O casamento

e o lar cristão

Rev. Michael B. Hening

(tradução livre do original inglês "MARRIAGE AND CHRISTIAN HOME" do Rev. Michael B.Hening - St. Nectarios Press, Seattle, WA -USA.1987).

 

 


Conteúdo: Prefácio. O Antigo Testamento e a propagação da raça humana. Provérbios que nos falam contra o adultério. O Senhor comunicou a Moisés os actos sexuais que Ele desaprovava. O Novo Testamento e o casamento cristão. O papel da mulher e as suas responsabilidades no casamento cristão. O papel do marido e suas responsabilidades no casamento. As responsabilidades habituais do marido e da mulher. O lar cristão. A Igreja familiar e a salvação eterna. O cantinho dos ícones. A benção da casa. A oração colectiva e a oração particular. São João de Damasco e a "Exposição da Fé ortodoxa". Domingos, sábados, vésperas e dias festivos. A celebração do onomástico (dia do santo padroeiro). Os períodos de jejum. A água benta e o óleo. A doença na Igreja familiar. O perdão na família cristã. Conclusão. Notas.

 


 

 

Prefácio

O cristianismo é um estilo de vida, não é meramente uma função social que cumprimos em manhãs de domingo, que é rapidamente esquecida quando deixamos a igreja. O Cristianismo deve ser para nós o nosso pão de cada dia, de domingo a domingo, de mês a mês, de ano para ano. Como seguidores de Cristo a nossa orientação e estilo de vida baseiam-se no exemplo de Cristo e da Igreja e não dos filósofos e das sociedades de hoje. A nossa opção por seguir o rumo de Cristo e não das ideologias da nossa sociedade deverá ser tão pronta e receptiva quanto a de Pedro e André quando "eram pescadores. E Ele disse a eles, acompanhem-me e Eu farei de vocês pescadores de homens. Imediatamente eles abandonaram suas redes e seguiram-no " (Mat. 4:18-20).

A grande maioria dos cristãos, casados ou solteiros, vive fora das comunidades monásticas. Existe um pensamento erróneo entre os cristãos leigos de que eles não necessitam ter a mesma dedicação que é exigida dos monges. Tanto monges quanto os leigos são igualmente chamados por Cristo para o arrependimento e salvação eterna. Não existem classes de cristãos, todos são iguais e todos são chamados a seguir Cristo, sem considerações sobre posição e desempenho dentro da Igreja.

É extremamente difícil para os leigos viver um estilo de vida cristão, todos os dias, ano após ano, por estarem continuamente expostos e por viverem numa sociedade que não é somente não-cristã mas profundamente anti-ética em relação à fé e aos ideais cristãos ortodoxos. Isto não deverá desencorajá-los porque Cristo, Ele próprio, estava perfeitamente ciente disso, pois disse, "tenham cuidado, eu os mandei como ovelhas no meio dos lobos, sejam sábios como serpentes e inocentes como pombos " (Mat.10:16).

O casamento é uma fonte de força que se torna disponível aos cristãos e suas famílias para viverem uma vida cristã num meio adverso. Através do casamento todos os membros da família se tornam beneficiários de numerosas bênçãos de Deus.

É comum os cristãos negligenciarem, ignorarem e até ridicularizarem o casamento - um estado de vida abençoado por Deus através do qual Ele concede bênçãos ao casal e seus filhos. O casamento foi abençoado por Deus na sua revelação ao homem, mas os membros da família deverão ser receptivos às bênçãos de Deus para que estas se tornem eficazes.

Como tornar nossa vida familiar receptiva às bênçãos de Deus é o propósito deste ensaio. Inicialmente examinaremos o casamento no Antigo Testamento e então deter-nos-emos no matrimónio cristão e as nas tradições que tornam possível que as bênçãos de Deus se impregnem no lar cristão.

 

O Antigo Testamento e

a propagação da raça humana.

A ressurreição dos mortos, vida após-morte, salvação ou perdição eterna - todos estes conceitos não tinham um significado muito claro para os nossos ancestrais Adão e Eva, assim como para os antigos judeus, aos quais Deus revelou apenas alguns aspectos divinos. Para eles Deus era o Deus dos vivos, porque após a morte o homem era como "a fresca relva que foi ceifada pela manhã e ao meio dia seca e morre" (Ps. 89:5-6). A morte para os povos antigos significava um fim abrupto da existência e esta foi uma das razões para que fosse dada tanta ênfase à progenitura. A continuação da raça era considerada de suma importância. O casamento entre os antigos judeus era tanto monogâmico como poligâmico, entretanto, este não era o único meio pelo qual a raça dava continuidade.

As crianças também eram concebidas através do costume do levirato, costume esse muito bem explicado no quinto livro de Moisés.

"Quando irmãos moram juntos, e um deles morre sem deixar filhos, a mulher do defunto não se casará fora, com um estranho; mas seu cunhado irá ter com ela, desposá-la-á e praticará, para com ela, os deveres de cunhado. O primogénito que ela der ao mundo tomará o nome do irmão defunto, para que esse nome não se apague de Israel. Se não agradar a este homem desposar sua cunhada, sua cunhada se dirigirá à Porta, aos anciãos, e dirá: 'Meu cunhado se recusa a manter o nome do seu irmão em Israel, não quer praticar seu dever de cunhado. ' E os anciãos da cidade o chamarão e lhe falarão. Se persistir e disser: 'Não me agrada torná-la, ' sua cunhada se aproximará dele na presença dos anciãos, tirar-lhe-á a sandália do pé e cuspir-lhe-á no rosto, dizendo: 'Assim seja feito ao homem que não edifica a casa do seu irmão.' E a sua casa será chamada, em Israel, a casa do descalço."

O costume do levirato apareceu nos primórdios da história da humanidade, tendo inicialmente sido registrado no primeiro livro da Escritura Sagrada. O primogénito de Judá, Er, (que desposou Tamar) era um homem maldoso e por causa da sua maldade foi morto por Deus. Após a sua morte, Judá disse ao seu segundo filho, Onan, "vá à mulher de seu irmão e cumpra a obrigação de cunhado e faça a prole pelo seu irmão"(Gen. 38:8).

Outro meio de propagar a geração foi através do concubinato, que era frequentemente praticado. "Salomão teve setecentas mulheres princesas e trezentas concubinas" (Reis 11:3).

A Bíblia refere que o Rei David " após chegar de Hebron, tomou mais algumas concubinas e mulheres em Jerusalém, e nasceram ainda a David filhos e filhas "(2 Sam. 5:13). Está registrado que em determinado tempo David tinha dez quando fugiu de Absalão (2 Sam. 15:16).

Esther foi uma das muitas concubinas do Rei Assuero, "a quem o rei amou mais do que todas as outras mulheres, assim o rei consagrou a Esther mais amor do que a qualquer outra mulher, ela obteve graça e favor junto a ele de preferencia a todas as outras jovens de modo que o rei lhe colocou o diadema régio sobre a cabeça e a fez rainha em lugar de Vasti" (Esther 2:17) Está registado que Roboão teve 18 esposas e 60 concubinas das quais teve 18 filhos homens e 60 mulheres (2 Chr.11:21).

Gedeão teve 17 filhos das muitas esposas e um filho de sua concubina (Juizes 8:30-31).

Através de concubinato Ismael nasceu de Abraão: " Sara, mulher de Abraão não lhe dera nenhum filho. Tinha porém uma criada egípcia chamada Agar. Disse pois Sara a Abraão: Não tendo Javé permitido que eu tivesse filhos, peço-te que unas a minha criada, ao menos por meio dela, talvez, eu tenha filhos." Abraão atendeu ao pedido de sua mulher. E Sara, mulher de Abraão, passados já dez anos desde que Abraão viera se estabelecer no país de Canaã, lhe deu a criada egípcia, Agar, por mulher. Uniu-se ele a Agar, que ficou grávida" (Gen. 16:1-4).

Está também registado que Saul (2 Sam 3:7) e Israel (Gen.35:22) tiveram concubinas da mesma forma que muitos outros no Antigo Testamento.

O Antigo Testamento mostra como a raça humana se perpetuou e parece-nos estranho mesmo dentro dos padrões modernos. Relações extraconjugais em casamentos monogâmicos aconteciam nos tempos antigos e acontecem hoje em dia. Entretanto hoje, a razão dessa ocorrência é outra. Nos tempos do Antigo Testamento a grande preocupação e o grande desejo era fazer descendentes, enquanto que hoje os descendentes não são desejados mas o homem está inclinado a satisfazer os seus apetites sexuais. Isto não significa que as relações dos homens no Antigo Testamento fossem desprovidas destes impulsos. Acreditar nisso seria ingénuo. O desejo de ter progenitura, entre os judeus, era o que legitimava as suas relações extraconjugais. As justificativas dos homens para a indulgência indiscriminada em relação ao sexo não foram mandamentos de Deus.

A promiscuidade sexual nunca foi aprovada por Deus nem nos tempos do Antigo Testamento nem nos tempos do Novo Testamento e nem nos tempos atuais.

Através dos tempos do Antigo Testamento Deus aos poucos começou a revelar ao homem os seus mandamentos e o que esperava dos homens. Casamentos poligâmicos, concubinato e levirato foram condenados por Deus e o casamento monogâmico foi estabelecido por Ele como a forma benquista a Deus através do qual o homem e a mulher procriavam.

Esta revelação de Deus foi apresentada nas escrituras, onde se fala sobre a criação de Eva. Assim o homem deixa seu pai e une-se à sua mulher e formam uma só carne"(Gen.2:24). O cântico de Salomão descreve as imagens de amor entre Deus e seu povo escolhido - o povo de Israel. O cântico todo ele sugere o casamento monogâmico como a forma marital mais benquista a Deus, pois ele fala no singular: o amor entre um homem e uma mulher.

