A Glorificação

de Santos

pelo Protopresbítero Michael Pomazansky

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior.

 

Conteúdo:

Introdução.

Testemunho da

Igreja Primitiva.

Mártires e Ascetas.

Prática Russa.

Autoridade mais Alta Necessária.

Conclusão.

 

 

Introdução.

O QUE, EM ESSÊNCIA, é a glorificação formal de santos na Igreja? Na Igreja Santa Católica Ortodoxa, a piedosa memória de cada um de seus membros que partiu na fé, esperança e arrependimento é cuidada. Essa comemoração da maioria dos que partiram é limitada, comparativamente, ao círculo estreito da "Igreja do lar," ou, em geral, a pessoas de relação sanguínea próxima ou de amizades com os partidos. Ela é expressa por orações pelos partidos, orações pela remissão dos pecados, para que "sua alma seja contada entre os justos," para que "seu repouso seja entre os santos." Essa é uma malha espiritual e piedosa que liga aqueles na terra aos que partiram; ela é uma expressão do amor que é benéfica tanto para os partidos quanto para aqueles que oram por eles. Se, depois da morte, ele não é privado da visão da glória de Deus por conta dos seus pecados, ele responde com sua própria oração para aqueles próximos a ele na terra.

Pessoas que são grandes em seu espírito Cristão, gloriosas em seu serviço à Igreja, faróis iluminando o mundo, deixam atrás de si uma memória que não é confinada a um estreito círculo de pessoas, mas que é conhecida por toda a Igreja, local ou universal. A confiança em que elas tenham atingido a glória do Senhor e no poder das orações delas, mesmo depois da morte, torna-se tão forte e inquestionável que o pensamento dos irmãos delas na terra não é mais dirigido nas orações para a remissão dos pecados delas (já que elas são santas diante do Senhor sem isso), mas para a louvação de suas lutas, na aceitação de suas vidas como modelos para as nossas, e pedindo suas orações por nós.

Em testemunho em profunda certeza da Igreja que o homem justo que repousa está com o Senhor, no coro dos santos na Igreja do céu, ela compõe um ato de "numerá-lo entre os santos," ou de "glorificação." Com isso a Igreja dá a sua benção para a mudança de orações pelo que repousa por orações pedindo para nós a piedosa assistência dele diante do trono de Deus. A voz unânime da Igreja expressada pelos lábios de seus hierarcas, a voz conciliatória, confirma a convicção de seus membros comuns sobre a santidade do homem justo. Esse é, em essência, o ato de glorificação em si. Nada na Igreja deve ser arbitrário, mas "apropriado e ordenado." A preocupação da Igreja com relação a isso é expressa pelo oferecimento de uma oração de súplica uniforme para o justo.

Em tempos de comemoração da partida de um justo alguns não vão além dos imites de uma província particular. Outros santos de Deus tornam-se famosos e renomados por toda a Igreja ainda durante sua atividade terrestre; eles são a glória da Igreja e mostram serem os pilares dela. Uma resolução eclesiástica de sua glorificação confirma essa comemoração para sempre no domínio apropriado, isto é, na Igreja local que fez a resolução, ou em toda Igreja universal.

A assembléia dos santos na Igreja celeste de todos os tempos é grande e além de enumeração. Os nomes de certos santos são conhecidos na terra; outros permanecem desconhecidos. Os santos são como estrelas — quanto mais perto estão de nós mais claramente são vistos; no entanto, incontáveis pontos de luz existem no espaço que estão fora do alcance da vista humana. Assim, nas comemorações da Igreja, santos são glorificados em grandes grupos e em assembléias inteiras, assim como individualmente. Tais são as comemorações de mártires que foram mortos às centenas ou milhares, os Padres dos Concílios Ecumênicos, e finalmente a celebração geral de "todos os santos" tanto anual (primeiro Domingo após Pentecostes; o segundo Domingo após Pentecostes para todos os santos da Rússia), quanto semanal (todos os sábados).

Como ocorreu e ocorre a glorificação dos grandes e gloriosos hierarcas, ascetas e outros reconhecidos com santos da Igreja? Na base de que princípios, com que critérios, e com que rito — nos casos gerais e individuais? Pesquisa feita pelo Professor Golubinsky, "A Historia da Canonização de Santos na Igreja Russa" (2ͺ Edição, Moscou, University Press, 1903), é dedicada a essa questão. Na exposição que se segue nós iremos, na maior parte, fazer uso do tratado do Professor Golubinsky.

Enquanto usando o termo canonização de santos, o Professor Golubinsky admite nas primeiras linhas de seu livro, que apesar desse termo ser derivado etimologicamente da palavra grega cânon, ele forma uma parte da terminologia da Igreja Latina e não é empregue pelos Ortodoxos gregos. Essa é uma indicação de que nós não precisamos usá-lo; e de fato, em seu próprio tempo o Professor Golubinsky foi recriminado por usá-lo com muita freqüência, especialmente porque o espírito e caráter da glorificação Ortodoxa é algo diferente da canonização da confissão romana. A canonização da igreja de Roma em sua forma contemporânea consiste em uma solene proclamação pelo Papa: "Nós resolvemos e determinamos que o Abençoado N. é santo, e nós entramos com ele no catálogo de santos, ordenando que toda a igreja honre sua memória com reverência..." A maneira Ortodoxa de "numerá-lo no coro dos santos" não tem fórmula especial, mas seu sentido pode ser expresso assim: " Nós confessamos que N. esta no (numerado com...) o coro dos Santos de Deus."

 

Testemunho da

Igreja Primitiva.

NOS PRIMEIROS SÉCULOS da Igreja de Cristo, três tipos básicos de santos eram reconhecidos. Eram: a) Patriarcas do Velho Testamento, profetas (do qual João o Precursor era o proeminente) e os Apóstolos do Novo Testamento; b) os mártires que ganhavam coroas de glória pelo derramamento de seu sangue; c) importantes hierarcas que serviram a Igreja, assim como pessoas que eram aclamadas por suas lutas pessoais (os justos e os ascetas). Como patriarcas, profetas, apóstolos e mártires, a participação em qualquer dessas categorias carregava consigo o reconhecimento como santo.

