Os Escolhidos

a Vida Dos Santos.

VI

Novembro-Dezembro

Bispo Alexander (Mileant)

Traduzido por Olga Dandolo

 

Indice:

Novembro.

Arcanjo Miguel. Os Mártires Victor e Estefânia. São João o Caridoso. São Mitrofanos de Voronez. A Grande Mártir Catharina. São Inocêncio de Irkutsk. O Santo Apóstolo André o Que Foi Chamado Primeiro.

Dezembro

São Filaret o Misericordioso. A Grande Mártir Bárbara. São João de Damasco. São Nicolau o Milagroso. Santo Ambrósio de Mediolano. Bendita Angelina. São German do Alasca. Mártires Eugênio e Outros. Profeta Daniel. Mártires Sebastião, Zoé e Outros. O Grande Mártir Ignácio. Mártir Virgem Juliana. Santa Mártir Anastácia a Libertadora. Venerável Mártir Eugênia. O Santo Protomártir Estevão o Arcediácono. Santa Mártir Anísia.

 

Novembro.

Arcanjo Miguel.

21 de novembro (8 nov. pelo calendário da Igreja)

Arcanjo Miguel — ocupa um dos mais elevados postos na hierarquia dos anjos; tem participação estreita nos destinos da Igreja. A Sagrada Escritura nos ensina que, além do mundo físico existe um grande mundo espiritual habitado por seres sensatos, bondosos, chamados de anjos. A palavra "anjo," no idioma grego, significa "mensageiro." A Sagrada Escritura os denomina assim, pois, Deus freqüentemente através deles declara Sua vontade ao povo. Em que consiste propriamente a vida deles no mundo espiritual, o qual eles ocupam, e em que consistem suas atividades — nós não sabemos quase nada, e, na essência não estamos capacitados a entender. Eles existem em condições totalmente diferentes das nossas condições materiais: lá o tempo, espaço e todas condições de existência possuem teores completamente diferentes. O prefixo "arc" adicionado a alguns anjos, aponta para serviços mais elevados comparados com outros anjos.

O nome Miguel — em hebraico significa "Quem é Igual a Deus." A Sagrada Escritura narrando a respeito da aparição de alguns anjos a diversas pessoas, chama pelo nome pessoal aqueles que carregam uma missão especial em confirmar o Reino de Deus na terra. Dentre eles — os arcanjos Miguel e Gabriel, citados nos livros canônicos da Escritura, bem como os arcanjos Rafael, Uriel, Sariel, Jeremias e Rachel, mencionados nos livros não canônicos da Escritura ("cânone"- ou lista oficial dos antigos livros sagrados, foi legalizada no século 5 antes de Cristo). Os antigos livros sagrados, escritos depois disso não foram incluídos no cânone e por essa razão são chamados de "não canônicos." O arcanjo Gabriel aparecia com freqüência para alguns justos na qualidade de mensageiro de acontecimentos grandiosos e felizes no que dizia respeito ao povo de Deus. (Dan. 8:16, 9:21; Luc. 1:19, 26). No livro de Tobias o arcanjo Rafael fala a seu respeito: "Eu sou um dos sete anjos que elevam as preces dos santos e assistem na presença de Deus Santo" (Tob. 12:15). Daqui surgiu a convicção de que no céu existem sete arcanjos e o arcanjo Miguel é um deles.

Na Sagrada Escritura o arcanjo Miguel é chamado de "príncipe," "chefe do exército do Senhor" e surge como principal combatente contra o diabo e qualquer transgressão entre as pessoas. Daqui a Igreja o denominava de "arquistratit," ou seja, guerreiro mais velho, superior, líder. Assim, o arcanjo Miguel apareceu para Josué na qualidade de ajudante na conquista da Terra Prometida. Ele apareceu também para o profeta Daniel durante a queda do reino da Babilônia e o começo da criação do reino Messiânico. Foi feita a profecia a Daniel sobre a ajuda do arcanjo Miguel ao povo de Deus no período das iminentes perseguições do anticristo. No livro do Apocalipse o arcanjo Miguel aparece como o principal líder no combate contra o dragão-diabo e outros anjos rebelados. "E aconteceu a guerra no Céu: Miguel e Seus Anjos guerreavam contra o dragão, e o dragão e seus anjos guerreavam contra eles, mas não resistiam, e não houve lugar para eles no Céu. É o grande dragão que era a primitiva serpente, chamado de demônio e satanás foi derrubado." O apóstolo Judas sumariamente menciona o arcanjo Miguel como adversário do diabo (Josué 5:13; Dan. 10,12:1; Judas 1:9; Apo. 12:7-9; Luc. 10:18).

No espírito da Sagrada Escritura alguns pais da Igreja acreditam no arcanjo Miguel como participante de outros acontecimentos importantes na vida do povo de Deus, onde, no entanto, ele não é chamado pelo seu nome. Assim, por exemplo, acreditam que ele aparece na forma de um pilar misterioso de fogo caminhando diante dos israelitas em sua fuga do Egito e a perda, e a vitória da imensa força armada assíria sitiada em Jerusalém nos tempos do profeta Isaías (Exo. 33:9, 14:26-26; 2 Reis 19:35) também foi atribuída ao arcanjo Miguel.

A Igreja venera o arcanjo Miguel como defensor da fé e lutador contra a heresia e todo o mal. Nos ícones ele é pintado com uma bola de fogo na mão, ou uma lança precipitada no diabo. No início do 4o século a Igreja instituiu o feriado do "Concílio"(ou seja, reunião) dos santos anjos encabeçados pelo arcanjo Miguel no dia 8 de novembro. Maiores detalhes sobre os anjos são vistos na brochura dedicada a eles (veja o 12o folheto missionário).

Troparion: "Líderes celestiais, nós os indignos imploramos que vós, através de vossas preces nos defendam com a proteção das asas de vossa glória imaterial, guardando a nós que nos prostramos diante de vós e clamamos: livrai-nos do mal, pois sois os chefes das forças superiores."

 

Os Mártires Victor e Estefânia.

24 de novembro (11 de nov. pelo antigo calendário)

Nos tempos do imperador Marco Aurélio (também Antônio, 161-180), na cidade de Damasco (Síria) trabalhava como soldado um cristão chamado Victor, nascido na Itália. Quando o imperador ordenou a perseguição aos cristãos, o chefe do exército de nome Sebastião exigiu que Victor abdicasse a Cristo e reverenciasse aos ídolos pagãos. "Você é soldado do nosso rei, e deve obedecer suas ordens," anunciou Sebastião. "Não, — respondeu Victor, — agora eu sou soldado do Rei Celeste e servirei apenas a Ele, e os ídolos abomináveis eu desprezo!" Aí então Sebastião entregou Victor a diversas torturas. Os executores quebravam os dedos das mãos e dos pés de Victor e os viraram do avesso de suas articulações. Durante as torturas são Victor orava a Deus e suportou os sofrimentos com valentia.

Depois os executadores forçaram Victor a engolir um pedaço de carne envenenada por um feiticeiro. Tendo rezado e feito o sinal da cruz sobre a carne o mártir a engoliu. Diante dos olhos de todos aconteceu um milagre real: Victor permaneceu ileso. Aconteceu aquilo que o Senhor outrora havia prometido a Seus discípulos: "se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal" (Marc. 16:18). O feiticeiro, tendo visto que Victor não sofreu nada com seu veneno, passou a crer em Cristo. Ele entendeu, melhor do que os outros que nenhuma força terrestre não poderia neutralizar seu veneno letal.

Então submeteram são Victor a torturas mais pesadas. Estefânia, esposa de um dos soldados que estava judiando de Victor, não conseguindo mais testemunhar as terríveis torturas infligidas ao inocente mártir de Cristo, o defendeu. Os verdugos enlouquecidos pelo sangue, ao invés de parar, se irritaram com Estefânia e viram nela sua nova vítima. Eles a amarraram a duas palmeiras inclinadas e a rasgaram em pedaços. Assim morreu Estefânia ainda muito jovem; ela tinha apenas 15 anos. Após matarem Estefânia, os executadores retornaram a torturar Victor e o decapitaram. Os Santos mártires Victor e Estefânia sofreram por Cristo no ano 175.

Antes de sua morte o mártir Victor predisse aos verdugos que eles morreriam em 12 dias e o chefe do exército seria capturado em 24 dias. Tudo aconteceu da maneira que foi predito por ele.

Troparion: Teus mártires Ó Senhor, em seus sofrimentos tendo recebido as coroas da incorruptibilidade de Tí Deus nosso: possuindo Tua força, não foram suprimidos, afligidos e destruíram as fracas audácias dos demônios. Através de suas súplicas salva nossas almas.

 

São João o Caridoso.

25 de novembro (12 nov. calendário da Igreja)

São João foi chamado de "caridoso" pelo amor que nutria pelos pobres. Ele foi patriarca Alexandrino e viveu no século 7. Ele descendia de pais nobres que viviam na ilha de Chipre. Aos quinze anos ele sonhou que uma bela jovem se aproximou de seu leito, vestida de branco e com uma grinalda de oliveiras na cabeça, e ao perguntar-lhe quem ela era, respondeu que era a primeira entre as filhas do grande Rei, e se ele se tornar seu amigo receberá do Pai dela uma grande benção. "Ninguém mais além de mim tem acesso a Ele." João entendeu que essa filha do Rei é a própria virtude da capacidade e amou essa virtude. Quando se tornou adulto João casou-se e teve filhos. Logo Deus o privou de sua mulher e filhos, e então ele renunciou ao mundo e dedicou-se à caridade. A fama da vida caridosa e santa de João chegou até o rei Herodes e ele o nomeou patriarca. Na qualidade de patriarca João convocou seis ecúmenos da igreja e falou: "Transcrevam todos meus senhores e meus protetores que vivem em Alexandria." Os ecúmenos não entendiam quem eram esses senhores e esses protetores do patriarca. "Eles são — disse o santo — os mendigos e os indigentes, são meus senhores e protetores, eles podem merecer para mim o amor de Deus e o Reino Celeste." Os ecúmenos então transcreveram e ele recomendou a todos que ajudassem diàriamente.

São João mesmo tendo sido nomeado archipastor, era bastante acessível a todos: dois dias por semana, desde cedo até ao meio dia ele ficava sentado diante das portas do templo e recebia a todos aqueles que procuravam com ele justiça ou ajuda. "Se eu — dizia ele, — sempre tenho acesso livre ao meu Senhor e peço aquilo que necessito, — então como não dar acesso livre até mim ao meu próximo e não ouvir seus pedidos e necessidades?" Quando se passava um dia que acontecia de São João não prestar auxílio a alguém, ele considerava esse dia como perdido. Os que se aproximavam do patriarca freqüentemente se indignavam pela extraordinária generosidade dele e tinham receio de que ele esgotasse os meios eclesiásticos; mas o santo na esperança em Deus dizia que, mesmo que pobres de todo universo chegassem à Alexandria, mesmo assim, ele tinha esperança de que não iria empobrecer os bens eclesiásticos. E o Senhor não o abandonava. Distribuindo tudo aos pobres o santo vivia de tal maneira a não se permitir luxo e excesso em nada. Era dócil e humilde no mais alto grau. Certa vez durante a liturgia, lendo a palavra do Santo Evangelho sobre a reconciliação com o próximo antes da oração (Mat. 5:23-24), ele lembrou-se de um clérigo castigado por ele por causa de um delito e que estava muito magoado; imediatamente ele o chamou e caindo aos seus pés, pediu perdão e a reconciliação.

São João liderou o rebanho por dez anos. : "O Rei dos reis te chama para Sí"- foi lhe dito em sonho por um mensageiro. "Agradeço a Tí, Senhor, que Tu me permitiste dar tudo a Tí, e eu nada guardei das riquezas da vida," — disse o santo patriarca ao Senhor partindo deste mundo. Suas relíquias encontram-se na Hungria. A cabeça está em Presburgo no mosteiro; parte da mão — em Afone.

 

São Mitrofanos de Voronez.

6 dez. (23 nov. calendário eclesiástico)

São Mitrofanos (chamado de Miguel) nasceu no ano de 1623 nos limites da cidade Vladimir em uma família clerical. Os virtuosos pais lhe deram uma boa educação no que diz respeito à fé ortodoxa. Quando ficou viúvo aos 40 anos. Miguel tornou-se frade na habitação "zolotnikovskoi" do Adormecimento de Nossa Senhora, próximo da cidade Suzdal. Aplicado em suas façanhas o frade foi promovido a monge em 1663, e após três anos foi elevado a abade do Mosteiro de Yakromski.

Na qualidade de abade São Miguel era respeitado tanto pelos clérigos como pela sociedade. O patriarca Joaquim (1673-1690) confiando plenamente em São Mitrofanos o encarregava de pagar os salários das multidões com o tesouro do mosteiro. Após a abertura da nova cátedra diocesana em Voronez, o abade foi ordenado bispo em 1682. Durante a sucessão do imperador Pedro ao trono, são Mitrofano precisou ser testemunha de grandes dissidências de opiniões, as quais deixaram nele uma triste impressão. Ele percebeu o quanto o mal pode ser imenso, gerado pela dissidência, e por esta razão, no decorrer de sua vida ele foi um batalhador ativo contra as divisões.

A despeito de ocupar um alto posto sacerdotal na Igreja, São Mitrofanus era acessível a qualquer um. Sua casa ministerial servia como porto para os aflitos, hospedaria para os viajantes, local de cura para os doentes. Com freqüência o santo se dirigia à cidade visitando os enfermos e consolando os sofredores com a esperança na misericórdia de Deus. Muitas vezes ele visitava prisões. Entre os outros bispos ele contava com uma imensa consideração por parte do imperador Pedro. Durante suas freqüentes visitas a Voronez, onde, no rio Don estava sendo edificado um estaleiro e construída uma frota, Pedro o Grande supriu o santo com dinheiro e terrenos em benefício dos necessitados. O santo era a primeira pessoa que o imperador visitava quando chegava a Voronez, e após ter conversado com ele, invariàvelmente o imperador saía com o semblante iluminado e disposição revigorada.

