Ambrosio

Ancião de Optina

Bispo Alexander (Mileant).

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior

 

Conteúdo:

Vida do abençoado Ancião Ambrosio de Optina

Ensinamentos Selecionados do Staretz Ambrosio

Como viver. Quanto nós cuidamos de nossos corpos e quanto nós cuidamos de nossas almas. Sobre salvação. Sobre humildade. Sobre descrença. Sobre arrependimento. Sobre sofrimento. Sobre amor. Sobre caridade. Sobre preguiça e desânimo. Sobre paciência. Sobre irritabilidade. Sobre inveja e malicia. Sobre o orgulho. Sobre o significado das tentações. Sobre o significado do jejum e sua necessidade. Sobre oração. Sobre progresso externo e moral.

Tropário Kondakion

Adendo:

A vida do Ancião Ambrosio pelo Arcipreste Sergius Chetverikov.

Manifestações da Graça de Deus no Ancião Ambrosio.

 

 

Vida do abençoado

Ancião Ambrosio de Optina

Hieromonge Ambrosio nasceu em 23 de novembro de 1812 na família do sacristão Michael Feodorovitch e de sua mulher Marta Nicolaevna, numa aldeia chamada Grande Lipoviza na proncia de Tambov. Na véspera do seu nascimento, muitos convidados se reuniram na casa de seu avô que era o padre da aldeia. Naquele dia a casa ficou lotada com gente agitada — tanto dentro de casa quanto no pátio. Marta Nicolaevna foi levada para o banheiro, e logo depois deu à luz Alexandre — futuro Ancião da hermitage de Optina — santo Ambrosio de Optina. Mais tarde em sua vida, o Staretz reiteraria jocosamente: "Assim como eu nasci no meio de uma multidão, eu continuei vivendo cercado por ela."

Michael Feodorovitch teve oito filhos: 4 meninos e 4 meninas; Alexandre foi o sexto filho. Como criança, Alexandre foi um menino vivo, feliz e brilhante. Como era o costume daquele tempo, Alexandre foi ensinado a ler no alfabeto eslavônico, tanto o Livro de Orações quanto os Salmos. Todo dia festivo na igreja, ele lia e cantava com o pai no coro. Como ele foi criado num ambiente estritamente de igreja e religioso, ele nunca ouviu ou viu nada corrupto.

Quando completou doze anos foi mandado para estudar no primeiro curso do colégio eclesiástico de Tambov. Bom aluno, ao terminar o curso em 1830, foi admitido no Seminário da mesma cidade. De novo, o estudo foi fácil para ele. Como um de seus colegas de classe de então costumava lembrar: "Às vezes nós comprávamos uma vela com os nossos últimos centavos para poder estudar mais, enquanto que ele (Alexandre Grenkov) estudava pouco, mas, nos questionamentos do professor respondia como se estivesse lendo, como se tivesse estudado muito: era o melhor." Em julho de 1836, tendo completado os estudos ele não entrou na Academia eclesiástica nem se inscreveu para estudar para o sacerdócio. Era como se ele sentisse um chamado especial em sua alma, não tendo então, pressa para definir a sua situação: era como se esperasse um chamado de Deus. Ele passou algum tempo como tutor privado de uma família proprietária de terras e depois como professor numa escola religiosa em Lipetsk. Possuindo uma disposição viva e animada, benevolência e inteligência afiada, Alexandre Mihailovitch era amado por seus amigos e companheiros de trabalho. Caindo gravemente doente em seu último ano no Seminário, ele fez a promessa de que se ficasse bom, seria tonsurado numa ordem monástica. Recuperando-se da doença, ele não esqueceu a promessa. No entanto, ele retardou a realização dela por alguns anos, porque na sua própria expressão ele estava "relutante." No entanto, sua consciência não estava dando a ele nenhuma paz, e quanto mais tempo se passava, maiores eram os reclamos da sua consciência. Os períodos juvenis de alegria e despreocupação, se alternavam com períodos de aguda angustia, melancolia, orações fervorosas e lágrimas.

Certa ocasião, durante um passeio pelo bosque de Lipetsk, parou à margem de um regato, e de dentro do burburinho das águas, ele ouviu distintamente as palavras: ‘louvai a Deus, amai a Deus’.

Regressando para casa e se isolando de olhares inquisitivos, ele começou a orar fervorosamente para a Mãe de Deus, para que ela iluminasse a sua mente e dirigisse a sua vontade. No todo, ele não possuía uma vontade forte, e já idoso ele diria para seus filhos espirituais: "vós deveis prestar atenção nas minhas primeiras palavras, pois sou um homem muito condescendente. Se vós começardes a argumentar comigo, eu poderei ceder, e isto não trará nenhum beneficio para vós." Na mesma diocese de Tambov, no povoado de Troekurovo, vivia naquele tempo um famoso staretz Hilarião. Alexandre Mihailovitch o procurou para conselho, e o staretz lhe disse: "vá para a hermitage de Optina, lá tu te tornarás experiente. Tu poderias ir também para Sarov, mas agora lá não há anciãos experientes, como havia antes" (São Serafim de Sarov repousara havia pouco tempo). Chegadas as férias do verão de 1839, Alexandre Mihailovitch junto com Prokovskii, companheiro no seminário e também professor no colégio de Lipetsk, foram em peregrinação para a Lavra da Trindade e de São Sérgio, para venerar o ‘abade de toda a Rússia’ (a Lavra da Trindade e de São Sérgio é um famosíssimo Mosteiro).

Retornando para casa em Lipetsk, Alexandre Mihailovitch continuou hesitando e não conseguia tomar a decisão de abandonar o mundo. Apesar de tudo, isto aconteceu uma noite em que ele estava recebendo companheiros. Todos estavam felizes e contentes, e foram para suas casas com espírito elevado. Mas para Alexandre Mihailovitch, que se no passado, em circunstâncias similares ele sentiu remorso, agora se apresentou vividamente a promessa que fizera a Deus. Ele lembrou do fervor de espírito no Mosteiro da Trindade, as antigas longas orações, as lamentações e lágrimas, e as diretivas de Deus conduzidas a ele através do Padre Hilarião.

Na manhã seguinte sua determinação amadureceu, e para não vacilar mais por causa do que poderiam dizer seus parentes e conhecidos, partiu silenciosamente para Optina, sem pedir permissão sequer para as autoridades de sua diocese.

Ali ele encontrou vida monástica de alto nível: homens vigorosos e decididos como o abade Moises, os anciãos Leo (Leonardo) e Macarius. Irmão do asceta e sagaz Moises, o superior do mosteiro, o hieromonge Antonio era de igual eminência espiritual que Alexandre Mihailovitch.

Sob a direção dos anciões, a vida monástica carregava a marca da virtude espiritual. Inocência, mansidão e humildade distinguiam os monges de Optina. Os irmãos jovens não eram só se humilhavam perante os irmãos mais velhos mas também diante dos irmãos jovens. Eles temiam ofender os outros de qualquer maneira, até com olhares, e qualquer mal entendido fazia com que se apressassem em pedir perdão.

Foi nessa atmosfera que Alexandre Grenkov chegou em Optina em 8 de outubro de 1839. Deixando o cocheiro na recepção, ele foi direto para a capela. Depois da Liturgia ele procurou o staretz Leo para lhe pedir a bênção para permanecer no mosteiro. O staretz lhe deu a sua bênção para que ele vivesse inicialmente na casa de hóspedes, e o encarregou de copiar um livro "Salvação dos pecadores," tradução do grego moderno de um livro sobre a luta contra os desejos carnais.

Em janeiro de 1840 ele se mudou para o mosteiro, mas ainda sem usar o hábito. Neste tempo houve comunicação epistolar com as suas autoridades diocesanas por conta de seu desaparecimento, e ainda não havia chegado a permissão do Bispo de Kaluga, quanto a permanência do professor Grenkov em Optina.

Finalmente, em abril de 1840, A.M.Grenkov recebeu a bênção para usar o hábito monástico. Por um curto período ele foi atendente de cela e leitor de ritos e ofícios da igreja para o staretz Leo, e trabalhava na padaria do mosteiro produzindo fermento e cozinhando pão. Então, em novembro de 1840, ele foi transferido para o "Skit" (área com regulamento mais severo). Dali, o noviço visitava continuamente o staretz Leo para receber aconselhamento dele. No "Skit" ele foi assistente de cozinheiro por todo um ano. Por conta do seu trabalho, ele tinha que visitar com freqüência o staretz Macarius: para receber a bênção para o preparo da comida, para tocar os sinos chamando para as refeições, e por outras razões similares. Estas visitas permitiam a ele relatar ao staretz os seus estados espirituais e receber suas respostas. O objetivo era que a pessoa dominasse as paixões, e não que as paixões dominassem a pessoa.

O staretz Leo estava especialmente satisfeito com o jovem noviço, e o chamava afetuosamente de "Sasha." No entanto, motivado por objetivos educacionais espirituais, o ancião costumava testar a humildade do noviço em frente dos outros. Pensando nisto, o ancião deu ao noviço um apelido —quimera — e às vezes fazia de conta que estava irado com ele. Este nome pretendia significar uma flor estéril como as produzidas pelos pepinos. Mas para os outros o ancião dizia: ‘ele será um grande homem’. Esperando sua morte eminente, o staretz Leo chamou o Padre Macarius e lhe falou sobre o noviço Alexandre. "Eis aqui um homem que procurou refugio entre nós, os staretz. Agora me sinto muito fraco. Então o estou entregando completamente a ti. Guia-o como tu quiseres."

Após a morte do ancião Leo, o irmão Alexandre se tornou ajudante de cela de Macarius (1841-1846). Em 1842 ele foi tonsurado e tomou o hábito com o nome Ambrosio (em honra a São Ambrósio de Milão (cuja memória é celebrada no dia 7 de dezembro). A isto se seguiu sua ordenação como hierodiácono (1843) e dois anos depois ele foi ordenado hieromonge (monge presbítero).

Durante estes anos sua saúde foi muito abalada. Em 7 de dezembro de 1846, durante sua viagem para Kaluga para sua ordenação como presbítero, ele pegou um resfriado demorado que acabou afetando seus órgãos internos, deixando-o doente por um longo tempo. Desta data em diante ele nunca mais se recuperou totalmente. Porém não se desesperava e reconhecia que a enfermidade física tinha um efeito benéfico para sua alma. "A um monge é útil ficar doente, gostava de dizer o Padre Ambrosio, ele não deve curar-se completamente da doença, mas só parcialmente." A outros dizia para lhes consolar: "Deus não exige proezas corporais aos enfermos, mas somente paciência, com humildade e agradecimento.

