em transe, os músculos faciais e os lábios começam a apresentar contrações involuntárias, semelhantes ao tique. Quando a possessão se completa, - altera-se o ritmo da respiração, a expressão do rosto muda, tornando-se até às vezes irreconhecível. A voz também muda, - assim, a voz feminina pode chegar a soar como um baixo masculino. Ao sair do transe, o homem não recorda o que se passou com ele ou o que falou durante o transe mediúnico. No início, o espírito não se atreve a entrar nele sem o seu consentimento, e é necessário que o médium o invoque. Mas, depois de algumas sessões consecutivas a ação do espírito pode assumir um caráter espontâneo, ficando o médium em poder deste.

Sem dúvida, entre os espíritas e médiuns existem muitos charlatães. Mas, por outro lado, há um número respeitável de profissionais que têm de fato um relacionamento com seres do outro mundo e recebem destes informações e habilidades inalcançáveis pelos homens de outra maneira. A maioria esmagadora dos "channelers" e espíritas comuns não suspeita de como são pérfidos e perigosos aqueles seres nos quais confiam. Eles não são de longe almas errantes inofensivas, nem forças impessoais da natureza. Ao contrário, de acordo com o testemunho de muitos médiuns e xamãs profissionais, os espíritos com os quais eles lidavam, agiam com intenção de enganá-los. Eles fingiam-se de bondosos com o intuito de apoderar-se deles e causar lhes mal. Saptrem, discípulo do ocultista e guru (mestre) hindu, Sri Aurobindo, escreveu "É de conhecimento de todos ocultistas, que os espíritos podem assumir qualquer aspecto que quiserem (Saptrem," Sri Aurobindo or the Adventure of Conscicusness," NY. Harper and Row, 1974).

Robert Monroe descreveu um caso, ligado a uma de suas "viagens astrais," quando foi vítima de ataque persistente e insolente de maus espíritos. Num momento decisivo da luta, dois espíritos de repente assumiram a aparência das suas duas filhas amadas. Tão repentina e verossímil foi a mudança que Robert perdeu a força para resistir e quase foi derrotado. ("Jorneys out of the Body," Garden City, NY, Anchor Books, 1973).

O muito conhecido médium, Emanuel Swedenborg, que dedica-se ao relacionamento com os espíritos, e considerado por muitos como um especialista sério no assunto, testemunha que os espíritos com os quais lidam os médiuns e espíritas são mentirosos tão ardilosos, que não é possível se estabelecer sua verdadeira identidade e conhecer suas intenções. Estes espíritos são exímios atores, que se disfarçam passando por almas de falecidos. Swedenborg dirige as seguintes palavras de advertência aos ocultistas novatos: "Quando estes espíritos dizem alguma coisa, não se pode em absoluto acreditar, porque eles inventam tudo e mentem sempre..." Isto eles fazem com tamanho "aplomb" e insolência, que ficamos totalmente desconsertados. Se, por acaso o homem der crédito, mesmo que parcial, ao que os espíritos afirmam, estes passam com um descaramento maior ainda para novas invenções, deixando-o completamente emaranhado. Portanto, é mister precaver-se contra os espíritos e não confiar nem um pouco neles ("The True Christian Religion," NY. E. P. Dutton, 1936).

A mesma afirmação ouvimos de Uri Geller, conhecido por sua capacidade de torcer colheres e facas por meio da telepatia. Tanto ele, como seu mentor, Andrija Puharich, M.D., ao lidar com espíritos, experimentavam freqüentemente um desassossêgo, pois percebiam algo estranho e suspeito em seu comportamento. Ambos ocultistas verificaram várias vezes que os espíritos portavam-se de modo ambíguo, parecendo querer passar um trote neles (Andrija Puharich, Uri, NY, Bantam, 1975). A mesma inquietação, sentem outros espíritas e médiuns profissionais.

Posto que os espíritos dos ocultistas MENTEM, fica evidente que eles não são nem Anjos bons, nem servidores de Deus. Tampouco eles podem ser as almas dos mortos, porque conforme diz a Sagrada Escritura, não é permitido às almas vagar por sua própria vontade pelo mundo. É justamente o contrário: após a morte do homem, Deus determina à sua alma a permanência em um determinado lugar; no Paraíso ou no inferno, aonde a alma deve ficar até o Juízo Final. "E, assim como está decretado que os homens morram uma só vez, (e que) depois disso (se siga) o Juízo" (Hebr. 9:27). Se os espíritos com os quais os ocultistas lidam não são Anjos, nem as almas dos falecidos, - é mais provável que sejam espíritos subordinados àquele de quem o Salvador falou, "mentiroso e pai da mentira" (João 8:44). Conseqüentemente, os espíritas e "channelers," ao confiar nos espíritos do outro mundo, colocam tanto a si mesmos, como aos outros em grande perigo (mais tarde explicaremos isto mais detalhadamente).

É difícil entendermos porque pessoas que jamais confiariam em algum desconhecido, fazem-no com relação aos seres do outro mundo, dos quais não tem nenhum conhecimento e que freqüentemente são flagrados mentindo.

b) A energia espiritual é impessoal?

Examinemos agora uma segunda opinião muito popular em nossos dias, a que as práticas ocultas põem em ação a energia derramada no Cosmo ou abrigada no íntimo do próprio ser humano. Esta opinião é muito atraente para o céptico contemporâneo, que não aceita nem a Deus Pessoal, nem o mundo espiritual. O pensamento de que só com o seu desejo, pode por em ação a poderosa energia imaterial e forçá-la a trabalhar para ele, lisonjeia este soberbo. Baseando-se na premissa da existência de forças imateriais e impessoais, surgiram várias teorias ocultas, que revestidas de terminologia quase científica, são oferecidas ao leitor na qualidade de receitas úteis para todas as ocasiões da vida.

O sucesso destas doutrinas ocultas é enorme, porque para aqueles que anseiam pelo conhecimento, mas que são ignorantes nas coisas espirituais, elas significam o descobrimento de novos mundos: tudo, até então misterioso e impossível, torna-se, de repente, explicável e atingível. Não há o que recear, não existe alguém temível, - tudo é simples e factível para quem aprender a dirigir as forças imateriais.