Os Mandamentos dados por Deus a Moisés dizem-nos claramente que as relações sexuais fora do matrimónio monogâmico eram contra a vontade de Deus: "Não cometerás adultério "(Ex. 20:14), "não cobiçarás a mulher do teu próximo, ou o seu servo ou a sua serva "(Ex. 20:17).

Mesmo antes de os Dez Mandamentos terem sido dados a Moisés, sabe-se que as pessoas honradas tinham o sentimento de que a lei de Deus não permitia que o homem tivesse relações com a mulher de outro homem. José, o amado filho de Israel, foi posto à venda por seus irmãos cheios de ódio e levado escravo para o Egipto onde foi comprado por Potifar, um oficial do faraó. Deus Nosso Senhor estava com José e este tornou-se um homem bem sucedido. Vendo isto, Potifar colocou-o como responsável por tudo o que possuía. Em breve a mulher de Potifar sentiu-se atraída por José e disse-lhe "deite-se comigo"(Gen.39:7). José recusou, dizendo " Potifar não escondeu nada de mim excepto tu, porque és sua esposa, como poderei cometer uma tão grande falta e assim ofender Deus? " (Gen. 39:9).

O primogénito na família de Israel tinha uma importante posição, já que o primeiro filho homem era consagrado a Deus (Ex. 13:2), ele sucedia ao pai como chefe da casa e recebia a sua porção de herança a dobrar. Esta posição de primazia entre os filhos de Jacó foi retirada ao primogénito Ruben, por causa de um ilícito acto sexual praticado contra Deus e seu pai. Jacó chamou todos os seus filhos para lhes dizer o que lhes reservava o futuro:" Rúben, meu primogénito, meu vigor, primícias de minha virilidade, auge de altivez, auge de força, borbulhante como as águas, não terás a primazia; porque subiste ao leito de teu pai, então profanaste meu tálamo! " (Gen. 49:3,4)

Provérbios que nos falam contra o adultério.

"À cortesã basta um bocado de pão, mas a adúltera põe em perigo uma vida preciosa. "

"Pode alguém carregar fogo em seu seio sem que suas vestes sejam consumidas?"

"Pode alguém caminhar sobre brasas sem que seus pés fiquem queimados?" "Tal é o que vai à mulher alheia: quem a tocar não permanecerá impune" (6:27-29).

O profeta Oséias explica que a lei divina contra o adultério não evoca a ira divina apenas contra a mulher mas também contra o homem, porque ele é tão culpado quanto a mulher.

"Eu não castigarei as vossas filhas por se prostituírem, nem as vossas noras por cometerem adultério; porque eles mesmos vão se trancar com as prostitutas e sacrificar com mulheres que se consagraram à prostituição e o povo incapaz de discernimento vai para a perdição!" (Os. 4:14).

 

O Senhor comunicou a Moisés os actos sexuais que Ele desaprovava.

"Se um homem cometer adultério com uma mulher casada, pelo fato de cometer o adultério com a mulher de seu próximo, serão condenados à morte o homem e a mulher que cometeram o adultério."

Se um homem se deitar com a mulher de seu pai e descobrir a nudez de seu pai, serão ambos condenados à morte; seu sangue recairá sobre eles."

Se um homem se deitar com sua nora, serão ambos condenados à morte; eles cometeram uma infâmia: seu sangue recairá sobre eles."

Se um homem se deitar com um homem como se faz com uma mulher, serão ambos condenados à morte, pois fizeram uma coisa abominável: seu sangue recairá sobre eles."

Se um homem tomar como mulher a filha e a mãe, cometeram uma coisa abominável; serão ambos o homem e a mãe, queimados a fim de que tal infâmia não subsista entre vós."

"O homem que tiver relações com um animal será condenado à morte e matareis o animal."

"Se uma mulher se aproximar de um animal para se unir a ele, matarás a mulher e o animal: seu sangue recairá sobre eles."

"Se um homem tomar a irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe, se ele vir sua nudez e ela vir a dele, é uma ignomínia, serão exterminados sob os olhos dos filhos de seu povo: ele descobriu a nudez de sua irmã, por isso carregará o peso de sua falta."

"Não descobrirás a nudez da irmã de tua mãe, nem da irmã de teu pai, porque seria descobrir tua própria carne, eles carregarão seus pecados."

"Se um homem se deitar com sua tia, descobre a nudez de seu tio; eles carregarão seu pecado: morrerão sem filhos. "

"Se um homem tomar a mulher de seu irmão, é como a impureza menstrual, ele descobriu a nudez de seu irmão: ficarão sem filhos." (Lev. 20:10-17 19-21).

Deus foi explícito a Moisés em relação aos actos sexuais repugnantes para Ele. Os textos não deixam dúvidas sobre quais os actos sexuais e combinações que não são permitidos.

A Bíblia refere as respostas de Deus às pessoas envolvidas em sexo ilícito. Para nós, que somos "cultos" e "educados" (pelos conceitos humanísticos), as acções punitivas de Deus nos parecem sem compaixão e que não correspondem aos crimes cometidos. Na verdade o que não queremos aceitar é o facto do castigo (mesmo a morte) ser para o nosso bem espiritual. Indiscutivelmente as transgressões e perversões sexuais são abomináveis para Deus. A lição para o povo tanto do Antigo como Novo Testamento é que as transgressões sexuais deverão ser evitadas custe o que custar. A única situação onde o sexo funciona é no casamento entre um homem e uma mulher. As cidades de Sodoma e Gomorra no tempo de Abraão e Sara, eram famosas pela sodomia (homosexualidade) e perversões sexuais, contrárias às leis da natureza e foi por esta razão que Deus as destruiu com enxofre e fogo (Gen.19:24). Na sua aparição à Abraão antes da destruição, Deus fez Abraão saber de Suas intenções da destruição das mesmas. (Gen. 18:22-33) Daí podemos ver a ira de Deus dirigida contra povos envolvidos em relações anti-naturais.

O rei David de Israel, por causa da sua atracção e amor por Batcheba, uma mulher casada, não apenas cometeu adultério mas mandou assassinar Urias, o marido. "A mulher de Urias, sabendo que o marido morrera, chorou a sua morte. Passado o tempo de luto, mandou David buscá-la para sua casa, e ela se tornou sua esposa, dando-lhe à luz um filho. Mas a acção que David fez desagradou a Javé" (2 Sam. 12:1-27).

David arrependeu-se do seu pecado na presença do profeta. Então Natan disse a David: "o Senhor também concedeu-lhe o perdão pelo seu pecado, você não morrerá mas por causa do pecado cometido o filho nascido morrerá (2 Sam. 13:13-14). Sete dias depois da profecia o filho concebido da união adúltera morreu.

Deus mostrou que preferia filhos nascidos no casamento e não filhos de uniões extraconjugais. Sara, a mulher de Abraão, era estéril e encorajou Abraão a ter filhos através da sua serva Agar, que se chamou Ismael. Depois disso Deus apareceu a Abraão e disse-lhe que Abraão e Sara teriam um filho não obstante a avançada idade de Sara. "e Abraão disse a Deus: 'Oxalá viva Ismael diante de tua face!' Respondeu-lhe Deus: "Não, Sara, tua mulher, é quem te dará um filho, a quem porás o nome de 'Isaac '. Com ele farei aliança, e com a sua descendência será uma aliança perpétua..." (Ge. 17:18-21).

Não obstante os mandamentos de Deus se tornarem conhecidos pelos profetas e outros santos homens, as relações extraconjugais continuaram a existir, assim como existem nos dias de hoje entre os "cristãos "que conhecem bem os ensinamentos de Deus e da Igreja sobre estes temas.

Os ensinamentos de Deus sobre as relações sexuais como foram registrados no Antigo Testamento eram bem conhecidos pelo povo de Israel. O mandamento " sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e povoei-a" (Gen. 1:28).

O ensinamento deste conceito ao povo de Israel antecipou a vinda do Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que iria aprofundar este conceito de casamento monogâmico e revelaria à humanidade como deveria ser a relação entre marido/mulher.

 

O Novo Testamento e o casamento cristão.

O sacramento do matrimónio na Igreja Ortodoxa tem início com as palavras "Bendito seja o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo agora e por todo o sempre dos séculos e séculos amém." Esta exclamação enfatiza tanto a seriedade do casamento como o seu objectivo. É o estabelecimento de um triângulo amoroso no qual - marido, mulher e Deus estão cada um no respectivo vértice. Com a vinda de Cristo, o casamento deixou de ter o seu objectivo único de reprodução de seres humanos, o que não obstante permanece muito importante. Cristo veio ao mundo e trouxe consigo a prova e garantia da Ressurreição dos mortos, assim dando ao casamento cristão um novo objectivo - o alcance da vida eterna pelo marido, mulher e filhos.

"Porque tamanho foi o amor de Deus pelo mundo que Ele deu seu Filho único, para que aquele que Nele acredita não seja destruído mas ganhe vida eterna. Porque Deus enviou seu Filho ao mundo, não para condená-lo mas para salvá-lo" (Jn. 3, 16-17).

Cristo, Filho de Deus, trouxe a vida eterna para aqueles que acreditam Nele e O seguem. A promessa de vida eterna não é uma promessa feita exclusivamente aos cristãos casados mas a toda a humanidade. Entretanto o principal propósito de um casamento cristão não é mais o mesmo do antigo conceito judaico. A mudança é por causa de..."Vós todos que fostes baptizados em Cristo fostes revestidos de Cristo" (Gal. 3:27). e "se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. Acabaram-se as coisas velhas, eis que estão presentes as coisas novas" (2 Cor. 5:17).