De setembro de 1846 para 1848 sua saúde se deteriorou tanto e tão perigosamente que ele foi tonsurado para o schema (a ordem monástica mais severa) em sua cela com a manutenção do nome. No entanto, para surpresa de muitos, ele começou a melhorar rapidamente, chegando a sair para passeios externos. Esta quebra repentina em sua saúde foi um claro sinal da vontade de Deus, como o próprio ancião mais tarde comentou: "Deus misericordioso! No mosteiro, o doente não morre rapidamente mas demora-se, até que a doença lhe traga algum beneficio real. É bom se estar com alguma doença leve no mosteiro, particularmente para os jovens, para que a carne não se rebele e para que se minimize os pensamentos vazios que entram na cabeça."

Durante estes anos, o treinamento do Padre Ambrosio não foi guiado somente pelas dores físicas enviadas por Deus, mas também pela benéfica comunhão com os irmãos mais velhos, entre os quais existiam reais ascetas. Como exemplo citaremos um evento, sobre o qual o próprio ancião fez um relato depois.

Logo depois de ser ordenado diácono, ele teve que servir em uma Liturgia na igreja da Entrada no Templo da Santíssima Virgem em Vedensk e conseqüentemente, teve que ir ao altar para receber a bênção do Abade Antonio, que por sua vez lhe perguntou: "Bem, tu estás acostumado com isto?" Padre Ambrosio respondeu de maneira descuidada: "Sim, com vossas orações," ao que o Abade Antonio replicou: "ao temor de Deus estás acostumado?" O padre Ambrosio entendeu que seu tom de voz estava fora do lugar no altar e ficou confuso. "Desta maneira, eram os anciões anteriores capazes de nos ensinar reverência."

Durante aqueles anos sua comunhão com o staretz Macarius foi especialmente importante para seu incremento espiritual. Não obstante sua doença, como antes o Padre Ambrosio permaneceu em completa obediência ao staretz, prestando contas a ele de suas menores ações. Recebendo a bênção do Padre Macarius, ele se ocupava traduzindo livros escritos pelos Santos Padres, e em particular, preparando para publicação, o livro "A escada santa" escrito pelo Santo Abade João do Sinai.

Graças à orientação do ancião Macarius, Padre Ambrosio foi capaz de apreender, sem nenhuma especial dificuldade, a habilidade das habilidades — a oração espiritual. A atividade de um noviço é acompanhada por vários perigos, e através de sua inexperiência, o diabo tenta o levar a um estado de "engano ou ilusão espiritual," particularmente ao exercitar a dita oração sem adequada supervisão, e pode provocar vários danos, porque quem faz esta oração sem adequada supervisão acaba seguindo sua própria vontade encontrando desculpas aparentemente boas. Um monge, sem um adequado guia espiritual pode prejudicar severamente a sua alma, o que aconteceu ao próprio Padre Macarius que tentou apreender a arte desta oração sozinho. Porque teve um guia espiritual altamente experimentado no staretz Macarius, o Padre Ambrosio foi capaz de evitar as ciladas da agonia e da angustia durante seu progresso para a oração do coração. Apesar do staretz amar seu estudante, mas para destruir o amor-próprio do noviço, ele não perdeu a oportunidade de por o noviço em circunstância humilhantes. O staretz Macarius estava guiando o noviço para ser um estrito ascético, adornado com pobreza, humildade, paciência e outras virtudes adequadas para um noviço. Em qualquer oportunidade que alguém viesse defender o Padre Ambrosio dizendo, "Padre, ele é uma pessoa doente!" o staretz Macarius respondia: "Eu o conheço menos que tu? No entanto, para um monge, reprimendas e críticas não são mais do que vassouras que varrem a poeira pecaminosa de sua alma, e sem isto um monge enferruja."

Mesmo enquanto o staretz Macarius estava vivo, alguns dos irmãos iam visitar o Padre Ambrosio para discutir seus pensamentos mais íntimos.

Eis como o Abade Marco (ele se aposentou em Optina) descreveu o comportamento do Padre Ambrosio: "Pelo que eu pude notar naqueles dias, ele vivia em isolamento e não conversava com ninguém. Sempre que eu o visitava, e era quase todo dia, para discutir meus pensamentos, eu o encontrava lendo livros espirituais. Ausência de sua cela significava que ele estava com o staretz Macarius, o ajudando com sua correspondência com seus filhos espirituais, ou então, ele estava traduzindo livros espirituais. Às vezes eu o encontrava sentado em sua cama, segurando com dificuldade lágrimas perceptíveis em seus olhos. Parecia a mim que ele estava sempre se movendo como se estivesse na presença de Deus, ou como se ele estivesse constantemente consciente de Sua presença, justo como afirma o salmo: "Tenho posto Deus continuamente diante de mim..." (Sl. 15[16]: 8). Conseqüentemente todas as suas ações eram feitas para Deus e para agradá-Lo." Por esta razão ele estava constantemente em agonia, temeroso em que pudesse ofender a Ele, e este sentimento se refletia em seu rosto. Sempre que eu estava em sua presença e via esta concentrada aparência do staretz Ambrosio, eu tremia em reverência. E me era impossível me sentir de outra maneira. Sempre que eu me ajoelhava diante dele para receber sua bênção, ele me inquiria mui calmamente: "Irmão, o que tu podes me dizer de bom?" Perplexo por sua concentração e sentimentos, eu respondia: "Por Deus, me perdoa batushka. Talvez eu tenha vindo em hora errada?" "Não," era a sua resposta. "Diga o que tens que dizer, mas seja breve." "Tendo me ouvido atentamente, ele me dava instruções benéficas e carinhosamente me liberava."

Apesar de rico em intelecto espiritual, suas instruções não vinham de sua sabedoria ou raciocínio pessoais. Quando ele instruía seus filhos espirituais, era como se ele fosse um dos estudantes, oferecendo a eles não seu conselho pessoal, mas, invariavelmente, os potentes ensinamentos dos santos Padres." Se o Padre Marcos reclamava com o Padre Ambrosio sobre alguém que o tinha ofendido, este dizia em tom lamentoso: "Irmão, irmão, eu sou uma pessoa moribunda." Ou então, "Eu morrerei hoje ou amanhã. O que poderei fazer com este irmão? Eu não sou o Padre Superior. Tu precisas te recriminar, te humilhar perante o irmão, e tu encontrarás paz." Estas respostas costumavam evocar auto-recriminação na alma do Padre Marcos. Depois de se inclinar humildemente diante do staretz e ter pedido a sua bênção, ele saia, recomposto e reconfortado, como se voasse com asas.

O Padre Macarius aproximava de Ambrosio além dos monges, seus filhos espirituais leigos. Ao vê-los conversar com ele, dizia jocosamente: "Vejam, vejam aquilo, o Padre Ambrosio está tomando o pão de mim!" Desta forma, o Padre Macarius estava preparando um digno sucessor para si próprio. Quando o staretz Macarius repousou (7 de setembro de 1860), as circunstâncias foram se arranjando paulatinamente para que o Padre Ambrosio fosse para o seu lugar. Quarenta dias após a morte do staretz Macarius, o Padre Ambrosio se mudou para outro edifício perto do Skit, à direita do campanário. A oeste deste edifício havia um anexo no qual eram recebidas as mulheres que não podiam entrar no mosteiro. Durante trinta anos (até sua partida para Shamordino) ai viveu o Padre Ambrosio.

Tinha dois ajudantes de cela: os padres Miguel e José (este futuro ancião). O principal encarregado da correspondência era o Padre Clemente Sederholm, um homem erudito, mestre em literatura grega, que sendo filho de um pastor protestante, se converteu à Ortodoxia.

Para escutar a regra das orações matinais, o staretz se levantava às quatro da manhã, tocava o sino que convocava os assistentes, que então liam as orações matinais, doze salmos selecionados e a Primeira Hora. A seguir, ele se retirava para orar a "oração espiritual." Depois de um rápido descanso, o staretz escutava as horas: terceira sexta e a típica, e dependendo do dia o cânon e akatiste de Jesus Cristo ou de Sua Santíssima Mãe. Ele ouvia o cânon e o akatiste em pé. Após estas orações e de um ligeiro desjejum, começava o dia inteiro de trabalho, com um breve intervalo para o almoço. A comida que o staretz ingeria era na mesma quantidade da que come uma criança de três anos. Durante o almoço, os ajudantes continuavam transmitindo as perguntas que os visitantes haviam feito. Depois de um breve descanso, o trabalho continuava até muito tarde. Não obstante seu estado enfraquecido e doente, o staretz sempre terminava o dia com a regra de oração noturna, composta de pequena completa, Cânon para o Anjo da Guarda e orações da noite. Pelo fluxo continuo de visitantes, a quem deviam acompanhar na entrada e saída, no fim dos trabalhos, os ajudantes mal podiam se manter em pé. Ocasionalmente, o staretz permanecia imóvel, como que desmaiado. Depois da regra, o staretz pedia perdão "por ter pecado gravemente por atos, palavras e pensamentos." Os ajudantes pediam a bênção e se retiravam. Muitas vezes, mais ou menos nesta hora o relógio tocava, e o staretz com voz débil perguntava "Que horas são" e vinha a resposta "É meia-noite" ele dizia "Nos atrasamos hoje."

Dois anos mais tarde uma nova enfermidade o atacou. Sua saúde já frágil se tornou ainda mais debilitada. Já não podia ir à igreja para receber a Santa Comunhão, e esta lhe era dada em sua cela. Em 1869 seu estado piorou tanto, que se perdeu qualquer esperança de recuperação. O milagroso ícone da Mãe de Deus de Kaluga foi trazido para ele. Depois de um Molebem, orações próprias para a cela e a Unção com o Santo Óleo, a saúde do staretz começou a melhorar, apesar de que uma extrema fraqueza permaneceu com ele pelo resto da vida.

Tais recaídas graves se repetiram muitas vezes. É difícil imaginar como o staretz, confinado à cama e enfermo com doença debilitante, pôde continuar a receber diariamente uma multidão de pessoas e a responder dezenas de cartas. Nele as palavras "a força de Deus é realizada através das enfermidades" se tornaram realidade. Sem a seleção dele por Deus como um cadinho através do qual Ele falou e agiu, esta façanha e trabalho gigantesco nunca teriam sido possíveis através de esforços exclusivamente humanos. Claramente, a benevolência e assistência doadas por Deus estavam presentes.

A benevolência abundante de Deus que residia nele, era a fonte desta bênção espiritual que permitia a ele servir os que o visitavam confortando os pesarosos, reforçando a fé daqueles que estavam vacilantes e dirigindo a todos para o caminho da salvação.