Observação: Para a saúde espiritual, um perigo especial é apresentado pela corrente dentro do ocultismo que faz propaganda da técnica para liberar a energia intrínseca do homem. (ª Klizóvskiy, - "Fundamentos da cosmovisão da nova época"). De acordo com este ensinamento, cada pessoa, desde que domine os métodos especiais, será capaz de desenvolver a faculdade de percepção global tanto do mundo interior como do exterior, conservar e restabelecer a sua saúde e a dos outros, aprender a se ligar a qualquer fonte de informação, abrir o terceiro olho, empreender viagens astrais, descobrir seus chacras. A descoberta dos chacras, através de métodos especiais, com a finalidade de liberar a energia psíquica, promete possibilidades irrestritas. O homem pode tornar-se semelhante aos deuses - ter o dom da clarividência, da telepatia, da telequinese, etc. Ao mesmo tempo, os próprios especialistas na área (A. Klizóvskiy), previnem que a libertação de sua bioforça pode levar a muitas conseqüências sérias. O aprofundamento mais detalhado neste assunto, foge dos limites do tema aqui abordado. Apontamos, apenas que as pessoas que se dedicam à descoberta de seus chacras, deformam sua psique, muitas vezes sem possibilidade de recuperá-la.

É curioso, que os espíritos que agem nos bastidores dos atuais, quase científicos experimentos, não se ofendem ao saber que os "channelers" ignoram seus esforços e silenciam sobre seus méritos. Pelo contrário, os espíritos preferem esconder-se por trás das tais forças impessoais e imateriais, porque assim, alcançam com maior facilidade a sua principal meta: escravizar os seres humanos. Nisto eles são conseqüentes, já que seu próprio príncipe, o diabo, - é um demagogo habilidoso e multifacetado. Ao homem com aspirações intelectuais ele fala: "A você darei conhecimentos sobrenaturais," a outro com inclinação para o misticismo: "Revelar-te-ei os mistérios da existência," ao que almeja o poder, ele promete este; e o incrédulo ele convence: "Eu não existo, - sou uma ficção"!

Assim, conseguindo atrair o homem através daquilo que este mais aprecia, o diabo o afasta cada vez mais de Deus, até precipitá-lo no abismo infernal. Graças à sua habilidade de adaptar-se ao raciocínio humano, o diabo conseguiu seduzir muitas pessoas em nossos dias, com invencionices antigas, camufladas por uma linguagem quase científica. Assim, surgiu atualmente um ramo da ciência - a parapsicologia, que estuda e tenta interpretar cientificamente as práticas antigas dos xamãs e médiuns.

Mas, ainda resta a questão principal: será que existe energia imaterial, neutra sob o ponto de vista moral? E se a resposta for afirmativa, qual é a sua natureza?

Para responder a estas perguntas, é preciso se considerar o fato de que toda energia, - seja ela física ou espiritual, está necessariamente ligada a uma fonte que gera. Assim, toda energia física ou um campo elétrico, magnético, gravitacional, etc. não existem "por si mesmos," mas provém de determinadas partículas subatômicas (fótons, gravitons, etc.). Como estas partículas materiais são impessoais, assim são os campos gerados por elas, portanto moralmente neutros. Da mesma forma a energia espiritual (forças espirituais) não existe "por si mesma," mas provém de um ou de outro ser espiritual. Sabemos que os seres espirituais (anjos, seres humanos, demônios) possuem individualidade, conseqüentemente a energia que provém deles, é marcada pelo seu estado moral: bom ou mau. Os extrasensos experientes sabem muito bem isto e procuram precaver-se do contágio moral.

É fato conhecido, que no mundo que habitamos, além do branco e do preto, existe o cinza, além da luz e da escuridão há a penumbra. Porém, no vácuo do Cosmo pode haver somente luz ou o negrume. Do mesmo modo no universo dos espíritos não existe um estado moralmente indefinido. Comparados aos seres humanos, os espíritos são seres simples; eles podem ser totalmente bons (anjos) ou totalmente maus (demônios). De modo semelhante no mundo espiritual são possíveis somente dois estados: o Paraíso ou o inferno. Entre eles não pode haver nada de intermediário. Compreendendo isto, temos que concordar que a força, (energia) que provém de Deus e dos anjos é sempre boa e atrai para o Bem, mas a força (energia) proveniente dos demônios sempre é má e empurra para o mal. A experiência da Igreja durante muitos séculos confirma isso. A força emanada de Deus, ou (usando a expressão de São Gregório Palama), - "energia Divina não criada," é uma força que ilumina e vivifica a alma. "Senhor, bom é nós estarmos aqui" - exclamaram os discípulos quando no Tabor a luz Divina os iluminou (Mat. 17:1-13).

Porém os seres humanos são mais complicados do que os simples espíritos (anjos e demônios). Assim, eles podem se achar num estado não definido no sentido moral e serem capazes de oscilar entre o Bem e o mal. Justamente, devido à esta bipolaridade moral e à instabilidade do homem, o Bem e o mal neutralizam-se tendo por conseqüência o enfraquecimento da sua energia espiritual e sua pouca efetividade se comparada com a energia de espíritos simples. Isto pode ser comparado com a neutralização da carga positiva do núcleo do átomo pelos elétrons - partículas de carga negativa. No mundo espiritual não existem forças moralmente neutras porque elas tem origem em seres determinados moralmente, Anjos ou demônios. Assim, cada vez que o homem entra em contato com a energia proveniente desses seres, ele vai sentir atração para o Bem ou para o mal.

Observação: evidentemente, a fonte inicial de toda a espécie de energia é Deus. Mas os anjos caídos converteram esta energia em mal, como aliás tudo o que Deus lhes deu.

Os ocultistas cometem um erro quanto à neutralidade e inocuidade da energia imaterial. Já que nem Deus, nem os Seus Anjos não permitem manipulação, - os demônios oferecem-se prontamente a serviço dos ocultistas. Eles fornecem a estes a energia necessária. Evidentemente, eles não fazem isso sem ter seus interesses. Eles fornecem a energia a título de empréstimo e cobram juros altos. Os feiticeiros, as bruxas, os satanistas e muitos ocultistas profissionais estão a par disto, mas guardam em segredo. Para não afirmar gratuitamente, vamos a alguns pareceres de especialistas.

O professor Michael Harner leciona nas universidades de Columbia e Yale. Além disso, ele ensina antropologia na New School for Social Research em Nova Iorque, e é autor do livro: "The Way of the Shaman." Suas pesquisas na esfera do oculto levaram-no à convicção de que a fonte básica da força dos xamãs reside nos espíritos. "Sem o espírito que guia,não é possível ser xamã, porque este necessita de uma fonte potente de energia" (New York, Bantam 1986).