É conhecido pela história que encontros de oração ocorriam em honra de mártires tão cedo como no primeiro quarto do segundo século (conforme São Inácio de Antioquia). Com toda probabilidade elas começaram imediatamente após a primeira perseguição de Cristãos — a de Nero. É aparente que não foi necessário nenhum decreto eclesiástico especial para a veneração deste ou daquele mártir particular. A morte do mártir em si testemunhava a recepção de coroa celeste. Mas a enumeração dos hierarcas e ascetas que haviam partido para o coro dos santos era feita individualmente, e era levada em conta naturalmente a dignidade pessoal de cada um.

É impossível dar uma resposta geral sobre que critério a Igreja empregou para o reconhecimento dos santos pertencentes a essa terceira categoria. Com respeito aos ascetas em particular, sem dúvida a base geral, fundamental de sua glorificação foi e ainda é a realização de milagres. Isso porque a evidência sobrenatural é livre de caprichos ou induções humanas. O Professor Golubinsky considera essa a única base para a glorificação de ascetas na história da canonização eclesiástica. Apesar de sua opinião, no entanto, pode-se concluir que a comemoração dos grandes Cristãos moradores no deserto do passado, os líderes e guias do monasticismo foram mantidos pela Igreja, por seus dons didáticos e seus elevados resultados espirituais alcançados, à parte da estrita dependência deles terem realizado milagres ou não para serem glorificados. Eles foram enumerados entre o coro dos santos estritamente por suas vidas ascéticas, sem nenhuma referência ao critério de terem feito milagres.

A antiga glorificação da Igreja de santos hierarcas deve ser vista de modo um pouco diferente. Os elevados serviços deles em si formaram a base para sua glorificação, assim como a morte em martírio era para os mártires. No Calendário de Cartago, que data do século sétimo, há uma inscrição: "Aqui estão marcados os dias de nascimento (isto é, data do martírio) dos mártires e os dias de repouso dos bispos cuja comemoração anual a Igreja de Cartago celebra." Assim, julgando pelos antigos calendários litúrgicos gregos, pode-se suspeitar que na Igreja Grega todos os bispos Ortodoxos que não se maculavam de modo algum, eram enumerados entre o coro dos santos locais da diocese deles, na base da crença de que como intercessores diante de Deus nesse mundo por suas vocações, eles continuariam como tais mesmo na vida depois do túmulo. Nos calendários eclesiásticos do Patriarcado de Constantinopla, todos os patriarcas que ocuparam aquela sé de 315 a.D. (S. Mitrophan) até 1025 (S. Eustatius), com exceção daqueles que foram heréticos ou por uma ou outra razão canônica foram depostos, são registrados na lista de santos. Essa compilação, no entanto, quase não levou em consideração a seqüência em que os patriarcas ocuparam a sé. Com toda probabilidade, os bispos mais renomados foram reconhecidos como santos logo após seu repouso; nos outros casos a inclusão foi feita algum tempo depois.

Os nomes de todos os bispos deram entrada em dípticos locais—a lista dos que partiram que era lida alta nos ofícios divinos, e todo ano, na data do repouso de cada um deles, era celebrada a sua comemoração com especial solenidade. Sozomen, o historiador de Igreja, afirma que em igrejas ou dioceses individuais, a celebração dos mártires locais e a comemoração dos sacerdotes anteriores (isto é, hierarcas) eram realizadas. Aqui o uso do termo "celebração" com referência a memória dos mártires, mas "comemoração" com referência aos hierarcas, dá margem a ser entendido que na Igreja primitiva esses últimos eventos (se se deve falar de um plano geral e não de casos individuais) eram de menor estatura que os primeiros. O Professor Golubinsky conjectura que, com respeito a hierarcas, depois de alguns anos de fervorosas orações por eles, a celebração anual de sua memória era transformada em um dia de orações para eles. De acordo com o testemunho de Simeão de Tessalônica, desde os primeiros tempos em Constantinopla, os hierarcas eram enterrados dentro do santuário da maior das igrejas, a dos Apóstolos, como as relíquias dos santos, por conta da Graça do divino sacerdócio.

Na Igreja Grega, até o século onze, muito poucos do coro dos hierarcas eram santos universalmente venerados pela Igreja toda. A maior parte dos hierarcas permaneceu santo só em suas próprias Igrejas individuais (isto é, dioceses) e cada diocese individual / Igreja celebrava somente seus hierarcas locais, com um número pequeno de hierarcas venerado universalmente por toda Igreja. No século onze a transformação do coro dos hierarcas de local para universal chegou, com o resultado que há um grande número de nomes. Essa foi provavelmente a razão pela qual, desse século em diante, a enumeração de hierarcas no coro de santos foi feita mais estritamente, e como critério para a enumeração de qualquer patriarca de Constantinopla entre os santos foi declarado necessário haver evidência irrefutável de milagre dele, e isso também foi requerido para a glorificação de ascetas.

Em Igrejas locais (Dioceses) o direito de reconhecer indivíduos como santos pertencia aos seus bispos e seus cleros ou de oficiais sujeitos à autoridade deles. É também muito possível que os bispos não realizassem tais atos sem o conhecimento e consentimento do Metropolita e do Sínodo de Bispos da província metropolitana. Às vezes os leigos determinavam antecipadamente a futura glorificação dos ascetas, ainda enquanto esses estavam vivos, e em testemunho de sua determinação erigiam igrejas dedicadas para tais ascetas, aparentemente na certeza que a bênção da hierarquia viria algum tempo a seguir.