Cristo estabeleceu a Igreja como veículo através do qual os homens alcançam a vida eterna. Para o estabelecimento da Igreja, Cristo devotou a Sua vida e a Sua missão. Ele morreu para estabelecer a Igreja, ressuscitou da morte e enviou o Espirito Santo do Deus Pai para guiar a Igreja até ao final dos tempos. O amor de Cristo por nós e pela Igreja, a nossa arca da salvação, é um amor absoluto, desprovido de qualquer egoísmo.

O amor de Cristo pela Sua Igreja é o modelo do amor que marido e mulher devem partilhar dentro do matrimónio cristão. A melhor descrição quanto a esse respeito encontra-se na carta do apóstolo Paulo aos Efésios (5:21-33). "sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. Mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, ele, o salvador do Corpo. Como a Igreja está sujeita a Cristo, assim as mulheres estejam sujeitas em tudo a seus maridos. Maridos, amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou a ela, para santificá-la e purificá-la pela água do baptismo e pela palavra, e fazer com que comparecesse diante de si resplandecente, sem ruga nem mancha, ou algo parecido, mas santa e imaculada. Além disto, os maridos devem amar suas esposas como a seus próprios corpos. Quem ama sua esposa, ama a si mesmo, e nunca ninguém deixou de amar sua própria carne; pelo contrário, a alimenta e cuida dela. É assim que Cristo faz com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. E então o homem deixará pai e mãe para se unir à mulher, e serão os dois uma só carne. Este mistério é sublime. Digo isto porque ele se refere a Cristo e à Igreja. Enfim, que cada um de vós ame sua esposa como a si mesmo e que a esposa respeite o seu marido."

O tom das palavras de São Paulo quanto às responsabilidades no casamento parece ofender algumas pessoas, influenciadas pela filosofia dos movimentos feministas, onde o homem parece ter o papel aparentemente mais fácil no casamento enquanto que a mulher é "a vítima da repressão." Igualdade legal de direitos sob o ponto de vista de direitos civis não é a essência do casamento cristão. São João Crisóstomo diz que a mulher possui "uma grande qualidade que é a dignidade mas ao mesmo tempo o marido tem algo de superioridade."(1). Cada parceiro de um casamento cristão tem o seu papel e sua correspondente responsabilidade que está explícita e/ou implícita nas considerações sobre o casamento (Ef. 5:21-33). Agora vamos tratar destes papéis e responsabilidades de forma que possamos aprender a fazer do nosso casamento o casamento ideal em Cristo e na Igreja.

 

O papel da mulher e as suas

responsabilidades no casamento cristão.

A esposa deverá prestar obediência ao seu marido, da mesma maneira que ela presta obediência ao Senhor. Quando a esposa respeita os desejos de seu marido, ambos marido e mulher estão em harmonia. E, como nota São João Crisóstomo:

... os filhos são bem educados, os criados estão em boa ordem, os vizinhos, amigos e parentes beneficiam com a emanação positiva. (2).

Quando a mulher não é submissa ao marido, não poderá haver harmonia e - "tudo se vira de cabeça para baixo, e há confusão, é exactamente como quando os generais estão em paz entre si, todas as coisas estão em sua devida subordinação; já quando há divergências tudo se complica. Assim é neste caso. Portanto, disse ele: 'Esposas, sujeitei-vos a seus maridos, como ao Senhor. (3).

A mulher não é a principal autoridade na família cristã, pois ela é a segunda autoridade: portanto, não a deixe exigir igualdade, pois ela está abaixo da cabeça... (4).

Muitas mulheres podem ofender-se com estas palavras, pois dentro da nossa sociedade as pessoas ridicularizam abertamente a ideia da obediência ou indignam-se até diante da leve menção da palavra, esperando, pelo contrário, que cada subordinado exija liberdade. (5).

A sociedade moderna e a opinião pública desprezam o espírito da obediência. Porém, as mulheres cristãs precisam entender que um casamento cristão não faz parte da sociedade. Os propósitos de cada um não estão tão somente em discordância mas geometricamente opostos. Segundo os conceitos de perfeição cristã, a obediência é um catalisador, enquanto que a vontade própria intensifica fortemente a paixão pelo orgulho e finalmente afasta " o sobrenatural do pensamento cristão... " (6).

O significado da obediência é muito bem expresso pelo Metropolita Antonio Khrapovitsky quando diz:

"Se você se propõe a ser uma pessoa boa, inteligente e não uma ovelha bitolada, mais uma dentro do rebanho, então deixe de concordar com a multidão de seus semelhantes, que estão morrendo espiritualmente e fisicamente, não vá pelo caminho de sua vontade própria mas pelo caminho da obediência. Somente então você será um homem, então quem sabe, você sozinho... preservará sua fé e seu coração sem endurecimento e sua palavra verdadeira e a alma honrada, você não será massacrado e batido pela tempestade como o cata-vento, como acontece com a maioria dos seus semelhantes" (7).

Cristo, Ele próprio, é o mais perfeito símbolo de obediência, pois foi através de sua completa obediência ou submissão ao sofrimento e morte por nossa causa que Ele nos levou do nosso antigo meio para a verdade e a vida. "assim, como pela desobediência de um só homem a multidão dos homens se tornou pecadora também pela obediência de um só Homem a multidão dos homens se tornará justa" (Rom. 5:19).

Todo o cristão é convidado a empenhar-se para se modificar, para "vestir" Cristo, para se regenerar, a tornar-se um novo homem. Somente quando eu me torno um novo homem em Cristo, eu posso encontrar alegria na obediência. O homem antes dessa transformação que não "vestiu "Cristo, deseja desobedecer e resiste. (8).

A esposa cristã precisa adquirir as características de uma beleza verdadeira que não é física: afeição, modéstia de pensamento e suavidade. (9).

 

O papel do marido e as suas

responsabilidades no casamento.

As responsabilidades do marido no casamento são as do chefe (cabeça) da família, amoroso para a mulher e toda a família. O marido, como chefe amoroso, é convidado a amar a sua mulher como Cristo ama a sua igreja. Isto não é fácil e a maior parte dos maridos tem uma idéia muito limitada do que isto significa. A palavra "amor" tem para todos uma conotação de amor físico ou atracção ou ainda um amor sentimental, tendendo a encobrir o conceito do verdadeiro amor cristão no casamento.

A mulher cristã traz para o casamento a sua obediência ao marido, a mesma obediência que a igreja tem para Cristo, e o marido tem o mesmo carinho, preocupação, solicitude, atenção e estima por sua esposa que Cristo tem para a Igreja. A atenção do marido é esperada até aos limites de sua morte pelo amor à esposa, " e ser cortado em pedaços dez mil vezes, e não recusar a suportar qualquer sofrimento por ela" (10). Como Cristo foi crucificado pelo amor à Igreja, o marido cristão também deve submeter todas as coisas, inclusive a sua vida, ao amor por sua mulher. O amor é de facto a principal tarefa no casamento que é esperada do marido. Portanto, a esposa não é a perdedora por causa da cobrança da obediência, pelo contrário ela é a que ganha mais (11).

A principal responsabilidade do marido - o seu amor pela esposa - não lhe permite intimidá-la para lhe obedecer e satisfazer os seus caprichos. O marido não pode tratara mulher, que é sua carne e sangue, da mesma forma que uma criada. "É possível que um homem subjugue uma criada, pelo medo, pois em breve ele terá desaparecido, mas a parceira de sua vida, e mãe de seus filhos, a base de toda a sua alegria, não poderá nunca acorrentar pelo medo e ameaças, mas com amor e bom temperamento. Pois, que união é essa onde a esposa treme diante de seu marido? E que prazer é esse que o homem goza se vive com uma mulher que é uma escrava e não uma mulher livre? Entretanto se o homem sofre por causa de sua esposa, que não a afronte, pois nem Cristo fez isso à sua Igreja (12).

No casamento "o marido ocupa o lugar da "cabeça "e a mulher o lugar do "corpo" (13). O homem deve se comportar tendo uma absoluta compreensão que, no casamento ele, como chefe, deve trazer o amor em reciprocidade à obediência dela. Por exemplo, deixe que as mãos, os pés e todo o resto seja oferecido ao serviço da cabeça, mas também deixe que a cabeça providencie pelo corpo. Nada poderá ser melhor que esta união (14).

A diferenciação dos papéis, estabelecida pela ordem divina, não implica que a mulher seja inferior ao marido. 'Deus criou a mulher igual ao homem, não inferior' (15). O marido deve ter isso em mente, pois ele funciona no papel do chefe da casa.

Incluindo a responsabilidade de amar sua esposa, ele deve desconsiderar qualquer falha que ele perceber nela depois de casados no sagrado matrimónio. Quando ele achar que encontrou defeitos no carácter dela, ele deverá honestamente perguntar-se se ele também não terá defeitos no seu carácter.

Um homem, por exemplo, é manco, outro tem os pés defeituosos, o terceiro tem mãos tortas, não obstante ele não se aflige e nem corta o membro, mas prefere assim pois o corpo é seu e não o quer trocar por outro (16).

Os defeitos de carácter ou a falta de beleza física que agora o marido acredita ter visto na mulher é consequência de um desejo pré-marital ilusório, pelo prazer da sua natureza física (da mulher). São João Crisóstomo diz que quando se procura prazer na beleza física, ela dura no máximo um ano. "Não mais que isso, a admiração acaba. Mas o mal gerado pela paixão física continua - persiste o orgulho, a futilidade, o desprezo. Já quando o amor tem base espiritual, ele continua ardente, visto que o foco de interesse é a beleza da alma e não do corpo (17).