Gurus hindus e budistas também reconhecem que a sua força provém do mundo dos espíritos. Assim, Idries Shah faz esta observação:" Os gurus não possuem uma força espiritual poderosa. Eles recebem-na dos espíritos. O guru tem somente a faculdade da concentração" (Oriental Magic, NY. EP. Dutton, 1973). Em seu livro, "The adventures into the Psychic" o pesquisador durante muitos anos de fenômenos parapsicológicos, Jess Shearn, traz este comentário: "Quase todos os grandes médiuns sentiram que foram instrumentos de uma força do além que fluía através deles. Eles não atribuíam a si nenhuma força (NY. Signet,1982).

Por mais que os ocultistas gostem de se vangloriar de vez em quando das suas aptidões extraordinárias, eles são obrigados a admitir que na realidade são os espíritos do mundo do além que agem através deles. Assim, apoiando-se no testemunho do pesquisador e parapsicólogo Lawrence LeShah, que estudou as atividades de vários curandeiros-extrasensos, orientais e ocidentais, Charles Pannati escreve que "se existe algo em comum entre os curandeiros que foram objeto de suas pesquisas, é o fato de que eles não curavam por sua própria força. Pelo contrário, - cada um entendia que efetivamente o "espírito" agia por trás dele. Eles consideravam-se como instrumentos passivos do espírito. Para poder curar, todos os curandeiros teriam que cair no transe" ("Suprasenses," - Garden City, NY. Anchor-Doubleday, 1976).

Na coletânea "Healers and the Healing Process" podem ser encontrados os estudos mais completos sobre os tratamentos de saúde por extrasensos. Nestas pesquisas que duraram dez anos e contaram com a colaboração de muitos especialistas no assunto, podemos ler: "Qualquer pesquisa sobre os tratamentos de saúde anômalos, leva à noção de espíritos inteligentes (denominados "dirigentes," ou "controladores," ou "protetores"), que influenciam a mente do curandeiro e lhe fornecem informações das quais eles antes não tinha uma noção nítida (Wheaton, Il., Theosophical Quest, 1977). Este estudo também levou à conclusão de que as curas por meio de procedimentos anômalos têm uma propagação maior nos países onde o espiritismo e a crença nos espíritos são mais populares. Dados mais detalhados podem ser encontrados nos livrinhos "The Facts on The Occult" e "The Facts on Spirits Guides," publicados por John Ankerberg e John Weldon (Harvest House Publishers, Eugene, Oregon, 1991). Assim, fica estabelecido o fato que, independentemente da terminologia usada, os ocultistas relacionam-se com espíritos reais, que lhes fornecem dados e os suprem de energia imaterial.

c) Os frutos das práticas ocultas:

Nós já apresentamos dados que indicam que estes espíritos, não são nem anjos nem as almas dos falecidos, mas, muito provavelmente - demônios. Para certificar-se disso com segurança, vamos ver a que conseqüências leva o relacionamento com eles. Este é um método infalível para a avaliação dos fenômenos espirituais, que foi indicado pelo Próprio Salvador ao dizer: "Pelos seus frutos os conhecereis... Não pode uma árvore boa dar maus frutos, nem uma árvore má dar bons frutos" (Mat. 7:16). É justamente aí, que numerosos fatos da vida de pessoas que se dedicaram à prática do ocultismo, nos convencem de que: a) os espíritos empurram as pessoas que lidam com eles aos mais diversos pecados e crimes; b) que eles solapam a saúde e destroem suas vidas. De fato, as pessoas que se dedicam ao ocultismo, depois de algum tempo começam a apresentar esquisitices psíquicas, entram em depressão, tornam-se alcoólatras ou abusam do consumo de narcóticos.

M. Lamar Keene passou treze anos no meio de médiuns profissionais. Na sua confissão ao público ele escreveu: "Todos os médiuns que eu conheci pessoalmente ou através de outros, terminaram as suas vidas tragicamente. As irmãs Fox, que encabeçam esta lista, terminaram como beberrãs inveteradas. William Slade, que tornou-se famoso adivinhando pensamentos, enlouqueceu e morreu em um hospital para doentes mentais em Michigan. A médium Margery morreu fortemente viciada em álcool... Por todos os lados, aparece o mesmo quadro, - sua existência miserável os médiuns encerram com a morte ainda mais miserável. Fiquei realmente deprimido com toda esta história de mediunidade: o embuste, a depravação ordinária, a bebedeira ininterrupta, a narcomania..." (The Phychic Mafia).

Além disto, os espíritos inflingem vários sofrimentos a quem estão auxiliando, revelando sua natureza má, sádica. Mas eles fazem isto habilmente para não assustar a sua vítima antes do tempo. Eles planejam a sua ação e aumentam gradativamente a dose dos sofrimentos. A pessoa que se dedica ao ocultismo, começa a padecer de nervosismo aumentado, mal estar físico, acontecem a ela acidentes inexplicáveis e ocorrem vários aborrecimentos. Às vezes ela entra em pânico, chega a pensar em suicídio. Quando ela começa a perceber, que provavelmente todas estas desgraças são trazidas pelos espíritos e tenta libertar-se, - os espíritos triplicam sua crueldade a afogam-na num verdadeiro mar de desgraças ainda maiores, para assustá-la e forçá-la a voltar para eles. Desta maneira, ora soltando, ora puxando as rédeas, os espíritos aos poucos escravizam o ocultista e no final levam-no a perecer.

Estas observações são confirmadas pelo Dr. Nandor Fodor, autor da respeitada "Encyclopedia of Psychic Science": "As tentativas de suprimir suas habilidades mediúnicas levam a diversas doenças, mas quando a pessoa volta para as práticas ocultas os sintomas desaparecem" (Secaucus, NJ. Citadel, 1974). Millard descreve que ele "não passava de um fantoche insignificante das forças do mundo do além" (Edgar Choice: "Mystery Man of Miracles," Greenwich, CT. Faucett, 1967). Raphael Gasson, ex médium, escreveu baseando-se em sua própria experiência: "Muitos sofreram seriamente, quando depois de começar a pesquisar o mediunismo tentaram livrar-se dele. Passaram a sentir uma grande angústia. Famílias desfizeram-se, tentativas de suicídio e doenças psíquicas tomaram conta daqueles que chegaram a conhecer esta prática e mais tarde quiseram livrar-se da sua força. "Aquele que conseguiu se salvar deve agradecer a Deus pela Sua Graça" ("The Challenging Counterfeit," NJ. Logos, 1966).

