O Sacramento

de Pentecostes

Arcipreste George Florovsky

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior.

 

"O Sacramento de Pentecostes apareceu originalmente no Journal of the Fellowship of St.Alban e St. Sergius, Nº. 23 (London, 1954; pgs. 29-35). Reimpresso com permissão do autor. "Consensus Ecclesiae" apareceu no Nº. 24 do mesmo Journal.

A Igreja é uma. Isso não significa simplesmente que só há uma Igreja, mas que a Igreja é unidade. Em sua humanidade ela é transladada para um novo plano de existência para que ela possa se aperfeiçoar em unidade na imagem da vida da Trindade. A Igreja é uma no Espírito Santo e o Espírito a "constrói" no completo e perfeito Corpo de Cristo. A Igreja é predominantemente uma na comunhão dos sacramentos. Colocando-se de outra forma, a Igreja é uma no Pentecostes, que foi o dia da misteriosa fundação e consagração da Igreja quando todas as profecias foram realizadas. Nessa "terrível e desconhecida celebração" o Espírito Confortador desceu e entrou no mundo no qual Ele nunca havia estado presente da mesma forma como agora Ele começa a habitar. agora Ele entra no mundo para habitá-lo e para tornar-se a fonte todo poderosa de transfiguração e deificação. A concessão e a descida do Espírito foi uma única e não-repetível Revelação. Nesse dia, num momento, uma fonte inexaurível de água viva e Vida Eterna foi aberta aqui na terra.

O Pentecostes, assim, é a totalidade e a fonte de todos os sacramentos e ações sacramentais, a uma e inexaurível fonte de toda vida misteriosa e espiritual da Igreja. Habitar ou viver na Igreja implica numa participação no Pentecostes.

Além disso, o Pentecostes tornou-se eterno na Sucessão Apostólica; isso é, na ininterruptibilidade das ordenações hierárquicas na qual cada parte da Igreja está a todo momento organicamente unida com a fonte primária. As linhas de poder procedem da Sala Superior. Sucessão Apostólica não é meramente, como se fosse, o esqueleto canônico da Igreja. Genericamente falando, a hierarquia é primariamente um princípio carismático; isto é — uma "ministradora de sacramentos," ou "uma divina economia." E precisamente nessa capacidade a hierarquia é um órgão da unidade Católica da Igreja. É a unidade de graça. É para a Igreja o que a circulação do sangue é para o corpo humano. A Sucessão Apostólica não é tanto a base canônica quanto a base mística da unidade da Igreja. E mais associada com o lado divino do que com o lado humano da Igreja. Historicamente a Igreja permanece de fato uma em seu sacerdócio. É precisamente por essa ininterruptibilidade Apostólica de sucessivas ordenações que o todo da Igreja é demarcado em uma unidade de corpo por uma unidade do Espírito. E só há um modo e uma aproximação: aproximar-se e beber da uma fonte de vida, uma vez revelada.

A função peculiar dos bispos é ser o órgão da Sucessão Apostólica. O bispo difere do padre em seu poder para ordenar, e só nisso. Nem é isso somente um privilégio canônico e somente um poder de jurisdição. É o poder da ação sacramental além do possuído pelo padre. Na celebração da Eucaristia o bispo não tem precedência sobre o padre e nunca pode ter,pois o padre tem peno poder para celebrar, todo padre sendo primariamente indicado para o propósito de oferecer o Sacrifício Eucarístico.É como o celebrante da divina Eucaristia que o padre é o ministro e o construtor da unidade da Igreja. A unidade do Corpo de Cristo decorre da unidade na refeição Eucarística. Mas em acréscimo a isso o bispo tem seu próprio dever particular na construção da unidade da Igreja, não como o oferecedor do Sacrifício sem Sangue mas como o ordenador. A Última Ceia e o Pentecostes são eventos inseparavelmente ligados um no outro. O Confortador desceu quando o Filho tinha sido glorificado em Sua morte na Cruz. Mas eles ainda são dois sacramentos que não podem ser fundidos um com o outro.