Durante os 20 anos de seus serviços episcopais São Mitrofanus contribuiu muito para o bem da Igreja. Em 1705 ele adoeceu sèriamente. O imperador Pedro, que chegou a Voronez nessa época, visitou o santo moribundo, prostrou-se aos pés do leito de morte e não se afastou dele até seu fim. Durante o funeral o imperador estava entre os que carregavam o caixão. O santo Mitrofanus foi sepultado na catedral de Voronez.

A lembrança da virtuosidade e bondade de São Mitrofanus se manteve por longo período nos cidadãos de Voronez. No ano de 1718 quando suas relíquias foram exumadas e as pessoas foram curadas por elas, ninguém mais teve dúvidas sobre sua santidade. Mais tarde, em 1833, as relíquias do santo foram transportadas cerimoniozamente para a catedral da Anunciação da Virgem Maria em Voronez.

Troparion: Modelo de fé, e imagem da humildade, pela palavra e vivência; assim era São Mitrofanus para sua paróquia: ele surgiu iluminado pelo brilho dos santos, igual à luz do sol, enfeitado com a coroa da imortalidade, incorrupção e graça. Intercede a Cristo Deus pelos cristãos ortodoxos para serem salvos neste mundo.

 

A Grande Mártir Catharina.

7 de dezembro (24 novembro pelo calendário antigo)

Santa Catharina nasceu em Alexandria na segunda metade do terceiro século. Ela descendia de família nobre e distinguia-se pela inteligência iluminada em cultura e pela beleza. Muitos pretendentes ricos e aristocratas procuravam sua mão para o matrimônio e sua mãe e seus parentes tentavam persuadí-la a aceitar o casamento. Mas Catharina demorava para responder e dizia aos seus familiares: "Se querem que eu me case, então encontrem um jovem cuja beleza e inteligência sejam similares às minhas."

Deus fez de tal maneira, que Catharina conheceu um belo eremita que possuía uma mente iluminada e levava uma vida íntegra. Discutindo com Catharina méritos de seus admiradores, o eremita disse: "Conheço um Noivo, o qual é superior a tí em tudo. Ele é incomparável." Em seguida ele lhe deu um ícone da Virgem Santíssima, prometendo que Ela iria ajudá-la a ver o extraordinário Noivo.

Na mesma noite, Catharina num sono leve, viu aparecer a Rainha do céu rodeada por anjos parada diante dela segurando em seus braços uma Criança que possuía o brilho do sol. Inutilmente Catharina tentou lançar o olhar à face Dele: Ele virava o rosto. "Não despreze Tua própria criação, — suplicava a Mãe de Deus ao seu Filho, — diga-lhe o que deve fazer para ver o Teu semblante iluminado." "Deixa que ela retorne ao ancião e então saberá através dele" respondeu a Criança.

O sonho maravilhoso impressionou profundamente a jovem. Tão logo o dia amanheceu, ela se apressou a ir ver o ancião, prostrou-se aos seus pés pedindo seus conselhos. O ancião lhe explicou detalhadamente o que era a verdadeira fé, relatou sobre as maravilhas dos céus para os justos e sobre a destruição dos pecadores. A sábia virgem entendeu a superioridade da fé cristã sobre o paganismo, acreditou em Jesus Cristo como Filho de Deus e recebeu o santo batismo. Após ser batizada uma luz celestial infiltrou-se nela e a preencheu de uma alegria imensa.

Quando Catharina retornou à casa com a alma renovada, orou por longo tempo, agradecendo a Deus pela misericórdia a ela concedida. Tendo adormecido durante a prece, nòvamente ela viu a Mãe de Deus. Agora a Criança Divina olhava para ela com benevolência. A Virgem Santíssima tomou a mão direita da jovem e a Criança colocou um lindo anel em seu dedo dizendo: "Não conheça um noivo terrestre." Catharina compreendeu que a partir daquele momento ela estava prometida em casamento a Cristo e despertou cheia de uma alegria ainda maior em seu coração. Depois disto ela mudou completamente; tornou-se modesta, humilde e caridosa. Ela começou a rogar a Deus com freqüência, pedindo que Ele a guiasse e ajudasse. Um único objetivo a inspirava: viver para Cristo.

Pouco tempo depois chegou à Alexandria o co-imperador de Díoclesiano, Maximiliano (286-305). Ele enviou mensageiros às cidades do Egito chamando o povo para os festejos em honra dos deuses pagãos. Catharina se afligia pelo fato do rei, ao invés de contribuir para a instrução do povo, implantar cada vez mais superstições pagãs. Quando a celebração começou, ela chegou ao templo, onde se reuniram sacerdotes, nobres e intrépidos, e disse ao rei: "Você não se envergonha, ó rei’, em rezar para ídolos abomináveis! Conheça o verdadeiro Deus imortal e infinito; pois através Dele que os reis governam e o mundo existe. Ele desceu à terra e Se fez homem para nossa salvação."

Maximiliano enfureceu-se pelo desrespeito de Catharina por seu mérito real e mandou que a aprisionassem. Então, ele ordenou aos homens sábios que convencessem Catharina de que o paganismo era verdadeira. No decorrer de alguns dias eles expunham à jovem diversos argumentos em favor do paganismo, mas Catharina, através de sua lógica e argumentos sensatos, os despedaçava em picadinhos. Ela provava a eles que pode existir apenas um sábio Criador de tudo, o Qual com Suas realizações Se eleva infinitamente sobre as divindades pagãs. Finalmente os sábios pagãos se reconheceram vencidos pela lógica transcedente de Catharina. Tendo fracassado intelectualmente, Maximiliano, entretanto, não desistiu de seu intento em fazer Catharina mudar de opinião. Chamou-a e esforçou-se ao máximo para seduzí-la com presentes e promessas de honras e glórias. Porém Catharina se manteve íntegra.

Maximiliano precisou ausentar-se da cidade por um curto período. Sua esposa, a rainha Augusta, tendo ouvido falar muito a respeito da sabedoria de Catharina quis conhecê-la. Tendo se encontrado e conversado com Catharina, Augusta passou a crer em Cristo e se converteu à fé Cristã.

Quando Maximiliano retornou à Alexandria, nòvamente mandou buscar Catharina. Desta vez deixou cair a máscara de bondoso e começou a ameaçá-la de torturas e morte. Em seguida ele mandou que trouxessem uma roda com pontas afiadas e ordenou que a torturassem dessa maneira tão terrível. Mas tão logo iniciou-se a tortura, uma força invisível destruiu a roda e santa Catharina saiu ilesa. A rainha Augusta, ao tomar conhecimento do sucedido apresentou-se diante do marido e o censurou pela audácia de se revoltar contra o Próprio Deus. O rei ficou enfurecido pela interferência de sua esposa e mandou matá-la alí mesmo.

No dia seguinte Maximiliano chamou Catharina pela última vez e ofereceu-lhe de se tornar sua esposa, prometendo-lhe toda felicidade do mundo. Mas santa Catharina não queria nem ouvir falar a esse respeito. Vendo que todos seus esforços foram em vão, o rei mandou que a matassem, e o soldado decepou sua cabeça. Isso foi no ano 304.

Em seguida as relíquias de Santa Catharina foram transportadas para o Monte Sinai e desde então alí se mantiveram em um mosteiro com o nome dela. O Imperador Pedro o Grande deu uma preciosa urna para guardar suas relíquias.

Kondáquion: Face divina e puríssima da mártir que nos ergueu, venerável sábia Catharina: ela que propagou Cristo nos estágios, pisou na serpente, domou a inteligência dos filósofos.

 

São Inocêncio de Irkutsk.

9 de dezembro (26 novembro antigo calendário)

São Inocêncio (João no mundo) descendia de uma família de fidalgos, os quais no século 17 se transferiram para a província de Chernigov devido à depressão polonesa. Foi aí que nasceu Inocêncio, em 1680. Estudou na Academia Teológica de Kiev e ao graduar-se tornou-se monge do mosteiro Kiev-Pechora. Em 1710 o hieromonge Inocêncio passou a ser professor da academia eslavo-greco-latina de Moscou e após 9 anos sendo o monge mais culto e instruído, tornou-se hieromonge catedrático do navio "Sansão" ancorado no porto de Revel. Então Inocêncio foi promovido à posição de chefe dos hieromonges da frota na cidade Abo, onde dirigia os serviços dos cléricos que trabalhavam nos navios, e em 1721 foi nomeado dirigente do mosteiro de Alexander Nevski.

Desde que a Sibéria foi conquistada por Iermak no final do século 16, continuamente imigrantes russos ali se instalavam. No início do século 17 amadureceu a necessidade de criação, para os ortodoxos, de uma diocése siberiana especial com cátedra em Tobolsk. Em 1650 o chefe cossaco Kabarov ocupou a cidade chinesa de Albazin à margem esquerda do rio Amur, e dalí os cossacos podiam dominar toda a extensão do rio. No ano de 1685 os chineses com enorme exército e artilharia assediaram Albazin. 150 soldados foram mortos em desigual batalha, e cerca de 300 deles foram capturados. Alguns cossacos juntamente com suas esposas e filhos adotaram a cidadania chinesa, e logo após o imperador Kancy (1662-1722) os recebeu carinhosamente e instalou bem no coração da China — em Pequim. Foram eles que se tornaram a semente da missão ortodoxa russa na China.

Em 1718 morria o confessor da ortodoxia na China, e o Santo Sinodo apontou a hieromonge Inocêncio como seu sucessor. Naquela época já funcionava com sucesso na China a missão católica, apoiada pelo imperador Kancy (sociedade de Jesus) — "ordem dos jesuítas" que foi fundada em 1539 pelo nobre espanhol Inácio de Loiola para a propagação do catolicismo entre os hereges e pagãos. Quando o Sinodo notificou o imperador Pedro I sobre a decisão do prelado Inocêncio ser bispo de Irkutsk, o imperador decretou: "que seja ordenado arcebispo, porém será melhor não mencionar títulos de cidades"... para que os jesuítas não lhe trouxessem dificuldades.

No ano de 1721 o prelado Inocêncio foi tonsurado bispo na presença do imperador, e após alguns dias na qualidade de missionário, ele juntamente com um pequeno grupo de clérigos participantes de coral dirigiu-se para Irkutsk. Ele somente conseguiu obter essa cidade após um ano. Nesse meio tempo o governo chinês insitado pelos jesuítas se negou a fornecer o visto para "uma pessoa eclesiástica e um senhor muito importante," Inocêncio, e ele então foi obrigado a se instalar no Mosteiro da Trindade em Selenga na fronteira chinesa. A situação do bispo Inocêncio era extremamente difícil, e ele pediu ajuda ao Sinodo.

No final de 1727 o Sinodo apontou o prelato Inocêncio para ser de Irkutsk e Nerchinsk. Ele se confrontou com muitas dificuldades em seu trabalho ministerial. A proximidade da fronteira chinesa, a extensão e pouca população da diocese, grande quantidade de diversos povos: mongóis, buritas e outros grupos étnicos que não foram iluminados pelo Cristianismo, estradas em péssimas condições e pobreza, faziam com que o trabalho pastoral do santo fosse extremamente pesado. Pela negligência do senado e da imperatriz Catharina I o santo não recebia salário até sua morte e suportou extrema carência em tudo. Nessas condições, em parcos meios de vida do mosteiro da Ascensão de Irkutsk, se mantiveram duas escolas que foram fundadas por ele: russa e mongol.

O prelate Inocêncio incansàvelmente se preocupava com a organização dessas duas escolas, na seleção dos professores, abastecimento de livros para os alunos, roupas, provisões. Ele trabalhava incessantemente na organização da diocese e reforço de sua vida espiritual. Os testemunhos a esse respeito são os sermões do prelate que foram guardados, mensagens pastorais e resoluções . No trabalho exaustivo e nas privações ele retinha a firmeza espiritual. Ele era famoso por sua humildade e perspicácia. Em 1927 sucedeu em sua diocese uma má colheita de trigo e houve ameaça de fome no início da seca. Então nas igrejas de Irkutsk foram feitas "molhebin" (tedeum) para que chovesse e "akafist" para a Mãe de Deus. As orações — profetizava o santo, — devem parar no dia do profeta Elias. "E realmente, no dia 20 de julho, dia do profeta Elias, Irkutsk foi acometida por uma tempestade com chuvas tão fortes, que as ruas da cidade estavam cobertas de água que batia nos joelhos. Terminava a seca.

Durante a existência de São Inocêncio foi iniciada a construção do templo de pedras no mosteiro da Ascensão, no lugar do templo de madeira; as fronteiras de sua diocese se alargavam constantemente. Porém o santo não possuía boa saúde sob a influência do clima severo e pela fadiga ele morreu no dia 27 de novembro de 1731 aos 50 anos de idade. Foi sepultado no mosteiro da Ascensão distante cinco milhas de Irkutsk no ria Angar.

No ano de 1764 durante reformas da igreja monasterial de Tikvin, o local foi envolvido por um doce cheiro de suas relíquias e desde aquele tempo ocorrem constantes curas. São Inocêncio ajudava às pessoas não apenas em Irkutsk, mas também em lugares distantes da Sibéria. Em 1801, durante o reinado do imperador Paulo I a Igreja Russa canonizou São Inocêncio.

Troparion: Luz brilhante da Igreja, iluminando a cidade com o brilho de tua bondade,/ tu és glorificado por muitas curas recebidas por aqueles que chegam a tí com fé em Deus/, suplicamos a tí, Ó Santo Pai Inocêncio, protege com tuas orações esta cidade de todo mal e aflições.