O marido deverá procurar na mulher a beleza de alma. Elogie-a não pela sua beleza. Elogio, amor e ódio baseados na beleza pessoal pertencem a almas lascivas. Procure a beleza da alma. Imite o Noivo da Igreja. A beleza exterior é preconceituosa e muito permissiva e conduz ao ciúme, o que leva a suspeitas monstruosas. Não cesuremos o encanto de uma pessoa, pois sobre seu encanto ela não tem poder, não censuremos nem sejamos impacientes. Veja o lamentável fim de alguns homens que viveram com mulheres lindas e quantos que viveram com mulheres sem grande beleza e chegaram a avançada idade e com grande alegria. Limpemos as manchas, suavizemos as rugas e tiremos as deformações que estão na alma. Esta é a beleza que Deus espera de nós. Que se faça ela, a mulher, bela aos olhos de Deus e não dos nossos próprios olhos (18).

"Quaisquer pensamentos que o marido tenha em relação à sua mulher que causem aflição e problemas, deverão ser absorvidos pelo seu incansável amor a ela. São João Crisóstomo diz ao marido para "fazer tudo por ela e aguentar os problemas por causa dela (19).

São João Crisóstomo fala ao marido em relação às suas responsabilidades por elogiar e corrigir sua mulher; "Mostre a ela estima diante dos amigos e dos filhos, gerados por ela, e ame estes filhos por sua causa. Se ela faz alguma boa acção preze-a e admire-a, se ela fez alguma asneira, aconselhe-a e recomende, mas não em público" (20).

Os maridos cristãos devem amar as suas mulheres mais que o seu trabalho. Portanto, é imperativo demonstrar-lhe quanto é valiosa a sua companhia, e que estão mais desejosos de estar no lar (por sua causa) do que tratar de negócios (21).

O marido pode estabelecer uma administração fácil na família, se ele se mantiver preocupado com a mulher e os filhos (22). Se o marido (chefe /cabeça) exige respeito e tem dignidade, então a mulher (o corpo) não procura a violência (23).

 

 

 

 

 

As responsabilidades habituais do marido

e da mulher no casamento cristão.

Ao falarmos da mulher que presta obediência e do marido que traz amor não queremos dizer que estas virtudes sejam exclusivas de cada um. O marido também deverá ser obediente aos pedidos de sua mulher, pois ele não é um tirano no casamento e a mulher deve oferecer um amor cristão e compaixão ao seu marido. O casal deverá estar junto na união do amor cristão (24).

No casamento a devoção inicial dura pouco tempo, logo ela começa a minguar e os vícios vão aparecendo e estes podem afastar a união e resultar em muitos problemas. Os vícios mais comuns são: calúnia, ciúme, possessividade e falta de modéstia.

"Não dê crédito a terceiros que caluniam o seu cônjuge. Não permita que o marido acredite no que se fala aleatoriamente contra a sua mulher e que a mulher não seja inquiridora sobre as saídas do marido. E que o marido não levante suspeitas contra sua mulher. Não deixe o ciúme invadir a sua vida A mulher quando é inquiridora é por causa do seu extremo amor e que o marido não se aborreça por isso" (25).

Considerando a actual sociedade na qual o trabalho da mulher é semelhante ao do homem - ela está ausente de casa como ele, consequentemente esta recomendação aplica-se igualmente à esposa. Nem o marido nem a esposa devem despertar a mente do outro em relação às saídas e relacionamentos. Ainda mais, cada um por seu lado deverá interpretar a reclamação do outro como resultante da fervorosa ligação, afeição ardente e mesmo o medo de perder.

O ciúme no casamento resulta de um sentimento dele ou dela estar a ser o centro das atenções de uma terceira pessoa, um parente, vizinho, amigo ou relacionamento de negócios.

A maneira mais certa de evitar o ciúme é o parceiro que recebeu a atenção não se sentir lisonjeado e responder à atenção recebida. Melhor ainda, na presença do/da lisonjeador/a, o casal deve demonstrar que o centro da atenção permanece o marido/ a mulher, na forma tão fresca como quando foram namorados, numa devoção eterna. Em conversa privada o parceiro que foi lisonjeado /a deverá confessar o seu embaraço ao cônjuge.

O sentimento de possessividade em relação a coisas materiais ou bens por parte de um dos parceiros poderá criar problemas no casamento. Dentro de um casamento todos os bens pertencem aos dois e são partilhados, portanto nenhum dos dois poderá dizer que "isto é só meu," porque casamento fez de dois um só, e não são mais entidades separadas. Como pode então uma riqueza material que vale menos do que o corpo (o templo do Espírito Santo) ser tão tenazmente retida por um dos parceiros? No momento de grande tentação deveria ele/ela dizer "como são abomináveis as palavras - só meu." Elas foram trazidas ao casamento pelo demónio.

O "Starets " Macário, (designação russa para determinados monge eremitas, que dão orientação espiritual a pessoas que vão à procura de conselho) deu o seguinte conselho a uma mulher, que sempre lembramos ao falarmos de sentimentos de posse no casamento:

"Nenhuma ligação no mundo é tão forte quanto a do homem e sua mulher. É portanto certo que você ajude o seu marido, aconteça o que acontecer, e ninguém pode proibi-la de compartilhar tudo com ele, tudo, não somente o dinheiro" (26).

Entretanto, a dolorosa destruição de um casamento por causa do apego às coisas materiais poderá não ser único perigo, pois poderá ser a destruição dos indivíduos no seu sentido cristão. São João de Kronstadt aponta que no nosso apego aos bens materiais nós corrompemos a nossa alma, alma que foi concebida à semelhança de Deus, e desviamos os nossos olhos do apelo das alturas que recebemos como filhos de Deus" (27).

Uma das origens do ciúme está no clima de falta de recato dentro do lar, que prejudica o fomento da espiritualidade e desvia a mente para o lado físico. Assim, o recato é necessário depois do casamento, este deve continuar a fortalecer-se e a preencher toda a casa e seu estilo de vida. Danças indecentes, músicas e gestos obscenos não deverão ser permitidos, nem literatura ou música sensual e sugestiva etc. (28).

Se você tem intenção de oferecer jantares e divertimentos não permita que haja nada indecente, nada fora de ordem. (29).

A decência no vestuário deverá ser mantida dentro e fora de casa. O vestuário da mulher não deverá ser sensual, revelador e provocante ou envaidecer um corpo bem dotado. A mente do homem pode facilmente ser dirigida para pensamentos sensuais e promíscuos. Portanto a mulher cristã deve cuidar na aparência e dos movimentos corporais para não evocar reações lascivas.

Hoje em dia o marido também deve escolher o tipo de roupa que compra e usa. A ênfase na "liberdade sexual "ocupa nossa época e a moda masculina que "acompanhou o passo da modernidade "fazem com que o uso de certos estilos seja inapropriado para um homem cristão. O marido deverá ser tão recatado quanto sua esposa, a fim de que seu vestuário não desperte pensamentos impuros.

Ambos, homem e mulher devem ter em mente que permitir mesmo em pensamento ideias de adultério, ele ou ela será culpado deste pecado (Mat. 5:28). Assim, a falta de recato e vestuário provocante faz a outra pessoa pecar.

 

O lar cristão.

O exemplo de harmonia no lar foi dado por São João Crisóstomo.

Considere Abraão e Sara, e Isaac e os 318 nascidos nesta casa (Gen. 14:14). Como a casa por inteiro foi tão harmoniosamente unida, cheia de religiosidade e preenchida por preceitos apostólicos. Ela, Sara, também reverenciava seu marido, pois suas próprias palavras: " não aconteceu a mim até agora, e meu senhor também já é idoso" (Gen. 18:12). E ele amava-a tão intensamente que em todas as coisas ele obedecia seus comandos. E a criança era cheia de virtudes e os criados nascidos naquela casa eram tão bons que não queriam prejudicar o bom relacionamento com seus senhores, eles não se atrasavam e nem perguntavam a razão. Nem o chefe deles, tão admirável, que foi incumbido do casamento do filho único deles, e de uma viagem a um país estrangeiro (Gen. 24:1-67). Da mesma forma que um general quando os seus soldados estão bem organizados o inimigo não tem forma de atacar, aqui também é assim, quando marido, mulher, filhos e criados estão interessados nas mesmas coisas é grande a harmonia na casa (30).

A casa e seus ornamentos deve estar em concordância com o desejo de aperfeiçoamento espiritual e a salvação eterna. A casa e os adornos pessoais devem estar desprovidos de pretensão ou ostentação (31).

A casa deve ser decorada de forma que paire um ar de sobriedade e não de perfume. As consequências positivas disto para ambos, marido e mulher, são no mínimo três. A mulher não se irá martirizar se algum mobiliário for destruído ou roubado. Em segundo lugar o marido não ficará preocupado em fazer seguro destes bens ou em perdê-los. Em terceiro lugar o marido e a mulher não desfrutarão o prazer de possui-lo e assim terão mais tempo em preocupar-se com assuntos espirituais.

O luxo, o dinheiro, são piores que pó e sujidade. O pó suja apenas o corpo, a roupa ou a sala, mas aqueles sujam a alma. Como é necessário desprezar o luxo, o dinheiro e as roupas! (33).

 

O lar que é habitado por cristãos é um local onde os membros da família passam a maior parte do seu tempo. É aqui, e não no meio social ou na rua que eles irão aprender as coisas importantes sobre a vida cristã. É exactamente no lar cristão que as pessoas serão capazes de se empenhar para a salvação eterna. É aqui que as crianças serão educadas e ensinadas através de palavras e acções sobre o significado de ser cristão. É no lar cristão que todos os ensinamentos de Cristo e da Igreja são praticados. Ele pode e deve oferecer tudo isso, porque cada lar onde vive uma família cristã deve ser considerado como a "igreja familiar." Fazer de sua moradia uma "igreja familiar" é espiritualmente edificante para os seus moradores. São João Crisóstomo diz que não é pequeno o feito de Áquila e Priscila, que fizeram da sua casa uma igreja (34) (1 Cor.16:19).