O espírita e guru Sri Chinmoy, conselheiro junto à Organização das Nações Unidas, fez esta observação: "Muitos, muitos feiticeiros mesmo, e pessoas que tiveram relacionamento com os espíritos, ou foram estrangulados ou assassinados de outra maneira. Sei disto porque deparei pessoalmente com alguns casos semelhantes" ("Astrology, the Supernatural and the Beyond," Jamaica, NY. Angi Press, 1973). O professor Kurt Koch, que dedicou quarenta e cinco anos aos estudos dos fenômenos anormais, testemunha que "em meio às pessoas que se dedicam ao ocultismo, existe uma enorme porcentagem de suicídios, acidentes trágicos e de loucura." Tanto ele quanto muitos outros especialistas na área da parapsicologia, afirmam que a ocupação com o ocultismo durante muitos anos, destroi inevitavelmente a saúde física do homem, como se um vampiro que nele habita sugasse as forças do ocultista.

As pessoas caem nas redes do ocultismo porque no início não enxergam o perigo, pelo contrário, - tudo aparenta ser notável e agradável. Malachin Martin no livro "Hostage to the Devil" descreve o destino de um tal "Karl," um físico diplomado e psicólogo com um vivo interesse para a religião e parapsicologia. Karl deixava os conhecidos impressionados pelas suas habilidades psíquicas fora do comum. Seguindo a sua "vocação" ele estudava seriamente os ensinamentos sobre a encarnação e as viagens astrais. Na medida em que ele se apoderava do conhecimento destas ciências ocultas, novos horizontes descortinaram-se à sua frente. Karl era inteligente e cauteloso. Ele estava convicto de que suas pesquisas iriam trazer benefícios para a ciência e a humanidade. Tornando-se catedrático em uma universidade dos EUA, ele levou adiante seus experimentos na área da parapsicologia e fenômenos místicos. Aos poucos, porém, ele começou a perceber algumas mudanças negativas em seu comportamento e estado de espírito. Ele sente desconfiança e até mesmo medo em relação aos espíritos com os quais lida. Enfim, fica convencido de que precisa mudar radicalmente o método de suas pesquisas e abrir mão de suas teses iniciais. A esta altura, fica paralisado e é internado em estado "vegetativo." Somente onze meses depois, terminado o tratamento intensivo, que foi acompanhado pelas preces de parentes e amigos, Karl recebeu alta. Ao sair do hospital, ele renegou todos os seus êxitos na parapsicologia e revelou o mistério da sua doença: "Eu solenemente e de livre vontade me entreguei ao mau espírito." Apesar dele ter se apresentado como bom, e ter prometido me ajudar, me aperfeiçoar, eu desde o início senti por intuição que ele era mau."

Apesar de dezenas de milhares de pessoas terem sofrido em conseqüência de práticas ocultas e existirem tantos dados sobre os perigos do ocultismo, muitos continuam a acreditar em mitos que descrevem o ocultismo ou como charlatanismo inócuo, ou passatempo inocente, ou até - buscas espirituais construtivas. Mas, ele não é nem o primeiro, nem o segundo e nem o terceiro. Também, é errônea a opinião de que ao lado de uma face "perigosa" do ocultismo, existe uma outra, "segura." Há os que acreditam que com certa precaução se pode tirar proveito do ocultismo. Lamentavelmente, todos os dados mostram que em qualquer modalidade da atividade oculta há algo negativo e destrutivo, que "se prende" no homem - que ele não consegue se livrar sem a ajuda proveniente das Alturas. Este "algo," que tem sua origem no além-mundo, começa a reger o seu destino e o empurra cada vez mais para o lodo do charco do ocultismo. O que ocorre pode ser comparado pelo adoecimento pela SIDA (AIDS).

O vírus, entrando no organismo engana as células sadias apresentando-se como inócuo. A célula não ativa o seu mecanismo de defesa e o vírus faz a vez do cavalo de Tróia. Somente ao alojar-se no interior da célula, o vírus revela sua força destrutiva. É verdade, que após ser infectado, o homem vive durante alguns anos uma vida relativamente normal e, pode ser que nem desconfie que os seus dias estejam contados. Somente na última fase da doença a presença do vírus destruidor torna-se patente. Mas, a esta altura, já é tarde.

Existe mais um fato de suma importância, que raramente é mencionado nas pesquisas científicas sobre o ocultismo, que revela a verdadeira natureza dos espíritos ocultos - sua luta contra Deus. Assim, aquele que recebeu uma ajuda ou carga de bio-energia por intermédio deles, sente uma inexplicável repulsa a Deus e a tudo o que é sagrado. Um crente percebe a mudança brusca no seu estado de espírito. Na hora em que ele recebe alguma ajuda de um extrasenso ou ocultista, ele perde toda a vontade de rezar, ler a Sagrada Escritura, ir à igreja, etc. Esta repulsa é diretamente proporcional à força recebida por meio do ocultismo. A procura repetida pelo oculto, então o leva a tornar-se hostil para com Deus.

Kurt E. Koch conta o seguinte caso. Numa aldeia da Tailândia morava um camponês nativo, que era um membro ativo em sua comunidade cristã. Certa vez, ele machucou o seu braço, e neste formou-se uma ferida purulenta. Ajudada pelo clima tropical, a inflamação começou a progredir rapidamente, e parte do braço cobriu-se de uma mancha vermelho escura, quase preta. Já que o médico mais próximo era distante, o camponês tentou curar-se com remédios caseiros. Só quando a infecção quase chegou ao ombro, ele foi ao médico. Este constatou uma gangrena e lhe disse que precisaria amputar logo o braço para evitar a morte. O tailandês ficou desesperado: "Mas, o que eu vou fazer com um braço só? Quem vai plantar e colher o arroz para mim?." O desespero tomou conta dele e, aí lembrou-se de um velho hindu que tratava as pessoas com uma força misteriosa. Apesar de saber que os cristãos não deveriam recorrer a feiticeiros, nesta situação desesperadora ele mesmo assim foi até o hindu procurar por ajuda. Ocorreu, porém, que o hindu não era de longe um charlatão e suas forças mágicas operavam coisas impossíveis. A supuração parou, o braço foi salvo. Porém, logo após receber a ajuda do feiticeiro, o tailandês parou de freqüentar sua igreja e retornou ao paganismo de seus ancestrais. Pela salvação do seu braço ele pagou com a sua alma. ("Occult Bondage and Deliverance," Kregel Publications, Grand Rapids, Michigan, 1970).