Quando Simeão o Pio, ancião e orientador de São Simeão o Novo Teólogo, repousou no Senhor após quarenta e cinco anos de trabalhos ascéticos, São Simeão, sabendo da intensidade de suas lutas, da sua pureza de coração, de sua proximidade com Deus e da Graça do Espírito Santo que o envolvia, compôs para sua honra um elogio, assim como hinos e cânones, e celebrou anualmente a sua memória com grande solenidade, tendo pintado um ícone dele como santo. Outros, talvez, dentro e fora do mosteiro, seguiram o seu exemplo, pois ele tinha muitos discípulos e admiradores entre monásticos e leigos. São Sérgio II, então Patriarca de Constantinopla (reinou de 999 a 1019), ouvindo sobre isso, convocou São Simeão a aparecer diante dele, e o questionou sobre a festa e sobre o santo que estava sendo tão honrado. Mas descobrindo que Simeão o Pio tinha levado uma vida tão exaltada, ele não proibiu a veneração de sua memória, e inclusive enviou lamparinas e incenso em memória de Simeão. Dezesseis anos se passaram sem incidente. Mas depois, um certo influente metropolita aposentado que residia em Constantinopla objetou a qualquer veneração conduzida por iniciativa privada. Tal coisa parecia a ele blasfema e contrária à ordem da igreja. Alguns poucos padres paroquiais e alguns leigos concordaram com ele, e perturbações começaram sobre esse ponto, durando cerca de dois anos. Para atingir seu objetivo os oponentes de São Simeão não pararam na calunia e difamação, dirigidas contra o santo e seu ancião. São Simeão recebeu ordem de se apresentar diante do patriarca e seu sínodo para dar explicações. Sua resposta foi que, seguindo os preceitos dos apóstolos e dos santos padres, ele não podia se refrear em honrar seu ancião, mas ele não compelia outros a fazer isso, que ele estava agindo de acordo com sua consciência, e que os outros podiam fazer como lhes parecesse melhor. Satisfeitos com essa apologia, eles, no entanto, ordenaram São Simeão que daí para a frente celebrasse a memória de seu ancião da maneira mais modesta possível, sem nenhuma solenidade. A controvérsia continuou por aproximadamente seis anos, no entanto, uma vingança completa foi lançada contra o ícone de Simeão o Pio, no qual ele estava pintado na companhia de outros santos, com uma inscrição que se referia a ele como "santo," e encoberto por Cristo o Senhor em atitude de bênção. O resultado disso foi que, para a paz da mente e estabelecimento da paz, São Simeão decidiu deixar Constantinopla e se instalar num local remoto perto da antiga igreja de Santa Marina, onde mais tarde construiu um mosteiro. A respeito da questão da veneração em si, o decreto prévio permaneceu valendo, ou seja, a celebração era permitida desde que não fosse feita com solenidade. (cf. "Vida de São Simeão o Novo Teólogo, nos Discourses do Bispo Teófano, 2 volumes [Moscou: Ephimou Press, 1892] Vol. 1, pgs. 3-20).

O incidente citado acima demonstra, de um ponto-de-vista, que conhecimento de uma vida justa de um asceta em si conduz à firme convicção de sua morada na companhia dos santos depois de sua morte e à sua veneração; de outro lado, ele testemunha o fato de que, naquele tempo (11° século), os costumes e procedimentos da Igreja requeriam confirmação definida de autoridade mais elevada da igreja e decreto sinodal sancionando a veneração pública.

No futuro a Igreja Grega iria reconhecer duas classificações de novos santos glorificados: mártires e ascetas.

 

Mártires e Ascetas.

SOB O DOMÍNIO TURCO, a Igreja Grega teve um não pequeno número de mártires que foram mortos pelo seu excepcional zelo pela fé Cristã e pela denúncia pública do Islamismo. A Igreja Grega menos antiga, e a Igreja universal com ela, encarou e continua a aceitar seus mártires como a Igreja primitiva encarava seus mártires no inicio da era Cristã, reconhecendo o martírio como base suficiente para a glorificação, independente do dom de realizar milagres, apesar de milagres terem tido o seu lugar muitas vezes. Um grande número de mártires gregos não foi proclamado como santos de nenhuma maneira oficial, e com freqüência foram honrados como "zelotes," sem nenhum interrogatório deliberado ou proclamação por parte da Grande Igreja de Constantinopla, pois tais coisas teriam sido difíceis de serem conduzidas nas condições do Jugo Turco. São Nicéforo de Chios, que compôs um "Ofício Geral para Qualquer Novo Mártir," explicando a necessidade de tal ofício, afirma: "Desde que a maioria dos novos mártires não tem um ofício para ser celebrado, e porque muitas pessoas estão desejosas de tal ofício — algumas, para homenagear os seus companheiros compatriotas, outras para homenagear alguém conhecido pessoalmente; outras ainda para homenagear alguém que as ajudou em alguma necessidade, eu compus um ofício geral para qualquer novo mártir. Que aquele que quiser possa cantar tal oficio por quem ele tem veneração." O autor da "A História da Canonização dos Santos na Igreja Russa" acredita que geralmente mártires honrados sem glorificação oficial também eram comprometidos no caso acima. Se sua suposição é ou não acurada é difícil de determinar.

Como anteriormente, na Igreja Oriental o critério que tinha que ser atendido para a glorificação de ascetas fossem hierarcas ou monásticos, era o dom de realizar milagres. O Patriarca Nectário de Jerusalém (reinou de 1661-1669), dá um lúcido testemunho sobre isso. Ele escreve: "Três coisas testemunham para a verdadeira santidade em pessoas: 1) Ortodoxia irrepreensível, 2) perfeição em todas as virtudes, que são coroadas por permanecer firme na fé, até mesmo com derramamento de sangue, e finalmente 3) a manifestação por Deus de sinais e milagres sobrenaturais." Em acréscimo a isso, o Patriarca Nectário indica que naquele tempo, quando abusos em relatar milagres e virtudes eram ocorrências comuns, com freqüência ainda outros sinais eram requeridos, tais como incorrupção dos corpos ou uma fragrância emanando dos ossos.

Da compilação de documentos do Patriarca de Constantinopla relativos a glorificação de santos, que estão anexados à segunda edição de Uma História da Canonização dos Santos na Igreja Russa, pode-se formar uma idéia de como a glorificação era realizada.

Chegou até nós um documento do século quatorze do Patriarca João XIV (reinou de 1333-1347) dirigido a Theognostus, Metropolita de Kiev e Toda a Rússia (reinou de 1328-1353 residindo em Moscou), datado de julho de 1339, a respeito da enumeração de seu predecessor São Pedro, Metropolita de Moscou reinou de 1308-(1326), entre os santos: "Nos recebemos a carta de Tua Santidade, junto com a notificação e atestado a respeito do hierarca da santa Igreja que foi antes de ti, que depois da morte ele foi glorificado por Deus e mostrou ser um dos Seus verdadeiros favoritos, e que grandes milagres são feitos por ele e todas as doenças são curadas. E nós rejubilamos a respeito disso e ficamos inexcedivelmente alegres em espírito, e prestamos a Deus adequada glorificação. E como Tua Santidade procurou nossa orientação em como agir com tais santas relíquias, nós respondemos: Tua Santidade deve conhecer nem é ignorante do modo do ritual e costume que a Igreja mantém em tais casos. Tendo recebido um." firme e incontestável atestado a respeito desse Santo, que Tua Santidade aja no presente evento de acordo com o rito da Igreja. Honra e bendiz esse favorito de Deus com hinos e doxologias sagradas, e lega isso para os séculos futuros, para o louvor e glória de Deus, Que glorifica aqueles que O glorificam."