Entre as bênçãos espirituais de que era dotado o staretz Ambrosio, que atraiam milhares de pessoas para ele, deve ser mencionada sua perspicácia em primeiro lugar. Ele penetrava profundamente na alma do visitante e sem necessidade de qualquer explicação, ele a lia como a um livro. Sem que ninguém notasse, ele apontava as fraquezas das pessoas compelindo-as a pensar seriamente nelas. Uma mulher, que o visitava com freqüência, era viciada em jogo de cartas, mas tinha vergonha de contar isto ao staretz. Em uma de suas visitas ela pediu ao staretz um cartão de visitas dele. Atentamente, ele a olhou fixamente com seu olhar distintivo, e disse: "O que Mãe? Tu pensas que nós jogamos cartas aqui no mosteiro?" (em russo cartas de baralho e cartão de visitas são a mesma palavra). Ela entendeu a alusão e confessou sua fraqueza ao staretz. Sua sagacidade espantava a muitos, e fazia com que eles decidissem entregar a ele sua direção, com a firme crença de que o staretz sabia melhor do que eles mesmos, do que eles precisavam e o que seria melhor ou pior para eles.

Uma jovem que havia terminado o curso superior em Moscou, e cuja mãe, já há muito tempo era filha espiritual de Padre Ambrosio, nunca o tinha visto e não o respeitava, chamando-o de hipócrita. Sua mãe acabou a convencendo a visitá-lo. Chegando a uma visita pública ao staretz, ela ficou atrás de todos, perto da porta de entrada. Abrindo a porta para entrar, o staretz isolou a jovem atrás da porta. Depois de fazer uma prece e olhar para todos, repentinamente ele olhou atrás da porta, e disse: "Quem é esta que está ai? A Fé a fez vir ver o hipócrita?" No final, ele falou com ela privadamente, e a conversa fez com que a jovem mudasse inteiramente sua atitude para com ele. Passou a amá-lo profundamente, sua fé foi assentada e ela entrou num convento em Shamardino. Aqueles que com fé total se colocavam sob sua direção nunca se arrependeram, ainda que no começo recebessem diretivas estranhas e difíceis de serem realizadas. Normalmente muitas pessoas se reuniam nos aposentos do staretz. Certa vez uma jovem que tinha sido persuadida a fazer uma visita ao Padre Ambrosio, ficou irritada com a longa espera. De repente a porta se abre. O staretz com um rosto luminoso aparece e fala alto: "Os que estiverem impacientes venham a mim." Se aproximou da jovem e a convidou a entrar. Depois da conversa, ela se tornou visita freqüente ao mosteiro e ao Padre Ambrosio.

Certa ocasião um grupo de mulheres se reuniu perto da entrada, e uma delas, mulher idosa e com rosto de doente, sentada sobre um tronco caído, contava que tinha vindo a pé desde Voronezh, na esperança que o staretz curasse suas pernas doentes. A onze quilômetros do mosteiro, ela se perdeu no caminho coberto de neve e caiu sobre um feixe de lenha exausta. Subitamente, apareceu um velho com roupa de monge e scufia e lhe perguntou a causa das lágrimas e lhe indicou o caminho com seu bastão. Ela seguiu o caminho indicado e logo depois, por trás de uns arbustos, viu o mosteiro. Todos concordaram que aquele ancião devia ser um guarda-bosque próximo ou um dos monges. De repente, um noviço saiu da cela e perguntou alto: "Quem é Eudoxia de Voronezh." Todos trocaram olhares entre si, mas permaneceram quietos. O noviço elevou a voz e perguntou de novo, acrescentando que o Padre a chamava. "Eudoxia de Voronezh sou eu!" Disse a mulher das pernas doentes que estava contando o caso. Passando por entre a multidão que lhe tinha aberto o caminho, ela subiu os degraus até a porta e desapareceu através dela. Quinze minutos depois ela saiu chorando e disse que o ancião que ela havia encontrado no caminho era o mesmo Padre Ambrosio, ou alguém muito parecido com ele. No entanto, sem dúvida não havia no mosteiro ninguém parecido com o staretz, e durante o inverno, por conta de sua doença, ele não era capaz de se aventurar fora de sua cela. No entanto, lá ele esteve, aparecendo na floresta, indicando a direção para a viajante, e depois tendo conhecimento detalhado dela meia hora antes da chegada da mesma!

Segue-se outro exemplo da perspicácia do Padre Ambrosio como relatado por um artesão que o visitou.

Cerca de dois anos antes da morte do staretz, eu tive que viajar para Optina para receber dinheiro. Nós tínhamos terminado de fazer uma iconostase, e por este trabalho eu deveria receber uma boa soma de dinheiro do Padre Superior. Tendo recebido o meu dinheiro, eu resolvi passar pelo Padre Ambrosio para receber uma bênção especial para a minha viagem de volta. Estava com pressa para voltar para casa, pois no dia seguinte deveria encontrar uns clientes para fechar um importante contrato da ordem de 10000 rublos, e os clientes estariam sem falta na minha casa no dia seguinte. Como sempre, o número de pessoas que esperavam pelo staretz era enorme. Tendo apurado que eu estava ali para vê-lo, mandou que seu ajudante me pedisse que fosse tomar chá com ele ao entardecer. Apesar de eu estar com pressa de voltar para casa, a honra e alegria de tomar chá com o staretz era tão grande, que eu raciocinei que se atrasasse a minha partida até o inicio da noite, eu ainda chegaria em casa a tempo se viajasse a noite toda.

Quando chegou o entardecer eu fui para o encontro com o staretz. Cumprimentando-me, ele estava tão feliz que eu não pude nem sentir o chão sob meus pés. Batushka, nosso anjo me reteve até que começou a ficar escuro. "Bem, vai com Deus," disse ele, "durma aqui esta noite e eu te abençôo para participar da liturgia amanhã cedo, e depois vir tomar outro chá comigo." "O que é isto? Eu me perguntei. Mas não ousei objetar. Dormi, fui à liturgia e tomei chá com o staretz, lamentando pelos meus clientes, e pensando que talvez pudesse estar em casa no fim da tarde. Depois de tomar o chá, quis pedir a bênção para a viagem, mas ele não me deu tempo de dizer nada, e logo disse: "vem dormir aqui esta noite." Quase desmaiei, mas não me atrevi a contradizê-lo. Passou o dia e passou a noite! Pela manhã me animei um pouco e pensei: seja como seja, hoje viajo, e pode ser que os meus clientes tenham me esperado por um dia. Mas não! Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, o staretz me disse para vir ao oficio vespertino e pela manhã à liturgia e que para isto, dormisse ali. Que tipo de parábola era esta?! Ai, eu comecei de fato a me preocupar, e para falar a verdade eu pequei contra o staretz: que sábio era este? Ele sabia perfeitamente que por conta de sua generosidade, um negócio lucrativo tinha se escorrido pelos meus dedos. Estava tão incomodado com o staretz, que à noite, na igreja, não podia rezar, pois pensava o tempo todo: "Que staretz! Que tipo de clarividente é este? Nesta hora eu fiquei realmente perturbado. Mas, depois do oficio o staretz tornou a me receber muito alegre. Eu estava amargurado, e Deus me perdoe, cheguei a pensar, ao vê-lo tão contente, que estava zombando de mim. Apesar da minha amargura, não ousei lhe contar meus pensamentos. Passei a terceira noite da mesma forma. Durante a noite, lentamente, meus lamentos diminuíram: foi como água sob a ponte, de todo jeito, o que tinha passado tão perto das mãos não podia ser recuperado. Na manhã seguinte fui ter com o staretz e ele me disse: "Bem, chegou a hora de ires para casa! Deus te abençoará! Vá com Deus! E no tempo certo, não esqueças de agradecer a Ele!"

Deste ponto em diante, todos os meus pesares se afastaram de mim. Eu deixei Optina com um coração tão leve e alegre que era impossível carregá-los. A única coisa que eu pensava era: ‘Porque o Batushka me disse: mais adiante não esqueça de agradecer a Deus?’ Eu pensava que talvez fosse porque ele tinha me dado a grande honra de passar três dias na igreja. Viajando para casa sem pressa eu não pensava nos meus clientes. Eu estava muito contente com a maneira que o Batushka havia me tratado. Cheguei em casa, e o que vós pensais? Eu entrava em minha casa e os clientes estavam atrás de mim. Estavam atrazados três dias! Eu pensei, meu bendito staretz! Tuas obras são de fato maravilhosas ó Senhor! Mas, isto não termina aqui. Ouvi o que aconteceu depois!

Pouco tempo depois, Padre Ambrosio faleceu. Depois de dois anos de sua justa morte, meu artesão principal caiu doente. Uma pessoa de confiança, ele valia seu peso em ouro. Ele viveu comigo, continuamente, por vinte anos. Sua doença ameaçava a sua vida. Nós conseguimos um padre para lhe administrar os ritos finais enquanto ele estava consciente. Chamando-me para perto do leito do moribundo, o padre disse: "A pessoa doente está te chamando, ela quer te ver. Rápido antes que ela morra." Assim que o doente me viu chegando, ele tentou se elevar apoiando-se nos seus cotovelos, olhou para mim e explodiu em lágrimas: "Por favor, perdoe o meu pecado patrão! Eu quis te matar..." "Tu o que, Deus proíba! Tu estás delirando..." "Não patrão, eu quis, de fato te matar. Lembra-te quando tu estavas três dias atrasado no regresso de Optina? Bem, combinado com dois outros, nós te esperamos debaixo da ponte por três dias: nós queríamos o dinheiro que tu recebera em Optina pela iconostase. Devido às orações de alguém tu não morreste naquela noite, e o Senhor te teria levado sem que tu pudesses se arrepender! Peço que perdoes a mim que sou um ser maldito! Deixa minha alma partir em paz!" "Que Deus te perdoe, assim como eu te perdôo." Então o enfermo começou a emitir sinais de morte. Que descanse em paz! Grande foi seu pecado, mas também grande foi seu arrependimento.

A clarividência do staretz Ambrosio se combinava com outro dom valioso, especialmente para um membro do clero — discernimento. Para pessoas que pensavam profundamente em religião, suas diretivas e conselhos pareciam como escritura saudável e prática. Com freqüência o Staretz dava seus preceitos de forma semi-humorística, tirando assim a pessoa do desânimo, e nem por isto diminuindo o profundo significado de suas palavras. Por conta das expressões pitorescas do Padre Ambrosio, as pessoas acabavam, invariavelmente, ponderando sobre elas e lembrando delas por muito tempo. Às vezes, em reuniões gerais, questões constantes surgiam: "Como viver?" A isto o Staretz respondia com bondade: "Devemos viver sobre a terra como uma roda gira: apenas um ponto toca a terra, e todo o resto vai para cima; mas, se nós afundamos, então é muito difícil que sejamos capazes de nos elevarmos."