 

O Santo Apóstolo André o Que Foi Chamado Primeiro.

13 dezembro (30 novembro pelo antigo calendário)

O apóstolo André nasceu na Galiléia. Essa parte do norte da Terra Santa se destacava por sua fertilidade e belas paisagens. As pessoas que alí viviam eram bem-humoradas e hospitaleiras. Os galileus fàcilmente viviam em perfeita harmonia com os gregos que povoavam sua pátria, muitos falavam grego e até tinham nomes gregos. O nome André — é grego e traduzindo significa valente.

Quando João Batista começou a pregar às margens do Rio Jordão, André juntamente com João filho de Zebedeu (que também vinha da mesma cidade Betsaida) seguiu o profeta a encontrar em seus ensinamentos uma resposta a seus questionamentos espirituais. Muitos começaram a pensar que talvez João Batista fosse o esperado Messias, mas ele explicava às pessoas que não era o Messias, mas sim que foi enviado apenas para preparar o caminho Dele. Naquele tempo o Senhor Jesus Cristo veio até João Batista no rio Jordão para o batismo, e este, apontando para o Senhor, disse aos seus discípulos: "Eis o Cordeiro de Deus, Que tira o pecado do mundo" (Joã 1:29). Ouvindo tais palavras, André e João seguiram Jesus. Quando o Senhor os viu, perguntou: "O que desejais?" Eles disseram: "Rabi (que quer dizer Mestre) onde Tu moras?" "Vinde e vêde," — respondeu-lhes Jesus, e daí em diante eles se tornaram Seus discípulos. Naquele mesmo dia o apóstolo André foi até seu irmão Simão Pedro e disse-lhe: "Nós encontramos o Messias." Foi assim que Pedro juntou-se aos discípulos de Cristo.

Porém os apóstolos não se consagraram imediatamente à denominação de "apóstolo." Através do Evangelho temos conhecimento de que os irmãos André e Simão Pedro e João e Tiago deveriam voltar para suas famílias por um determinado período para se ocuparem de seu habitual trabalho — a pesca. Passados alguns mêses, o Senhor, passando pelo lago da Galiléia e vendo-os pescando, disse: "Me acompanhem, e Eu os farei pescadores de pessoas." Então eles largaram seus barcos e redes, e daquele dia em diante tornaram-se discípulos permanentes de Cristo.

André, antes dos outros apóstolos que seguiram o Senhor, recebeu a denominação de "o chamado-primeiro." Ele esteve ao lado de Cristo durante o período do Seu serviço público. Após a Ressurreição do Salvador, o apóstolo André, juntamente com os outros discípulos, foi honrado a encontrá-Lo e esteve presente no monte das Oliveiras, quando o Senhor tendo os abençoado elevou-se aos Céus.

Após a descida do Espírito Santo, os apóstolos tiraram a sorte para saber quem iria para qual país para propagar o Evangelho. Santo André foi incumbido dos países situados ao longo do mar Negro, a parte do norte da penísula Balcânica, ou seja, a terra sobre a qual mais tarde formou-se a Rússia, e finalmente em Epirus, Grécia e Peloponésia, onde sofreu. Creiam em mim, — disse o apóstolo aos seus discípulos, — que nestes morros brilhará a graça de Deus: aqui haverá uma grande cidade; o Senhor iluminará essa terra através do santo batismo e erguerá muitas igrejas. "Em seguida o apóstolo André abençoou as montanhas do Kiev e em uma delas colocou uma cruz, a qual anunciaria a adoção da fé pelos futuros habitantes da Rússia.

Após retornar à Grécia, o apóstolo André parou na cidade de Patras, situada perto da baía de Corinthios. Alí, pela imposição das mãos, ele curou muitas pessoas, inclusive a nobre Maximilla, a qual passou a crer em Cristo com todo coração e tornou-se discípula do apóstolo. Como muitos moradores de Patras passaram a crer em Cristo o governador de Aegeatus se inflamou de ódio pelo apóstolo André e ordenou que ele fosse crucificado. O apóstolo, sem nenhuma intimidação pela condenação, em um sermão inspirado abriu diante dos aglomerados uma força espiritual e o significado do sofrimento do Salvador na cruz.

O governador Aegeatus não acreditou no sermão do apóstolo e chamou seus ensinamentos de insanos. Em seguida ele ordenou que crucificassem o apóstolo de tal modo que ele fosse torturado por mais tempo. Amarraram o santo André à uma cruz em forma de X, não pregando suas mãos e seus pés para que não morresse depressa. A sentença injusta de Aegeatus provocou indignação entre o povo, mas a sentença manteve forte.

Pendurado na cruz, o apóstolo André orava sem cessar. Antes da separação de sua alma com o corpo, uma luz celestial iluminou a cruz de André, e nesse brilho o apóstolo entregou sua alma nas mãos de Deus. Sua morte sofrida aconteceu perto do ano 62 após a Natividade de Cristo.

A igreja russa, tendo tomada a fé em Cristo da Bisantina cujos bispos levam sua secessão do apostolo André, também se considerava sua sucessora. Eis porque a lembrança de Santo André o Primeiro-Chamado é comemorada com tanta reverência na Rússia pré-revolucionária. O Imperador Pedro I em honra ao apóstolo André, a mais alta e primeira condecoração, a qual era dada a dignitários estatais. Desde os tempos do imperador Pedro, a frota russa fez como sua a bandeira de André, uma cruz azul em forma de X sobre um fundo branco, à sombra da qual teve muitas vitórias.

Troparion: Como chamado primeiro entre os Apóstolos e irmão do líder deles, Preceptor de todos, ó André, roga pela paz do mundo, e grande misericórdia às nossas almas.

 

Dezembro

São Filaret o Misericordioso.

14 dezembro (1o dez. conforme antigo calendário)

São Filaret nasceu no início do 8o século na região da Patagônia na Ásia Menor (atualmente Turquia). Ele era rico e nobre. Desde a tenra idade seus virtuosos pais o levaram ao amor a Deus e compaixão pelas pessoas, e essas qualidades de bondade ele conservou até a velhice profunda. Vivia feliz com sua esposa, com a qual teve um filho e duas filhas. Mesmo diante de sua riqueza e bem estar ele não tornou-se insensível como acontece com muitas pessoas em igual situação. Muito pelo contrário, ele se compadecia com os pobres e se preocupava com eles, se lembrando de que a fé sem boas ações — é morta. Muitos mendigos, viúvas e órfãos o conheciam como uma pessoa carinhosa e um generoso benfeitor.

E assim se passaram muitos anos. Mas então, foi a vontade de Deus permitir que ocorresse uma provação, igual à que aconteceu outrora ao justo Jó, o "muito-sofrido." Repentinamente a região onde morava São Filaret foi atacada por árabes e foi devastada por eles. Capturaram os escravos e os levaram presos, tomaram seu rebanho e se apropriaram dos campos. Restaram apenas a casa, um pequeno campo e um casal de gado. Filaret aceitou sua desgraça sem se lamentar dizendo igual a Jó: "Deus deu, Deus tirou. Bendito seja Seu nome."

Desde então São Filaret precisou suar o rosto para conseguir o pão; ele conheceu a necessidade e a aflição. Mas, diante de todas provações São Filaret não se amargurou e continuou a se apiedar dos sofredores e ajudar aos necessitados. Quando seu vizinho pobre perdeu seu único boi e pediu ajuda ao santo, Filaret lhe deu seu próprio boi. Pouco tempo depois, diante de semelhantes circunstâncias, São Filaret abriu mão de seu segundo boi. Sua esposa o censurava dizendo que ele tinha mais pena e se preocupava mais com os outros do que com sua própria família. Era doloroso para o santo ouvir tais acusações, mas ele não podia recusar aos que pediam ajuda, tendo a esperança de que o Senhor não o deixasse sem Seu auxílio. Não uma vez só ele despia suas vestes para dar aos necessitados. Quase sempre após cada boa ação praticada, ele se confrontava com algum contratempo em casa sendo obrigado a ouvir censuras de sua esposa e ver as lágrimas dos filhos.

Foi assim que a família de Filaret definitivamente empobreceu. Às vezes seus vizinhos por compaixão pela família dele mandavam pão ou farinha. Porém, Deus misericordioso, não permitindo que o virtuoso tivesse provações além de suas forças, decidiu colocar um fim aos sofrimentos e provações de Filaret por sua perseverança, paciência e bom coração.

A imperatriz Irina que governava Constantinopla juntamente com seu filho Constantino VI (780-797) decidiu que ele deveria casar-se. Com este objetivo ela enviou seus fidalgos às cidades e aldeias de seu império para que encontrassem as mais belas e inteligentes moças, dentre as quais o rei pudesse escolher um noiva.

Entre os vários lugares visitados pelos fidalgos, também a aldeia onde vivia Filaret foi incluída. Como era seu costume Filaret apressou-se em dar as boas vindas aos visitantes e ofereceu-lhes estadia em sua enorme casa, antes rica e agora vazia. Os bondosos vizinhos incumbiram-se de providenciar as refeições aos nobre. Ao explicarem o motivo de sua visita, os enviados imperiais se interessaram pela família de Filaret. Aconteceu que além do filho e filhas, ele também tinha três belíssimas netas. Vendo-as os visitantes ficaram tão impressionados com a beleza e modéstia de uma delas — Maria, que fizeram com que são Filaret concordasse em ir junto com a família à capital para que o imperador pudesse vê-la.

A bela Maria, educada na modéstia e de natureza dócil e quieta, causou tal impressão de fascínio no rei Constantino que logo tornou-se sua esposa, e o Misericordioso Filaret — o avô da imperatriz. Na qualidade de parente próximo do imperador, ele ganhou casas e ricas propriedades, manifestações de respeito e honra. Daí a pouco tempo também se casaram com nobres as outras duas netas de São Filaret. Todas essas mudanças felizes em sua vida São Filaret recebeu como gratidão com dádiva de Deus. Sua esposa e toda sua família envergonhadas por suas admoestações, agora rodearam-no de carinho e respeito. Mas mesmo nas novas condições de riqueza e vivendo na capital com todo respeito São Filaret não se esquecia dos pobres e necessitados e os ajudava com sua riqueza. No fim de sua longa vida, seu próximo fim lhe foi revelado. Ele chamou sua esposa, filhos e netas e contou isso a eles. Despedindo-se, São Filaret os abençoou dizendo: "Vocês sabem e viram minha vida, crianças minhas. O Senhor primeiramente me deu uma grande riqueza; depois me testou através da pobreza; e tendo visto que eu suportei tudo com paciência e resignação, nòvamente me elevou à fama e à igualdade com os reis e poderosos do mundo. Mas eu não guardei minha riqueza dentro de cofres e baús. Através dos pobres e sofredores eu as enviava a Deus. Peço que não se esqueçam de serem misericordiosos, defendam as viúvas e órfãos, visitem hospitais e prisioneiros, não percam reuniões na igreja, não peguem nada que não lhes pertence, não magoem ninguém, não façam calúnias, não difamem ninguém, não sintam prazer com a infelicidade nem dos amigos, nem inimigos, realizem memória pelos mortos e não se esqueçam de mim pecador pelas suas preces."

Em seguida, com as palavras : "seja feita a Tua vontade"- São Filaret entregou sua venerável alma (ano 792). O rei e a rainha, os fidalgos, muitos nobres e mendigos aos prantos acompanharam a procissão que levava seu corpo para ser enterrado no mosteiro do Julgamento do Senhor em Constantinopla. No decorrer de muitas gerações os habitantes de Constantinopla lembravam-se das misericórdias de São Filaret.

 

A Grande Mártir Bárbara.

dez. 17 (4 dezembro calendário antigo)

Santa Bárbara era filha única de Dioscopus, um nobre, pagão e que cedo enviuvou. Ele era déspota, acostumado à submissão de seus subordinados. Ele amava sua filha mais do que tudo neste mundo, e sendo pagão apenas pensava no bem estar dela na terra. Santa Bárbara vivia em Heliópolis da Fenícia (ao norte da Terra Santa) no final do 3o e início do 4o século. Com receio de que o contato com pessoas trouxesse à Bárbara amizades abaixo de seu nível, Dioscopus construiu uma esplêndida casa para ela com uma torre alta e ordenou que não saísse de lá para nada.

Sozinha em sua torre, a jovem Bárbara encontrava consolo sentando-se à janela da torre admirando a beleza dos arredores. Ela se deliciava vendo a cadeia de montanhas derretendo ao longe, a suavidade do tom esverdeado dos vales, a brancura das nuvens flutuando pela imensidão do céu e pelo aroma das flores dos campos e da relva. E quando o crepúsculo se aproximava e milhões de luzes uma após outra se acendiam no escuro do céu, a alma inocente de Bárbara era tomada pela admiração e sede de conhecer Aquele Quem criou essa admirável beleza. As respostas dadas por suas educadoras pagãs não a satisfaziam, e após longa reflexão, Bárbara chegou à conclusão de que existe apenas um Criador, bondoso, sábio e onipotente, o Qual criou e dá vida a tudo. Foi este Deus que a jovem Bárbara quis conhecer.

Quando Bárbara atingiu a maioridade o pai decidiu que ela deveria se casar. Uma multidão de pretendentes vinha até ela, mas ela os recusava sob vários pretextos. Então o pai, pensando que ela tornara-se anti-social devido à longa clausura, permitiu que ela saísse de casa e conhecesse pessoas. Pela providência de Deus, Bárbara conheceu diversas jovens cristãs e através delas teve conhecimento a respeito de Deus-Criador e Cristo Salvador. Ela, através de sua alma sutil entendeu que finalmente encontrou aquilo que há tempos procurava. Passando a crer, ela recebeu o batismo sem que seu pai soubesse.