No elogio do Patriarca Filotheus de Constantinopla (reinou 1354-1355, 1364-1376) para São Gregório Palamas, Arcebispo de Tessalônica, a respeito da enumeração do Arcebispo entre os santos, depois do relato de dez milagres acontecidos na tumba do santo, nós lemos: "Desse fato, (isto é, que muitos milagres aconteceram na tumba do Arcebispo), as pessoas mui amantes de Deus e proeminentes aqui presentes (os cidadãos de Tessalônica), especialmente daqueles que são padres, tendo se aconselhado entre si, fizeram um sagrado ícone de Gregório e estão celebrando para todos um radioso festival no dia do seu repouso, e estão se apressando em levantar uma igreja para ele, pois ele é um glorioso discípulo de Cristo. Eles não estão esperando aa assembléias dos grandes homens nem qualquer concílio geral para proclamá-lo (santo), pois essa coisas às vezes são um embaraço, um fardo, um obstáculo, um cuidado, e elas são todas muito humanas, mas eles estão contentes, o que é louvável, com uma proclamação do alto, com a luminosa e irrefutável contemplação de suas obras, e estão com fé." Do discurso do Patriarca Filotheus fica claro que: 1) São Gregório Palamas foi enumerado entre os santos pelos milagres realizados em sua tumba, e, 2) sua glorificação foi realizada pelo Metropolita de Tessalônica.

Documentos de origem bem mais tardia falam claramente de inquéritos especiais de sínodos relativos a glorificação. Assim, num decreto do Patriarca Cirilo I (reinou 1621-23, 1624-32, 1632-33, 1633-34, 1637-38) a respeito da glorificação de São Gerásimo de Cefalonia, seguinte a uma explicação dogmática do ensinamento Ortodoxo, nós encontramos: "E nós, de um lado, prontos perante Deus a prestar homenagens adequadas a homens divinos em recompensa, de outro lado, cuidando do bem comum dos fiéis, de acordo com os divinos Padres que foram antes de nós, e seguindo a prática universal da Igreja, sinodicamente nós resolvemos apontar e comandar no Espírito Santo, também com a provação dos abençoados Patriarcas de Antioquia e Jerusalém que vive em Constantinopla, dos sagradíssimos metropolitas, dos nossos amados irmãos, os arcebispos e bispos, honorabilíssimos no Espírito Santo, do digníssimo e esclarecido clero, que o acima citado São Gerásimo seja venerado anualmente com ofícios sagrados e salmodia, e seja contado no número dos veneráveis e santos homens, daqui em diante e para sempre, não só na ilha de Cefalonia, mas em toda Igreja dos pios, de um extremo até o outro da terra. Mas aquele que não aceitar essa decisão sinodal, ou que ousar contradizê-la, depois da primeira e segunda admoestação seja cortado da comunidade dos pios, e que ele seja igual a um pagão e publicano, de acordo com a palavra do Evangelho." Seguem-se as assinaturas dos três Patriarcas e de outros sete hierarcas. Na cópia que tem o selo, o pedido que foi encaminhado ao Patriarca pelos habitantes da ilha de Cefalonia está colocado antes do decreto. Nesse pedido, eles solicitam através da mediação de um certo bispo, que um decreto seja emitido pelo Patriarca, autorizando a veneração de Gerásimo, e que lê seja incluído na lista dos veneráveis e santos homens.

Outro decreto do mesmo Patriarca, datado de 1633, a respeito da enumeração de São João de Creta e dos seus noventa e oito companheiros ascetas no coro dos santos, contém uma explicação dogmática seguida pelas seguintes afirmações: "Desde que bem antes do nosso tempo, na divinamente construída cidade de Creta, o venerável João, o morador do deserto e seus companheiros ascetas, noventa e oito em número se mostraram... cujas vidas o Senhor glorificou com milagres... tendo reunido no Espírito Santo todos os hierarcas encontrados em Constantinopla, e tendo chamado o Prometido para estar conosco todos nossos dias, nós ordenamos que esses santos sejam glorificados com festivais anuais e com sagrados hinos, e que sejam numerados no repouso dos santos, tanto na ilha de Creta quanto em todas as igrejas do mundo. Estranha e insuperável tolice seria se Deus tendo maravilhosamente glorificado a eles como santos, nós não nos deliciássemos em honrá-los, ou nos privássemos dos benefícios daí decorrentes, especialmente porque estamos necessitados de tais intercessores." Esse decreto termina com a assinatura de vinte e um hierarcas.

O ato de enumerar no coro dos santos é, na sua maior parte, combinado com a abertura das relíquias do justo que está sendo glorificado. Nesses casos devem ser distinguidos três atos específicos. O exame das relíquias pode ser considerado como um dos atos que precedem o ato de glorificação, em paralelo com a verificação dos relatos dos seus milagres. A seguir segue-se a decisão sinodal a respeito da glorificação. Em nossos dias a solene remoção das relíquias é um dos primeiros atos sagrados na realização do ato de glorificação que irá acontecer. Com a remoção das relíquias e sua colocação num relicário posto num local especialmente preparado dentro da igreja, a piedosa comemoração do novo glorificado favorito de Deus tem início. Porém, a presença de relíquias e a sua abertura não são absolutamente essenciais para uma glorificação. As relíquias de muitos santos não foram preservadas. A respeito das relíquias de um número considerável de santos antigos, algumas delas são constituídas por corpos inteiros — ossos com carne, outras — ossos sem carne.

 

Prática Russa.