 

A Igreja familiar e a salvação eterna.

O lar cristão, sendo uma igreja familiar, de forma nenhuma implica a sua independência da diocese, paróquia ou da comunidade. A igreja familiar não pode existir como um entidade independente da igreja paroquial mas deve ser parte integrante e continuação da paróquia. Se o marido rompe com a paróquia e faz a sua igreja auto-governada, ele já está separado da igreja, ele e a sua família. Sua casa não poderá mais ser considerada igreja e perde também a graça de Deus, que até aí estava recebendo.

O principal propósito da igreja familiar é o mesmo do casamento: alcançar a salvação eterna. É necessário portanto que a igreja familiar permaneça como parte integrante da paróquia e, junto com todos os membros da família possa extrair a força e a direcção da paróquia. Sem estes alicerces a força, direcção, a fé, as práticas e o verdadeiro amor a Deus começam a desvanecer-se ou ser desviados das verdades divinas, guardadas e ensinadas através da paróquia. Basicamente nenhuma vida cristã poderá ser possível fora da Igreja, portanto, separar-se da igreja equivale a romper a linha da vida espiritual.

 

O cantinho dos ícones.

A primeira providência a tomar quando uma família cristã se muda para uma nova casa é determinar qual a parede do lado leste ou canto de parede, que poderá ser usado para colocação dos ícones. Este não será um canto imperceptível, onde os ícones podem se esconder dos olhos das pessoas. Pelo contrário, deverá ser um lugar de destaque, para ser visto por todos. O cantinho dos ícones deverá ter um ícone de Jesus Cristo e Nossa Senhora bem como ícones dos santos que a família tem especial devoção. Muitas vezes uma família escolhe um determinado santo a quem gostaria de dedicar a sua igreja familiar e colocam, a sua casa, sob a sua protecção.

O canto dos ícones terá uma mesinha ou estante onde ficarão os livros de orações, um turíbulo (pequeno recipiente para queimar incenso), um frasco com água benta, um crucifixo, as velas que o casal usou na cerimónia do seu matrimónio, santo óleo, palmas e outros objectos religiosos.

Em frente aos ícones uma lamparina deverá estar sempre acesa.

Algumas famílias acendem velas diante dos ícones. Entretanto a tradição fala de lamparinas com azeite. Lâmpadas eléctricas não são apropriadas. As lamparinas requerem uma certa dedicação pessoal, um esforço físico e pensamento dirigido a Deus quando, algumas vezes ao dia, precisamos acertar o pavio e acrescentar azeite. Poderá haver objecção quanto ao uso do azeite por seu custo elevado, mas Deus é beneficente aos que dão prioridade aos assuntos espirituais. Uma família que conheço tinha muitos problemas, um dos quais a falta de dinheiro para compra de alimentos. O chefe da família entregou o lar à protecção de Deus e da Virgem Maria. Com o sentimento de oferecer fé e amor ele prometeu que a lamparina só queimaria azeite, o que deixaria de fazer somente quando não houvesse comida nem dinheiro. Miraculosamente passou a haver suficiente dinheiro para compra do azeite e da comida por muito tempo.

Existem diversos tipos de utensílios destinados para queimar azeite A bóia de cortiça para manter a chama na superfície. A queima de azeite diante dos ícones, os seus cuidados e práticas são descritos abaixo:

1. O vidro: qualquer recipiente baixo e largo poderá servir. Não deverá ser reutilizado depois para outro propósito. Na Grécia a maior parte dos vidros é de vidro transparente ou colorido - que poderá ser vermelho, azul ou branco. É recomendável que seja grande o suficiente para que dure pelo menos 10 ou 12 horas.

2. O azeite: o uso de azeite de oliveira é uma tradição que recebemos ainda do ancestral Moisés. O óleo de oliveira queima melhor se deixado aberto (mesmo que se torne rançoso).

3. O pavio: use um barbante de algodão. Não use pavio parafinado. Se o pavio for embebido em vinagre ele queimará mais limpo e com mais brilho. Neste caso deverá ser bem seco antes de usar.

4. A chama: os monges do Monte Atos ensinaram a usar uma chama bem baixa, que eles chamam de "apathes"- sem paixão. A chama deverá queimar direita sem piscar. A lamparina queimará durante 12 horas dependendo basicamente do óleo, do tamanho do pavio, das condições do tempo (da atmosfera). Antes de reacender, remova o excesso de carbono do pavio e torça o pavio para formar uma ponta.

5. Limpeza: o guardanapo usado para limpeza deverá ser queimado, de preferencia no turíbulo e não ser deitado no lixo. Tenha cuidado para não derramar o azeite da lamparina. São Teodoro de Studion impôs um cânone de 30 prostrações na igreja para quem derramar azeite. O vidro deverá ser lavado periodicamente e colocado azeite novo. É recomendável jogar o azeite velho não no ralo da pia mas na terra embaixo de uma árvore ou arbusto onde não se pisa.

Os ortodoxos usam o azeite da lamparina frequentemente para se benzer, fazendo o sinal da cruz na testa (35).

 

A benção da Casa.

Quando o canto dos ícones já está arrumado, é chamado o padre para que a casa possa ser santificada e dedicada como a igreja familiar. O ofício celebrado é similar ao da consagração da igreja, no ofício russo, sendo usados água benta, o santo óleo e incenso e lida uma passagem do evangelho. Todos os compartimentos da casa são aspergidos com água benta e cada uma das paredes externas são ungidas com o santo óleo, fazendo-se o sinal da cruz, após a incensação da casa, é lida a passagem do evangelho (no ofício grego é feito o ofício da pequena benção das águas - água benta). Por fim, os membros família recebem a benção com água benta pela seguinte ordem: o marido, a mulher e os filhos, o mais velho primeiro e então os familiares e amigos presentes na cerimonia.

Ao abençoar a casa, não significa que o padre não precise de voltar para a abençoar novamente. Segundo a tradição, a casa deve ser abençoada anualmente ou logo após a Festa do Baptismo de Cristo (dia da Benção da Água). Neste dia é trazida para casa água benta, sendo espargida em todos os quartos pelo padre. A benção da casa com água benta mantém a associação espiritual entre a igreja familiar e a paróquia, e reiteradamente provê a partilha da dádiva espiritual de Deus. Alguns cristãos ortodoxos solicitam a benção da casa quando requisitam um Akafist ou Molieben (orações especiais de glorificação e pedido a Nossa Senhora ou determinado santo) para rezar em casa. Nenhum destes ofícios é tão elaborado quanto a benção da casa, e portanto esta não deve ser menosprezada, pois através dela é que a graça divina se impregna na casa.

 

Oração colectiva e oração particular.

O cantinho dos ícones é o centro da oração familiar. É diante dos ícones que a família deve rezar junto, formando uma unidade. Pois "onde há dois ou três em meu nome, estarei no meio destes: (Mat. 18:20). Através da prece em conjunto os membros da família ganham a compreensão de que é em conjunto e como um todo que eles estão à mercê de Deus e que é ele que dirige a vida de toda a família e de cada um individualmente e eles compreendem que é a Ele que devem prestar contas. Deus e a Igreja é que deverão ser o verdadeiro foco de atenção da família e não os líderes políticos, psicólogos, o materialismo, a estrutura social ou a felicidade. As orações colectivas permitem a cada um fortalecer a fé do outro. Isto cria laços mais fortes de amor e entendimento entre os familiares de forma que depois de algum desentendimento, um sentimento de verdadeiro perdão pode surgir mais facilmente. É aqui que o verdadeiro amor cristão deve ser aprendido e praticado, pois se nós não temos capacidade de amar aqueles que são a nossa carne e nosso sangue, será muito mais difícil demonstrar amor cristão aos semelhantes. Se nós não somos capazes de amar nem a família nem os semelhantes na verdade não somos capazes de amar Deus. Se alguém diz, "Eu amo Deus "e ao mesmo tempo odeia o irmão, ele é um mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, ao qual vê, como pode amar a Deus, que não vê?" (1 João 4:20). A oração conjunta pode ajudar a edificar este amor à família, ao próximo e a Deus.

Muitas famílias ortodoxas tem o hábito de cantar algumas orações ou trechos das Vésperas, ou Liturgia, incorporando estas como parte das suas orações familiares. Outras lêem em vez de cantar, mas o que é essencial e muito importante é que sejam vivas e genuínas e não se tornem meras repetições de palavras vazias. Esta vitalidade nas orações é uma importante consideração na questão das orações particulares.

A nossa oração deve ser profunda, sincera, sábia e frutífera; deve transformar nosso coração, dirigir a nossa vontade para o bem, purificando-o do mal. Uma oração superficial é hipocrisia perante uma coisa sagrada - é uma oração vã. "Este povo... com a boca, e honrou-me com os lábios, mas o seu coração estava longe de Mim" (Mat. 15:8). (36).

É muito desmotivador não termos capacidade de rezar de maneira tão profunda e sincera. Por esta razão nós não estamos fortemente motivados a reunir a família para a oração, pois achamos que há muita distracção, o que não ocorre quando rezamos sozinhos. Mesmo com estas dificuldades a família deve ser encorajada para a oração conjunta. O demónio triunfa quando a oração familiar é abandonada por alguma razão.

"Starets " Macário, o monge do Mosteiro de Optina na Rússia, escreveu a uma esposa sobre a prece familiar:

"A prece conjunta de marido e mulher representa uma grande força. Esta pode ser uma das razões porque o inimigo está a tentar quebrar este excelente hábito. Esta é mais uma tentação que Deus permite que aconteça para que você aprenda a enfrenta-la e possa sair mais fortalecida desta prova!" (37).