O mesmo se aplica para os dois graus da ordem: o bispo é acima do padre e é pelo episcopado que o Pentecostes se torna universal e eterno. Além disso toda igreja particular através de seu bispo, ou, para ser mais preciso, em seu bispo,é incluída na totalidade Católica da Igreja como um todo. Através de seu bispo é ligada ao passado e à antigüidade. através de seu bispo ela forma uma parte do organismo vivo do Corpo da Igreja Universal. Pois cada bispo é ordenado por muitos bispos em nome do indiviso episcopado. Em seu bispo cada uma das igrejas cresce e transcende seus próprios limites, e entra em contato com e se funde com outras igrejas, não só por conta do amor fraterno e lembrança, mas na unidade da misteriosa e cheia de graça vida.

Toda Igreja local por isso acha seu centro e sua unidade no bispo, não tanto porque ele é a cabeça e pastor local, mas porque através dele ela está incluída na misteriosa "sobornost" ("catolicidade") do corpo da Igreja de todos os tempos.

"Nós afirmamos que a ordem dos bispos é tão necessária para a Igreja que sem ela a Igreja não é uma Igreja e um Cristão não é um Cristão, e que ambos nem podem ser chamados assim. Pois o bispo é o sucessor dos Apóstolos pela imposição de mãos e pela invocação do Espírito Santo, tendo sucessivamente recebido o poder concedido por Deus de perdoar os pecados ou mantê-los. Ele é a imagem viva de Deus na terra, e devido a divina atividade e poder do Espírito Santo é a fonte abundante de todos os sacramentos da Igreja Universal através da qual é obtida a salvação. Nós consideramos que um bispo é tão essencial para a Igreja como o respirar para o homem e o sol para o mundo" (da Epístola dos Patriarcas Orientais para os Bispos da Grã-Bretanha, 1723, par. 10).

No dia de Pentecostes o Espírito desceu não só sobre os Apóstolos, mas também sobre aqueles que estavam presentes com eles; não somente sobre os Doze mas sobre toda multidão (conferir com Discourses onde João Crisóstomo interpreta os Atos). Isso significa que o Espírito desceu sobre toda Igreja Primitiva então presente em Jerusalém. Mas apesar do Espírito ser um, os dos e ministrações na Igreja são muitos e variados, de modo que enquanto no sacramento do Pentecostes o Espírito desceu em todos, foi só sobre os Doze que Ele concedeu o poder e o nível do sacerdócio prometido a eles por Nosso Senhor em Seus dias de carne. As características distintivas do sacerdócio não ficaram embotadas com o envolvimento de todos no Pentecostes. Mas a simultaneidade desse jorrar do Espírito na Igreja toda testemunha para o fato de que o sacerdócio foi fundado dentro da sobornost da Igreja.

É com isso que a direta proibição de ordenação num sentido "geral" ou "abstrato" (isto é, sem uma indicação definida para uma igreja ou congregação) está diretamente relacionada (4 Oecum., regra 6). Ordenação secreta também é proibida. Ela deve ser sempre pública e aberta, na própria Igreja, diante do povo e com o povo. Além disso, a participação do "povo" na própria ordenação é requerida, e não somente como reverentes expectadores que seguem as orações. Os "axios" ou "améns" não são simplesmente um acompanhamento, mas também um testemunho, e uma aceitação. O poder de ordenar é concedido ao bispo e somente à ele. Mas é dado à eles dentro da Igreja como para pastores de um rebanho definido. E eles podem e devem realizar esse poder somente na sobornost da Igreja e com a concordância do Corpo inteiro — ou seja, dos presbíteros e do povo — e não de maneira "geral" ou "abstrata." Isso significa que um bispo deveria morar na Igreja e a Igreja no bispo.