A REMOÇÃO DE CORPOS do solo começou em tempos remotos da Igreja. Como é sabido por documentos do segundo século. Como é conhecido por documentos do segundo século, Cristãos se reuniam anualmente nos túmulos dos mártires nos dias de seus repousos para celebrar esses dias com solenidade. São Basílio o Grande e São Gregório o Teólogo mencionam a exumação das relíquias dos santos. Na Vida e Obras de Santo Antão(Antonio) (existe em português), Santo Atanásio relata a extraordinária reverência que os Cristãos do Egito tinham pelos restos dos mártires. É bem conhecido que o Imperador Constancio (reinou de 336 a 361), filho de Constantino o Grande, guardou em relicários os remanescentes dos Apóstolos André, Lucas e Timóteo, na Igreja dos Santos Apóstolos nos anos 356 e 357.

Em matéria de glorificação de santos, a Igreja Russa seguiu a crença e prática das Igrejas do Oriente. As regras gerais disso foram e permanecem as seguintes: a base para a enumeração dos favoritos de Deus partidos no coro dos santos era o dom de realizar milagres, seja durante a vida terrena, o que foi a maioria dos casos, ou depois da morte. Na Igreja antiga, foi estabelecido que serviços exaltados pela Igreja ou um fim em martírio eram em si tais bases. Na Igreja Russa ocasiões similares de glorificação eclesiástica, à parte de realização de milagres eram não mais do que raras exceções.

Os santos diferem de acordo com a extensão do território de veneração: 1) santos locais num sentido mais estreito, cuja celebração começou somente no próprio local de seu sepultamento, tenha sido num mosteiro ou numa igreja paroquial (dos quais existem muitos exemplos); santos locais num sentido mais amplo, isto é, aqueles cuja veneração é limitada virtualmente pelos limites da diocese; e finalmente 3) santos universais ou gerais da Igreja, cuja celebração começou pela Igreja Russa. O direito de glorificar santos locais da primeira e segunda categoria pertence ao bispo diocesano, aparentemente com o consentimento do metropolita ou patriarca; o direito de glorificar santos gerais pertence ao chefe da Igreja Russa. A execução da glorificação consiste em receber um relato dos milagres e uma correspondente verificação dos testemunhos. A essência da glorificação está em se iniciar uma celebração anual da memória dos santos no dia do seu repouso, ou da abertura das suas relíquias, ou ambos. Para a celebração da memória de um santo é necessário um oficio para ele, assim como a leitura de uma "vida" escrita. As autoridades eclesiásticas verificam se os ofícios e leituras do Prólogo (Sinaxário) relativas ao santo foram compostos "de acordo com um padrão," isto é, se eles se ajustam a uma dada forma e se são satisfatórios do ponto-de-vista de estilo literário.

A veneração de um santo recém glorificado começa com um oficio divino especial e solene na igreja na qual os remanescentes do corpo do santo de Deus foram colocados.

Dos tempos passados até o presente a glorificação foi conduzida da mesma maneira na Igreja Russa. Por essa razão não existiram períodos em sua história que possam ter dependido de uma mudança de condição ou de método pelo qual a glorificação foi realizada. Independentes de uma glorificação oficial, e em alguns casos antes da glorificação, às vezes existiram "venerações" dos ascetas virtuosos partidos. Em muitos casos foi erigida uma capela sobre o túmulo do partido, e nela foi colocado uma laje sepulcral ou relicário (se o que partiu estivesse enterrado dentro da igreja, o relicário era posicionado sobre o local de sepultamento; normalmente esse "cenotaph" era um sarcófago vazio que não continha corpo, já que o corpo estava embaixo da terra). Panikidas eram cantadas no túmulo e, às vezes, até molebens para o partido. Essa caprichosa declaração de tal pessoa como "santa" pelo canto de molebens foi proibida pelas autoridades eclesiásticas como ilícita. Existiram casos na vida da Igreja Russa em que ofícios foram compostos para santos ainda não glorificados por uma decisão sinodal especial; esses ofícios passaram para uso privado. Assim, no século dezesseis, Photius, um monge do Mosteiro de Volokolamsk, compôs um oficio para o partido José de Volotsk e o submeteu ao Metropolita Macário de Moscou (reinou 1543- 1564). "O grande farol e professor do mundo todo, Sua Eminência o Metropolita Macário," coloca o cabeçalho do oficio, "tendo recebido esse serviço, abençoa o Ancião Photius a usá-lo em orações em sua cela até a celebração de uma decisão sinodal." Ocasiões similares de bênçãos por autoridades eclesiásticas mais altas de serviços para ascetas ainda não glorificados por decisões sinodais foram muito pouco freqüentes. Em um dos sborniki (antologias) de São Cirilo do Mosteiro do Lago Branco é encontrado um artigo "Sobre a Vanglória de Jovens Monges que Compõem Novos Cânones e Vidas de Santos" O anônimo autor do artigo se opõe a monges que "lutando por glória terrestre e atraindo a atenção daqueles com autoridade, compõem cânones para, e vidas de partidos que ainda não foram glorificados." Em sua conclusão, o autor admoesta compiladores de cânones e vidas, dizendo: "Ó vós infantis, não componhais cânones e vidas para serem cantadas por indivíduos em casa ou em celas monásticas, sem a bênção da Igreja."

Em essência não há distinção entre santos celebrados pela Igreja toda e santos locais. Santos de ambas as classes são glorificados por uma resolução de autoridade hierárquica. Os fiéis viram para ambos com suas orações de súplica por assistência. A Igreja chama ambos de "santos." Na Igreja Russa, como entre as Igrejas Ortodoxas do Oriente, santos locais, em muitos casos, passam para a categoria de santos da Igreja Universal. Uma das marcas distinguindo santos venerados universalmente de santos locais, é que os nomes dos santos reverenciados por toda parte são incluídos nos livros de ofícios divinos. É bem verdade que, até meados do século dezesseis, em geral não havia nenhum nome de santos russos nas listas oficiais, mas depois do século dezesseis eles começaram a aparecer. No Livro das Epístolas (Apostol) publicado em Moscou no final do século dezesseis, são encontrados sete santos russos: São Sergio de Radonezh, São Pedro, Metropolita de Moscou, Santo Aléxis Metropolita de Moscou, São Leôncio Bispo de Rostov, São Cirilo Bispo de Byelozersk, o Santo Grande Príncipe Vladimir, e os Santos Portadores-de-Paixão Boris e Gleb. Mas começando com a primeira impressão do Liturgicon (Sluzhebnik) em 1602, uma lista requerida de santos celebrados por toda parte foi introduzida nas listas mensais no Typicon e em listas de outros livros litúrgicos. Durante o período Sinodal, nas resoluções do Santo Sínodo a respeito de glorificações eclesiásticas gerais, a seguinte indicação é encontrada inúmeras vezes: .".. e nos livros impressos da Igreja é requerida permissão para a inserção de nomes nas listas com os em repouso."