Nas preces individuais de cada membro da família são incluídas orações pelos outros membros que compõem a família. Os membros da igreja familiar devem rezar de todas as maneiras possíveis para que a graça de Deus guie e fortifique cada um deles e para que haja uma harmonia que seja benquista a Deus. Somente através da confiança e obediência a Deus isto se fará realidade. A harmonia e força espiritual da família é necessária pois é a arca da nossa salvação.

Vejamos as palavras de São João de Kronstadt a respeito da prece de um pelo outro:

"Cuidado, Satanás desejou ter-te... (Lucas 22:31).

É ele que tão incessantemente distrai o nosso pensamento na igreja durante a Divina Liturgia e em casa durante a oração; é ele que desvia os seus pensamentos dirigidos a Deus, é ele que desvia do nosso espírito dos assuntos de ordem celestial e eterna; é ele que nos ocupa com futilidades e vaidades, insignificâncias terrenas e tentações de comida, bebida, roupa, casa, etc. Nós devemos rezar uns pelos outros para que a fé não falhe, da mesma forma que o Salvador orou por Pedro (38).

Complementando as preces que cada membro da família oferece pelos seus familiares, deveremos rezar também uma vez por dia pelos outros membros da Igreja e por outras pessoas.

Diariamente devem ser oferecidas orações pela Igreja, pelo país, autoridades, pelos países cristãos, pelos nossos bispos, padres, diáconos, monges e freiras, pelo nosso pároco, pelo nosso pai espiritual, pelos anciãos e viúvas. Devemos diariamente rezar pelos que tenhamos ofendido ou tivermos levado ao mal e por aqueles que nos odeiam ou nos ofendem. Também diariamente devemos orar pelos finados ortodoxos, pelos nossos padrinhos, amigos e líderes da Igreja.

As orações formais de comemoração que podem ser usadas juntamente com as orações individuais podem ser encontradas em livros ortodoxos de orações. Por exemplo o Livro de Orações publicado pelo Holy Trinity Monastery - Jordanville, New York, 13361.

No caso de falecimento de padrinhos ou amigos ortodoxos deve ser requisitado ao pároco para que reze uma "panihida" (oficio pela alma do falecido) no 40o dia após a morte, depois no 6o mês e anualmente na mesma data.

Por ocasião da "panihida", é usualmente preparado o "kóliva" (que é trigo cozido com açúcar) - o trigo representa a promessa de vida futura, porque, da mesma forma que o trigo dá vida somente depois de semeado, também o homem ressuscitará dos mortos. O açúcar e os doces lembram que a morte é doce (agradável) e para um cristão ortodoxo que tem fé a morte não é uma tragédia. "Preciosa à vista do Senhor é a morte dos Seus santos" (Ps. 115:6).

Durante a celebração da Divina Liturgia, os nomes dos membros da igreja familiar, parentes e amigos ortodoxos e líderes espirituais, tanto vivos como mortos, são entregues ao padre para a celebração da "Proskomidia"(Ofertório). Os nomes encontram-se em livrinhos (que toda a família mantém) e são entregues junto com a prósfora (pequeno pão bento).

A prósfora é feita sem utilização de leite, ovos ou manteiga. A receita e os conselhos para o fazer podem ser encontradas no "Livro de Receitas da Quaresma para Cristãos Ortodoxos" publicado pela St. Nectarios Press (10300 Ashworth Ave. North: Seattle, Washigton 98133).

Outro aspecto das orações na vida de um cristão ortodoxo é a benção do leito antes de nos deitarmos, fazendo o sinal da cruz sobre a cama e dedicando as horas de sono a Deus. Esta prática deve ser ensinada às crianças. Assim que estas tenham coordenação motora, os adultos devem ensinar-lhes a aderir a este costume. São Cirilo de Jerusalém escreve a respeito do sinal da cruz:

"Não devemos sentir embaraço em confessar a nossa fé. Seja a cruz a nossa chancela feita com destemor pelos nossos dedos na nossa testa e em todas as coisas; sobre o pão que comemos, o copo onde bebemos, nas nossas entradas, nas nossas saídas, antes de dormir, quando nos deitamos, quando acordamos, quando estamos a caminho ou quando estamos parados. É grande esta salvaguarda, não tem preço, pelo amor aos pobres sem trabalho, pelos doentes, já que sua graça vem de Deu" (39).

A leitura e o estudo das Sagradas Escrituras é parte integrante da vida de orações de um cristão. As Sagradas Escrituras são a revelação de Deus ao homem e é através dessa revelação que o cristão é dirigido para que possa viver uma vida virtuosa. O estudo das Escrituras fortalece a fé em Deus, renova a vida espiritual e resguarda do desespero, que é o pecado que destrói a vida e a alma. A leitura e o estudo das Escrituras ajuda o cristão a compreender porque é que a Igreja o convida a pensar e a agir de forma diferente daquela que temos na nossa sociedade..

 

São João de Damasco e a "Exposição da Fé ortodoxa"

"Pesquisar as Sagradas Escrituras é um trabalho muito honrado e frutífero para a alma. Porque como a árvore que é regada, a alma regada pelas Divinas Escrituras é enriquecida e produz frutos na sua estação, particularmente a fé ortodoxa, e é adornada com folhagem sempre verde - que são as acções benquistas a Deus e imperturbável contemplação. Porque nestas Escrituras encontramos uma chamada para toda a virtude e dissuasão de qualquer vício" (40).

Não é suficiente apenas ouvir a leitura das Escrituras durante a Liturgia na igreja, é necessário praticar a leitura e estudar diariamente. É através desta perspectiva que seremos capazes de entender mais rapidamente os preceitos de Deus, o Seu amor, a Sua natureza e o que Ele espera de nós, Seus filhos.

A leitura das Escrituras poderá ser feita individualmente, mas é mais proveitoso para a família ler em grupo as passagens do dia, indicadas no calendário ortodoxo. A leitura poderá ser feita em conjunto na hora de rezar no final da tarde. Esta prática habitua as crianças a esta importante leitura diária.

As Epístolas, Actos dos apóstolos ou Antigo Testamento podem ser lidas pela esposa ou pelos filhos enquanto que o Evangelho deverá ser lido pelo chefe da família. Após o término da leitura todos a começar pelo chefe da família, beijam o Evangelho, mostrando assim o seu amor e respeito pelo ícone de Deus - que são as suas palavras.

Durante a leitura, na hora da oração familiar, a nossa postura não deverá ser de relaxamento mas sim permanecer de pé, direitos, ouvindo a leitura como durante a oração. Devemos estar atentos às palavras da Sagrada Escritura. o bispo Inácio Brianchaninov dá-nos um conselho para a leitura do Evangelho:

"Ouvindo a leitura do Evangelho não procurai o prazer, não procurai o êxtase, não procurai ideias fulgurantes, prendei-vos infalivelmente à Santa Verdade... Lede o Evangelho com a maior reverência e atenção. Não considerai nada do que está escrito de pouca importância, ou de pouca consideração. Em cada letra deste livro resplandece a vida. Fazer pouco caso da vida significa morte" (41).

Esta cuidadosa perspectiva do bispo Inácio dever-se-ia aplicar à leitura de todas as Escrituras, não somente do Evangelho. A nossa receptividade à Palavra de Deus deverá ser tão digna e atenta quanto a nossa receptividade ao Corpo e ao Sangue de Cristo. Quando recebemos a Santa Eucaristia, temos o máximo cuidado para que o Corpo e o Sangue não caia dos nossos lábios no chão. Da mesma forma, devemos ser igualmente cuidados para que a Palavra de Deus não caia dos nossos pensamentos, acções e palavras. Uma pessoa que recebe a Palavra de Deus de forma distraída tem a mesma culpa que uma outra que por negligência deixa cair o Corpo e o Sangue de Cristo.

 

Domingos, sábados, vésperas e dias festivos.

A Divina Liturgia aos Domingos e/ou dias festivos não pode ser substituída pela oração familiar em casa. Nestes dias a família deverá comparecer à igreja paroquial, pois é aqui que a maior graça divina vem sobre nós - o Corpo e o Sangue de Cristo.

Sábado à tarde e vésperas de dias santos deverão ter especial atenção da família. Assistir às Vésperas na igreja paroquial é a maneira ideal de passar uma tarde. Entretanto, se por motivo de ter filhos pequenos ou de doença dos familiares não pudermos comparecer às Vésperas, então devemos passar a tarde de maneira sossegada, ocupados com orações e leitura espiritual. Os cristãos ortodoxos não podem passar estas tardes no cinema, festas, divertimentos, jogando cartas, cortando relva, pescando ou em actividades rotineiras, dentro ou fora de casa. Rádio, TV, vídeo e instrumentos musicais não se devem utilizar nestas tardes, pois o dia santo já se iniciou ao pôr do sol. Os entretenimentos são permitidos somente depois da Liturgia do dia santo.

Na véspera de festas maiores e domingos (quando se celebra a vigília da Ressurreição de Cristo, toda a semana), os casais cristãos ortodoxos devem-se abster de relações sexuais, a fim de poderem dirigir o seu pensamento, acções e actividades para o crescimento espiritual e não se dispersar. A Igreja Cristã não vê a relação sexual dos cônjuges como o acto que gerou o pecado original de Adão e Eva. A abstinência de relações físicas nestas ou em outras ocasiões não se relaciona com a ideia de que possam ser impuras ou pecaminosas. O Concílio da Igreja do ano 340 AD (Concílio de Gangra) decretou quatro cânones que confirmam a dignidade das relações conjugais.

Cânone 1:

Se alguém desonra o casamento ou abomina ou desonra uma mulher no leito com seu marido, não obstante ela ser reverente e ter fé, como se ela não fosse digna do Reino dos Céus, que seja excomungado (42).