A determinação antiga de que um bispo deveria ser sagrado por dois ou três bispos é especialmente significativa (Apost. 1). A implicação desse requerimento é bastante óbvia (cf. Mt. 18:16, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada). Mas os bispos que ordenam testemunham para que? Na sagração de um bispo nenhum bispo pode agir separadamente por si próprio como um bispo de uma Igreja local definida e particular pois assim ele permanece um estranho tanto quanto qualquer outra diocese ou episcopado que nada tenha a ver com isso. Ele age como um representante da sobornost dos co-bispos, como membro e participador dessa sobornost. Além disso está implícito que esses bispos pertencem a uma diocese particular e como bispos governantes não são separados e na verdade são inseparáveis dos seus rebanhos. Todo co-ordenador age em nome da sobornost e da totalidade Católica (cf. 1 Oecum., regra 4: "é muitíssimo conveniente para um bispo ser indicado por todos os bispos de sua região; mas se acontecer ser isso inconveniente seja por alguma razão especial ou devido à distância, que ao menos três deles se reúnam em um lugar, e que aqueles que estiverem ausentes indiquem sua aquiescência por escrito, e que assim se prossiga com a sagração").

De novo, essas não são medidas simplesmente canônicas, ou administrativas ou disciplinares. Sente-se que há uma profundidade mística nelas. Nenhuma realização ou extensão da Sucessão Apostólica é possível de outra maneira, que não seja dentro da inquebrável sobornost da Igreja toda. A Sucessão Apostólica não pode ser separada ou divorciada do contexto orgânico da vida da Igreja inteira, apesar dela ter sua própria raiz divina. No rito romano um só bispo sagra, mas a presença de "testemunhas" ou "assistentes" é requerida, o que assim confirma a totalidade e sobornost do ato sacramental.

O ponto principal está aqui na cooperação da Igreja toda, mesmo que ela venha a ser admitida e representada simbolicamente. Em condições normais da vida de Igreja a Sucessão Apostólica nunca deveria ser reduzida a uma numeração abstrata de sucessivas ordenações. Nos tempos antigos a Sucessão Apostólica implicava antes de tudo numa sucessão para uma cátedra definida, de novo em uma sobornost local particular. Sucessão Apostólica não representa uma cadeia auto-suficiente ou ordem de bispos. É um órgão e um sistema da unicidade da Igreja. Além disso, não só "santas ordens" [ordo], mas também o "poder sacerdotal" [jurisdictio] são congruentes em graça. "Jurisdição" significa o concreto do poder e dignidade do bispo, e ela se prende precisamente na sobornost, isto é — unidade orgânica com corpo particular de pessoas da Igreja. Por isso, separado da "jurisdição," isto é, na mera suficiência do nível episcopal, o poder de ordenar não pode ser praticado. Se tal ordenação "abstrata" não pode ser reconhecida como "válida," ela é, ainda, não só "ilegal" [illicita], mas também misticamente defeituosa. Pois toda ruptura dos limites canônicos implica simultaneamente numa certa perda de graça, ou seja—isolamento, estranhamento, descuido, esquecimento místico, limitação da vigilância da Igreja, e diminuição de amor. Pois a Sucessão Apostólica foi estabelecida para a unidade e sobornost, e nunca deve se tornar o veículo de exclusividade e divisão.

A Apostolicidade da Igreja não é exaurida pela ininterruptibilidade da sucessão sacerdotal desde os Apóstolos. Sucessão Apostólica não deve ser separada da Tradição Apostólica, e de fato nunca pode.Sucessão Apostólica não é somente uma reminiscência histórica, nem fidelidade para Tradição significa simplesmente uma obstinada insistência no que é antigo, e ainda menos demanda uma arcaica adaptação do presente para modos ou padrões do passado. Tradição não é Arqueologia da Igreja mas vida espiritual. É a memória da Igreja. É, primeiramente, uma corrente ininterrupta de vida espiritual procedente da Sala Superior. E a fidelidade à Tradição Apostólica não é fidelidade só à antiguidade, mas uma ligação viva com toda totalidade da vida da Igreja. A fidelidade à Tradição é similarmente uma participação no Pentecostes, e Tradição representa uma complementação do Pentecostes — "Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda verdade" (Jo. 16:13). Falando-se genericamente, a Tradição não é tanto uma salvaguarda e princípio conservativo, mas um princípio progressivo e desenvolvedor—o começo da vida, renovação e crescimento. Os tempos Apostólicos não são somente um exemplo externo para imitação ou repetição, mas uma fonte eternamente renovada ou experiência e vida na graça. Tradição é o poder para ensinar, confessar, testemunhar e proclamar a profundidade da experiência da Igreja, que permanece sempre a mesma e intacta. E esse "poder para ensinar" [potestas magistério] está incluído na Sucessão Apostólica e baseado nela.