Como exemplo, citaremos alguns ditos do Staretz.

"Onde há simplicidade, há centena de Anjos, mas onde há astúcia – não há nenhum."

"Não te glories por achar que por ser ervilha és melhor do que feijão, porque quando fores deixada de molho – tu também explodirá."

"Como uma pessoa se torna má? – Por se esquecer que há um Deus acima dela."

"Aqueles que pensam que não tem nada, perderão tudo."

As considerações do Staretz também se estendem para questões práticas, bem distantes daqueles problemas da vida espiritual. Segue-se um exemplo:

Um rico proprietário de terras vem ao Staretz e, como assunto, diz a ele que pretende implantar um sistema de irrigação no seu grande pomar de maçãs. Totalmente ocupado com o curso d’água, o batushka começa com suas palavras usuais: "as pessoas dizem que a melhor maneira" — e então descreve o curso d’água em detalhes. Regressando para casa, o proprietário de terras começa a ler literatura sobre irrigação, e constata que a descrição do batushka tinha sido a ultima tecnologia no assunto. Ele retorna para Optina. "Então, como está o curso d’água?" Pergunta o batushka. Por toda parte as maçãs estavam se estragando, mas com o tal proprietário — uma colheita abundante.

Graças aos poderes de raciocínio e perspicácia do Staretz Ambrosio, que eram combinados com uma pura e maternal brandura de coração notável, ele era capaz de aliviar as mais pesadas aflições e consolar as almas mais angustiadas.

Cerca de três anos depois da morte do Staretz em 1894, um habitante de Kozelska relatou o seguinte: "Eu tinha um filho que trabalhava para a companhia telegráfica entregando telegramas. O Batushka conhecia a nós ambos. Meu filho entregava, com freqüência, telegramas para o Staretz e eu também ia até ele, com freqüência, para sua bênção. Então meu filho pegou tuberculose e acabou morrendo. Eu fui ao batushka — todos íamos à ele com nossas angustias. Ele bateu na minha cabeça, e disse: "Teu telegrama acabou!" "Sim batushka, acabou!" E comecei a chorar. Sua compaixão fez minha alma se sentir leve, como se uma pedra muito pesada tivesse sido tirada. Nós vivíamos ao lado dele como ao lado de nossos pais. Agora não mais staretzes como ele. Que Deus nos envie outro como ele.

Amor e sabedoria eram precisamente as qualidades que atraiam as pessoas para o Staretz. De manhã à noite pessoas vinham à ele com suas questões urgentes nas quais ele se envolvia profundamente, vivendo-as enquanto conversava. Ele sempre encontrava o ponto crucial da questão, e a explicava com incompreensível sabedoria. Porém, durante estes 10 ou 15 minutos de diálogo, não somente o assunto era resolvido, mas durante este tempo, o staretz punha em seu coração o ser humano inteiro do interlocutor, com todas as suas ligações, desejos. Pelas suas palavras e diretivas, ficava claro que ele amava não só a pessoa com quem conversava, mas também a todos a quem a pessoa amava, a sua vida e tudo que era caro a ela. Levando em consideração todos os aspectos da vida da pessoa, que podiam afetar o assunto em questão, o padre Ambrosio levava sempre na mente a possível resultante, e as ramificações importantes, independente do assunto em pauta, que poderia resultar em determinações que afetariam não somente aquela pessoa, mas outras também. Que tipo de concentração mental era necessária para resolver estes problemas? No entanto, este tipo de enigmas eram trazidos para ele por dezenas de pessoas leigas por dia, sem considerar os companheiros monges e mais cinqüenta cartas que chegavam por dia e que eram respondidas, em base diária! Estando próximo de Deus, e estando de posse de sua clarividência, as palavras do Staretz carregavam grande autoridade. Era um trabalho de profeta.

Assuntos insignificantes não existiam para o Staretz. Ele sabia que na vida tudo tinha seu valor, e suas conseqüências. Portanto, não havia assunto que ele não respondesse com compromisso e com o desejo de fazer o bem. Certa vez, uma mulher empregada pela esposa de um proprietário de terras para cuidar de seus perus veio ao Staretz. Por alguma razão, os perus estavam morrendo, e o empregador estava a ponto de demiti-la. "Batushka!" Ela se dirigiu a ele chorando. "Eu me esfalfo gastando todo o meu tempo com eles. Eu cuido deles como de um tesouro. E mesmo assim eles caem doentes. A patroa quer me substituir. Tem piedade de mim, ó padre." As pessoas presentes começaram a rir. Partilhando das preocupações dela, e ouvindo como ela alimentava os perus, o Staretz deu a ela novas instruções em como alimentar os perus abençoou-a e mandou-a para casa. O Staretz então mostrou aos que haviam rido, que toda vida dela estava à volta dos perus. Depois ele ficou sabendo que os perus haviam ficado sãos e não mais morriam.

Casos de cura foram inumeráveis e não caberiam neste curto tratado. O Staretz sempre tentou esconder essas ocorrências.

Certa vez, inclinado, e apoiando-se em seu bastão, o Staretz estava andando de algum lugar para a abadia. De repente, ele se defronta com a seguinte cena: uma carroça completamente carregada, e junto dela um cavalo jazia morto, com um camponês chorando sobre o animal. A perda do cavalo, o ganha-pão do camponês, era um infortúnio considerável! Aproximando-se do cavalo, o Staretz começou a andar à volta dele vagarosamente. Pegando então uma vara, ele chicoteou o cavalo gritando: "Levanta, vagabundo!" E o cavalo se levantou obedientemente.

Para muitos, o Staretz Ambrosio parecia uma figura distante, comparável com São Nicolau o Taumaturgo, fosse para o propósito de curas ou de libertação de infortúnios. Para alguns, extremamente poucos, o poder de oração intercessora diante de Deus do Staretz, foi revelado graficamente. Traremos à baila as recordações de uma monja que foi uma das filhas espirituais do Staretz.

"Em sua cela, uma lamparina diante de uma imagem ficava acesa e uma pequena vela de cera ficava acesa em sua mesa. Ficava muito escuro e eu não conseguia ler minhas anotações. Eu apressadamente disse o que me lembrava e, então acrescentei: "Batushka, o que mais posso dizer? Do que mais eu me arrependo? Eu me esqueci." O Staretz me recriminou por isto. De repente ele se levantou de sua cama. Dando dois passos estava no meio da cela. Estando ajoelhada, involuntariamente eu o segui com os olhos. O Staretz pôs-se ereto, ergueu a cabeça e levantou os braços, como se estivesse em posição de oração. Pareceu a mim, naquele momento, que seus passos estavam separados do chão. Eu estava olhando para as suas cabeças e faces radiantes. Eu lembro que foi como se o forro da cela não estivesse lá, estivesse separado, e a cabeça do Staretz, aparentemente, ia para cima. Tudo isto pareceu muito claro para mim. Depois de um minuto, o Batushka veio até mim, e se inclinando diante de mim, me abençoou dizendo: "Lembra-te. Isto é para o que o arrependimento pode te levar também. Vá." Eu o deixei oscilando, e por toda noite eu chorei por minha falta de sentido e negligência. Pela manhã nos deram cavalos e nós partimos. Durante a vida dele eu não pude falar destes fatos para ninguém. Ele me proibiu de mencioná-los de uma vez por todas, dizendo ameaçadoramente: "Do contrário tu perderás meu auxílio e minha benevolência." Pessoas de todos os cantos da Rússia convergiam para a cabana do Staretz: ricos e pobres, intelectuais e gente simples. Ele foi visitado por figuras e autores bem conhecidos publicamente: F.M. Dostoevsky, V.C. Soloviev, K.N. Leontiev, L.N. Tolstoy, M.N. Pogodin, N.M. Strahov e outros. Ele cumprimentava a todos com igual afeição e benevolência. Ele tinha uma necessidade constante de realizar atos de caridade, distribuindo seus donativos através dos atendentes de cela, enquanto ele cuidava pessoalmente das viúvas, órfãos, doentes e sofredores. Durante os últimos anos de sua vida ele abençoou um mosteiro de mulheres, mais ou menos 20 quilômetros afastado de Shamordino. Naquele tempo, este mosteiro era distinto de outros mosteiros de mulheres, porque ele aceitava principalmente mulheres doentes e destituídas. Nos anos 90 do século dezenove, o número de noviças atingia 500.

Coincidentemente, a hora da morte encontrou o Padre Ambrosio precisamente neste mosteiro. No segundo dia do mês de junho de 1890, ele partiu para passar o verão neste mosteiro, como era sua prática normal. No fim do verão ele quis voltar para Optina, mas devido à doença, ele não foi capaz de fazê-lo. Depois de um ano, a doença se agravou e ele perdeu o ouvir e falar. Seus sofrimentos finais haviam começado. Como ele próprio reconheceu, eles eram de tal severidade como ele nunca havia experimentado. No dia oito de setembro, o Hieromonge José, junto com os Padres Teodósio e Anatólio administraram os Santos Óleos ao Staretz e no dia seguinte a Santa Comunhão. No mesmo dia o Padre Superior de Optina, Arquimandrita Isaac chegou para visitar o Staretz. No dia seguinte, 10 de outubro de 1891, às 11:30 a.m. após três profundas inspirações e fazendo o sinal da cruz três vezes, com dificuldade, o Staretz expirou.

A Liturgia pelos Falecidos com a ordem do Sepultamento foi realizada na Igreja de Vedensk na Hermitage de Optina. Aproximadamente 8000 pessoas estiveram presentes no funeral. No dia 15 de outubro seu corpo foi sepultado no lado sudeste da Igreja ao lado do seu mestre Hieromonge Macarius. É digno de nota o fato de que um ano antes, no mesmo dia 15 de outubro, o Staretz Ambrosio havia instituído a festa em honra do ícone milagroso da Mãe de Deus "Maturadora da colheita" diante do qual ele proclamara suas fervorosas orações em várias ocasiões.

Imediatamente após sua morte começaram a ocorrer milagres, através dos quais, como em vida, o Staretz curava, instruía e chamava ao arrependimento.

Os anos passaram, mas grama não cresceu no caminho para o túmulo dele. E chegou um período de maciças revoltas. A Hermitage de Optina foi saqueada e fechada. A pequena capela sobre o túmulo do Staretz foi demolida. No entanto a memória do grande Staretz agradável-a-Deus não pode ser erradicada. O povo marcou a posição da capela e continuou a fluir para seu mestre.