Mais adiante, o prof. K. Koch conta que o feiticeiro mais forte que ele encontrou, era o xamã esquimó Alualuk. Suas forças ocultas eram tão grandes que ele até ressuscitou alguns mortos pagãos. Um deles ainda viveu depois por dez anos. Mas, este xamã foi esclarecido por algum pregador, começou a crer em Cristo e deixou-se batizar. Depois disto, ele perdeu toda sua força mágica. Quando Koch perguntou-lhe com que força ele fazia seus milagres, o ex xamã respondeu categoricamente: "Demoníaca, evidentemente"! Ele observou ainda que a sua força não se extendia aos cristãos firmes em sua fé.

No nosso tempo o perigo do ocultismo aumentou porque ele é oferecido como prática religiosa e até cristã. Era uma tradição de todas as modalidades de ocultismo não esconder sua belicosidade em relação ao cristianismo. Hoje, podemos ouvir dos extasensos e outros ocultistas conselhos como estes: "vá batizar-se," "vá à igreja," "comungue," "tome água benta," etc. Alguns extrasensos em suas seções até invocam o nome de Deus, lêem preces, fazem o sinal da Cruz, criando a impressão de que através deles atua a força de Deus. Tudo isto é um terrível embuste! Qualquer tipo de ocultismo pela sua própria natureza, é anti-religioso, qualquer que seja a roupagem que ele vista.

Todos os sinais básicos do ocultismo estão presentes nas seções "cristianizadas" de extrasensos - tentativas de manipulação das forças sobrenaturais para fins lucrativos. A religião exige submissão ao Criador, a fé, a penitência, a vontade de emendar-se moralmente, a aspiração ao celestial, o desejo desinteressado de servir ao Bem. Do outro lado, a finalidade é: absorver "energia lúcida," alcançar sucesso nas coisas da vida, conhecer segredos, etc. Tudo isso sem nenhuma obrigação perante Deus. Um homem que pratica o ocultismo, quando vai à igreja procura lá não a Deus, mas uma fonte de alimentação. Assim, no seu atrevimento, ele prostra as mãos aos objetos sagrados para "aumentar a sua carga," que será usada em suas ações sujas, com o que ultraja a magnificência do Criador.

Mas, o que os extrasensos dizem deles mesmos? Recorremos à entrevista de Yuri Tarássov que tem como título: "Sou feiticeiro da quarta geração." Quando a correspondente perguntou: Você fez feitiço a um doente de osteocondrose usando campo de bioenergia, terapia manual e psicoterapia? Tudo isso é amplamente divulgado. Alguns representantes da medicina não tradicional nós conhecemos, por exemplo: Djuna, Kaszpiróvskiy... Será que você encerra em si as três pessoas? Tarássov respondeu: "A sua pergunta já contém a resposta. Porquê eu não me chamo de extrasenso? Porque um deles sabe fazer aproximadamente um décimo daquilo que está em poder de qualquer feiticeiro médio. O mesmo se pode dizer sobre hipnotizadores, curandeiros, psicoterapeutas... É uma resposta com a máxima franqueza. De fato - é uma ponta do iceberg, cuja base desce ao inferno.

Devido à própria natureza do ocultismo ser hostil a Deus, a Sagrada Escritura proíbe rigorosamente dedicar-se a ele. Eis algumas passagens:

"Não se ache entre vós quem seja encantador, nem que consulte nigromantes, ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas" (Deut. 18:10-13).

"Se se levantar no meio de ti um profeta ou alguém que diga que teve um sonho, e predisser algum sinal ou prodígio, e suceder o que ele anunciou, e te disser: Vamos, e sigamos os deuses estranhos, que não conheces e sirvamo-los, não ouvirás a palavra de tal profeta ou sonhador, porque o Senhor, vosso Deus, vós põe à prova, para se tornar manifesto se O amais ou não de todo coração e de toda a vossa alma... E aquele profeta, ou inventor de sonhos será posto à morte, porque vós falou para vós afastar do Senhor vosso Deus..." (Deut. 13:1-5).

Assim, enquanto a vida religiosa sadia clareia e enobrece moralmente o homem, a atividade malsã, pseudo-religiosa do ocultismo o deforma moralmente e leva à perdição. Todos os tipos de ocultismo levam ao relacionamento com os espíritos caídos. Nisto, apesar destas práticas no início trazerem sucesso nos negócios e criarem a impressão de que estão abrindo para o homem possibilidades ilimitadas, - no final das contas, ele terá que pagar muito caro pelos préstimos deles recebidos. "Pois, que o que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier perdera sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma?" (Mat. 16:26).

 

Como se proteger

dos maus espíritos

Para o homem é difícil imaginar o quão ferozes e astuciosos são os espíritos caídos, como são persistentes e ardilosos em sua arte da sedução dos humanos e na propagação de toda a espécie de mal. Porém, com tudo isto, eles não se atrevem a causar mal a alguém deliberadamente, enquanto este se acha sob a proteção do Altíssimo. Somente quando o homem em conseqüência de sua vida afasta-se de Deus e afunda na escuridão da descrença e das paixões, sujeita-se à influência dos espíritos caídos, que o escravizam. Os incrédulos e os pecadores representam aquele material, aquele exército do qual o diabo se aproveita para a propagação das tentações, do próprio mal na sociedade humana e para a implantação do seu reino de trevas. Este reino, a exemplo do mar furioso, nos cerca de todos os lados e ameaça a nossa salvação.

Como antítese o Senhor Jesus Cristo criou na terra o Seu Reino da Luz, - a Igreja, na qual o fiel tem a sua ilha de serenidade, um refúgio confiável e a proteção contra os maus espíritos. Realmente, já o próprio ingresso na Igreja é acompanhado por preces especiais de exorcismo que o sacerdote reza pelo catecúmeno (pessoa que se prepara para o batismo):

"Ó, Sempiterno, Amo e Senhor! Aceita este Teu servo no Teu Reino Celeste, livrando-o da escravidão ao inimigo. Liga a sua vida ao Anjo luzente que o livrará de todas as artimanhas do inimigo, do encontro com o malvado, do demônio do meio dia, assim como dos devaneios. Expulsa dele todo espírito malvado e imundo que se esconde e abriga no seu coração - o espírito da ilusão, da malvadeza, da idolatria, de toda paixão, do espírito da mentira e de qualquer impureza - que age por influência do diabo. Torna Teu servo uma ovelha do Teu santo rebanho, um membro virtuoso da Tua Igreja, um receptáculo consagrado, um filho da Luz e herdeiro do Teu Reino..."