Quando Dioscorus voltou para casa ficou surpreso vendo que a sauna que estava sendo construída para Bárbara possuía três janelas ao invés das duas que ele havia mandado fazer, e no mármore estava traçada uma cruz. Em um diálogo tenso com o pai, Bárbara não conseguiu mais esconder dele sua fé cristã. Ela explicou que três janelas simbolizam a Santíssima Trindade, e a cruz traçada por ela própria era um memória ao Salvador crucificado. Num acesso de raiva Dioscorus quis golpeá-la com sua espada, mas Bárbara fugiu de seu alcance.

Dioscorus encontrou-a somente no dia seguinte e a manteve trancada durante alguns dias, sem nenhum alimento. Em seguida ele entregou Bárbara a Marciano, governador da cidade, informando que ela era cristã e dizendo: "Faça aquilo que quiser com ela. Eu a renego."

Encantado com a beleza da donzela, Marciano em princípio tentava convencê-la, com palavras carinhosas, a renunciar à sua fé e oferecer um sacrifício aos deuses. Bárbara com palavras decididas recusou sua proposta e com bravura declarou diante de todos que acreditava em Cristo Deus Salvador do povo. Esta brava declaração da donzela levou o governador ao furor, e ele a entregou a torturas morais e físicas. Ma nem o desnudamento do seu corpo, nem o açoite público o qual causou feridas terríveis não abalaram o espírito forte de Bárbara. Durante seu sofrimento ela rezava a Deus sem parar, colocando toda sua esperança Nele. Após muitas torturas santa Bárbara foi jogada numa prisão, onde foi agraciada pela aparição do Próprio Cristo Salvador, que curou suas feridas e prometeu-lhe uma grande recompensa no Céu.

Ao amanhecer os carrascos chegaram à prisão e para seu espanto encontraram a mártir em perfeitas condições de saúde. Eles porém não se conscientizaram do milagre evidente e atribuíram a cura aos seus deuses. O governador novamente tentou coagir a santa a oferecer sacrifício aos ídolos, mas ela se mantinha firme. Então ela foi submetida a novas torturas, mas santa Bárbara adquiria novas forças espirituais em suas orações a Deus. Vendo que nem as torturas nem a lisonja obrigariam a cristã a renegar a fé, o governador ordenou que sua cabeça fosse decapitada com uma espada. Para que houvesse maior zombaria e humilhação, foi ordenado que santa Bárbara fosse levada para a execução completamente nua. Porém o Senhor fez um milagre para consolo de sua mártir: uma luz celestial a envolveu como se fosse uma vestimenta e assim os pagãos não puderam ver sua nudez. Antes da execução santa Bárbara rogava a Deus para que todos aqueles que, se lembrando de seu sofrimento pedissem sua ajuda fossem livrados de uma morte súbita. O Senhor aceitou o pedido da mártir, e ela ouviu uma voz que lhe prometia isso.

A decapitação foi efetuada pelo próprio pai da santa, totalmente endemoniado pelo ódio. Juntamente com santa Bárbara foi decapitada uma certa mulher cristã de nome Juliana, a qual vendo o martírio de Bárbara, criticou e condenou as autoridades por sua crueldade.

O julgamento justo de Deus sobre os tiranos não tardou. Naquele mesmo dia o pai de Bárbara e o governador foram mortos por um relâmpago, o qual os deixou completamente incinerados.

As relíquias da mártir Santa Bárbara foram preservadas e veneradas durante séculos numa igreja grega. Em 1108 a imperatriz grega Bárbara casou-se com o príncipe Sviatopolk de Kiev, filho de Iziaslavl. Ela trouxe consigo as relíquias de sua protetora celeste, as quais se encontravam no mosteiro de São Michael em Kiev.

Glorificada no Reino de Cristo, ela apareceu muitas vezes, até os nossos dias, às vezes sozinha e às vezes na companhia da Santa Mãe de Deus.

Troparion: Santa Bárbara que nós veneramos: quebrou os laços dos inimigos e igual a um pássaro libertou-se deles com o auxílio da arma da Cruz.

 

São João de Damasco.

17 dez. (4 dez. antigo calendário)

O famoso escritor e poeta eclesiástico São João de Damasco, em sua mocidade, servia na côrte do califa Abdul-Malek e foi governador da cidade de Damasco. Natural da Síria, ele viveu no meio do século 8, quando no império Bizantino se desencadeava com fúria a heresia iconoclastica: os ícones eram destruídos e aqueles que os veneravam eram severamente perseguidos. Sendo uma pessoa extremamente instruída e escritor talentoso, João de Damasco escrevia com muita convicção em defesa da veneração dos ortodoxos pelos ícones.

O imperador grego Leão Isauro que era veemente iconoclasta, ficou enfurecido com aquilo que João escrevia. Ele ordenou que seu escriturário estudasse a letra de São João e escrevesse uma carta em nome dele, endereçada ao imperador bizantino, onde ele ofereça seus serviços a Izauro para derrubar o califa. Esta carta falsificada foi enviada ao califa pelo imperador Leão como prova de sua lealdade a ele e traição de João de Damasco.

O déspota oriental sem ter propriamente analisado o assunto ou ouvido as explicações de João, ordenou que o trancassem na prisão e cortassem sua mão direita por ter, supostamente, escrito aquela carta traidora. Tendo consigo na prisão o ícone da Mãe de Deus, São João depositou diante Deus sua mão decepada e rezou longamente por sua aflição. A Virgem Santíssima apareceu em sonho para o sofredor e olhando carinhosamente para ele disse: "Eis sua mão curada, não se aflija mais." João despertou e com alegre surpresa viu que a mão decepada estava novamente ligada ao pulso, como antes. Ficou apenas uma estreita cicatriz lembrando a execução. Na abundância de tanta alegria e gratidão à piedosa Defensora, fluiu do fundo da alma de João o Cântico: "Toda criação se alegra em Tí, Oh Abençoada!"

A notícia sobre o milagre chegou aos ouvidos do califa, e ele, chamando João, pacientemente investigou o caso e se convenceu de sua inocência. Reconhecendo sua culpa perante João, o califa, para reparar a injustiça, ofereceu-lhe uma grande recompensa e altas honras. Porém João recusou tudo, entendendo como os bens e alegrias terrestres são temporários. Em agradecimento à Mãe de Deus ele encomendou uma reprodução de sua mão feita de prata e a colocou ao ícone diante do qual aconteceu o milagre. Este ícone recebeu o nome de "Três mãos."

São João distribuiu seus bens, e vestido como plebeu afastou-se para o mosteiro de São Sabba o Santificado, 25 km distante de Jerusalém. Como João era muito famoso, nenhum dos monges do mosteiro queria ser supervisor em seu trabalho de penitência. Finalmente um ancião concordou em gerenciá-lo com a condição de que João, por humildade, não escrevesse mais nada. Ele concordou e começou a trabalhar no mosteiro, igual a qualquer frade comum.

Após alguns anos, um monge amigo de João ao perder o pai, pediu que escrevesse alguma oração póstuma para o pai. Num momento de inspiração São João escreveu cânticos os quais até hoje são cantados no templo durante o réquiem. Um desses cânticos inicia-se com as palavras: "Como a doçura da vida existe quando não há tristeza..." na interpretação do poeta Alexei Tolstoi:

"Que doçura existe nesta vida se não existe

tristeza?

Que expectativa não é em vão, e onde está o

limite das pessoas?

Tudo é mutável, tudo é nulo,

Aquilo que nós adquirimos com dificuldade

Que glória na terra

Se mantem firme e irrevogável?

Tudo são cinzas, ilusão, sombra e fumaça,

Tudo irá sumir, igual a um redemoinho

E estamos diante da morte de pó

E sem defesa e sem forças

A mão do vigoroso está fraca,

As ordens do reino são insignificantes

Recebe o servo adormecido,

Senhor, na habitação bendita!"

Ao saber que João violou a obediência a ele infligida e escreveu uma oração, o ancião se enfureceu e queria expulsá-lo do mosteiro. Então toda a irmandade que alí habitava começou a interceder por João. O ancião concordou em perdoar o desobediente com a condição de que ele deveria limpar, com suas próprias mãos, todos os lugares sujos do mosteiro. São João cumpriu humildemente essa ordem severa do ancião. Depois disso a Mãe de Deus apareceu em sonho para o ancião e disse: "Não crie mais emprecílhos à Minha fonte. Deixe que ela flua na Glória de Deus. Quando acordou, o ancião compreendeu que a vontade de Deus era que João de Damasco se dedicasse ao serviço de escritor.

Desde aquela época ninguém mais impediu João de escrever composições cléricas e orações a serviço de Deus. Durante alguns anos de trabalho incessante ele enriqueceu a Igreja com muitas composições, orações e cânones para missa, que até hoje enfeitam os ofícios ortodoxos. Muitos cânticos de Páscoa, Natal e outras celebrações são de sua autoria. Ele também compôs o "Octoechos" (oito tons) cantados durante as celebrações dominicais. Tendo sido tocado pela teologia, São João de Damasco escreveu o famoso livro "A verdadeira exposição da fé ortodoxa," no qual ele resume verdades fundamentais do cristianismo. Faleceu no ano 777.

Troparion: Em Tí Ó Pai seremos salvos, através do símbolo: aceitamos a cruz, que é conseqüência de Cristo, Que nos ensinou a desdenhar a carne e estarmos cientes da nossa imortalidade. Unidos aos anjos ó venerável João.

 

São Nicolau o Milagroso.

19 dez, 22 maio (6 dez e 9 maio antigo cal.)

Nicolau de Mira o Milagroso é um santo especialmente amado pelos ortodoxos, particularmente pelos ortodoxos russos. Em diferentes tribulações da vida e perigos pelo caminho — ele é o santo que auxilia ràpidamente. Nasceu na Ásia Menor no final do século 3. Desde pequeno ele já se destacava por sua profunda religiosidade e seu tio, o bispo Patara, o aproximou de sí e quando ainda bem jovem nomeou padre.

Após a morte dos pais São Nicolau herdou uma grande fortuna a qual começou a distribuir aos pobres. Ele procurava ajudar as pessoas em sigilo para que eles não lhe agradecessem. O acontecimento a seguir ilustra como ele ajudava àqueles que se encontravam na miséria.

Na cidade de Patara vivia um homem muito rico, o qual possuía três filhas. Quando as moças atingiram a idade adulta os negócios do pai começaram a ir de mal a pior, a tal ponto que ele ficou totalmente em bancarrota. Foi então que nasceu dentro dele um plano criminoso: ele se aproveitaria da beleza de suas filhas para conseguir meios para a sobrevivência. São Nicolau ficou sabendo desses planos e decidiu salvar o pai e as filhas dessa vergonha. Durante a noite aproximou-se furtivamente da casa do comerciante arruinado e atirou pela janela um saco contendo moedas de ouro. Ao encontrar o saquinho, o comerciante feliz, concedeu a mão de sua filha mais velha em casamento, dando-lhe o enxoval necessário. Após um curto prazo de tempo São Nicolau jogou o segundo saquinho de moedas para o comerciante, o qual comprou o enxoval de sua segunda filha e ela também se casou. Quando São Nicolau estava arremessando o terceiro saquinho para o enxoval da filha mais nova, o comerciante que o espreitava, viu seu gesto. Atirou-se aos pés do santo e com a voz embargada pelas lágrimas agradecia pela salvação de sua família do terrível pecado e da vergonha. Depois de ter ajeitado a vida das filhas, o comerciante, após algum tempo, arrumou seus negócios e começou a ajudar as pessoas, imitando seu benfeitor.

São Nicolau desejava visitar lugares santos e com esse objetivo pegou uma embarcação em Patara, a qual se dirigia à Palestina. A viagem transcorria tranqüilamente, mas São Nicolau através de uma revelação especial tomou conhecimento da iminência de uma tempestade. Isso foi comunicado aos companheiros. Dito e feito; logo rebentou uma terrível tempestade e a embarcação transformou-se em um brinquedo indefeso das enormes ondas desenfreadas. Sabendo que São Nicolau era um sacerdote, todos pediam que ele orasse pela salvação. Através da oração do santo o vento logo diminuiu e veio uma imensa tranqüilidade. Um dos marinheiros que foi atirado pelo vento da vela sobre o convés morreu. São Nicolau o ressuscitou através de sua oração.

Após a veneração aos lugares santos, São Nicolau queria retirar-se ao deserto e passar a vida longe das pessoas. Mas esse não era o desejo de Deus, Que o predestinou a ser um bom pastor. O santo ouviu uma voz que o mandava voltar à sua pátria e servir ao próximo.

São Nicolau não queria morar na cidade, onde as pessoas o conheciam e o elogiavam. Assim ele foi para uma cidade chamada Mira não muito distante dalí. Era a principal cidade da região de Lícia. Alí havia cátedra episcopal. O santo se instalou em Mira como mendigo. Amando a igreja, ele a freqüentava diariamente, tão logo eram abertas as portas.

Nesta época faleceu o bispo de Mira, e os bispos das regiões vizinhas reuniram-se para eleger seu sucessor. Eles não chegaram a nenhuma decisão até que alguém deles sugeriu: "o Senhor Deus deverá Ele próprio indicar Sua escolha. Irmãos, vamos rezar, jejuar e aguardar o desígnio de Deus." E realmente o mais velho dos bispos teve a revelação de Deus, de que o primeiro homem que entrasse na igreja deveria ser o bispo. Ele relatou aos outros bispos a esse respeito e antes do início do ofício matinal prostrou-se diante da entrada da igreja, aguardando o escolhido de Deus. São Nicolau, como de costume, foi o primeiro a chegar para rezar. Quando ele estava entrando no templo, o bispo o deteve perguntando: "Como é seu nome?" São Nicolau humildemente disse seu nome.

"Siga-me, meu filho,"disse o bispo tomando-o pela mão e dirigindo-o para dentro da igreja comunicou que ele seria ordenado bispo de Mira. São Nicolau têve medo de aceitar tão alto cargo hierárquico, mas precisou conceder ao desejo dos bispos e do povo.