Na Igreja russa, os primeiros a serem enumerados entre o coro dos santos foram os santos príncipes Boris e Gleb (chamados de Romam e David em seus batismos); depois seguiu São Theodosius do Lavra das Cavernas de Kiev; depois, talvez, São Nicetas Bispo de Novgorod, e a Santa Grande Princesa Olga. Ao todo, até o século dezesseis havia cerca de setenta nomes de santos russos glorificados, dos quais vinte e dois eram celebrados por toda a Igreja Russa. Os Concílios de 1547 e 1549, convocados sobre a presidência do Metropolita Macário, instituiu a celebração de muitos novos santos, e elevou a classificação de outros adicionando trinta e nove nomes aos vinte e dois que já estavam recebendo veneração geral, elevando o número desses santos para sessenta e um. Entre esses Concílios e o estabelecimento do Santo Sínodo, o número de cento e cinqüenta novas glorificações teve lugar na Rússia Moscovita, dos quais a data exata de cerca de um terço é conhecida; dos restantes, referências indiretas, tais como a construção de igrejas ou altares laterais dedicados a eles, e algumas passagens em literatura do período, nos forneceram evidência de alguns sancionamentos oficiais de veneração deles.

Os nomes dos santos do sudoeste da Rússia deveriam ser colocados numa categoria própria, encabeçados pelos santos do Lavra das Cavernas de Kiev. Circunstâncias históricas, particularmente subjugação por poderes estrangeiros (Lituânia e Polônia), resultaram em muitas glorificações a menos naquela região. Um ofício geral para os santos das Cavernas de Kiev foi sancionado pelo Metropolita Pedro Moghila (governou 1633-1647) a quem ele foi apresentado em 1643. Antes disso, mas também sob Pedro Moghila, o Patericon das Cavernas foi compilado, assim como um relato dos milagres acontecidos no Lavra e em suas cavernas durante os quarenta e quatro anos que antecederam a compilação do livro.

Da vida de São Job de Pochaev, escrita por seu discípulo e assistente no governo do Mosteiro de Pochaev, nós conhecemos como a glorificação do venerável ocorreu, cuja memória é especialmente reverenciada na Rússia da diáspora. A abertura de suas relíquias foi realizada sete anos depois do seu repouso, pelo Metropolita Dionísio (Balaban) de Kiev (reinou 1657-1663). A causa imediata disso foi uma tripla aparição do venerável Job para o Metropolita enquanto esse dormia, informando que agradaria a Deus que suas relíquias fossem abertas. Depois da terceira aparição, o Metropolita (que aparentemente conhecia São Job e o Mosteiro de Pochaev de sua época de titular como Bispo de Lutsk) "assim compreendeu que essa questão estava de acordo com a Providência de Deus e sem se atrasar, se apressou para o Mosteiro de Pochaev, levando com ele Kyr Theophanes (Krekhovetsky) arquimandrita do Mosteiro de Obruchsky, que acontecia estar com ele naquele tempo. Chegando no Mosteiro com todo seu clero, ele inquiriu seriamente sobre a honorável e pura vida de São Job em detalhe. Se assegurando que esse era um bom trabalho e agradável a Deus, ele imediatamente comandou, com o consentimento dos irmãos, que o túmulo do santo fosse aberto. Ali, em estado de incorrupção, como se fosse na hora do seu sepultamento, eles abriram as relíquias do venerável, que estava cheia de uma inconcebível fragrância doce. Na companhia de uma multidão de pessoas, eles levaram as relíquias com grande honra para a grande Igreja da Vivificante Trindade, e lá, no nartex, posicionaram o relicário, no ano do Senhor de 1659, no vigésimo nono dia de agosto. Então uma vasta multidão de pessoas afligidas com diversas dores recebeu cura, pois São Job foi, nessa vida, adornado com todas as virtudes; e assim, depois da morte, não cessou de fazer o bem para aqueles que se aproximavam dele com fé." (Cf. Ofício do Venerável Job e sua Vida, Jordanville, NY).

Após a unificação das Rússias Moscovita e de Kiev, os santos da Rússia deveriam então ser chamados de "santos de toda Rússia" — tanto os da Rússia do Norte quanto os da do Oeste. Essa foi, de fato, a prática apesar de só no ano de 1762 um decreto publicado pelo Santo Sínodo ter permitido a inserção de nomes de santos de Kiev nas listas gerais mensais de Moscou, e a publicação de seus ofícios no Menaion. Esse decreto foi repetido duas vezes depois.

No período Sinodal, os seguintes santos foram glorificados para a veneração por toda a Igreja (eles são apresentados em ordem cronológica, segundo as datas das respectivas glorificações): São Demétrio Metropolita de Rostov; Santo Inocente primeiro Bispo de Irkutsk; São Metrofanes primeiro Bispo de Voronezh; São Tikon de Zadonsk Bispo de Voronezh; São Theodosio Arcebispo de Chernigov; São Serafim de Sarov; São Josapha Bispo de Belgorod; Santo Hermógenes Patriarca de Moscou; São Pitirim Bispo de Tambov; São João Metropolita de Tobolsk; São José Bispo de Astrakhan.

Existiram também glorificações de santos locais no período Sinodal, mas também para esses não há listas acuradas ou fatos confiáveis a respeito das circunstâncias e datas de suas glorificações, como as decisões sobre glorificação local que foram feitas sem proclamação formal no registro geral dos decretos do Santo Sínodo — The Church Register e The Diocesan Registers — esses não foram de modo algum publicados.

 

Autoridade mais Alta Necessária.

NA IGREJA RUSSA, como no Oriente Ortodoxo, quanto mais ampla a área de veneração proposta, maior a autoridade necessária para confirmá-la.