Depois, através da tríplice imersão na água o batizado purifica-se da mácula do pecado, que permitia ao diabo a aproximação e veste-se com a graça de Deus, a qual à guisa de um paramento luzido envolve-o totalmente (1 Pet. 2:9; Col. 1:12-13). A partir deste momento, o novo membro da Igreja, segundo a comparação expressiva feita pelo Salvador, - entra no aprisco, onde Ele, O Bom Pastor, protege-o com zelo dos lobos ferozes; o diabo e os outros maus espíritos.O Salvador disse: "E dou-lhes a vida eterna: e elas jamais hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão." (João, 10:1-16, 28). Portanto, tudo o que um batizado precisa para permanecer sob a proteção do Senhor, é evitar os pecados e conservar a graça do Espírito Santo que recebeu.

Mas o diabo após ter perdido o acesso a um novo membro da Igreja, começa a procurar novos meios para influenciá-lo. Naturalmente, o cristão recebe de Deus todos os meios necessários para repelir as tentações, mas se ele amolecer e começar a levar uma vida com tendência para o lado carnal e pecar, o diabo chega novamente a ele, e trata de escravizá-lo ainda com uma crueldade maior. Sobre isto, o Senhor Jesus Cristo disse: "Quando o espírito imundo sai de um homem, anda por lugares desertos, buscando repouso, e não o encontra diz: Voltarei para minha casa, donde sai. E, quando vem, a encontra desocupada, varrida e adornada. Então vai, toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro" (Mat. 12:43-45). Avisando sobre este perigo, a Sagrada Escritura exorta-nos a sermos vigilantes: "Aquele, pois, que crê estar de pé, veja não caia" (1 Cor. 10:12). O Apóstolo Paulo ensina que o cristão deve considerar-se um guerreiro de Cristo encontrando-se no centro do campo de batalha. "De resto, irmãos, fortalecei-vos no, Senhor e no poder de sua virtude. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares. Portanto, tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e ficar de pé depois de ter vencido tudo" (Efes. 6:10-13).

O Senhor Jesus Cristo nos armou com muitos meios que atraem a nós a graça de Deus e rebatem os maus espíritos. Em primeiro lugar temos a prece e a invocação do nome de Cristo. Nós fomos ensinados a pedir diariamente ao Pai Celeste: "Não nos deixe cair em tentação, mas livrai nos do malvado" (diabo). Muitas preces, como as da manhã, e as da noite, incluem pedidos de proteção contra as artimanhas do diabo (ver o livro de preces). No fim deste capítulo, o leitor encontrará algumas orações especiais contra os maus espíritos. Do poder de seu nome o Senhor disse: "Expulsarão os demônios em Meu nome" (Marc. 16:17). A Sagrada Escritura e as histórias da vida dos santos trazem inúmeros exemplos da eficácia do nome de Cristo no afastamento dos demônios.

A experiência de muitos séculos da Igreja confirma que os demônios não podem resistir à imagem da Santa Cruz e ao sinal da Cruz, - para eles é o mesmo que o fogo para os insetos. O beato Nikíta Skifát falou sobre isto: "Os demônios freqüentemente perturbam o sossego da alma e afastam o sono, mas, a alma corajosa somente com um vivificante sinal da Cruz e com a invocação do nome de Jesus Cristo pela ajuda de Deus destroi seus fantasmas e os põe em fuga" ("Filocalia," v. 2, pg. 118). São João Crisóstomo explica de modo semelhante: "Não se deve persignar-se só com os dedos, mas com toda a disposição do coração e a plena fé. Se desenhares a Cruz na sua face assim, - nenhum espírito imundo se atreverá a aproximar-se de ti, pois encarará aquele gladio que o feriu e inflingiu o ferimento mortal. Se nós estremecemos ao olhar o local da execução dos criminosos, imaginem como ficam apavorados os demônios, vendo a arma com que Cristo destruiu toda sua força e decapitou a serpente. Quando a Cruz está conosco, os demônios já não são nem assustadores, nem perigosos" ("Palestras sobre o Evangelho," parte 2; 5, pags. 432-433). Tornou-se praxe desde os tempos antigos os cristãos levarem uma cruz no peito.

É importante benzer a sua moradia. Pode ser que a casa em que viemos morar tornou-se impura pela vida dos antigos inquilinos, se ela foi marcada por pecados, palavrões, musicas loucas, filmes ruins, ou ainda, se as pessoas eram dadas ao ocultismo. Freqüentemente, os maus espíritos se alojam nas habitações onde ocorreram assassinatos ou suicídios. Para purificar a moradia deve-se aspergi-la com água benta, ou - ainda melhor, - convidar um sacerdote para benzê-la.

De resto, é preciso ter em mente, que o pecado serve de atração para os demônios. Se, depois de pecar, não nos arrependemos de todo coração, deixamos um caminho de acesso a eles. O estado pecaminoso assemelha-se a um túnel através do qual eles penetram em nosso subconsciente e nos influenciam. Para livrar-se da sua influência é preciso purificar-se pela penitência sincera e confissão dos pecados, e depois, com toda a veneração comungar os Santos Mistérios de Cristo (Eucaristia). Com isto, o Senhor, entrando em nós, como o fogo que consome tudo, exterminará toda e qualquer impureza e cortará o caminho de acesso a nós para os espíritos das trevas. Seria bom acostumar-se a comungar regularmente, pelo menos mensalmente, para carregar dentro de si a chama da Graça Divina. Os cristãos nos primeiros séculos faziam-no todo domingo.

Todos este meios que o Senhor Jesus Cristo nos deu para a salvação e para a atração da Sua Graça devem ser vistos não como fórmulas mágicas, e sim, como condutores da benevolência de Deus, mostrada a nós para o fortalecimento da fé e da vida virtuosa.

Seguem algumas orações contra os maus espíritos:

Tropário da vivificante Cruz

Salva, Senhor a Tua gente e abençoa a Tua propriedade, dando aos cristãos ortodoxos a vitória sobre os adversários e defendendo com a Cruz os que a Ti pertencem.

Prece para a santa Cruz

Que ressuscite Deus e que se dispersem os Seus inimigos e que fujam da Sua face os que odeiam-No. Que desvaneçam, como desvanece a fumaça e como se derrete a cera, assim pereçam os demônios perante a face dos que amam a Deus e benzendo-se com o sinal da Cruz dizem alegremente: jubila-te veneradíssima e vivificante Cruz do Senhor, que enxotas os demônios pela força de Cristo, sobre Ti crucificado, Que desceu ao inferno e calcou a força diabólica e deu-nos a Sua honradíssima Cruz para afugentar todo inimigo. Ó gloriosa e vivificante Cruz do Senhor, - junto com a Santa Senhora Mãe de Deus e com todos os Santos ajuda-me em todos os tempos. Amém.