Em novembro de 1987 a Hermitage de Optina foi devolvida à Igreja, e em junho de 1988, o Concilio local da Igreja Ortodoxa Russa aclamou o Staretz Ambrosio nas fileiras dos santos. No dia de sua morte, 10/23 de outubro, quando sua memória é comemorada, uma triunfal e hierárquica liturgia foi celebrada, na presença de muitos peregrinos, na Hermitage de Optina. Nessa ocasião os remanescentes do Abençoado Ambrosio foram abertos. Neste dia, todos os envolvidos nesta celebração, experimentaram uma alegria pura e indefinível que o santo e amado padre amava conceder, durante sua vida, para todos que vinham a ele. Um mês após, no aniversário do renascimento do mosteiro e, pela graça de Deus, ocorreu um milagre: os ícones da Mãe de Deus de Kazan e de Santo Ambrosio, assim como os remanescentes deste, se tornaram odoríficos, exsudando óleos fragrantes. As santas relíquias dele realizaram outros milagres, assegurando, a nós pecadores, que ele não parou de interceder por nós junto de nosso Senhor Jesus Cristo. Louvor eterno para ele!Amém.

 

Ensinamentos Selecionados

do Staretz Ambrosio

Como viver.

"Como viver?" – esta questão extremamente importante era colocada para o Staretz por todo o mundo. Ele respondia no seu habitual tom humorístico: "Viva — não se apoquente, não julgue ninguém, não irrite ninguém e meus respeitos para todos." Com freqüência, o tom do Staretz produzia sorrisos nos ouvintes frívolos. Porém, se se prestasse atenção nas instruções, o significado profundo delas se tornaria aparente. "Não se apoquente," isto é, que seu coração não se ocupe com pesares e aflições que são inevitáveis para o ser humano, mas que ao contrário, ele se dirija para a Fonte Única de alegria —Deus. Com Ele, uma pessoa é reconciliada com os seus pesares, se torna "submissa" assim obtendo tranqüilidade. "Não julgue ninguém," "não irrite ninguém." Julgar e irritar, que são os rebentos do orgulho destrutivo, são as duas atividades mais comuns entre as pessoas. Elas são suficientes para dirigir a alma de uma pessoa para as profundezas do inferno; mesmo que a maioria pense superficialmente que estas coisas não são pecado — "...tende paz com todos os homens." Diz o Apóstolo em sua diretiva. (Ro. 12:18). Juntando todos estes pensamentos em um só, nós poderemos ver que o Staretz estava pregando principalmente humildade — a base de toda a vida espiritual, a fonte de toda bondade, sem a qual ninguém pode ser salvo.

Quanto nós cuidamos de nossos corpos

e quanto nós cuidamos de nossas almas.

As Escrituras nos contam: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? (Mc. 8:36). Este versículo mostra quão preciosa é a nossa alma. É mais preciosa que a terra toda com todos os seus tesouros e bênçãos. No entanto, é assustador nós pensarmos em quão pouco nós pensamos no valor de nossas almas. Desde a manhã até a noite, nós dirigimos nossos pensamentos para o corpo, a casa dos vermes, este caixão decaído, enquanto para a criação mais preciosa e amada de Deus, em Sua imagem de glória e majestade, nós dificilmente separamos um pensamento por semana. Nós gastamos os mais florescentes anos de nossa vida servindo o nosso corpo, e somente nos últimos minutos de nossa decrépita idade avançada, se então, com a salvação eterna. Diariamente o corpo recebe indulgência, com copos cheios e pratos suntuosos, como se fosse a festa de um homem rico, enquanto a alma dificilmente consegue migalhas de palavras de Deus na soleira Dele. O corpo insignificante é lavado, vestido, adornado com todos os tipos de tesouro da natureza e da ciência. Enquanto a alma sem preço, a noiva de Jesus Cristo, herdeira do Céu, vagueia com passos exaustos, vestida com as roupas de um pobre vagabundo, de quem não se tem caridade.

O corpo não tolera uma mancha em sua face, qualquer sujeira em suas mãos, nenhum remendo em suas roupas, enquanto a alma, da cabeça ao dedão do pé, coberta com sujeira, que vai de um lodaçal de pecado para outro, com sua confissão anual, muitas vezes hipócrita, e que só aumenta seus remendos ao invés de rejuvenescê-la. O corpo exige várias horas de diversão e gratificação; ele, com freqüência destrói famílias inteiras, e por ele as pessoas estão dispostas a fazer todos os tipos de esforços, enquanto a alma tem dificilmente uma hora aos domingos para participar na Divina Liturgia, escassos minutos para as orações da manhã e da noite, relutantemente recolhendo um punhado de moedas para caridade, e quando pensa na morte expressa sua insatisfação com um frio suspiro. Pela saúde e bem-estar do corpo, a atmosfera e o meio-ambiente são substituídos, médicos famosos e de longe se reúnem, são recomendadas restrições de comidas e bebidas, os remédios mais amargos são tomados, permite-se que os cadáveres sejam queimados e dissecados, enquanto para a salvação das almas, para evitar tentações, para distanciamento das infecções pecaminosas, não se dá um passo, mas se permanece na mesma atmosfera, na mesma sociedade iníqua, na mesma casa corrupta, não se procurando qualquer médico espiritual, ou se escolhendo um que é inexperiente, escondendo dele o que já se sabe sobre Céu e inferno, e sobre o que se jacta em seus círculos. Quando o corpo está morrendo, ouve-se lamentações e desespero, mas, com freqüência, não se tem um pensamento sequer quando a alma está morrendo por um pecado grave.

Como Adão e Eva, nós não conhecemos o valor de nossas almas e a entregamos em troca de um fruto aparentemente rico.

Porque ao menos nós não choramos como Adão e Eva? Infelizmente, no geral, nossas preocupações são com a aquisição de benefícios terrestres e não com a de benefícios Celestes. Nós esquecemos que ganhos terrestres logo passam e não podem ser retidos, enquanto os ganhos Celestes são eternos, sem fim e não podem ser tomados. Graciosíssimo Senhor! Ajuda-nos a desprezar tudo que seja transiente e a nos concentrar somente nas necessidades que se refiram à salvação de nossas almas!

Sobre salvação.

Segundo as palavras de Pedro de Damasco, enquanto um Cristão vive na Terra, sua salvação oscila entre temor e esperança. Mas os humanos continuam procurando por total realização na Terra e isto por posições ou pessoas, enquanto o próprio Cristo diz nas Escrituras: "Vós vos aborrecereis neste mundo." Estas palavras mostram que independente donde esteja localizado um Cristão, ele não poderá estar sem algum tipo de aborrecimento. Só existe uma consolação: cumprir a lei das Escrituras como diz o salmo: "Muita paz tem os que amam a Tua Lei, e para eles não há tropeço." (Sl. 118[119]: 165). Se ninguém ou nenhuma coisa nos tenta, nem nos confunde, isto mostra claramente que nós não estamos nos relacionando corretamente com a lei de Deus, dentre as quais a maior é aquela de não julgar ou condenar ninguém. No Dia do Julgamento, cada um será ou glorificado ou envergonhado por seus feitos. O Velho Testamento decreta que nós nos preocupemos com a salvação e melhoria de nossas almas. Nós deveríamos nos preocupar principalmente com isto.

Não existe nenhuma situação na qual Deus nos force contra nossa vontade, mas sempre nos oferece uma escolha para nossa determinação, e é através da vontade pessoal que os indivíduos se tornam bons ou maus. Por isto, é inútil culpar aqueles que vivem conosco ou que nos circundam, por interferirem com ou impedirem a nossa salvação ou melhoria espiritual. Samuel viveu e foi criado pelo Profeta Elias, entre os filhos corrompidos deste, e, no entanto se preservou e foi um grande profeta. Ainda no Céu Eva violou a lei de Deus. Enquanto Judas viveu três anos na presença do próprio Jesus Cristo, e não melhorou apesar de ver tantos milagres e continuamente ouvir os sermões sobre as Escrituras, mas se tornou pior e vendeu seu Mestre e Salvador do mundo, por trinta peças de prata.

Nossa falha de encontrarmos a realização espiritual decorre de nós mesmos, de nossa ignorância e nosso pensamento incorreto. E é isto que nos conduz para confusão e dúvidas e várias perplexidades; tudo isto nos atormenta, e pesando nos faz cair em circunstâncias inconsoláveis. Seria bom se fossemos capazes de compreender as palavras de um santo padre: "Se nós nos humilharmos, e não vagarmos por lugares que não nos melhorarão e que talvez nos tornem piores, nós encontraremos paz em qualquer situação."

Sobre humildade.

Vós tendes que vos humilhar perante todos e olhar para si próprios como piores que qualquer um. Se nós não cometemos uma ofensa que foi cometida por outra pessoa, talvez tenha sido porque não tenhamos tido a oportunidade de assim proceder, ou porque a situação ou circunstâncias talvez tenham sido outras. Apesar de em todas as pessoas existir algo de bom e gentil, todos nós, normalmente, só vemos as iniqüidades delas, e não notamos nada de bom nelas.

Para a pergunta se alguém pode desejar perfeição espiritual, o Staretz responde: "Não só ele pode desejar como ele deve lutar por se aperfeiçoar em humildade, isto é, olhar para seu coração como sendo ele mais baixo do que o de qualquer ser humano ou o de qualquer criatura. É natural e essencial que um homem pecador se humilhe. Se ele não fizer isto, ele acabará sendo humilhado pelas circunstâncias, arranjadas cuidadosamente para o beneficio de sua alma. Durante tempos de boa sorte, ele usualmente isto a si próprio, à sua fraca força e à assim chamada autoridade, mas assim que algum tipo de infortúnio ocorre com ele, ele pede por misericórdia e atribui o sucedido a um inimigo imaginário."

O Staretz também relata como as circunstâncias fortuitas humilham uma pessoa. "Certa vez, uma pessoa organizou um almoço e despachou seus servos para convidar as pessoas. Confrontando-se com um servo de aparência bastante descuidada, um dos convidados lhe perguntou: ‘Não me diga que teu mestre não poderia encontrar um servo melhor do que tu?’ Ao que o servo respondeu: ‘Os servos elegantes ele enviou para os convidados elegantes, e a mim, ele enviou para vossa senhoria.’"