Quando Nicolau tornou-se bispo disse a sí mesmo: "Até agora eu pude viver para mim e pela salvação de minha alma, mas agora, cada minuto da minha vida deverá ser doado aos outros." E de fato, esquecendo-se de sí próprio, o santo abriu suas portas a todos e tornou-se pai de todos órfãos e mendigos, defensor dos oprimidos e benfeitor para todos. Pela descrição dos contemporâneos ele possuía um caráter humilde, dócil, usava as mais simples vestes, alimentava-se apenas uma vez ao dia, ao anoitecer, de comidas de quaresma.

Quando começou a perseguição à Igreja durante o reinado de Deocleciano (284-305), o santo foi encarcerado. Alí também, esquecendo-se de sí próprio, ele, através de palavras ou exemplos, ajudava os cristãos que sofriam com ele. Porém, Deus não queria que ele morresse martirizado. O novo imperador Constantino complacente com os cristãos permitia que eles expressassem abertamente sua convicção religiosa.

Aí então São Nicolau conseguiu voltar à sua paróquia. Fica difícil relatar todos os casos de ajuda e de milagres que ele realizava. Um dia começou a fome em Lícia. São Nicolau apareceu em sonho a um comerciante, o qual estava carregando seu navio de pão na Itália, lhe deu moedas de ouro e ordenou que rumasse para a cidade de Mira, em Lícia. Ao acordar e encontrar em sua mão moedas de ouro, o comerciante se apavorou e não ousou desobedecer às ordens do santo. Ele levou seu pão ao país em crise de fome e contou ao povo sobre sua maravilhosa visão, graças à qual ele chegou até eles.

Naquele tempo em muitas igrejas estouraram grandes agitações devido às heresias arianas (de Arius), as quais negavam a Divindade do Senhor Jesus Cristo. Para reconciliar a Igreja, o imperador Constantino o Grande convocou o Concílio Ecumênico, o qual se reuniu na cidade de Nicéia no ano de 325. Dentre os presentes encontrava-se também São Nicolau. O Concílio Ecumênico condenou a heresia de Arius e compôs "o Símbolo da Fé," o qual formula em palavras preciosas a fé ortodoxa no Senhor Jesus Cristo como o Filho Unigênito de Deus, possuindo a mesma essência que o Deus Pai. Durante o debate São Nicolau, ouvindo as blasfêmias de Arius ficou tão indignado que diante de todos, deu-lhe um tapa no rosto. Por ter rompido a ordem São Nicolau foi removido pelo Concílio do cargo episcopal. Entretanto, logo depois do sucedido, alguns dos membros episcopais tiveram uma visão, onde eles podiam ver o Senhor Jesus Cristo entregando a São Nicolau o Evangelho e Nossa Senhora dando-lhe a estola. Os bispos puderam entender o quanto as idéias heréticas de Arius eram incompatíveis com a verdade de Deus e restabeleceram São Nicolau ao título de bispo.

Da vida de São Nicolau sabe-se que certa vez o rei, sob falsa acusação condenou três guerreiros à morte. Lembrando-se dos milagres de São Nicolau, eles clamaram por sua proteção. Após a oração, São Nicolau apareceu em sonho para o rei e ordenou que ele soltasse seus fiéis criados, ameaçando-o de punição caso ele desobedecesse. "- Quem é você, — perguntou o rei, — que ousa exigir algo de mim?" "Eu sou Nicolau, arcebispo da cidade de Mira" — respondeu o santo. Não ousando desobedecer a ordem, o rei examinou o caso atentamente e libertou os guerreiros com as devidas honras.

Certa vez um navio estava navegando do Egito para a Líbia, levantando-se uma terrível tempestade e o navio começou a afundar. Algumas pessoas lembraram-se de São Nicolau e começaram a pedir sua ajuda em oração. E eis que eles o vêem caminhando rapidamente sobre o mar revolto, subir para o navio e assumir o leme. A tempestade se acalmou e o navio chegou perfeitamente ao porto.

São Nicolau morreu com idade bastante avançada, em meados do século 4, mas sua ajuda não terminou com sua morte, e sim tornou-se mais forte ainda. No decorrer de cerca de mil e quinhentos anos ele permanece como o mais rápido ajudante de todos aqueles que chegam a ele por intermédio da oração. Casos a respeito de sua intercessão compõem uma volumosa literatura e o amor dos ortodoxos por ele cresce cada vez mais.

Quando os saracenos devastaram Lícia em 1087, São Nicolau apareceu em sonho para um padre virtuoso da cidade de Bari (Itália) e ordenou que suas relíquias fossem transferidas para essa cidade. Essa ordem do santo foi imediatamente cumprida e desde então suas relíquias repousam em um templo na cidade de Bari. Dessas relíquias flui Mirra de cura. Este evento é comemorado no dia 22 de maio pelo calendário contemporâneo.

Troparion: Modelo da fé e imagem da humildade, professor moderado, faça aparecer ao teu rebanho a verdade de todas as coisas: pela humildade alcançou as alturas, pela pobreza a riqueza. Santíssimo Nicolau, suplica a Cristo Deus que nossas almas sejam salvas.

 

Santo Ambrósio de Mediolano.

20 dez. (7 dez. antigo calendário)

Santo Ambrósio nasceu no ano de 340 no norte da Itália. Pertencia a uma família romana rica e conhecida. Recebeu uma magnífica formação jurídica e logo se elevou e no 370 ocupou o cargo de governador da província de Ligúria e Emília. Certa vez na principal cidade de Ligúria aconteciam as eleições para bispo, e entre os ortodoxos e arianos aconteciam sérias discussões. Ambrósio apareceu no templo para estabelecer ordem e repentinamente, uma voz como se fosse uma criança, soou: "Ambrósio é o bispo." Tanto o povo como o próprio imperador Valentim, viram nisso a escolha de Deus. Inutilmente Ambrósio procurava dissuadir seus compatriotas e até sumiu de Milão. Nessa época ele ainda era catecúmeno (que se prepara para o batismo. Naquele tempo muitos adiavam o batismo até a idade madura). Ele foi forçado a concordar com a escolha unânime. Foi batizado e durante oito dias passou por todos os graus necessários dentro da igreja e foi consagrado bispo no ano 374.

A primeira coisa que ele fez após a consagração foi distribuir todos seus bens aos pobres. Depois passou a estudar fervorosamente a Sagrada Escritura e os trabalhos feitos pelos pais da Igreja oriental. Somente depois disso ele iniciou seu trabalho como bispo.

Santo Ambrósio lutou com valentia contra a heresia ariana, a qual era protegida pela imperatriz Justina. Em comemoração à vitória contra o arianismo ele compôs o hino "Louvamos a Ti, Ó Deus," o qual até hoje é cantado durante as missas de agradecimento. Por sua insistência foi riscado o título pagão do Pontífice Maximo do imperador, os padres pagãos e os templos idólatras foram privados do suporte financeiro governamental, foi apagado o, assim denominado, fogo sagrado, e a estátua da Vitória foi tomada do senado.

Santo Ambrósio tornou-se modelo de estabilidade sacerdotal quando decidiu não permitir a entrada do imperador Teodósio no templo após um massacre sangrento dos tessalonianos revoltados contra ele. Ambrósio disse ao imperador: "Uma pessoa que tenha derramado tanto sangue, não poderá estar dentro do templo de Deus." O imperador replicou: "Davi também pecou, mas não foi privado da graça de Deus." Ao que Ambrósio respondeu: "Você imitou Davi no crime, imite-o também no arrependimento," e inflingiu-lhe, uma penitência para reconciliar com Deus e com a Igreja.

No ano 387 sob a influência das pregações de santo Ambrósio, santo Agostinho passou a crer e recebeu o batismo, tornando-se depois bispo e um grande teólogo da Igreja ocidental.

Os últimos anos de sua vida, santo Ambrósio passou em constantes orações, aguardando com tranqüilidade e alegria o seu fim, o qual chegou no ano 397. Santo Ambrósio é profundamente venerado pela Igreja entre outros grandes teologistas e pais espirituais. Ele também é renomado como reorganizador de cânticos religiosos: ele introduziu ritmo compassado e melodias variadas nos cânticos. Muitos textos musicais ele copiou do São Efrem da Síria e do São Ilário, mas também ele escreveu cerca de 30 hinos.

Kondaquion: Brilhando com o dogma divino, obscureceu a falta de Arius e sacerdote Ambrósio, operando milagres pelo poder do Espírito, curou diversas paixões, roga a Cristo Deus pela salvação de nossas almas.

Bendita Angelina.

23 dez. (10 dez. antigo calendário)

Santa Angelina era filha do famoso herói albaniano George Skenderberg (1414-1467). Ela casou-se com o sérbio autoritário São Stefano que era filho do príncipe George Brankovitch. Nessa época a Sérbia já tinha sido conquistada pelos turcos os quais fizeram Angelina e Stefano sofrerem muitas tribulações e em seguida passaram por humilhante expulsão para a Itália. Em meio a todas essas tribulações o santo casal educava seus dois filhos no verdadeiro espírito cristão. São Maxim tornou-se bispo e São João foi o último governador da Sérbia (desde 1493) antes de um longo período de sua subjugação.

Após a morte do marido, Santa Angelina tornou-se freira e ficou conhecida por suas boas ações e caridade. Ficou conhecida principalmente por sua preocupação com os mosteiros sérbios e russos. Percebendo que já não tinha forças suficientes para ajudar a todos mosteiros, ela enviou uma mensagem comovente ao grande príncipe de Moscou, Basílio III, que dizia: "Nossa potência está declinando e a vossa se elevando. Tomai então sobre vós nossas responsabilidades e cuidados com as santas Igrejas e mosteiros os quais foram criados por nossos virtuosos ancestrais." Com os meios doados pelo príncipe Basílio, Santa Angelina construiu o mosteiro de Krusedol, onde posteriormente foram depositadas suas santas relíquias, assim como as relíquias de seu marido, São Stephan e príncipe João. Seus nomes são associados à proteção dos sérbios contra os infiéis. Nos anos do domínio dos turcos o povo sérbio dirigia-se a eles com a oração pela libertação dos conquistadores. Até mesmo os incrédulos recebiam a cura e se admiravam com a grandeza da fé cristã.

Santa Angelina, juntamente com Santa Militza são as mais amadas e reverenciadas na Sérbia. O povo a chama de "maika" (matushka) Angelina.

 

São German do Alasca.

25 dez. (12 dez. antigo calendário)

Na segunda metade do século 18, empresários industriais russos descobriram as ilhas Aleusias que no oceano Pacífico formam algo parecido com uma longa corrente que vai desde a costa oriental de Kamshtka até a costa ocidental da América do Norte. Após o descobrimento dessas ilhas tornou-se indispensável iluminar com o Evangelho seus habitantes selvagens, os quais tornaram-se súditos da Rússia.

Para este trabalho apostólico o Santo Sínodo encarregou o ancião Nazarius do mosteiro de Balaão de escolher os monges mais capacitados de lá. Assim, em 1793 formou-se uma missão espiritual composta por 10 monges, a qual foi enviada para propagar a palavra de Deus aos habitantes selvagens da América do Norte. No meio dos membros dessa missão encontrava-se o monge de 33 anos de idade chamado German, de uma família de comerciantes.

Graças ao empenho desses monges missionários a fé cristã foi rapidamente se espalhando entre os novos filhos da Rússia. Alguns milhares de pagãos tornaram-se cristãos; foi inclusive organizada uma escola para construir as recém-batizadas crianças e erguida a primeira Igreja.

Após seis anos, padre German escolheu como seu lugar de isolamento uma ilha de nome Yelovoi a qual ele chamou de Nova Balaão. Essa ilha era separada da principal ilha Kodiak por um estreito de 2 km. Era pequena, toda coberta por uma floresta, com um córrego que passava bem no meio. Nessa ilha o venerável German viveu por cerca de 40 anos. Ele usava a mesma roupa no inverno e verão. Seu leito era um pequeno banco, coberto com pele de cervo e como travesseiro dois tijolos. Em lugar de cobertor, ele cobria-se com uma taboa de madeira, a qual ele pediu que, após sua morte, cobrisse seus restos mortais. Para maior ascetismo São German debilitava seu corpo usando pesadas correntes que estão junto às suas relíquias no templo na ilha Kodiak.

Sendo muito carinhoso e acessível, São German com os anos tornou-se como se fosse verdadeiro pai para os aleutas. Ele atendia prontamente a seus apelos e dificuldades, defendia os culpados perante seus chefes, protegia os ofendidos e mal-tratados, ajudava os necessitados, o tanto quanto podia. Os aleutas junto com os seus filhos, sempre o visitavam. Alguns pediam conselhos, outros lamentavam-se por ofensas, outros ainda procuravam proteção ou auxílio — o ancião se esforçava em ajudar a cada um e a todos.

O amor de São German pelos aleutas chegava à abnegação. Durante uma epidemia de doença mortal, a qual aniquilava os aleutas em um mês, São German, esquecendo-se de si mesmo, incansavelmente visitava os doentes, aconselhando-os a terem paciência e a rezarem, ao arrependimento e preparava os que estavam morrendo para partirem.

Especialmente cuidava da situação moral dos aleutas. Com esta meta ele organizou uma escola para os órfãos aleutas aos quais ele ensinava as Leis de Deus e cânticos religiosos. Com esse mesmo intuito, nos domingos e feriados ele reunia o povo numa capela perto de seu alojamento para oração comunal. Ali seus alunos, um a um, liam preces e o ancião lia o livro dos Apóstolos, o Evangelho e os instruía. Durante a missa os órfãos ensinados por ele, cantavam de maneira agradável e harmoniosa. Os aleutas gostavam muito das palestras do padre German e em grande quantidade vinham até ele. Essas palestras produziam uma impressão inesquecível nos ouvintes.