Cânone 9:

Se alguém permanece virgem, ou se reserva como se o fosse, abominando o matrimónio , não atende os padrões santos de estado de virgindade, que seja excomungado (43).

Cânone 10:

Se alguém que conduz uma vida em estado de virgindade em nome do Senhor encara pessoas casadas com desdém, que seja excomungado (44).

Cânone 14:

Se uma mulher abandona seu marido porque ela abomina o casamento, que seja excomungada (45).

A abstinência de relações sexuais é por motivos espirituais e de preparação. Este raciocínio é antigo como a própria Igreja, já que São Paulo, na sua epístola aos Coríntios (1 Cor. 7:5), indica que marido e mulher não se devem recusar excepto quando se devotam à oração.

Já mencionamos o turíbulo como parte do cantinho dos ícones. Este turíbulo é usado em casa nas vésperas de grandes festas, fins de sábado, no início da quaresma nos outros períodos de jejum, na véspera do dia santo padroeiro da família, no dia do patrono da família e em outras ocasiões. Algumas famílias usam o turíbulo em cada fim de tarde na hora da oração, mas no mínimo usa-se nas ocasiões referidas.

O oferecimento do incenso a Deus é uma prática que remonta o tempo de Moisés quando o Senhor ordenou a forma de queimar o incenso (Ex. 30:1,7-9).

A queima do incenso como oferta a Deus continuará até o final dos tempos, tal como foi revelado por Deus a São João (Rev. 8:3-5).

Segundo o mandamento e a revelação de Deus a Igreja usa-o nos ofícios divinos. Da mesma forma que a igreja paroquial o usa, a igreja familiar também. No sábado à noite, vésperas de festas e nas outras ocasiões, a casa é abençoada com incenso. O chefe da família leva o turíbulo por todos as divisões da casa, incluindo sótão e cave, e faz o sinal da cruz diante das quatro paredes de cada divisão e sobre as camas. Alguns ortodoxos costumam acrescentar: "este quarto, ou esta cama é abençoado pelo sinal da Santa Cruz." Quem leva o turíbulo vai acompanhado pelos familiares cantando o tropário da festa ou do domingo, segurando uma vela ou ícones. A procissão começa no cantinho dos ícones e vai pela casa e retorna ao mesmo lugar.

O turíbulo, incenso e carvão podem ser comprados nas igrejas paroquiais ou mosteiros. O pároco ou diácono poderá com satisfação mostrar como acender o carvão e oferecer o incenso.

As cinzas do carvão e do incenso não devem ser deitadas fora, mas enterrados em lugar onde não seja pisado.

Os dias de festa são celebrados pelos ortodoxos como ocasiões especiais, de muita alegria. Estes dias não são tidos como dias normais e por esta razão os lares ortodoxos são decorados especialmente para a festa. A decoração da casa e do canto dos ícones pode ser um trabalho dos pais junto com os filhos. A decoração propriamente dita, a benção da casa com o turíbulo, tudo concentra a atenção para a festa. Ela não será ofuscada por qualquer outra celebração familiar, pois afinal o lar ortodoxo é uma igreja familiar e Deus é o centro de sua existência. Não há nada tão vazio como um Natal celebrado, como muitos fazem, com decorações, mesa posta, presentes e reunião da família e estes passam a ser o centro e razão da celebração. Por outras palavras, Cristo é um estranho nessa celebração.

 

A celebração do onomástico (dia do santo padroeiro).

Os nomes dados às crianças devem ser sempre nomes cristãos. O santo escolhido será o patrono da criança. Muitas vezes a criança recebe o nome do santo que é comemorando no dia (ou nos dias próximos) do seu nascimento.

 

Os períodos de jejum.

Há quatro períodos de jejum por ano, bem como quase todas as quartas e sextas feiras, quando nos devemos abster de carne e de todos os produtos animais (lacticínios). A orientação pode ser encontrada no Livro de Receitas para Cristãos Ortodoxos.

Os períodos e dias de jejum e suas normas também podem ser consultados no calendário de São Nectário, ambos disponíveis na St. Nectarios Press. Os preceitos do jejum não são fáceis de praticar, tal como o nosso cumprimento dos mandamentos de Cristo... (Mat. 5:48). Muitas vezes os ortodoxos vêem o jejum como algo quase impossível de cumprir. No entanto, este aspecto do jejum é, na verdade, a parte mais fácil.

Quando jejuamos obedecemos não apenas às regras da alimentação mas abstemo-nos de qualquer outro pecado, de maneira a que enquanto o estômago está em jejum, a língua também deva "jejuar", abster-se de pronunciar calúnias, mentiras, asneiras ou dizer mal do nosso irmão, abster-se de cair na ira ou em qualquer outro pecado. Os olhos também devem jejuar, abstendo-nos de olhar futilidades. Não dê liberdade aos olhos, de olhar com despudor e sem medo qualquer pessoa. As mãos e pés também deverão se preservar de qualquer má acção. (46).

Nos lares ortodoxos os períodos de jejum são caracterizados por mais orações individuais e familiares, leitura da Sagrada Escritura e outras leituras espirituais. O divertimento deverá ser limitado ao máximo para que nossa atenção não seja desviada. Em muitas casas os aparelhos de TV, rádio e som não são ligados ou são restringidos ao máximo.

 

A água benta e o óleo.

Deve ser mantido no canto dos ícones (e às vezes nos quartos) um frasco com água benta, trazida da igreja onde foi benzida. Esta água deve ser utilizada e não guardada e trocada por outra nova. A água benta deve ser usada quando uma pessoa cai sob o domínio de maus espíritos. A pessoa deve tomar alguns goles desta água e também ser aspergida com ela. Em situações quando a família sente que há uma força maligna dentro de casa, o chefe deve aspergir as paredes da igreja familiar com esta água benta da mesma maneira que o padre faz. Os outros familiares, segurando velas acesas ou ícone, acompanham durante a aspersão da água benta. O mau espírito deve ser exorcizado por meio desta borrifação da água santificada. Entretanto, se a força maléfica persistir, deve-se chamar o padre para benzer a igreja familiar.

A água benta (juntamente com o pão bento da igreja, se disponível), devem ser tomados de manhã em jejum. Em caso de doença, de tentação ou de ira, poderá ser tomada e também usada em feridas ou cortes, fazendo-se o sinal da cruz.

No Antigo e no Novo Testamento faz-se referência ao azeite como a principal fonte benéfica para iluminar, cicatrizar, para se untar e para fins cosméticos. A prática de se ungir com azeite é observada hoje em dia pela Igreja Ortodoxa tal como nos tempos dos apóstolos. A unção com azeite tem lugar no Sacramento do Baptismo e na Extrema Unção e no Ofício da Vigília, nas vésperas de grandes dias santos.

O azeite simboliza a misericórdia divina e, quando usado para ungir, significa uma incorporação da graça de curar. Por isso, é frequente os cristãos manterem um pequeno frasco com azeite santo no canto dos ícones e ungirem a testa com o sinal da cruz.

O azeite tirado das lamparinas que queimam em lugares santos, nos túmulos de santos e diante de ícones miraculosos é considerado como abençoado por Deus e é frequente usado pelos ortodoxos da mesma maneira que aquele usado na igreja.

Água benta e azeite são considerados como restauradores e protectores, quando são usados com fé e convicção de que foi a graça do Espírito Santo que os santificou.

 

 

A doença na Igreja familiar.

Quando, devido a doença de alguém na família, não é possível ir à Liturgia, os outros membros deverão trazer para casa a prósfora (o pão bento). A prósfora não substitui a comunhão, mas destina-se àqueles que, por uma razão ou outra, não puderam comungar. Os doentes e debilitados beneficiam fisica e espiritualmente através desse vínculo com a confortante Igreja de Cristo.

Em caso de doença, física ou mental, os ortodoxos depositam a sua confiança nos médicos e medicamentos somente até um certo limite. A água benta e o azeite santo são usados como dádiva de Deus para auxiliar em certas ocasiões. As orações rezadas pelo doente e seus familiares são muito importantes.

O padre deverá ser solicitado a visitar o doente para poder rezar por ele, oferecer conselhos espirituais e trazer os sacramentos da confissão, comunhão e extrema unção. A ideia de que devemos chamar o padre somente quando a pessoa está em risco de vida não é uma prática ortodoxa mas uma influencia ocidental e é contrária às Sagradas Escrituras. O padre não vem para preparar o doente para a morte mas sim para trazer a vida espiritual. A extrema-unção é um sacramento com objectivo principal de restaurar a saúde espiritual e física de um indivíduo, não é preparação para a morte. (Jam. 5:14-15).

O padre que visita um doente deverá receber as boas-vindas e a casa deverá ser previamente ter sido preparada. Dever-se-á desligar rádios, televisões, para não haver distracção e para as pessoas se concentrarem nas grandes bênçãos que vêm através do sacramento. Os preparativos do doente deverão ser previamente acordados com o padre.

Durante a gravidez a mulher ortodoxa deverá estar especialmente ocupada com o lado espiritual do seu estado. Dentro dela vive uma criança nove meses e como ela é parte do corpo da mãe também receberá a graça espiritual que a mãe receber. Comunhão frequente e orações frequentes são muito desejáveis durante a gestação, de forma a que a graça divina possa envolver mãe e filho. Ao saber da gravidez ou após o nascimento da criança, os pais poderão requisitar o molieben de acção de graças para agradecer a graça de terem um filho. No oitavo dia após o nascimento a criança recebe o nome, de acordo com a tradição da Igreja. Mesmo que o hospital e a legislação precisem do nome antes, os pais ortodoxos deverão levar a criança à igreja no oitavo dia. Se as condições da criança não o permitem, este oficio poderá ser feito em casa diante dos ícones.