Quando em 1715, o padre e paroquianos da Igreja da Ressurreição em Totma (Província de Vologda) dirigiram-se para o arcebispo de Velik Ustiug com a requisição de que em vista dos muitos milagres que tinham ocorrido no túmulo de Máximo, um padre e "louco em Cristo" da cidade, que tinha repousado em 1650, o arcebispo abençoasse a construção de uma igreja dedicada a Santa Parasceva sobre o túmulo dele, "como era costumeiro para os santos de Deus, e também construir sobre as suas relíquias um sarcófago e um santo ícone para cobri-lo." Em resposta a essa requisição o arcebispo decretou que "um monumento fosse construído naquela igreja e que molebens fossem cantados para São Máximo de maneira santa, como para os outros favoritos de Deus. Assim se pode concluir que o arcebispo abençoou a veneração local por sua própria autoridade pessoal.

Como exemplos de como execuções sinodais de assuntos pertinentes aos justos partidos aconteciam, citaremos vários extratos de atas relacionadas com a glorificação de santos "de toda Rússia."

Com relação a instituição da celebração eclesiástica geral da memória de São José de Volotsk, as seguintes afirmações são encontradas em uma das antologias de Volokolamsk: "Por ordem do crente-correto e amante-de-Cristo Soberano Autocrata, Tsar, e Grande Príncipe Feodor Ivanovich de toda Rússia, e com a bênção de seu pai, Sua Santidade Job, primeiro Patriarca de Moscou e toda Rússia, os tropários, kondákions, estiquérios e cânones, e o serviço todo para a Liturgia do nosso venerável pai e abade José de Volotsk, foram corrigidos sob o Abade Josafa em primeiro de junho de 7099 (isto é, 1591). E o Soberano Autocrata, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich de toda Rússia, e Sua Santidade Job Patriarca de Moscou e toda Rússia, e o Concílio todo, testemunharam em assembléia geral o canto dos tropários, kondákions, estiquérios, o Cânon e o ofício da Liturgia do venerável José. Por conselho do Concílio todo, o Tsar e o Patriarca ordenaram que o ofício seja cantado e celebrado em todos os lugares em 9 de setembro, o dia de repouso do nosso venerável pai, José o Taumaturgo, que é o dia da comemoração dos santos e justos antepassados do Senhor Joaquim e Ana. O Soberano, Tsar e Grande Príncipe Feodor Ivanovich ordenou que no menaion impresso e em todos os menaions no mesmo dia, os tropários, kondákions, estiquérios e Cânon e todo ofício para o venerável José seja impresso, junto com o da festa da Natividade da Santíssima Theotokos e da festa dos antepassados de Deus, assim instituindo e confirmando que essa festa seja celebrada dessa maneira, imutável, em todos os lugares, para sempre. Amém." A veneração de São José foi instituída três vezes — duas localmente, uma geralmente. Suas relíquias não foram abertas e permanecem até hoje embaixo de uma laje.

De um decreto do Patriarca Job (reinou 1586-1605) datado de 1600 e localizado no Mosteiro Komiliev na Província d Vologda, ficamos sabendo como o estabelecimento da veneração geral de São Cornélio de Komel ocorreu. O Abade José do Mosteiro de Komiliev reportou ao Patriarca que uma capela lateral havia sido construída no Mosteiro em honra de São Cornélio, que ela não havia ainda sido consagrada, e que "por muitos anos que eles requisitavam cura a São Cornélio eles tinham recebido, e os cegos, aleijados e os que estavam aflitos com diversas dores haviam sido curados." Com isso o Abade José submeteu ao Patriarca em Concílio, os estiquérios, cânones e vida de São Cornélio. O Patriarca, bispos e todos os outros presentes no Concílio questionaram o Arcebispo Jonas de Vologda sobre os milagres de São Cornélio e receberam como resposta dele que "no relicário de São Cornélio o Taumaturgo muitos milagres inefáveis ocorreram, e é bem conhecido que os milagres lavrados por ele não são falsos." Mais tarde, eles todos ouviram os estiquérios, cânones e vida de São Cornélio e constataram que a vida estava escrita "de acordo com a imagem e semelhança." Depois disso, o Patriarca e o Concílio se referiram sobre o assunto ao Tsar Boris Feodorovich Godunov (reinou 1598-1605), e o Soberano, tendo conferenciado com o Patriarca e Concílio, ordenou que "Fossem celebradas Vésperas, Vigília de toda noite, e a Liturgia de Deus na igreja católica e apostólica da Puríssima Theotokos, dedicada à Dormição dela, na cidade capital de Moscou, no dia da comemoração do Santo Mártir Patrício, Bispo de Prusa, maio 19, e nas catedrais das províncias metropolitanas, nas sedes arquiepiscopais e episcopais por toda a Grande Rússia, como era feito com o resto dos santos; e no Mosteiro de São Cornélio, e na igreja catedral da Sofia,a Sabedoria de Deus em Vologda, e nos subúrbios, e nas santas igrejas de Deus no interior e nas cidade circunvizinhas e em todo o território sujeito ao Arcebispo de Vologda, é ordenado celebrar a memória de Cornélio o Taumaturgo em 19 de maio."

Nós vemos desses extratos que a instituição da glorificação dos santos de Deus era tratada com grande atenção e zelo. Mais de uma vez as autoridades eclesiásticas negaram requisições para a glorificação de partidos reverenciados se eles não vissem provas firmes e insustentáveis para fundamentar tal glorificação.

As palavras dos decretos sinodais referentes a glorificação de santos nos mostram claramente o entendimento Ortodoxo dessa ação como universal, confissão conciliar por parte da Igreja de uma firme crença ou certeza que Deus glorificou Seu favorito nos céus, e que daí em diante nós devemos glorificá-lo também, jubilosamente na terra. Esse pensamento é expresso nos atos do período Sinodal, como foi completa e exatamente notado.