O Staretz Ambrosio instruía bastante seus estudantes sobre humildade: "Certa vez um visitante procurou o Padre Superior Moises, e não o encontrando em casa, foi ver o irmão do Padre, o Abade Antonio. Durante a conversa o visitante colocou a questão: "Diga-me Batushka, que tipo de preceitos o Senhor mantém? O Abade Antonio respondeu: "Eu tive muitos preceitos. Eu vivi no deserto e em mosteiros e todos eles têm regras diferentes. Agora restou somente um esforço: Deus tenha piedade de mim."

O Batushka também contou sobre "uma mulher que vivia vagando daqui para lá, de Kiev para Zadonsk, e um staretz lhe disse: ‘Tudo isto não lhe traz nenhum beneficio. Sente em um lugar e diga a oração do Ladrão Sábio.’"

Sobre descrença.

"Certa vez eu mencionei para o Batushka," escreveu uma de suas filhas espirituais, "sobre uma família, sobre a qual eu tinha muita pena porque ela não acreditava em nada, nem em Deus nem na vida "post-mortem." Eu me apiedava porque talvez não fosse culpa deles, porque eles tinham crescido em tal ambiente de descrença, ou por qualquer outra razão. O Batushka balançou sua cabeça e disse muito irritado: "Não há justificativa para descrença. As Escrituras estão escritas para todos, decididamente para todos, mesmo para os pagãos; além disto, o conhecimento de Deus é implantado no nosso nascimento, e, portanto eles têm que ser responsabilizados. Tu perguntas se nós podemos rezar por eles. Lógico que nós podemos rezar por qualquer um." O Staretz também informou que alguns renunciam à sua fé em Deus para imitarem outros e por uma falsa vergonha. Eis um exemplo: havia uma pessoa que não acreditava em Deus por esta razão. Porém, durante uma guerra no Cáucaso, na qual ele teve que lutar, enquanto as balas passavam perto dele, ele abraçou seu cavalo e exclamou: "Abençoada Mãe de Deus, salva-me." Mais tarde, quando ele relembrou este incidente e os seus camaradas riram, ele repudiou suas palavras. E acrescentou, "sim, hipocrisia é pior do que descrença."

Sobre arrependimento.

Para dar o necessário entendimento sobre o poder e necessidade do arrependimento, o Staretz Ambrosio diria: "Que tempo nós estamos vivendo! Antes, quando alguém se arrependia sinceramente dos seus pecados, ele mudava seu estilo pecaminoso de vida e passava a viver castamente. Mas agora, é freqüente acontecer, que durante a confissão uma pessoa detalhe todos os seus pecados e depois continue com seu estilo de vida imutável."

O Staretz transmitiu outra narrativa instrutiva: "Um demônio com aparência humana estava sentado balançando os pés. Vendo-o com seus olhos espirituais, o Staretz lhe perguntou: "Porque tu não estás fazendo algo?" O demônio respondeu: "Bem, eu não tenho outra coisa para fazer além de balançar meus pés, porque as pessoas estão fazendo tudo muito melhor do que eu."

"Há três estágios para a salvação. São João o Boca de Ouro (Crisóstomo) estabelece: a) não peque. b) se pecar, se arrependa. c) aqueles que se arrependem inadequadamente, devem suportar suas aflições, quando as encontrar."

"Acontece" o Batushka costumava dizer, "que apesar de nossos pecados serem perdoadas através do arrependimento, nossas consciências não param de nos recriminar. Como comparação o falecido Staretz Macarius costumava mostrar o seu dedo que tinha sofrido um corte há muito tempo: a dor tinha cessado há muito tempo, mas a cicatriz permanecia. O mesmo acontece depois do arrependimento, isto é, admoestação da consciência."

"Apesar de Deus perdoar os pecados daqueles que se arrependem, todo pecado exige uma punição limpadora. Por exemplo, depois de Cristo ter dito para o bom ladrão: ‘Ainda hoje estaremos juntos no Paraíso’, os joelhos do ladrão foram quebrados. E que tal ficar pendurado só pelas mãos, com as rótulas quebradas, durante três horas? Isto significou que ele tinha que ser purificado pelo sofrimento. A purificação daqueles pecadores que morrem logo depois do arrependimento, é feita pelas orações da Igreja e daqueles nela presentes, enquanto aqueles que estão vivos, tem que se purificar através de uma mudança no estilo de vida e caridade deve cobrir seus pecados."

Sobre sofrimento.

"Deus não cria cruzes para as pessoas, isto é, limpeza espiritual e sofrimento físico. E por mais pesada que seja a cruz de um certo individuo, a árvore que produziu a tora da cruz cresceu no solo do coração deste individuo."

O Staretz também dizia: "Se uma pessoa segue um caminho reto, para ela não há cruz. No entanto, se ela começar a oscilar de um lado para outro, então circunstâncias diferentes aparecem para puxá-lo de volta para o caminho reto. Estes elementos constituem uma cruz para a pessoa. Por certo eles ocorrem de maneira diferente para cada pessoa, de acordo com as necessidades individuais."

Às vezes a cruz é mental, confundindo o individuo com pensamentos pecaminosos. Mas a pessoa não comete falta se não aceitá-los. O Staretz citou um exemplo: "Certa vez uma mulher asceta estava agitada, por um longo período, por pensamentos não-castos. Quando Cristo apareceu e afastou os pensamentos dela, ela gritou para Ele: ‘Doce Jesus, onde estiveste até agora?’ Cristo respondeu: ‘Eu estava em teu coração.’ Ela disse: ‘Como pode ser se meu coração estava cheio de pensamentos impuros.’ E Cristo disse para ela: ‘Compreende então que eu estava em teu coração e que tu não estavas com disposição para com aqueles pensamentos impuros, e ainda mais, esforçava-te para se libertar deles. Não conseguindo, tu sofreste com eles, preparando assim um lugar para Mim no teu coração.’"

"Às vezes sofrimento é mandado para uma pessoa inocente, para que ela, a exemplo de Cristo, sofra pelos outros. Cristo mesmo sofreu pelas pessoas. Da mesma forma, os Apóstolos foram torturados pela Igreja e pelas pessoas. Ter amor absoluto significa sofrer pelo teu próximo."

Sobre amor.

O amor engloba tudo. E, aquele que é benevolente para com seu próximo — através da inclinação do seu coração, e não movido por obrigação ou desejo, — o diabo é incapaz de interferir com ele.

O amor, seguramente, é mais elevado que tudo. Se descobrires que não há amor dentro de ti, mas quiserdes obtê-lo, pratique então atos de amor, mesmo que no começo sem amor. Deus verá teu desejo e sofrimento e implantará amor em teu coração. Aqueles que têm um coração feio não devem se desesperar, porque com a ajuda de Deus é possível reformá-los. Tudo que tens a fazer e se observar atentamente, não dar oportunidade para que um beneficio ao próximo escape, abra teus pensamentos para o teu staretz e sede benevolente ao máximo. Por certo isto não pode ser feito de repente, mas Deus é muito paciente. Ele só termina a vida de uma pessoa quando Ele vê que ela está pronta para cruzar para a eternidade, ou quando vê que não há esperança de melhoria para ela.

Sobre caridade.

Staretz Ambrosio tinha a dizer o seguinte sobre atos de caridade: "São Demétrio de Rostov escreveu: ‘Se uma pessoa vem até tu a cavalo e pede uma esmola, dá a esmola para ele. Tu não serás responsável pelo que ele faça com ela.’"

E mais: "São João Crisóstomo diz: ‘comece por dar aquilo de que tu não tens necessidade, a seguir tu estarás em situação de dar ainda mais, à tua expensa, e finalmente, tu estarás pronto para dar tudo que tens.’"

Sobre preguiça e desânimo.

"Tédio é o neto do desânimo e o filho da preguiça. Para afastá-lo, empenhe-se em trabalhar e não seja preguiçoso com as orações: então teu tédio passará e o zelo chegará. E acrescente a isto paciência e humildade, e então ti te livrarás de muitos venenos."

Colocando às vezes ele mesmo esta questão: "Porque as pessoas pecam?" o Staretz respondia: "Ou porque não conhecem o que têm que fazer e o que tem que ser evitado; ou se conhecem, se esquecem, e se não se esquecem, então elas são preguiçosas e ficam desanimadas. Ou melhor, como as pessoas são preguiçosas em se tratando de realizar boas obras, elas, com muita freqüência se esquecem de sua principal responsabilidade, que é servir a Deus. Preguiça e esquecimento conduzem a uma extremada falta de sentido ou ignorância. Estes são os três bichos-papões: desânimo ou preguiça, esquecimento e ignorância, aos quais a humanidade inteira é submetida através das algemas da indecisão. E em conseqüência vem o descuido com toda sua multidão de desejos malignos. Eis porque nós oramos para a Rainha do Céu: "Santíssima..."

Sobre paciência.

Quando tu estiveres sendo atormentado, nunca pergunte para que e porque. Tu nunca encontrarás estas respostas nas Escrituras. Ao invés, ela diz: "Se alguém bater em tua face direita, dê a outra face para ele bater." É realmente difícil bater na face direita de alguém e deve ser entendido como: se alguém começa a te denegrir ou te provocar sem justificativa, isto significa bater na tua face direita. Não resmungue, mas suporte este golpe pacientemente, e ofereça tua face esquerda, isto é, lembrando dos atos faltosos do passado. Se nesta vez tu estás inocente, então tu pecaste grandemente no passado; com isto, tu estarás convencido de que mereces punição. Auto-justificativa ou desculpa é um grande pecado."

"Batushka, ensina-me paciência," dizia uma irmã. Respondeu o Staretz: "Aprenda, e comece a ser paciente com os desapontamentos que tu tiveres e encontrares." "Não consigo entender como tu não te perturbas com insultos e falsidades." A resposta do Staretz: "Seja justa tu mesma e não incomode ninguém."

Sobre irritabilidade.

Ninguém deve justificar sua irritabilidade com algum tipo de doença porque ela vem do orgulho. De acordo comas palavras do Apóstolo Tiago: "...Pois a ira do homem não produz a justiça de Deus." Assim, para não sucumbir à irritabilidade e raiva, tu não deves te apressar.

Sobre inveja e malicia.

O Staretz disse: "Tu deves te forçar, apesar de contra a tua vontade, a fazer algum bem para teus inimigos e principalmente, não procurar vingança e ser cuidadoso para não ofendê-los com aparência de desprezo e humilhação."

Uma mulher perguntou: "Eu não compreendo como tu Batushka, não só não fica zangado com aqueles que falam mal de ti, como ainda os ama." Com esta observação o Staretz riu desbragadamente, e disse: "Tu tens um filho jovem. Tu ficas zangada quando ele diz ou faz algo impróprio? Pelo contrário, tu não procuras encobrir suas deficiências?"