Também marinheiros russos vinham até o padre German no Alasca. Certa vez, ele foi convidado a visitar uma fragata, vinda de São Petesburgo. O capitão do navio, um homem extremamente culto, foi enviado à América pelo rei da Rússia para inspecionar as colônias. Junto com o capitão havia 25 subordinados, também dotados de cultura. Nessa companhia encontrava-se um modesto monge, de baixa estatura, vestindo roupas muito velhas e surradas, o qual levou seus interlocutores à perplexidade com suas palavras sábias. O próprio capitão contava: "Nós estávamos embaraçados; tolos diante dele!" Padre German perguntou-lhes: "O que vocês mais gostam e o que cada um de vocês desejaria para sua felicidade?" As respostas vieram em abundância. Alguns desejavam a riqueza, título, outros, belas esposas, e uma linda embarcação e assim por diante. "Vocês concordam, — disse-lhe padre German, que todos seus desejos e aspirações podem ser levados a um só ponto: cada um de vocês aspira aquilo que, ao seu entender, considera melhor e mais digno no amor?" — "É isso mesmo," — respondiam todos. "O que vocês dizem, — continuava ele, — talvez seja melhor de tudo e preferencialmente mais digno do que o amor, do que o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual nos criou, adornou tudo com perfeição, deu vida, conserva, alimenta e ama tudo; Aquele que é o próprio amor e o melhor de todos? Não teríamos então que amá-Lo mais do que tudo, acima de tudo e sempre procurá-Lo?"

Todos responderam:"É claro, sem dúvida!" "Isso compreende-se sem precisar dizer!" O ancião então perguntou: "Será que vocês amam a Deus?" Todos responderam: "Claro que amamos a Deus. Como não amá-Lo?" — "Pois eu pecador, há mais de quarenta anos me esforço para amar a Deus, e não posso dizer que o amo por completo?" — replicou padre German e se pôs a explicar como se deve amar a Deus. "Se nós amamos alguém, nós sempre nos lembramos desse alguém, nos empenhamos em agradá-lo, dia e noite nosso coração se preocupa com ele e será que é assim que vocês amam à Deus? Vocês se dirigem a Ele com freqüência? Lembram sempre Dele? Rezam sempre para Ele e cumprem Seus santos mandamentos?"- Todos reconheceram que não! "Para o nosso bem, para nossa felicidade, pelo menos prometam a si mesmos que, a partir de hoje, deste dia, deste minuto, vamos nos empenhar a amar a Deus — acima de tudo, e cumprir Sua santa vontade!"

Vejam que belo diálogo São German mantinha com as pessoas. Sem dúvida nenhuma, esta conversação deveria ficar impressa nos corações dos ouvintes pelo resto de suas vidas.

Em geral o padre German era loquaz, falava com inteligência, sensatez e eloqüência. Mais do que tudo falava da eternidade, da salvação, da próxima vida, da providência de Deus; contava muito sobre a vida dos santos, de outros livros sagrados, mas nunca falava nada de excedente. Era tão agradável ouvi-lo falar que seus interlocutores, até mesmo os aleutas e suas esposas, com freqüência se entretinham ao ponto de relutarem em deixá-lo já ao alvorecer.

Padre German era de baixa estatura, e rugas cobriam o rosto pálido; os olhos azul-acinzentados possuíam um brilho especial e todos os traços do rosto do ancião revelavam que ele possuía dentro de si a graça de Deus. Seu discurso não era feito em alta voz, mas era muito agradável. O caráter manso, dócil e tranqüilo, o olhar atrativo e humilde, o sorriso simpático e as palavras carinhosas atraíam todos com um imã.

Tendo se consagrado plenamente a serviço do Senhor e passado décadas em privações e tribulações multiformes, São German recebeu de Deus o dom da sagacidade e dos milagres. Quando se aproximou do tempo de sua partida deste mundo, São German pediu ao seu discípulo Gerasin que acendesse velas diante dos ícones e lesse o livro dos Atos dos Apóstolos. Após algum tempo seu rosto clareou e ele falou em alta voz: "Glória a Ti, Ó Senhor!" Em seguida o ancião deitou sua cabeça sobre o peito de Gerasin, e a cela recendeu a incenso aromático. Nesse instante o rosto de São German se iluminou, e ele partiu em paz para o Senhor, em dezembro de 1837, aos 81 anos de sua vida virtuosa. Na hora de sua morte o povo que vivia nas proximidades viu um pilar iluminado que subia da Ilha para os céus. Para eles esse foi o Sinal de que São German passou para um mundo melhor, o qual ele aspirava desde a mocidade.

Até hoje os aleutas ortodoxos veneram a memória de São German, e ao batizarem suas crianças, lhes dão seu nome em sua honra.

 

Resumo dos Preceitos de São German

1. Dê um passo decisivo.

"O que ;e que você ama mais de tudo e o que desejaria para sua felicidade? É verdade que dentre todos os variados desejos é possível selecionar um? Cada um de nós deseja aquilo que considera melhor e mais querido? O que pode ser melhor, maior do que tudo superior a tudo do que o Próprio Jesus Cristo nosso Deus, Aquele que criou o céu, enfeitou e deu vida a tudo, sustenta e alimenta tudo, ama tudo. Aquele que é o Próprio Amor — o melhor de todos.

Não deveríamos então amar a Deus acima de todas as coisas, mais do que tudo desejá-Lo e procurá-Lo? Eu, pecador, há mais de quarenta anos aspiro aprender como amar a Deus, e não posso dizer que O amo por completo! Como nós devemos amar a Deus? Se nós amamos alguém, nós sempre nos lembramos desse alguém, fazemos de tudo para agradá-lo, dia e noite nosso coração se preocupa com ele. Será assim que vocês amam a Deus? Lembram sempre Dele? Rezam sempre para Ele e cumpre Seus santos mandamentos?

Para o nosso bem, para nossa felicidade, pelo menos prometam a si mesmos que a partir de hoje, deste dia, deste minuto — nós vamos nos empenhar a amar a Deus acima de tudo e a cumprir Seus mandamentos!"

 

2. Tenha fé consciente

"A fé e o amor a Cristo fazem o verdadeiro cristão.

Conforme a palavra do Próprio Salvador, nossos pecados não nos impedem de sermos bons cristãos. Ele disse: "Não vim para chamar os justos, mas para salvar os pecadores" "Existe imensa alegria no céu por um pecador que se arrependeu do que por 99 justos que não necessitam de arrependimento." Ele também disse ao fariseu Simão e à mulher pecadora que lavou seus pés: "Àquele que ama muitas dívidas são perdoadas, mas àquele que não tem amor até as pequenas são cobradas." Através desse conceito o cristão deve ter esperança e alegria e de maneira alguma dar atenção às coisas que causam o desespero. Aqui é necessário ter o escudo da fé, "(o qual nos tempos atuais é a essência: conhecimento e amor à Ortodoxia, os ofícios, às tradições e à história e compreensão clara sobre o lado espiritual dos hereges, seitas, ecumenismo, comunismo, tudo que atualmente acontece na Rússia e no mundo inteiro. Isto é escudo da fé — red)."

 

3. Esteja em constante batalha

"Nós não estamos nos debatendo em um mar de ondas revoltas, mas sofremos e erramos, de acordo com as palavras dos Apóstolos. Embora não tenhamos as bênçãos que os santos apóstolos possuíam, temos de lutar (como eles o fizeram) contra os mesmos princípios descarnados e autoridades ao poder administrativo das trevas dos nossos tempos, aos espíritos malévolos do mundo os quais tentam interceptar, segurar e não soltar mais a todos aqueles que seguem o caminho da pátria celeste. O Apóstolo Pedro dizia: "nosso inimigo, o diabo, vagueia igual a um leão rosnando, à procura de alguém para devorar."

O pecado, para aquele que ama a Deus, é igual a uma flecha do inimigo numa batalha.

 

4. Tenha um objetivo na vida

"O verdadeiro cristão é um soldado atravessando um regimento invisível de inimigos, para chegar à sua pátria Celeste.

Aspirações vãs dos nossos tempos nos distanciam da pátria Celeste. Nosso apego a essas aspirações, e o costume revestem nossa alma como se fosse uma veste ignomínia. Os Apóstolos chamavam isso de "pessoa externa." Em nossa caminhada por esta vida mundana, pedindo a ajuda de Deus, devemos remover a tal infâmia e nos vestir de novas aspirações, em novo amor do próximo século (alcançar o Espírito Santo) e através disso percebermos se estamos nos aproximando da nossa pátria Celeste ou estamos nos afastando. (São João de Kronshtat aconselhava que para isto deveríamos manter diários espirituais, os quais o ajudaram muito a alcançar a habilidade para a vida espiritual). Mas isso não pode ser realizado rapidamente; devemos seguir o exemplo dos enfêrmos que querendo ser curados não cessam de procurar meios para isso."

 

5. Propague a verdadeira Ortodoxia.

"Oh, me encantei com meu espírito! Encontrando-me entre um bom tempo e um tempo chuvoso, entre a alegria e tristeza, entre o suficiente e a carência, fartura e fome, calor e frio, diante de todas minhas tristezas recebo algo que me alegra, quando ouço falarem sobre pregações e remoção de diversos obstáculos!

Glória à providência do nosso Deus Misericordioso! Ele Que é impenetrável com Sua providência, me mostrou uma nova cena, a qual eu jamais tinha visto, vivendo anos aqui em Kodiak. Uma jovem senhora, que não me conhecia e nunca tinha me visto, veio a mim e ao tomar conhecimento da encarnação do Filho de Deus e da vida eterna, foi tomada por imenso amor por Jesus Cristo e não conseguia se afastar de mim. Eu, com grande assombro, vendo tudo isto, lembro-me das palavras do Salvador: "Aquilo que é oculto dos sábios e sensatos é revelado às crianças." Há muitas outras mulheres zelosas e homens que gostariam de seguir seu exemplo...

Porém, aqueles que se afastaram da verdadeira Igreja Ortodoxa, encontram-se no caminho errado!"

TROPARION: Abençoou os ascéticos dos desertos do norte e intercessor do mundo inteiro, mestre da Ortodoxia, instrutor da piedade, adorno do Alasca e alegria da América, venerável German, roga a Cristo Deus, para que salve nossas almas.

 

Mártires Eugênio e Outros.

26 dez. (13 dez. antigo calendário)

O começo do século 4, época do império de Dioclesiano (284-305) ficou marcado como terrível pela brutal perseguição aos cristãos.

O imperador Dioclesiano desejava reacender a falida religião pagã, e por isso, no ano 302 emitiu um decreto que ordenava destruir templos Cristãos e privar os cristãos trabalhistas. Logo após, ele emitiu um segundo decreto ordenando que fossem tomadas todas medidas para persuadir os cristãos a renegarem sua fé e executar os que desobedecessem.

O ódio dos pagãos pelos cristãos era muito grande para que essas ordens do imperador ficassem inativas. Os inimigos do cristianismo denunciavam a qualquer um que podiam e logo as prisões ficaram lotadas com bispos e cristãos, presbíteros e leigos. Na América foi preso Auxentius, presbitério da igreja de Aravrak, o qual juntamente com outros cristãos foi levado para a cidade de Saralione para ser julgado pelo juiz regional Lisius, um atroz perseguidor dos cristãos.

Em Satalione as tropas eram comandadas por Eustratius que era cristão, bom marido e devoto propagador da maneira de levar-se uma vida cristã. Ao tomar conhecimento de que o presbítero Auxentius encontrava-se na prisão da cidade, Eustratius foi até ele e pediu-lhe que rezasse para que o Senhor lhe deste forças e o preparasse para um final martirizante. E então, quando o presbítero Auxentius juntamente com outros cristãos prisioneiros foi a julgamento, Eustratius declarou-se cristão. Enfurecido Lisius ordenou que fossem retirados todos os títulos militares de Eustratius e entregou-o às torturas. Um amigo de Eustratius chamado Eugênio, que também era oficial militar quis compartilhar com o destino de seu amigo e na presença de todos declarou ser cristão também. Imediatamente ele foi acorrentado e junto com os outros jogado na prisão.

Na manhã seguinte todos prisioneiros foram levados à cidade de Nikopol. Os soldados pelo caminho batiam nos mártires acorrentados, e em Eustrátios ainda calçaram botas com pregos, os quais perfuraram seus pés. Seguindo por seu caminho de sofrimentos, eles foram obrigados a passar por sua cidade de Aravrakin. Os cidadãos saíram de suas casas para verem Eustratius, a quem todos amavam e respeitavam, mas não ousaram se aproximar dele, pois tinham medo de atrair sobre si a fúria e perseguição das autoridades.

Entretanto um tal de Mardarius ignorou o perigo. Tendo deixado sua família aos cuidados de vizinhos piedosos e principalmente da Providência de Deus, ele seguiu seus amigos que estavam prontos para receber a coroa do martírio. A todos as ameaças de Lisius, Mardarius respondia humildemente: "Sou cristão." Após muitas torturas o Presbítero Auxentius, Eugênio e Mardarius foram executados. Antes de sua execução São Mardarius rogava ao Senhor: "Ó Senhor Deus Pai Todo Poderoso, Senhor Filho Unigênito Jesus Cristo e Espírito Santo, Deus Uno, único Poder, tem piedade de mim pecador, e através de caminhos conhecidos por Ti, salva-me Teu indigno servo, pois Tu és abençoado pelos séculos, Amém" (esta oração de São Mardarius é lida na igreja após a 3ͺ hora).