No relato oficial da glorificação do Santo Hierarca Metrofanes de Voronezh, nós lemos: "Quando pela verificação que foi conduzida, um verdadeiro ato de Deus, Que é maravilhoso em Seus santos, se torna suficientemente aparente para o Santo Sínodo pela incorrupção do corpo do Santo Hierarca Metrofanes, e as curas que ocorrem através de suas relíquias, o Santo Sínodo não mais posterga a revelação solene para a Igreja desse dom de Deus, isto é, com uma bênção hierárquica é permitido, até que o tempo tenha sido um ato de zelo pessoal , o pedido de intercessão de nosso pai entre os santos Metrofanes em suas orações para Deus, e a colocação das milagrosas e curativas relíquias de seu corpo como uma vela, não debaixo do aparador, mas num candelabro, para que todos possam ser iluminados. A celebração eclesiástica anual do Santo Hierarca foi fixada na data do seu repouso — 23 de novembro."

O decreto de glorificação de São Tikhon de Zadonsk diz: "A memória de Sua Graça Tikhon Bispo de Voronezh ... foi honrada com reverência entre o povo Ortodoxo russo que fluiu para o Mosteiro de Zadonsk e para o túmulo do Hierarca de lugares muito distantes em grande multidão, orando pelo repouso da alma desse hierarca e esperançosos em sua piedosa intercessão diante de Deus. Memória das elevadas virtudes Cristãs com as quais ele brilhou nessa vida terrena, notícias de sabedoria evangélica remanescente em seus escritos divinamente iluminados, e as milagrosas curas de diversas dores realizadas em seu túmulo, levaram muitos fiéis à veneração do Santo Hierarca. Por tudo isso, desenvolveu-se uma pia esperança que esse Hierarca tenha sido glorificado por Deus e enumerado no coro dos santos. Até o fim do último século (XVIII) tal esperança foi expressa em petições submetidas a Sua Alteza Imperial e ao Santíssimo Sínodo." O Arcebispo Antonio de Voronezh, no próprio dia de repouso de São Tikhon, escreveu uma carta para o Imperador Nicolas a respeito do desejo fervoroso universal de inumeráveis peregrinos de que "esse grande farol da fé e de bons trabalhos, que agora jaz debaixo de um aparador, seja posto diante dos olhos de todos." O Sínodo em seu relato para o Soberano, anunciou sua decisão, começando-a com as seguintes palavras: "Reconhecendo o passado Bispo Tikhon de Voronezh como estando entre o coro dos santos que foram glorificados pela Graça de Deus através da fragrância da santidade, e seu corpo incorrupto como santas relíquias..."

A resolução a respeito da glorificação de São Serafim de Sarov é expressa de igual modo: "Reconhecendo o pio ancião Serafim, que repousou na Hermitage de Sarov, como estando no coro dos santos glorificados pela graça de Deus..."

Como é bem conhecido, e ainda lembrado por algumas pessoas, nas últimas décadas antes da queda da Rússia, a glorificação de santos da Igreja Russa, como São Theodosio de Chernigov, São Serafim de Sarov, e outros posteriores, foram grandes festividades religiosas nacionais, no centro das quais estava a abertura de relíquias desses santos de Deus. Geralmente a glorificação dos santos russos, do século dezoito até o século vinte foi marcada pela abertura das santas relíquias deles. Isso mostra que esses dois atos estavam intimamente ligados, apesar de, como já foi dito, a abertura das relíquias não ser absolutamente condição essencial e nem sempre seguiu imediatamente ao ato de glorificação.

 

Conclusão.

DE TUDO QUE FOI DITO, podemos tirar várias conclusões. Essencialmente, de acordo com o entendimento da Igreja e de acordo com os princípios de glorificação de santos, a glorificação de santos sempre foi a mesma na Igreja Ortodoxa. Nessa questão as Igrejas Ortodoxas do Oriente do segundo milênio seguiram a tradição da Igreja do primeiro milênio e do período antigo. A Igreja Russa da era pré-Petrina seguiu o caminho da Igreja Grega; enquanto a Igreja Russa da era pós-Petrina permaneceu fiel aos costumes da Igreja da era pré-Petrina. A glorificação dos santos consistiu e consiste numa afirmação geral de fé pela Igreja de que Deus uniu os partidos a Si próprio na assembléia de Seus santos. Essa fé é baseada no fato de uma morte por martírio, ou numa vida justa que é aparente para toda a Igreja, ou pela glorificação de um santo de Deus por razão de milagres durante a sua vida ou no seu túmulo. Glorificação é usualmente uma expressão da voz do povo da igreja, para quem a autoridade eclesiástica mais alta, após a devida verificação, da sinodalmente a palavra final, estabelecendo o reconhecimento, confirmação e sanção da Igreja.

A glorificação de santos está entre as mais importantes atividades da Igreja. No seu aspecto básico, elementar, a glorificação consiste na troca de orações "pelo morto" por pedidos pela intercessão do santo diante de Deus, e em sua piedosa glorificação por ofícios no menaion geral ou com ofícios especialmente compostos. A glorificação dos santos e a abertura de suas relíquias não constituem um ato único, inseparável, apesar deles serem realizados juntos com freqüência. A Igreja Ortodoxa não mantém que um período fixo de tempo passe entre o repouso de um homem justo e sua enumeração entre o coro dos santos, como é, na verdade, aceito na confissão Romana, que instituiu um período de várias décadas (normalmente um período de várias décadas entre a morte e a "beatificação," um processo que corresponde grosseiramente à veneração local, e oitenta anos para a canonização).

Nos milagres ocorridos através de orações ou no túmulo do justo de Deus, a Igreja Ortodoxa vê a vontade de Deus na glorificação desses lutadores. Quando esses sinais não existem, a Igreja Ortodoxa não vê a vontade de Deus na solene glorificação do justo, como uma das resoluções do Patriarca Adriano de Moscou (reinou de 1690-1770) expressa a respeito de certa requisição para glorificação: "Se o Senhor nosso Deus, o Criador de tudo, glorifica alguém nessa vida, e depois disso declara isso para Seu povo através de muitos milagres, então os milagres dessa pessoa se tornam claramente conhecidos, pois muitos taumaturgos foram achados na Igreja Ortodoxa, cuja memória a Igreja sempre homenageia e mantém suas relíquias. Aqueles que não têm milagres conhecidos, que Deus não ficou agradado em glorificar com sinais e milagres, mesmo que eles tenham vivido justamente e de maneira santa, não são os que a Igreja glorifica. Os nomes de muitos não são lembrados, e o mundo todo não pode conter os livros com seus nomes que poderiam ser escritos."

Folheto Missionário número P077eee

Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(glorification_saints_p.doc, 11-05-2004)