Mas esse "poder" é uma função da totalidade Católica da Igreja. "De omnium fidelium ore pendeamus, quia in omnem fidelem Spiritus Dei spirat." A hierarquia em sua capacidade de ensinar representa, como se fosse, os lábios da Igreja. Isso não significa que a hierarquia adquire suas credenciais de ensino das pessoas da Igreja, pois ela o recebe do Espírito Santo, como uma "unção de verdade" [charisma veritatis certum], de acordo com a expressão de Santo Irineu de Lion, no sacramento da ordenação. Mas isso é o direito ou poder de expressar e testemunhar a fé e experiência da Igreja. A hierarquia ensina como um órgão da Igreja. Por isso ela é limitada pelo "consenso da Igreja" [e consensu ecclesiae], e de novo não tanto na ordem dos cânons como da vida e evidência espiritual. Só para a hierarquia é dado o direito de ensinar e testemunhar na Igreja.

Mas a hierarquia não é um "corpo de ensino" auto-suficiente e completo na Igreja. A hierarquia então só ensina de modo Católico quando ela, de fato, mantém e contém a Igreja dentro de si. Toda Igreja local tem o direito a uma "voz de ensinamento" só na pessoa de seu bispo, que, no entanto, não exclui o direito de liberdade de opinião. De outro lado o bispo também tem o "poder de ensinar" somente dentro da Igreja, somente dentro da real sobornost de seu povo e rebanho. O bispo recebe esse poder e habilidade para ensinar, não de seu rebanho, mas do próprio Cristo, em Cujo ministério de ensinamento ele participa através da graça da Sucessão Apostólica. Mas o poder para ser, como se fosse, o coração de seu povo é conferido à ele, e por isso o povo também tem o direito e obrigação de testemunhar, de concordar e de recusar consentimento, na procura da completa unanimidade e plenitude da sobornost.

O poder de ensinar é baseado portanto numa dupla continuidade. Primeiro a ininterruptibilidade da vida espiritual da Igreja como a "plenitude Daquele Que cumpre tudo em todos" (Ef. 1:23). Todo o significado e grandeza da vida Cristã está na aquisição do Espírito Santo. Nós entramos em comunhão com o Espírito nos sacramentos, e nós devemos lutar para sermos enchidos com o Espírito em orações e ações. Esse constitui o mistério de nossa vida interior.. Mas mesmo nisso é assumido que nós pertencemos à Igreja e somos parte de sua própria textura. Cada modo individual de vida também está incluído na sobornost, e isso significa que é condicionado e limitado pela Sucessão Apostólica. Em segundo lugar, uma comunhão universal por todo o tempo ou uma união nos sacramentos só é possível através da ininterruptibilidade da sucessão sacerdotal. O desenvolvimento histórico da Igreja, sua integridade orgânica em revelar o fundamental "depositum fidei" são igualmente baseados na Sucessão Apostólica. A plenitude Católica do ensinamento da Igreja só é possível para nós através da Sucessão Apostólica que substitui a relatividade histórica de épocas separadas, e que também age como um verificadora da diferenciação interna entre o que é variável e o que é permanente. A liberdade da investigação e opinião teológicas encontra suporte e base para si nessa "unção para a verdade" hierárquica. É precisamente a Sucessão Apostólica que nos permite, em nossa teologia, ir acima e além do espírito do nosso tempo e entrar na plenitude da verdade.