Sobre o orgulho.

Para muitos não há nada de que possam se orgulhar. Esta é a razão pela qual o Staretz contou a seguinte história: "Uma mulher, durante confissão, contou para seu pai espiritual que ela era orgulhosa. ‘Do que te orgulhas?’ perguntou ele a ela. ‘Tu és famosa?’ ‘Não’ ela respondeu. ‘Bem, então talentosa?’ ‘Não’. ‘Então rica?’ ‘Não’ ‘Hmmm! Então... neste caso, tu podes ser orgulhosa.’, ele disse finalmente.

Para a pergunta: como é que o justo, sabendo que está levando uma vida casta, de acordo com as leis de Deus, não é exaltado pela sua piedade? o Staretz respondeu: ‘Ele não sabe o que o espera no final. Eis porque’, ele acrescentou, ‘nossa salvação deve ser conduzida entre temor e esperança. Em nenhuma circunstância deve-se desesperar, mas ao mesmo tempo não se deve ter esperança excessiva.’

Sobre o significado das tentações.

A livre vontade de todos os seres inteligentes foi testada e está sendo testada até agora até que ela seja confirmada na bondade. Porque sem provas, a vontade nunca é firme. Todo Cristão é sujeito a algum tipo de teste: uns com pobreza, outros com doença, outros com vários maus pensamentos, outros com algum tipo de infortúnio ou humilhação, enquanto outros com perplexidades. Estas coisas testam a força da fé, da esperança e do amor por Deus, isto é mostram as inclinações de uma pessoa, suas ligações, se ela aspira por aflições ou ainda está ligada a coisas terrenas. Assim que, através destas provas uma pessoa pode ver, ela mesma em que posição está, qual é sua disposição, e involuntariamente se humilhar. Porque sem humildade, como todos os Santos Padres de sabedoria Divina em uma só voz confirmam, todas as nossas obras são instáveis. Até a livre vontade dos Anjos foi testada. Se os habitantes celestes não conseguiram escapar do teste, então a vontade livre daqueles que moram na terra, deve ser testada mais ainda.

Sobre o significado do jejum e sua necessidade.

Nas Escrituras nós vemos a necessidade de fazer jejum, primeiro pelo exemplo dado pelo próprio Cristo, que jejuou 40 dias no deserto, ainda que sendo Deus e não necessitasse disto. Depois, respondendo à pergunta dos Apóstolos do porque eles não conseguiam afastar o espírito maligno de uma pessoa, Ele disse: "Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum." (Mc. 9:29). Além disto, há indicações nas Escrituras de que nós devemos as quartas e sextas-feiras como dias de jejum. Na quarta-feira Jesus foi entregue para a Crucificação e na sexta-feira, Ele foi crucificado.

Comida simples não é comida indecente. Ela não corrompe o corpo, mas o engorda. E São Paulo diz: "... mas, ainda que nosso corpo exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia." (II Co. 4:16). Ele chama a pessoa externa de corpo, e a interna de alma.

As Escrituras estabelecem que toda privação e todo constrangimento são preciosos diante de Deus: "O reino de Deus sofre violência, e pela força, os violentos se apoderam dele." (Mt. 11:12). Aqueles que audaciosa e voluntariamente violam as regras estabelecidas de jejum são chamados de inimigos da Cruz. Para eles, o estômago é seu Deus e sua glória está em sua vergonha. É informado nos Salmos: "perdido através do estômago." Compreensivelmente, é outra questão se uma pessoa quebra o jejum por doença ou fraqueza do corpo. Ms o saudável se torna mais saudável e além disto, às vezes vivem mais, ainda que possa parecer frágil. Com jejum e auto-restrição, o corpo não se rebela tanto, não sucumbe tanto ao sono, menos pensamentos vazios invadem a mente, e livros espirituais são lidos mais avidamente e com maior compreensão.

E assim, se pela graça de Deus, tu desenvolves o desejo de se purificar de suas iniqüidades internas, fiques sabendo que as raízes delas não podem ser extraídas exceto por orações e jejuns sinceros. De outra forma, tu podes ter um rápido exemplo que ocorreu aqui. Um proprietário de terras, vivendo uma vida indulgente, de repente quis observar um jejum severo: ele resolveu que tudo que ele comeria durante a Grande Quaresma seria sementes nativas de cânhamo lavadas com kvass (um refrigerante russo). Como resultado desta severa mudança de indulgência para jejum, seu estomago ficou tão danificado que levou um ano para ficar curado. Incidentalmente, existem palavras dos Santos Padres que nos informam que não devemos ser matadores de corpos, mas sim de vícios.

Sobre oração.

Para que as pessoas não fiquem indiferentes e coloquem toda sua esperança em orações de ajuda de outros, o Staretz costumava repetir um dito geral russo: "Deus me ajude, mas tu camponês, não se deite preguiçosamente."

Uma monja disse: "Batushka! A quem nós vamos pedir orações de ajuda se não a ti? O Staretz respondeu: "E tu pedes isto! Não te lembras quando os 12 Apóstolos imploraram a nosso Salvador pela mulher cananéia, e Ele não os atendeu. Mas quando ela mesma começou a implorar, ela recebeu."

Porque oração é a arma mais poderosa contra o inimigo invisível, ele tenta de várias maneiras desviara as pessoas dela. O Staretz relatou a seguinte história: "Um monge no Monte Atos tinha um passarinho falante muito amado que costumava entretê-lo com sua tagarelice. Mas havia uma coisa estranha — assim que o monge começava sua regra de oração, o passarinho começava a falar sem parar, não permitindo que o monge orasse. Então, no Santo Dia da Ressurreição de Cristo, o monge foi até a gaiola e disse: ‘Passarinho, Cristo ressuscitou!’ E o passarinho respondeu: ‘A nossa desgraça é que Ele ressuscitou!’, e imediatamente morreu, enchendo a cela de mau-cheiro. Aí, o monge constatou seu erro, e se arrependeu."

O Staretz dizia que a coisa mais importante que Deus olha, é a disposição interna da alma da pessoa. Certa vez, o Abade Antonio foi visitado por um homem com pernas doentes que disse: "Batushka, minhas pernas estão doendo, e eu estou perturbado por não poder me inclinar até o chão." O Abade retrucou: "Bem, é dito nas Escrituras: ‘Filho, dá-me o teu coração’ e não édito, ‘as tuas pernas.’"

Uma monja disse ao Staretz que tinha visto um ícone da Mãe de Deus e ouviu Ela dizer: ‘O que me trouxeste como oferenda?’ E a monja respondeu: ‘O que eu posso vos trazer, se eu não tenho nada?’ Então o Batushka respondeu: ‘Está escrito nos Salmos: "Quem quer que seja que ofereça louvor, me glorifica."’

Sobre progresso externo e moral.

Uma das filhas espirituais do Batushka entregou a ele as seguintes perguntas do seu filho:

1. "De acordo com as Escrituras, antes do fim do mundo a sociedade se apresentará da maneira mais horrível. Isto nega a possibilidade de melhoria continua da humanidade. É possível trabalhar para o bem da humanidade, sabendo de antemão que não há meios capazes de conduzir a um resultado de perfeição moral da raça humana, antes da morte do mundo? 2. A responsabilidade do Cristão é criar o bem e se esforçar para que este bem triunfe sobre o mal. De que modo nós podemos derrotar o mal com o bem, sabendo que estes esforços não serão coroados com êxito, e no final o mal triunfará?

Respostas do Staretz Ambrosio: "Diga ao seu filho: o mal já foi vencido, vencido não pela força e esforços dos seres humanos, mas pelo próprio Senhor e Salvador, Filho de Deus Jesus Cristo. Que para isso veio do Céu para a Terra, encarnou, sofreu humanamente e por Seu sofrimento na Cruz e Sua Ressurreição, esmagou o poder do mal e sua fonte, o diabo que reinava sobre a raça humana, nos libertando da escravidão pecaminosa ao diabo como Ele mesmo disse: ‘Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda força do inimigo, e nada vos fará dano algum.’ (Lc. 10:19). Agora, através do Mistério do Batismo, e pela obediência às leis das Escrituras, todo Cristão praticante recebe a força de pisar no mal e criar o bem, e exceto aqueles que são negligentes em manter as leis de Deus, e principalmente aqueles que voluntariamente se submetem ao pecado, ninguém pode ser possuído à força pelo maligno. Tentar conquistar o mal que já foi conquistado pela vinda de Cristo pela tua própria força, mostra uma falta de compreensão dos Mistérios Cristãos da Igreja Ortodoxa. Isto mostra sinais de orgulho humano e uma auto-confiança que quer fazer tudo por suas próprias forças, não se voltando para Deus para Sua assistência quando o próprio Cristo disse: ‘... porque sem mim nada podeis fazer.’

Tu escreves: As Escrituras afirmam que antes do fim do mundo, o mal triunfará sobre o bem. As Escrituras não estabelecem isto em lugar nenhum, mas só falam que a fé diminuirá nos últimos dias: ‘Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?’ (Lc. 18:8) e ‘E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." (Mt. 24:12). Enquanto o Apóstolo Paulo diz que antes da Segunda Vinda de Cristo: ‘... e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus’ (II Tessal. 2:3b- 4), isto é, o anticristo. No entanto, elas também informam que Cristo o destruirá com o ‘sopro de Sua boca’ e por Sua vinda o exterminará... Onde está o mal triunfando sobre o bem aqui? E geralmente todo triunfo do mal sobre o bem é imaginário e temporário.

Por outro lado é também injusto afirmar que a humanidade na terra está continuamente melhorando. O progresso e melhoria só têm ocorrido nos trabalhos externos do homem, nos confortos da vida. Por exemplo, nós utilizamos ferrovias e telégrafo que não existiam antes. O carvão está sendo escavado, ele que costumava permanecer escondido no seio da terra, etc. No aspecto moral-Cristão não houve progresso. Através de todos os tempos, sempre existiram pessoas guiadas pela verdadeira fé de Cristo, e que seguiram os verdadeiros ensinamentos Cristãos, de acordo com as Revelações Divinas que Deus revelou para Sua Igreja, através dos inspirados por Deus Profetas e Apóstolos, e que atingiram grande eminência moral-Cristã. Estas pessoas também existirão na época do anti-Cristo, e como está escrito, por conta destas pessoas o tempo será abreviado: "E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias." (Mt. 24:22).