No quadragésimo dia após o nascimento, a mãe leva o bebé à igreja para que o filho seja "apresentado à Igreja." Desta forma lembramos a tradição de quando a Virgem Maria trouxe Jesus Cristo ao Templo para se purificar e O apresentar a Deus (Luc. 2:22-38).

 

O perdão na família cristã.

O fundamento que une uma comunidade cristã - seja ela uma paróquia ou uma família - é a capacidade e a prontidão de cada um dos membros de pedir perdão ao outro. Se não temos esta capacidade como podemos esperar o perdão de Deus? No "Pai-Nosso "que Cristo nos ensinou a rezar, pedimos o perdão a Deus nas seguintes condições: "Perdoe-nos os nossos pecados assim como nós perdoamos àqueles que nos ofenderam " (Mat. 6:12). O remédio mais perfeito contra a ira e a irritabilidade, é pedir perdão depois de uma discussão. Se é difícil para o orgulho humano, então apresse-se ainda mais a fazê-lo, pois é difícil somente para o orgulho, e se lhe parece intolerável, então saberá que tem outro problema, o orgulho. Sente-se e pense sobre a sua alma e reze para que o Senhor o ajude a ter controlo sobre si mesmo e peça perdão e reconciliação à pessoa ofendida, mesmo se esta pessoa é culpada e mereceu a repreensão (47).

A família cristã é a mais básica estrutura das relações humanas e da sua estabilidade depende a estabilidade de toda a Igreja. Uma desarmonia entre famílias cristãs alastra e penetra na paróquia. Os membros de uma família devem apressar-se a pedir perdão quando erram. Pedir perdão não deixa que a animosidade, a ira e o ódio criem raízes, pois isto pode causar a dissolução da família e da igreja familiar. O desastre não é apenas prejudicial fisicamente mas também espiritualmente.

A procura do perdão para palavras rudes ou ira nunca deverá ser deixada para amanhã, pois a demora permite que ela se enraíze no coração e assim gera-se um precedente para a próxima vez. Finalmente, quando evitamos pedir perdão criamos um hábito e também torna-se um hábito deixar que as paixões nos dominem ao ponto de o orgulho já não nos permitir pedir perdão.

Os abades dos mosteiros pedem perdão diariamente aos seus irmãos e diante de toda a comunidade durante o oficio das vésperas. Isto demonstra a importância de se pedir perdão àqueles com quem convivemos.

Procurar pedir perdão aos familiares é determinado pela Igreja numa determinada data do ano que é após o oficio das vésperas no último domingo que antecede o início da quaresma, quando todos os paroquianos pedem perdão uns aos outros. Cada um diz ao outro: perdoe-me, que sou pecador/a "e ajoelha-se baixando a cabeça até o chão, um diante do outro, após o que trocam o beijo apostólico da paz, nas faces, 3 vezes ou na mão direita de cada um.

Marido e mulher na véspera de comungarem, como parte da preparação, devem pedir perdão um ao outro, aos filhos ou a qualquer outro familiar da casa. Em algumas famílias devotas as crianças ao pedirem perdão beijam a mão direita de seus pais.

Antes da santa comunhão, o ortodoxo deve pedir perdão aos paroquianos e amigos na paróquia com quem teve desentendimentos (dizendo que vai comungar e por isso está pedindo perdão).

Pede perdão a eles, de forma generalizada, sem mencionar nenhuma ofensa em especial, a não ser que exista uma especial razão para tanto; a resposta que se dá é: "o Senhor há-de perdoar!" Este costume tem por base dois fundamentos. Quando as pessoas trocam ofensas, na realidade estão a ofender Deus; e é a Deus que confessamos os pecados, descriminando-os. No entanto, a confissão deverá ser feita na presença de um padre e somente por nós mesmos pois só assim nos reconciliamos com todos (48).

Conclusão.

A salvação, ou a vida eterna é o objectivo da nossa vida terrena. Este objectivo requer um constante empenho para se ter uma verdadeira atitude cristã, uma tarefa difícil de se cumprir qualquer que seja a nossa idade.

A influência do mundo contemporâneo que nos circunda, os fundamentos ateus e humanísticos em todos os aspectos da vida humana, tornou extremamente difícil o cumprimento dessa vida cristã.

A igreja paroquial e o lar são os únicos bastiões onde Deus pode ser venerado, glorificado e suplicado. Estes são os únicos lugares onde o cristianismo pode ser ensinado e onde podemos adquirir coragem para começar a viver uma vida cristã.

A casa e o meio familiar são muito importantes para mantermos contacto com a nossa fé e para alcançarmos a vida eterna. Para tornar isto possível o lar deverá transformar-se em algo mais, que é a igreja familiar.

Esta nos fornece um meio no qual podemos crescer e ganhar maturidade cristã. A verdadeira compreensão das responsabilidades de um casamento cristão e do estabelecimento de uma igreja familiar, na verdade não nos faz aproximar da maturidade cristã. Isto é apenas teoria e não a prática. O que Deus espera de nós são as acções e não racionalizações e abstracções sem vida.

As nossas vidas, o casamento e o lar permanecerão como aquele vinho inferior que foi servido aos nubentes na festa de Canaã, se não nos propusermos a ser activos para alcançar a nossa meta de maturidade cristã.

Somente através de grande empenho para receber Cristo e a vida cristã é que a nossa vida e nosso lar se transformarão, como aquele vinho do casamento de Canaã. (Jn. 2:1-12).

 

 

N o t a s.

(1) São João Crisóstomo "Homilias da Epístola de São Paulo Apóstolo para os Efésios," uma bilioteca selecionada dos Padres Nicenos e Pós-Nicenos da Igreja Cristã, ed. Philip Schaff (Grand Rapids. Michigan: Wm B. Eerdmans Pub. Co. 1969), vol CIII, Homilia Xxp. 148.

(2) página 143 (3) (4) página 146 mesmo livro

(50 Khrapovitsky, Metropolita Antonio de Kiev e Galícia, "Confissão. série de palestras sobre os Mistérios do Arrependimento." Primeira publicação (russa) em Varsóvia, Polonia, 1928, tradução inglesa disponível no Holy Trinity Monastery, Jordanville, NY página 92.

(6) Brianchaninov, bispo Inácio - "A Arena. Uma oferta ao Monastismo Contemporaneo (Madras, India, Teh diocesan Press, 1970), página 252.

(7) Khrapovitsky, Metropolita Antonio, po. cit.p.94

(8) Sergieff, Rev. João Illiytch (São João de Kronstadt), "Minha vida em Cristo"(Jordanville, NY Holy Trinity Monastery, 1971) pt. I, p.117.

(9) São João Crisóstomo, op cit. p. 145

(10) página 144 (11) página 147 (12) página 144 (13) (14) página 146

mesmo livro

(15) Cavarnos, Constantino, São Cosme Aitolos (Belmont, Mass. Instituto de Estudos Bizantinos e Gregos Modernos, 1971) p. 52

(16) São Joáo Crisóstomo, op.cit., 146

(17) página 145 (18) (19) página 148, (20) página 151 mesmo livro

(21) (22) página 148 (23) (24) página 143 mesmo livro

(25) página 149 (26) Macário "Staretz" Direcionamento espiritual, cartas de Staretz Macário (willits, California, Livros ortodoxos Orientais, n.d). pag. 64.

(27) Sergieff, op.cit.p. 136

(28) Sao João Crisóstomo, op.cit.p.150

29) página 151 (30) p.148 (31) p'. 150

(32) mesmo livro

(33) Sergieff, Op.Cit. p.245

(34) São João Crisóstomo, "Homilias sobre as Epístolas de Paulo aos Corintios." Uma seleção dos padres nicenos e pós-nicenos da Igreja Cristã e. Philip Schaff (Grand Rapids, Michigan: Wm.B. Eerdmans Pub. Co., 1969) Vol XII p. 265.

(35) Holy Transfiguration Monastery - "Instruções para o uso do pavio e boia"

(36) Sergieff, Rev. João Illiytch (São João de Kronstadt), ' Minha Vida em Cristo," (Jordanville, NY. Holy Trinity Monastery, l971) pt.II p.151.

(37) Macário, op. cit.,p.65

(38) Sergieff, op.cit. p.34

(39) S. Cirilo de Jerusalém, "Palestras de Catecismo: sobre a Crucificação e Enterro de Cristo"- Biblioteca dos Padres da Santa Igreja Católica (Oxford: John Henry Parker, 1845) vol. 34 palestra XIII, 36 pp. 161-162.

(40) São João de Damasco, Exposição da Fé Ortodoxa"- seleção dos padres Nicenos e pos-nicenos da Igreja Cristã, ed. Philip Schaff and Henry Wace (Grand Rapids, Michigan: Wm B. Eerdmans Pub.Co.,1973) vol. IX p.89

(41) Brianchaninov, Bispo Inácio, "Lendo o Evangelho"- Vida ortodoxa Julho-Agosto 1997, nr.4 (106) p.9

(42) Os 21 cânones do Concilio Regional que teve lugar em Gangra, O Timão-Chicago: A Sociedade Cristã ortodoxa Educacional, 1957, p. 523.

(43) mesmo livro p.526

(44) mesmo livro

(45) mesmo livro, p. 527

(46) São Abba Doroteu, "Direcionamento para o exercício espiritual," Antigos Padres da Filocália, trad. E. Kadloubovsky e G.E.H. Palmer (Londres: Faber and Faber Ltd1963) p.176.

(47) Khrapovitsky, op.cit.p.45

(48) Macário, op. cit. p.29.

 

 

 

Missionary Leaflet #

Holy Protection Russian Orthodox Church

2049 Argyle Ave. Los Angeles, California 90068

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

(matrimonio.doc, 07-05-99)