Salmo 90

O que habita à sombra do Altíssimo, na proteção do Deus do Céu descansará. Dirá ao Senhor: Tu és meu defensor e meu refúgio; o meu Deus em Quem esperarei. Porque Ele me livrou do laço dos caçadores, e da palavra áspera. Com as Suas espáduas te fará sombra e debaixo das Suas asas estarás cheio de esperança. Como um escudo te cercará a Sua verdade, não temerás sustos noturnos, nem a seta que voa de dia, nem o inimigo que anda nas trevas, nem os assaltos do demônio do meio dia. Cairão mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas não se aproximará de ti. E tu com os teus olhos contemplarás, e verás o castigo dos pecadores. Porque disseste: Tu és Senhor, a minha esperança. Puseste o Altíssimo por teu refúgio. O mal não virá sobre ti, e o flagelo não se aproximará da tua tenda. Porque mandou aos Seus anjos acerca de ti, que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão em suas mãos, para que o teu pé não tropece em alguma pedra. Sobre a áspide e o basilisco andarás e calcarás aos pés o leão e o dragão. Porque esperou em Mim, livrá-lo-ei, protegê-lo-ei, porque conheceu o Meu nome. Clamará a Mim, e Eu o ouvirei; com ele estou na tribulação, livrá-lo-ei, e glorificá-lo-ei. Enchê-lo-ei de dias, e mostrar-lhe-ei a Minha salvação.

Prece contra as

artimanhas do demônio

Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, que abateu a antiga serpente e prendeu-a no tártaro com os grilhões das trevas, proteja-me das suas artimanhas. Pelas preces da Puríssima Nossa Senhora e Sempre-Virgem Maria, do Santo Arcanjo Miguel e todos Poderes celestiais, do Profeta São João Batista, do Santo Evangelista João, o Teólogo, do mártir Bispo São Cipriano, mártir Iustina, de São Nicolau milagroso, de São Nikíta de Novgorod, de São João, milagroso Arcebispo de Xangai e de São Francisco, e de todos os santos, pela força da vivificante Cruz e pela intercessão do Anjo da Guarda, livrai-me dos espíritos do mal, das pessoas malvadas, da magia, da maldição, do malefício e de qualquer investida do inimigo. Com Tua força onipotente mantenha-me livre do mal para que, iluminado por Sua luz alcance o sereno ancoradouro do Reino Celeste e lá eternamente agradecer-te-ei, meu Salvador, junto com Teu eterno Pai e Santíssimo Espírito Vivificante. Amém.

 

O reino de Sataás

no limar do fogo da Geena

A Sagrada Escritura prevê que antes do fim do mundo a atividade dos espíritos caídos aumentará consideravelmente. Nestes tempos, muitos vão perder a sua fé, dedicar-se ao ocultismo e servir abertamente aos demônios. Com pena das pessoas que estarão perecendo, o Senhor tentará admoestar os pecadores através de diversos flagelos, mas a maioria irá se comportar como se fosse cega e surda, - os que "não fizeram penitência dos seus homicídios, nem dos seus malefícios, nem da sua fornicação, nem dos seus furtos" (Apoc. 9:21).

Virá o tempo, quando satanás que até então era detido pela força do Cristo Ressuscitado, ganhará por um curto período, uma certa liberdade para tentar os homens que afastaram-se de Deus. O Livro da Revelação no seu vigésimo capitulo estima todo o período a partir da Ressurreição de Cristo até a o fim do mundo pelo número simbólico de mil anos. O Apóstolo João viu na sua aparição profética: "Vi descer do céu um anjo que tinha na sua mão a chave do abismo e uma grande corrente. Prendeu o dragão, a serpente antiga, que é o demônio e satanás, e amarrou-o por mil anos; meteu o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não seduza mais as nações até o que completarem os mil anos. Depois disto, deve ser solto por um pouco de tempo... e sairá e seduzirá as nações..." (Apoc. 20:1-8).

Segundo a opinião dos Santos Padres, a prisão refere-se ao momento da Ressurreição de Cristo, quando satanás perdeu seu antigo poder sobre os pecadores, resgatados pelo Sangue de Cristo e, deste modo, tornou-se limitado, "acorrentado" na sua atividade no mundo. "Mil anos" inclui todo o período desde a Ressurreição de Cristo até os tempos do fim do mundo, quando satanás, aproveitando o afastamento dos homens da sua fé, ganhará novamente o poder sobre eles. Mas, só durante um tempo curto. Nestes dias, conforme a visão do livro da Revelação, seus espíritos, qual gafanhotos infernais vão encher a atmosfera, a qual os homens respiram, - o que quer dizer - eles se infiltrarão em todas as esferas da vida da sociedade humana. "Subiu uma fumaça do poço, como fumaça de uma grande fornalha, e escureceu-se o sol e o ar com a fumaça do poço. Da fumaça do poço saíram gafanhotos para a terra, e foi lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra... tinham sobre si como rei o anjo do abismo, chamado em hebraico Abadon e em grego Apollion (Exterminador)... Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo" (Apoc. 9: 2-11, 12: 12).

Na pressa de levar à perdição o maior número possível de seres humanos, o diabo delegará todo seu poder ao Anticristo (regente do mundo e inimigo do cristianismo). "A vinda dele é por obra de satanás, com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos" (2 Tes. 2:9). O seu principal ajudante, o Pseudo Profeta, por meio de vários milagres falsos vai encantar os homens "e operar grandes prodígios, de sorte que até fez fogo do céu sobre a terra à vista dos homens." (Apoc. 13:13). Evidentemente que não serão milagres verdadeiros, mas diversos truques aperfeiçoados, executados com ajuda de espíritos imundos (Apoc. 16:14).

Estes tempos serão marcados pelas perseguições excepcionalmente ferozes aos fiéis. Devido à falta de fé e à depravação da humanidade, ao Anticristo será facilitado "fazer guerra aos santos e vencê-los" (Apoc. 13:7). Porém, este sucesso será apenas superficial e aparente. A própria Igreja permanecerá inabalável segundo a promessa do Senhor: "edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela" (Mat. 16:18). No tempo do Anticristo ela apenas retirar-se-á às catacumbas.