Falando-se genericamente, a eficácia e realidade dos sacramentos não dependem da fé daqueles que participam deles. Pois os sacramentos são realizados pelo poder de Deus, e não do homem, e a fragilidade e imperfeição de um sacerdote individual são tornadas boas pela misteriosa ação de toda a Igreja nas ações dele—a Igreja que o indicou e o autorizou a cumprir o "ministério dos Sacramentos." No entanto, apesar disso, é dificilmente possível isolar completamente o momento objetivamente-gracioso dos sacramentos. Por exemplo, como pode a Sucessão Apostólica ser preservada quando a Tradição Apostólica foi quebrada juntamente com a continuidade da vida espiritual? Em todo caso a injúria à fé só pode ser refletida de uma forma ou outra na hierarquia de tais comunidades nas quais o "depósito de fé" Apostólica não foi salvaguardado, e nas quais a plenitude da Tradição foi diminuída por fraturas na continuidade histórica. Isso se aplica especialmente aos casos onde a injúria afeta os motivos básicos da própria "sucessão," quando a fé Eucarística torna-se ofuscada, e quando a idéia do sacerdócio torna-se vaga.

Pode-se acrescentar que em tais casos a ligação empírica coma plenitude da vida da Igreja tanto passada quanto presente é usualmente rompida, e a comunidade torna-se contida em si mesma e isolada, sendo que uma separação empírica ou cisma tem lugar. Tal vontade de isolamento e, como se fosse, solidão não pode senão afetar aquele ministério da Igreja que é o total significado no qual está a preservação e expressão da unidade. de novo, isso não é uma questão de legalidade ou de "jurisdição." Não tanto canônica com misticamente todo sacerdote deve agir por conta e em nome da Igreja toda — e só assim seu Divino ministério fica pleno de valor místico. A Eucaristia é uma e indivisa e só pode ser celebrada dentro dos limites místicos da Igreja Católica. Como um "dissidente" pode celebrar a Eucaristia?

Ainda mais equívoca é a continuidade da Sucessão Apostólica em corpos cismáticos, particularmente se ele foi continuado, ou mesmo "restabelecido" precisamente para tornar a separação permanente. Como pode a cadeia hierárquica persistir na divisão, quando a sua própria razão de ser é unidade? E como podem hierarcas cismáticos agir por conta e em nome da Igreja Católica? No entanto, a vida da Igreja na prática testemunha o fato de que isso é possível, e que a vida na graça em corpos cismáticos não é extinta e exaurida, de qualquer modo, não imediatamente. No entanto, nós não podemos pensar ser possível que ela continue imaculada, precisamente pela razão que não se pode isolar rigorosamente diferentes aspectos do todo orgânico da vida da Igreja. Isolamento humano e histórico, mesmo que não levem de todo para o rompimento da Sucessão Apostólica, devem de qualquer modo enfraquecê-la misticamente. Pois a unidade na graça só pode vir a ser revelada no "mistério da liberdade," e só através do retorno à plenitude e comunhão Católica pode qualquer corpo hierárquico separado recuperar seu pleno significado místico. Simultaneamente com esse retorno há a aceitação do "depósito de fé" Apostólico em toda sua plenitude. A Sucessão Apostólica só é reforçada pela fidelidade para com a plenitude da Tradição Apostólica. Na inseparabilidade das duas está a plenitude do Pentecostes.

 

Consensus Ecclesiae

24 Nov 1934

Duas notas explicativas para o artigo

do Professor Florovsky “O Sacramento do Pentecostes.”