No lugar dos recém martirizados cristãos, trouxeram novos mártires, os quais estavam prontos a gravar com seu sangue sua fidelidade e amor a Cristo. O governador Lisius, vendo um crucifixo no peito de um de seus soldados Orestes, perguntou: "Será que você é cristão? Orestes não negou: "Eu sou um servo de Deus Todo Poderoso," — respondeu ele. Imediatamente ele foi agarrado e juntado aos outros mártires. Com prece nos lábios ele entrou em uma fornalha incandescente e ali entregou sua alma ao Senhor.

Mais tarde, em memória dos cinco santos mártires (Eugênio, Auxentius, Eustratius, Mardarius e Orestes), foi contruído um mosteiro no território do templo Olympus perto de Tzargrad. Com as orações de São Eugênio e com ele os torturados mártires, Senhor, salva nossas almas.

Profeta Daniel.

30 dez. (17 antigo calendário)

O profeta Daniel descendia de família nobre. Durante a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor no ano 606 a.C o jovem Daniel, juntamente com outros judeus foi feito prisioneiro dos babilônios. Ali, Daniel, que tinha 15 anos e alguns jovens mais hábeis entre os outros foram escolhidos para que na escola fossem preparados para servirem na corte real.

Três amigos de Daniel estudavam com ele nessa escola, Ananias, Misael e Azariah. No decorrer de alguns anos eles estudaram o idioma local e várias matérias caldenses. Ao ingressarem nas escolas esses três jovens foram transferidos para Shadrach, Meshac e Abadnego. Porém, ao adotarem nomes pagãos, os jovens não traíram a religião de seus pais. Com receio de se contaminarem com a comida dos pagãos persuadiram seu educador a deixá-los se alimentarem de simples vegetais em lugar da comida vinda da mesa real, salpicada de sangue do sacrifício de idolatria. O educador concordou, sob a condição de que após dez dias de alimentação de vegetais, ele iria verificar seu estado de saúde. No final desse período de provas esses jovens estavam mais saudáveis do que aqueles que se alimentavam de carne da mesa imperial, e então o educador os autorizou a comerem aquilo que quisessem. Pela lealdade à verdadeira fé, o Senhor os recompensou com sucesso nos estudos, e o rei da Babilônia, presente nos exames, achou que eles eram mais inteligentes do que os sábios babilônicos.

Após o final dos estudos, Daniel juntamente com seus três amigos foi designado para trabalhar na corte real e ali foi cortesão durante o reinado de Nabucodonosor e seus cinco sucessores ficaram designados como cortesãos dignatários. Após a conquista da Babilônia ele passou a ser o conselheiro do rei Darius com a habilidade de entender o significado de visões e sonhos, e isto dói provocado através da explicação que ele deu a Nabucodonosor sobre seus dois sonhos, os quais embaraçaram muito o rei (Dan. Cap. 2 e 3). No primeiro sonho, Nabucodonosor viu uma enorme e terrível estátua feita de quatro metais. Uma pedra que rolou da montanha quebrou a estátua em pedaços e se transformou em uma enorme montanha. Daniel explicou ao rei que estátua significava os quatro reinos profanos os quais deveriam suceder um ao outro, começando com o babilônio e terminando com os romanos. A misteriosa pedra que derrubou a estátua simbolizava o Messias e a nova montanha que surgiu — simbolizava Seu Reino eterno (a Igreja).

Em seu livro (que leva seu nome) o profeta Daniel fala sobre a bravura de seus três amigos, os quais se recusaram a adorar o ídolo de ouro (Madruc) e por causa disso, a mando de Nabucodonosor foram jogados em uma fornalha ardente. Mas um anjo de Deus os manteve intacto no meio do fogo.

Detalhes sobre as atividades do profeta Daniel no decorrer de 7 anos durante o reinado dos sucessores de Nabucodonosor (Evil-Meredah, Nereglizzar e Lavosvardah) — não foram conservados. Nabonid, o assassino de Lavosvardah, nomeou seu filho como seu vice. No primeiro ano de Baltazer, Daniel teve a visão dos quatro reinos, depois do que ele viu Deus na imagem de "Alguém muito idoso" e se aproximando dele "o Filho Homem, i. e. o Senhor Jesus Cristo."

Em seu livro o profeta Daniel registrou algumas visões proféticas que se referiam ao dom do mundo e a segunda vinda de Cristo. O conteúdo do livro de Daniel tem muito em comum com a Revelação do Evangelista João o Teólogo, que se encontra bem no final da Bíblia.

Durante o reinado de Baltazar o rei Darius, o medo conquistou a Babilônia e foi aí que o rei Baltazar morreu, como foi profetizado por Daniel. Enquanto o rei Baltazer comia e bebia com seus convidados em uma festa, uma mão invisível escreveu três palavras na parede: "Menê, Tequel e Peres." Ninguém conseguia interpretar essas palavras, mas Daniel esclareceu: "Menê": Deus contou (os anos) de teu reinado e nele põe um fim; "Tequel": foste pesado na balança e considerado leve demais; "Peres": teu reino ai ser dividido e entregue aos medos e aos persas.

Diante de Darius, o medo, Daniel ocupou um importante posto governamental. Fidalgos profanos invejaram Daniel e o caluniaram diante de Darius e conseguiram que ele fosse jogado a leões famintos. Deus, porém, conservou Seu profeta intacto. Analisando o acontecido, Darius ordenou que os caluniadores de Daniel fossem sujeitados à mesma execução, e os leões imediatamente os dilaceraram. Pouco tempo depois, Daniel teve a revelação sobre as 70 semanas, onde é indicado o tempo da primavera vinda do Messias e o fundamento do Seu Reino (Igrejas) (Dan. 9). A explicação desta visão está na segunda parte da brochura "Antigo Testamento sobre o Messias."

Durante o reinado de Ciro, Daniel manteve a mesma posição de cortesão. Não sem sua influência o rei Ciro no ano de 536 publicou um decreto libertando os hebreus do cativeiro. De acordo com a tradição o profeta Daniel mostrou a Ciro a profecia sobre ele no livro do profeta Isaias o qual viveu cerca de 200 anos antes (44:28-45, 13). Admirado com essa profecia, o rei reconheceu o poder de Jeová e mandou os judeus construírem um templo em Sua honra em Jerusalém (1 Esd. Cap. 1). Durante esse mesmo reinado, Daniel foi novamente salvo da morte, a qual o ameaçava por ter matado o dragão que era divinizado pelos pagãos.

No terceiro ano do reinado de Ciro na Babilônia, Daniel foi honrado em receber a revelação sobre o longo destino do povo de Deus e sobre os quatro impérios pagãos (cap. 10-12). As profecias de Daniel sobre a perseguição dos que tinham fé se referem ao mesmo tempo ao Antíoco Pifanes e o anti-cristo. Nada se conhece a respeito dos anos subseqüentes da vida do profeta Daniel, exceto que, ele morreu muito velho. Seu livro de profecia é composto de 14 capítulos. O Senhor Jesus Cristo em Suas conversações com os judeus por duas vezes referiu-Se às profecias de Daniel.

TROPARION: Grandes são as realizações da fé! Na fonte de chamas, como água refrescante, as três crianças se regozijavam, e o profeta Daniel foi pastor dos leões como se fossem ovelhas. Pelas preces deles, Cristo nosso Deus, salva nossas almas.

 

Mártires Sebastião, Zoé e Outros.

31 dez. (19 dez. ant. calendário)

Sebastião, capitão da guarda imperial, Nicostratus o tesoureiro, sua esposa Zoe, Tranquiliano e outros sofreram por Cristo em Roma diante do imperador Dioclesiano, em torno do século 287,

Sebastião nasceu na cidade de Narbonésia na Gália. Ao terminar os estudos em Milão, tornou-se chefe das tropas da guarda imperial. Ele professava secretamente sua fé em Cristo e usava de todos os recursos para aliviar o sofrimento dos cristãos. Ele os encorajava a serem firmes e a não temerem morrer pela fé. Santa Zoe que ficou muda por seis anos, recebeu cura de Sebastião e passou a crer em Cristo juntamente com seu marido e outros membros da família. Ao saberem que ela era cristã, submeteram-na a torturas e a afogaram no rio Tibre.

Mais tarde Dioclesiano ficou sabendo que também Sebastião era cristão. O imperador ordenou que ele fosse preso e executado. Amarraram São Sebastião a uma árvore e o crivaram com flechas. Após isso eles ainda o apedrejaram. O mesmo suplício foi aplicado a outros cristãos. O presbítero Tranquiliano foi apedrejado. Marcelino e Marcus foram encostados a um tronco e seus pés foram pregados nele. No dia seguinte, fincaram lanças neles. Nicostratis, Castorus, Cláudio, SIonforiano e Victoriano foram afogados no mar. Tibúrcio foi cortado com uma espada. Castulus foi enterrado vivo. As relíquias de Sebastião estão preservadas em Roma, em uma igreja com seu nome.

Troparion: Teus mártires Ó Senhor, em seus sofrimentos tendo recebido as coroas da incorruptibilidade de Tí Deus nosso: possuindo Tua força, não foram suprimidos, afligidos e destruíram as fracas audácias dos demônios. Através de suas súplicas salva nossas almas.

O Grande Mártir Ignácio.

2 jan. (20 dez. antigo calendário)

São Ignácio, o que traz Deus consigo tem especial importância para nós, pois tinha estreito relacionamento com os apóstolos, ouvia suas pregações sobre o cristianismo e foi testemunha da expansão e desenvolvimento das primeiras comunidades cristãs. Em suas sete cartas ele imprimiu para nós a época apostólica.

São Ignácio nasceu na Síria durante os últimos anos da vida do Salvador. Sobre a história de sua vida sabemos que ele foi aquela criança que o Senhor tomou em Seus braços e disse: "Em verdade vos declaro, se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus" (Mat. 18:3). Jesus foi denominado de "Portador de Deus" pois, Ele amava tanto o Senhor que era como se O carregasse em Seu coração. São Inácio foi discípulo do apóstolo e evangelista João o Teologista. Como podemos ver na carta de São Inácio aos smirnenses, ele era especialmente próximo ao apóstolo Pedro e o acompanhou em algumas missões apostólicas. Não muito distante da destruição de Jerusalém no ano 72 morria Evod, um dos setenta discípulos de Cristo e São Ignácio o sucedeu na qualidade de bispo na cátedra de Antíque, capital da Síria.

São Ignácio administrou a igreja de Antíoque por 40 anos (67-107). Numa visão especial ele teve a honra de ver ofícios celestes e ouvir cânticos de anjos. De acordo com aquilo que presenciou nessa visão, ele introduziu cânticos antífonas nas missas, onde dois corais se alternavam como se um chamasse ao outro. Esses cânticos se propagaram rapidamente na Igreja.

No ano 107 durante uma campanha militar contra os armênios o imperador Troiano passando por Antioch foi comunicado de que São Ignácio pregava Cristo, ensinava a desprezar a riqueza, preservar a pureza e não oferecer sacrifícios aos deuses romanos. O imperador chamou o santo e exigiu que ele parasse de pregar Cristo; ele recusou-se a cumprir essas ordens. Então ele foi acorrentado e enviado a Roma, onde foi colocado no Coliseu para ser dilacerado por animais e entreter o público. Pelo caminho até Roma ele escreveu sete cartas, as quais foram conservadas até nossos dias. Em suas cartas São Ignácio pede aos cristãos para que não tentem livrá-lo da morte: "Imploro a vocês que demonstrem amor a mim. Deixem-me ser alimento das feras, para que através deles eu consiga alcançar a Deus. Eu sou o trigo de Deus. Que os dentes dos animais me triturem e me tornarei pão puro de Cristo." Ao tomar conhecimento da valentia e coragem Troiano parou com a perseguição aos cristãos. As relíquias do santo foram levadas para Antioch e mais tarde trazidas de volta para Roma e depositadas na igreja do santo mártir, papa de Roma.

Em sua carta aos Efésios, São Ignácio escreveu: "Preservem sua fé e amor e em seus atos mostrem-se cristãos. A fé e o amor são essência do início e fim da vida. A fé — é o início, e o amor — o final e ambos juntos são a essência da missão de Deus. Todo o resto que se refere a boas ações procedem deles. Ninguém que adquire o amor não odeia."

Kondaquion: O dia brilhante de seus gloriosos feitos, revela a todos sobre Aquele que nascerá da Virgem, na ânsia de Sua presença, tu foste jogado para ser devorado pelas feras. Por isso, tu foste chamado de portador de Deus, Oh glorioso Ignácio.

 

Mártir Virgem Juliana.

3 janeiro (21 dez. antigo calendário)

Mártir Juliana, filha de ricos pagãos nasceu na cidade de Nicomedia (Ásia Menor) no ano de 286. Aos nove anos seu pai African a prometeu em casamento a um jovem de origem nobre chamado Eleusius cujo pai era fidalgo da corte. Devido à pouca idade dos dois o casamento dói adiado até sua maioridade. Durante os anos que seguiram Juliana conheceu a fé cristã, acreditou e foi batizada. Eleusius se promoveu no serviço civil e tornou-se governador de Nicomedia. Quando se aproximava a data do casamento, Juliana começou a contar ao seu noivo pagão a respeito da fé cristã e tentou convencê-lo a se batizar. Quando Eleusius se recusou, Juliana também desistiu de desposá-lo.

Grosseiro e descontrolado pela cólera, African, ao tomar conhecimento da união do cristianismo desprezado por ele e da rejeição a tão invejado noivo, se enfureceu muito com ela e começou a agredi-la. E Juliana dizia ao pai: "Venero a Cristo, amo a Cristo e não tenho medo de suplícios por Ele."