Mas o próprio sucesso do diabo nestes tempos será o prenúncio do seu fim. Enfim, as antigas profecias serão cumpridas: "Naquele dia o Senhor armado com a sua espada dura, grande e forte, visitará leviatã, essa serpente robusta, leviatã, essa serpente tortuosa, e matará a baleia, que está no mar" (Is. 27:1). Conhecedor dos mistérios, o apóstolo São João, o Teólogo, viu numa aparição profética como a "besta foi presa e com ela o falso profeta, que fez prodígios na sua presença,... foram ambos lançados vivos no tanque de fogo a arder com enxofre... depois disso... o demônio que os seduzira, será posto no tanque de fogo e de enxofre onde também a besta e o falso profeta serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos" (Apoc. 19:21; 20:10).

Assim, será a destruição do soberbo Lúcifer, que porá fim aos espíritos renegados junto com ele e de todo o seu reino sombrio! Com o lançamento deles à Geena terminarão todas as tentações, a violência, as mentiras e toda a espécie de mal no mundo, advindo a felicidade eterna dos salvos. Este tempo de júbilo está se aproximando, porém nós precisamos ser especialmente vigilantes para guardar nossa devoção a Cristo e manter fervorosa a nossa fé afim de não sermos arrastados pela correnteza das tentações que satanás dirigirá contra a humanidade às vésperas de sua derrota definitiva. "Aquele que vencer, eu o farei sentar comigo no Meu trono, assim que Eu também venci e me sentei com Meu Pai no Seu trono" (Apoc. 3:21).

 

Conclusão

Em resumo, - o diabo e os demônios são reais e não seres imaginários, que representam para nós grande e constante perigo. Apesar de não dispor de poder sobre os que crêem em Cristo, eles se aproveitam da vulnerabilidade do homem aos pecados para escravizá-los e empurrar a vários crimes. É preciso lembrar-se sempre de que os espíritos caídos são muito ardilosos na arte da tentação dos humanos e possuem experiência enorme. Eles dedicam todo o seu tempo e esforços para nos separar do senhor e nos arruinar. O Senhor limita as suas atividades e protege-nos das suas artimanhas. Porém, Ele deixa sermos tentados para o nosso próprio bem, - para que não nos tornemos preguiçosos, mas vivamos vigilantes e num crescimento espiritual.

O Senhor Jesus Cristo nos deu meios potentes para podermos rechaçar os maus espíritos: Seu Nome, a prece, a Cruz, a água benta e, - sobretudo a Sagrada Comunhão. Usemos estes meios e vivamos para o Bem, até que alcancemos o sereno ancoradouro do Reino Celeste.

 

 

Anexo:

Prece Sacerdotal pela

moradia atormentada por maus espíritos

Senhor e Deus, nosso Salvador, Filho de Deus Vivo, levado por Querubins, que estás acima de todas as Dominações, Principados, Virtudes e Potestades! Tu és magno e temível para todos que te cercam. Tu és Aquele Que com a Tua firmeza estendeu o céu como abóbada, Que criou a terra e reges o universo com sabedoria. Tu deslocas a terra, e se ordenar ao Sol - este não se levantará, e as estrelas limitas no brilho (Jó. 9:7) Tu impões regras ao mar e o secas se quiseres. Da Tua ira rompem-se rochedos e tremem Principados e Potestades. Tu derrubaste os portões de cobre e destruíste grilhões de ferro. Tu amarraste o valente e te apoderaste das suas coisas. Com a Tua Cruz depuseste o torturador e, com a Tua Encarnação, como um anzol, fisgou a serpente, amarrando-a e prendendo nas trevas tartáreas.

Tu és, ó Senhor, a muralha forte dos que têm esperança em Ti, - obriga a retroceder, expulsa todos os manejos diabólicos, as artimanhas satânicas e todos os ardis do inimigo. Afasta desta casa todos os espíritos que oprimem e torturam, os que vagam à sua volta. Protege todos os que invocam Teu abençoado Nome e portam a imagem da Tua Cruz - terrificante para ao demônios. Pois o Senhor afugentou a legião de demônios e livrou do demônio o surdo-mudo, proibindo-o de retornar. Tu destruíste a hoste adversa dos nossos inimigos invisíveis, enquanto deste sabedoria aos que Te procuram e disseste-lhes: "Eis que vos dei poder de caminhar impunemente sobre serpentes e escorpiões, e (de vencer) toda a força do inimigo, nada vos fará dano" (Luc. 10:19). Guarda ó Senhor todos os habitantes desta casa protegendo de qualquer dano e tentação, dos pavores da noite, da seta que voa de dia, da chaga que se propaga à noite, da peste que dizima ao meio dia. Que todos os servos e servas Teus e as crianças, alegrando-se da Tua ajuda e protegidos pelas hostes celestes, exaltem-Te: "O Senhor é minha ajuda, não temerei - o que poderá me fazer o homem?" E mais: "Não me intimidarei pelo mal, pois tu estás comigo."

Tu és o Deus Que me deste firmeza. Tu és o Senhor forte, Príncipe do mundo, Pai do século futuro em que Teu Reino - é o Reino eterno. E a Ti cantamos glória com o Teu sempiterno Pai e o Sacrossanto Espírito, - agora e sempre e em séculos dos séculos. Amém.

 

Oração de São Basílio

(que o sacerdote profere sobre alguém

que padece por causa dos demônios)

Deus dos deuses e Senhor dos senhores! Criador das hostes ígneas das forças imateriais! Que fizeste tudo o que está no Céu e abaixo dele. A Quem nenhum homem pôde ver e nem pode. Aquele, perante a Quem treme toda a criação. O arcanjo que se tornou orgulhoso Tu precipitaste à terra junto com os anjos que Te renegaram, e assim por sua malvadeza tornaram-se demônios, - prendeste-os nas profundezas do inferno. Fazei esta conjuração em Teu temível Nome ser terrificante para o dono do mal e os espíritos que junto com ele foram banidos da claridade celeste. Coloca-o em fuga, ordena afastar-se daqui sem causar dano algum aos que agora estão assinalados pela Santa Cruz. Que segundo Teu mando estes servos Teus recebam o signo do poder de pisar sobre as serpentes e escorpiões e toda a força inimiga. Pois toda criatura viva magnifica e com temor canta e glorifica Teu Nome; do Pai, do Filho e do Espírito Santo, agora e sempre e em séculos dos séculos. Amém.

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Missionary Leaflet # P62

Copyright © 1999 and Published by

Holy Protection Russian Orthodox Church

2049 Argyle Ave. Los Angeles, California 90068

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

 

(evil_spirits_p.doc, 09-29-99)