1."Somente para a hierarquia é dado o direito de ensinar e testemunhar na Igreja." Isso não significa que o clero e os leigos são meramente destinados a uma obediência incondicional e formal ao episcopado. Similarmente também não implica que o "direito de ensinar" é conferido aos bispos à parte do povo. Ao contrário, não deve haver espaço para exclusivismo na Igreja. Dessa maneira o forte contraste que existe na Igreja Romana entre a Igreja que "ensina" e a que "apreende" é abandonado. è mais correto falar de coordenação entre todo o estrato, ou elementos, dentro da Igreja. Eu enfatizo de novo "o bispo também tem o ‘poder de ensinar’ somente dentro da Igreja, somente dentro da real sobornost de seu povo e rebanho." Todos dentro da Igreja são chamados a não só obedecer mas também entender. Precisamente nas questões de fé e dogma todos estão constritos por responsabilidade pessoal. É preferível não se falar de "responsabilidade" — o termo é demasiado formal — é melhor se dizer que todos deveriam habitar na verdade. O rebanho deve não somente ouvir com atenção mas também aquiescer. Não é tanto a autoridade que decide mas sim uma evidência interior de vida espiritual. Dentro dos limites da sobornost não quebrada existe uma alocação de atividades e tarefas. De qualquer modo, todo mundo é chamado a ser um exemplo vivo e testemunha de sua fé e confiança, e a ensinar e ajudar todos. esta não é a questão em pauta.. Nem é mesmo uma das pesquisas teológicas que, formalmente não podem ser delimitadas por nenhuma posição na Igreja. A questão é uma de direito de testemunho dogmático em nome da Igreja.

De novo, o poder da hierarquia não assume que a verdade, como se fosse, é revelada automaticamente para o bispo, por força de sua ordenação e dignidade, ou que ele pode descobrir a verdade sem consulta e comunhão com a Igreja fora da qual ele perde todo seu "poder," falando-se genericamente. No entanto, só para ele e para ele só, é dado o direito de falar de modo Católico. Não é somente um direito ou privilégio canônico. Está ligado com o fato de que o bispo como tal é um centro místico de seu rebanho, que une nele a unicidade da comunhão sacramental. O fato que, não sem freqüência, os bispos não são teólogos suficientemente bons não contradiz essa afirmação. Em tais casos eles são forçados a encontrar suporte em outros sacerdotes que são melhores preparados que eles. Esse tem sido o caso desde os mais antigos tempos da Igreja: nós temos simplesmente que lembrar de Eusébio de Cesaréia, cujo conselheiro chefe era Basílio o Grande. Isso não é maior contradição que o simples fato de que existem bispos indignos e também Cristãos indignos, falando-se genericamente. Mesmo leigos podem e devem estudar, discutir, pregar, escrever e argumentar; eles podem, similarmente, discordar dos bispos. Mas dar testemunho em nome da Igreja é direito só do bispo. Pode-se colocar também assim: direito de opinião e conselho é dado para todos, mas o "poder de ensinar" é concedido somente para a hierarquia — por certo na inviolabilidade da comunhão soborny. A escassez de bispos preparados na Igreja Ortodoxa em tempos recentes é lamentada tão profundamente, mas de modo algum é ligada com esse postulado.

Em relação a "teólogos leigos" na Rússia, com dificuldade pode-se dizer que eles têm o poder de ensinar em nome de toda a Igreja — o que de modo algum limita seu grande significado histórico. Pois a voz dos leigos deve ser ouvida no coro Ortodoxo. O líder do coro, no entanto, só pode ser um bispo. Há vários dons, e todos os dons são necessários. Somente um, porém, é apontado pastor e o rebanho é confiado à ele. "...e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz" (Jo. 10:4)

2. A desunião dentro do mundo Cristão implica, com certeza, em sua fraqueza mística, e aqui nada é claro. Eu gostaria de enfatizar um só ponto. O próprio fato da divisão na Igreja é um paradoxo e uma antinomia. Um sair da igreja é mais compreensível que uma divisão na Igreja, enquanto a própria eficácia dos sacramentos no cisma (raskol) em si não afasta o inquestionável fato de que o espírito de divisão é um sintoma insalubre. Não é fácil desenvolver esse ponto-de-vista, pois ele é precisamente um paradoxo. No entanto, eu penso que o Ocidente se separou do Oriente, e que a culpa do Ocidente é maior. Toda história dos desvios romanos testemunha para isso, e eles continuam a oprimir a Igreja Anglicana também. Porém, isso nos traz para um tema novo e muito complicado, qual seja, o da divisão das Igrejas, e será mais sábio retornar a esse tema separadamente em outra ocasião.

 

 

Folheto Missionário número P095j

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(sacrament_pentecost_florovsky_p.doc, 06-25-2004)