Então, African mandou sua filha a julgamento ao próprio Eleusius. Encantado pela beleza de sua ex-noiva, Eleusius em princípio tentou convencê-la carinhosamente a renunciar a Cristo e a desposá-lo. Depois, vendo sua firme determinação começou a ameaçá-la de diversas maneiras. Mas, nem o medo da morte foram capazes de fazer Juliana renunciar a Cristo. Ela foi fortemente açoitada e torturada; em seguida foi jogada em um calabouço. Ali uma nova provação aguardava Juliana: o demônio apareceu em forma de anjo tentando convencê-la a ser razoável e firmar um pequeno compromisso. Pelas palavras dele, Juliana adivinhando que era o inimigo que falava com ela, rezou a Deus e o demônio sumiu envergonhado.

Vendo a firmeza da mártir de Cristo e os milagres durante as torturas, muitos moradores de Nicomedia passaram a crer em Cristo. Todos foram decapitados. Depois disso também executaram Juliana, a qual completava 18 anos. Isso aconteceu no ano de 304.

A santa mártir Juliana é venerada como padroeira da castidade e pureza. Partes de suas relíquias são preservadas em muitas igrejas.

Kondaquion: Tu foste a virgem bela e mártir perseguida por teu divino amor. Tu foste levada à câmara nupcial, onde tu pregas por aqueles que te honram. Juliana, que ajuda os necessitados e cura os enfermos e a salvação aos que se aproximam de ti. Cristo forneceu a divina felicidade e a vida eterna.

 

Santa Mártir Anastácia a Libertadora.

4 janeiro (22 dez. antigo calendário)

Santa Anastácia era filha de um famoso e rico pagão romano. Distinguia-se por sua inteligência e beleza e teve uma educação excelente. Sua mãe, que era cristã, educou-a de modo cristão, e Anastácia desde cedo amou a Cristo. Muito cedo também ela conheceu as amarguras da vida. Sua mãe e seu professor preferido Crisógonus foram presos por serem cristãos juntamente com outros cristãos. Visitando-os, Anastácia desenvolveu um profundo sentimento de compaixão pelos pobres, ofendidos e afligidos e tentava ajudá-los.

Quando a mãe de Anastácia morreu, imediatamente seu pai, contra sua vontade, ofereceu-a em casamento a um rico pagão, mesquinho e cruel. O único consolo de Anastácia era ajudar os pobres e visitar cristãos encarcerados. Dando altas gorjetas aos guardas ela conseguia entrar facilmente na prisão. Receoso de que Anastácia gastasse toda sua fortuna, seu marido passou a trancá-la em casa. Desprovida da chance de visitar os aprisionados, ela escreveu para seu professor Crisógonus: "Roga a Deus por mim; é por amor a Ele que estou sofrendo até a exaustão." O professor respondeu: "Não se esqueça de que Cristo que caminhou sobre as águas é poderoso para acalmar qualquer tempestade."

Pouco tempo depois o marido de Anastácia morreu no mar, e ela ficou totalmente livre. Então ela já não se restringia mais apenas às prisões de Roma. Ela começou a visitar prisões das cidades vizinhas, levando alimentos e roupas aos prisioneiros, cuidava de suas feridas, pagava aos guardas para que tratassem os prisioneiros com menos severidade. Por estas ações de amor ao próximo ela foi chamada de Libertadora (dos cativos). Certa vez ao chegar à cadeia para visitar os prisioneiros, os quais tinha visitado na véspera não os encontrou ali. Ao saber que todos eles foram executados durante a noite, chorou amargamente.

O encarregado da prisão entendeu que Anastácia também era cristã e entregou-a para ser julgada pela lei. Ela continuou fiel a Cristo. Foi condenada à execução: amarraram-na a quatro pilares e colocaram fogo, para que morresse viva. Mas Deus Julgou diferente: antes que a chama se propagasse, a santa alma de Anastácia tranqüilamente partiu para o céu. Ela morreu pelo ano de 304.

Kondaquion: Aqueles que vivem em tentações e aflições chegam até seu templo e são restaurados pela graça que habita em ti, Ó Anastácia, espalha a cura pelo mundo.

Venerável Mártir Eugênia.

6 janeiro (24 dez. antigo calendário)

Santa Eugênia nasceu em Roma, no ano 183. Seu pai Felipe, era governador no Egito e vivia com sua família na cidade de Alexandria. Eugênia recebeu uma excelente educação cultural. Ela era bela, mas não pensava em se casar. Conforme os escritos do apóstolos Paulo, Eugênia queria se tornar cristã com todo ardor de seu coração.

Desejando devotar sua vida a Deus, Eugênia, aos 16 anos passou a se vestir como homem e secretamente abandonou o lar paterno, acompanhada de dois escravos-eunucos: Protus e Iacintus. Passando-se por rapaz, ela dirigiu-se a São Elias com o pedido de ser batizada e abençoada para a vida monástica. O santo entendeu seu segredo, mas batizou-a com o nome masculino de Eugênio. Seus escravos também foram batizados. Depois disto o santo os consagrou como monges (inclusive Eugênia).

A virgem bendita, escondia-se sob as vestes monásticas protegida no ascetismo voluntário e nas rigorosas façanhas do jejum e orações. Seus feitos foram do agrado de Deus e ele então lhe concedeu o dom da cura. Após alguns anos, quando faleceu o padre superior do mosteiro, a irmandade pediu que Eugênia o sucedesse. Ela abriu o Evangelho e leu: "Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. (Mat. 20:26-27). Entretanto ela foi obrigada a concordar à resolução deles de se tornar o Padre Superior, e assumindo este cargo, dobrou seu fervor ascético. Todos, menos seus antigos escravos, a consideravam como monge.

Certa vez, veio até Eugênia uma viúva doente, Melânia, pedindo ajuda, e Eugênia a curou com o sinal da Cruz. Por influência do demônio, Melânia se enfureceu contra Eugênia e caluniou por violência. Ela foi levada à corte ao Luiz Felipe, que era seu próprio pai. Durante o julgamento o juiz reconheceu sua filha perdida, Eugênia, e Malânia foi condenada por calúnia. Tendo encontrado aquela quem eles tanto procuraram e por quem choraram, os pais de Eugênia, maravilhados com sua beleza espiritual, creram em Cristo e foram batizados. Em pouco tempo os cristãos de Alexandria elegeram Felipe como seu bispo. Mas não durou muito seu bispado, pois o novo governador enviou assassinos, os quais o feriram mortalmente e ele morreu em 262.

Após a morte do pai Eugênia juntamente com sua mãe Claudia voltou à sua terra natal perto de Roma. Claudia instituiu uma casa de refúgio e atendia às viúvas. Depois, durante o império de Galian (260-268) ela sofreu martírios. Basília, órfã descendente de família imperial romana, foi batizada por Eugênia. Seu noivo enfurecido queixou-se ao imperador Galian dos cristãos que pregavam o celibato. Basília recusou-se em obedecer as ordens do imperador e casar-se. Por essa razão foi executada. Os monges Protus e Jacintus, associados a santa Eugênia, foram decapitados. Quando Eugênia foi levada ao templo de Diana para se sacrificada, o templo desmoronou. Culparam Eugênia por bruxaria e a jogaram no rio Tigre com uma pedra no pescoço. Mas a corda se desamarrou e Eugênia saiu ilesa. Finalmente em 25 de dezembro de 262 ela foi decapitada. Como, mais tarde, nesse dia começaram a festejar a Natividade de Cristo, o dia da memória de santa Eugênia foi transferido para a véspera. Suas relíquias se encontram depositadas em Roma, na igreja dos santos Apóstolos. Após sua morte, Eugênia apareceu à sua mãe em grande glória e a confortou.

TROPARION: Tua cordeira Eugênia, Ó Jesus, clama por Ti em alta voz: Tu meu Noivo, à Tua procura sofro, sou martirizada por Teu batismo, morro por Ti e vivo Contigo, recebe-me, com amor me sacrifico por Ti. Através de Tuas preces, salva nossas almas.

 

O Santo Protomártir Estevão o Arcediácono.

9 de janeiro (27 dez. ant. calendário)

São Estevão descendia dos judeus que viviam no estrangeiro, ou seja, fora da Terra Santa. Tais judeus eram chamados de helenistas, pois havia neles a influência da cultura grega que dominava no império romano. Após a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos a Igreja começou a crescer rapidamente e surgiu a necessidade de se cuidar dos órfãos, viúvas e pobres em geral, que foram batizados. Os apóstolos sugeriram que os cristãos escolhessem sete homens justos para cuidarem dos necessitados. Esses sete homens foram ordenados diáconos (o que significa ajudantes, servidores) e então foram considerados pelos apóstolos como seus auxiliares mais próximos. Dentre os diáconos um se destacou por sua fé inabalável e dom da palavra: o jovem Estéfano, chamado de arcediácono, ou seja, primeiro diácono. Em pouco tempo os diáconos, além do auxílio aos pobres, passaram a participar assiduamente das orações e ofícios.Estevão pregava a palavra de Deus em Jerusalém, reforçando a verdade de suas palavras com presságios e milagres. Seu sucesso era enorme, e isso despertou contra ele ódio dos seguidores da lei de Moisés — os fariseus. Eles o capturaram e levaram à corte suprema dos judeus. Ali os fariseus apresentaram falsas testemunhas, as quais afirmavam que ele, em suas pregações blasfemava contra Deus e o profeta Moisés. Justificando-se São Estevão expôs diante doa cirenenses a história do povo hebreu, demonstrando com claros exemplos, como eles sempre repudiaram a Deus e matavam os profetas enviados por Ele. Ao ouvirem essas palavras, os membros cirenenses esbravejaram de raiva. Nesse momento São Estevão fitou o Céu o qual se abriu sobre ele, e ele exclamou: "Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus (atos 7:56). Ouvindo-o falar, novamente os cirenenses foram tomados por uma fúria imensa. Tampando os ouvidos, eles se atiraram contra ele, lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. Havia um rapaz de nome Saulo, o qual foi incumbido de vigiar as vestes do apedrejado; ele aprovava o assassinato de Estevão. Ao cair sob a saraivada de pedras, Estevão exclamou: "Senhor Jesus, não lhes leves em conta este pecado e recebe meu espírito." Esse acontecimento e a palavra de Estevão estão descritos pelo Evangelista Lucas no livro dos Atos Apóstolos, cap. 6-8.

Assim o arcediácono foi o primeiro mártir por Cristo no ano 34 d.C.. Depois disso em Jerusalém começou a perseguição aos cristãos, da qual eles foram obrigados a fugir para várias partes da Terra Santa e vizinhança do país. Assim a fé cristã foi se propagando por várias partes do império romano. O sangue do primeiro mártir Estevão não foi derramado em vão. Pouco tempo depois Saulo, aquele que aprovou a sentença de morte de Estevão, passou a crer, foi batizado com o nome de Paulo. Tornou-se um famoso pregador do Evangelho e um dos mais prósperos evangelistas e missionários. Muitos anos depois, tendo ido a Jerusalém, também foi agarrado por uma multidão enfurecida de judeus que queriam apedrejá-lo. Em sua conversação com eles, Paulo lembrou-se sobre a morte inocente de Estevão e de sua própria participação nela (Atos 22).

Troparion: Pelas boas ações, primeiro-mártir e apóstolo por Cristo, desmascarou os torturadores desonestos. Foi apedrejado pelas mãos dos bárbaros, recebeu o dilema que a mão direita enviou das alturas, e clama a Deus: Senhor, não os castigue.

 

Santa Mártir Anísia.

12 janeiro (30 dez. ant. calendário)

Santa Anísia nasceu em uma cidade da Grécia no final do século 3. Seus pais eram ricos bondosos e devotos. Eles educaram Anísia na fé cristã. Ficou órfã muito cedo e foi única herdeira de grande fortuna dos pais, muitos escravos, terras, ouro e jóias preciosas.

Naquela época os cristãos eram severamente perseguidos. Por ordem do imperador Maximiano (284-385) todo cristão que se recusava a renunciar a Cristo e a fazer sacrifício aos deuses pagãos, era torturado e executado. Qualquer um podia matar cristãos e ficar impune. Sabendo que os ricos dificilmente entrarão no Reino do Céu, Santa Anísia libertou seus escravos, vendeu seus bens e começou a ajudar as viúvas, os órfãos, mendigos e aprisionados. E não era só com dinheiro que ajudava os necessitados, mas ela mesma cuidava dos enfermos, fazia curativos nas feridas dos torturados e consolava os aflitos. Quando todo seu dinheiro se foi, Santa Anísia passou a viver na pobreza e começou a trabalhar para se alimentar. Porém ela continuou a visitar os prisioneiros e consolar os aflitos.

Certa vez indo para uma reunião de oração de cristãos, Santa Anísia percebeu como uma grande multidão se apressava para chegar a um templo pagão, venerar deus sol pagão. Afastada da multidão ruidosa, Santa Anísia continuou sua caminhada para a reunião de oração. Mas repentinamente um dos soldados notou-a e perguntou quem ela era e aonde estava indo. Ela respondeu em poucas palavras: "Eu sou escrava de Cristo e estou indo à minha igreja."

O soldado a agarrou com brutalidade e queria à força levá-la ao templo pagão para que ela fosse compelida a prestar sacrifício ao ídolo. Santa Anísia desvencilhou-se das mãos do soldado com as seguintes palavras: "Que o Senhor Jesus Cristo te impeça." Ao ouvir o odiado nome de Cristo, o pagão furioso golpeou a santa com a espada. Esvaindo-se em sangue caiu no chão morta. Assim a jovem Anísia entregou sua alma pura nas mãos de Cristo. Os cristãos enterraram o corpo da santa em Tessalonica, perto das porteiras.

Troparion: Jesus, Tua cordeira Anísia clama por Tí: Tu meu Noivo, sofro à Tua procura e sou torturada e martirizada por Teu batismo; sofro por Tí; reino em Tí, morro por Tí e vivo conTigo, recebe-me sacrifício puro, com amor me sacrifico por Tí. Através de Tuas preces, salva nossas almas, por Tua misericórdia!

 

 

Folheto Missionário número PA06

Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(saints_6_p.doc, 10-10-2004)