A perfeição espiritual na terra só é atingida parcialmente, não pela humanidade coletivamente, mas por cada fiel individualmente, de acordo com a medida das realizações dos comandos de Deus e da medida da humildade.Perfeição final e completa é atingida no Céu, na próxima vida sem fim, para a qual nossa curta vida na Terra serve como preparação, e é similar àqueles anos passados pelo jovem numa instituição de ensino, que servem para ele como preparação para a futura atividade prática. Se o destino da humanidade fosse limitado à sua existência terrestre, se para o ser humano tudo se concluísse na terra, então porque: "... e a terra e as obras que nela há, se queimarão." (II Pedro 3:10).

Sem a futura bênção, vida eterna, nossa permanência na terra seria nociva e incompreensível.

O desejo de se esforçar pelo bem da humanidade parece muito louvável, mas está mal colocado. Em palavras todo mundo quer trabalhar pelo bem dos próximos, ignorando ou dando muito pouca atenção à necessidade de primeiro se afastar do pecado para depois se preocupar com os outros.

Os amplos esquemas da geração moderna sobre grandes atividades em prol do bem de toda humanidade ficam parecidos com alguém, que não tendo terminado um curso educacional, queira ser um professor ou instrutor em uma universidade. No entanto, de outro lado, pensar que se não podemos mover a sociedade para frente então não devemos fazer nada, é o outro extremo. Todo Cristão é obrigado a se esforçar, de acordo com sua capacidade e posição, pelo bem dos outros, para que tudo seja a tempo e ordenado, e que o fruto de nossos trabalhos sejam apresentados para Deus e Sua santa vontade.

Em conclusão eu diria o seguinte: aconselhe o seu filho a não confundir esforços externos humanos com moral-Cristã. Em assuntos externos e parcialmente nas ciências, que ele encontre progresso. Mas a respeito da moral-Cristã, eu repito, progresso universal da humanidade é não-existente e não pode ser. Todos serão julgados de acordo com seus feitos.

Tropário

Tom 5

Nós corremos para ti, ó Ambrosio, como para uma fonte de cura. Pois tu, verdadeiramente, nos instrui no caminho da salvação, nos preservando de infortúnios e calamidades por tuas orações, nos consolando nas aflições da alma e do corpo, ensinando acima de tudo humildade, paciência e amor. Ora a Cristo, Que ama a humanidade, e para nosso Fervoroso Intercessor para que nossas almas sejam salvas.

Kondakion

Tom 2

Tendo cumprido os preceitos do Pastor dos pastores, tu herdaste a graça

dos anciãos, tendo piedade de todos que corriam para ti com fé. Por isso

nós, teus filhos, clamamos para ti com amor: Santo Padre Ambrosio, ora

a Cristo para que Ele salve as nossas almas.

Adendo:

A vida do Ancião Ambrosio pelo Arcipreste Sergius Chetverikov.

Reimpresso do:

The Orthodox Word ’97 #192

O ancião Ambrosio é considerado o pináculo dos Anciões de Optina. Ele encarnou as virtudes de todos os anciões no mais alto grau: divina humildade, pureza de mente e de coração, amor abundante, e total auto-sacrificio pela salvação de seu companheiro homem. Porque ele atingiu as profundezas da humildade, o Senhor o abençoou com dons espirituais com os quais curar almas sofredoras. Ele lia os corações humanos, era-lhe concedido conhecer o passado, presente e futuro das pessoas, e falava para elas a direta e revelada palavra de Deus. Tão grandes eram seus dons que centenas de pessoas acorriam diariamente para sua humilde cela na Rússia central. Entre estas pessoas estavam os escritores Dostoyevski, Tostoi, Leontiev e Solovyev. Dostoyevsky ficou tão tocado pela sua peregrinação até Optina e pelo Ancião Ambrosio, que escreveu sua maior e última novela, Os Irmãos Karamazov, com a intenção específica de descrever a imagem espiritual do Mosteiro de Optina e do Ancião. O bem conhecido caráter do Ancião Zosima em seu livro foi modelado segundo o Ancião Ambrosio, cujas palavras e conselhos Dostoyevsky pôs diretamente na boca de seu caráter inesquecível.

Esta edição da vida do Ancião Ambrosio é uma tradução para o inglês fiel à edição original de Optina, impressa na Rússia em 1912. Através de suas páginas nós entramos no mundo de um homem celeste, um anjo na carne que contemplava os mistérios do tempo futuro: o perfeito amor e unidade silenciosa dos espíritos imortais.

Manifestações da Graça de Deus no Ancião Ambrosio.

TODOS QUE CONHECERAM O ANCIÃO AMBROSIO falaram unanimemente de seu característico dom de clarividência. Para ele não haviam segredos. Um estranho podia vir a ele e ficar mudo, mas o Ancião conhecia sua vida e suas circunstâncias, seu estado espiritual, e porque lê tinha vindo. Padre Ambrosio questionava seus visitantes, mas para alguém atento, ficava claro pelo tipo de perguntas que lê fazia, que o assunto já era conhecido por ele. Assim, um jovem da aristocracia certa vez veio a ele com a mão enfaixada e começou a se queixar que não conseguia ser curado de jeito nenhum. Outro monge e alguns leigos estavam com o Ancião então. O jovem não tinha terminado de dizer: ‘Isto dói! Dói muito!’ quando o Ancião o interrompeu: ‘E doerá mais! Porque tu ofendeste tua mãe?’

Casamento ou Monasticismo.

Certa vez duas irmãs vieram de Petersburgo para verem o Ancião. A mais jovem estava em perspectiva de noivado e de humor alegre; a mais velha era quieta, pensativa e reverente. A primeira pediu bênção para se casar, a outra para ir para um mosteiro. O ancião deu um cordão de oração para a mais nova e disse para a irmã mais velha: ‘Que tipo de mosteiro? Tu vais casar, mas não em tua casa, e é isto que terás!’ E ele mencionou o nome de uma província para a qual ela nunca havia viajado. Ambas voltaram para a capital. A noiva descobriu que o noivo a havia traído. Isto trouxe uma grande mudança, pois a ligação emocional dela era grande. Ela compreendeu a vaidade de tudo que a havia ocupado até então; seus pensamentos se viraram para Deus, e ela logo entrou num mosteiro. Enquanto isto, a mais velha recebeu uma carta daquela tal província distante de uma tia de quem ela havia se esquecido, uma mulher devota que vivia próxima de um mosteiro de mulheres. Ela a estava convocando para ir dar uma olhada na vida das monjas lá. Mas tudo mudou: enquanto vivia com sua tia, a sobrinha ficou conhecendo um homem não mais jovem, mas bastante adequado para ela pelo seu caráter, e ela o desposou.

Um rico mercador propôs casamento para uma mulher pobre da aristocracia por sua beleza. Mas o Ancião disse para a mãe dela: ‘Tua filha tem que recusar o noivo.’ A mãe se jogou nele: ‘O que significa isto Batushka!? Esta coisa está além dos nossos maiores sonhos. Deus o enviou para uma órfã e o senhor nos diz para recusá-lo!’ Mas Padre Ambrosio respondeu: ‘Recuse este noivo; eu tenho um outro noivo para tua filha, melhor do que este’ ‘Mas porque teremos um melhor pois ela não vai se casar com um príncipe, pois não?’ Disse a mãe. ‘Eu tenho o tal noivo, tão grande que é difícil expressá-lo. Recuse o mercador.’ Elas romperam com o mercador, então a jovem ficou doente e morreu. Então elas entenderam de que tipo de Noivo o Ancião estava falando.

Desobediência.

Um residente de Kozelsk de nome Kapiton tinha um filho único, um jovem crescido, inteligente e elegante. Ele decidiu mandar o filho para trabalhar e foi com ele ao Ancião para dele obter uma bênção para esta decisão. Ambos estavam sentados no corredor e perto deles estavam vários monges. O Ancião saiu fora para os encontrar. Depois dele e seu filho terem recebido benção, Kapiton colocou que queria mandar seu filho para trabalhar. O Ancião aprovou a idéia e aconselhou que ele mandasse o filho para Kursk.

Kapiton começou a argumentar com o Ancião. ‘Em Kursk’, disse ele, ‘nós não conhecemos ninguém; mas abençoa a ida dele para Moscou. O Ancião com tom jocoso respondeu: ‘Moscou vai tirar as meias dele e lhe golpear com tábuas. Que ele vá para Kursk.

Mas Kapiton não obedeceu o Ancião e mandou seu filho para Moscou, onde ele rapidamente achou um bom trabalho. O empregador em cujo serviço ele entrou estava naquela época construindo um prédio. De repente, várias tábuas caíram do alto do prédio e esmagaram as duas pernas do jovem. O pai dele foi imediatamente informado por telegrama. Com lágrimas amargas ele foi informar o Ancião de sua aflição; mas já era impossível ajudar o pesar dele. O filho ferido foi trazido de volta de Moscou. Ele ficou molestado por um longo tempo, e apesar das feridas terem cicatrizado, ele permaneceu aleijado, incapaz de fazer qualquer trabalho.

Padre George.

Padre George Kosov, o agora famoso padre da vila de Spas-Chekriak da Província de Orel, relatou o seguinte: ‘Quando eu cheguei em minha paróquia, fui tomado de pânico. O que eu posso fazer aqui? Não há meio de vida, nem meio de servir! A casa era velha, dilapidada. A igreja, se eu fosse servir cairia por entre as tábuas do assoalho. Não havia entrada de dinheiro. Os paroquianos eram de longe da igreja e do clero. As pessoas eram pobres; nos melhores tempos eles podiam quando muito se manter. O que eu poderia fazer ali? Eu era então um padre novo, inexperiente. Além disto, minha saúde era fraca, e eu tossia sangue. Minha matushka era uma órfã, pobre, sem nenhum dote. Conseqüentemente, nem daqui, nem dali existia nenhum suporte, e eu também tinha irmãos mais novos em minhas mãos. Eu só permaneci para correr. Isto era o que eu imaginava. Naquela época a glória do Ancião Ambrosio era grande. O Mosteiro de Optina ficava a trinta e seis milhas de nós. Num certo verão, numa noite sem dormir, eu levantei do meu travesseiro. Não era claro, nem o dia estava começando. Eu pus minha mochila nas costas e fui para ele para uma bênção, para deixar a paróquia. Ás quatro da tarde eu já estava em Optina. Batushka não me conhecia, seja por não ter me visto e não ter ouvido falar de mim. Eu fui para a sua cela e já havia pessoas ali, uma pequena multidão, esperando pelo Batushka. Eu fiquei de lado, esperando. Eu olhei, e lá vem ele chegando, e olhando diretamente para mim, através de todo mundo ele acena para que eu vá até ele: ‘Tu, padre! O que estás tu contemplando? Abandonar tudo? Ei, não sabes Quem indica padres? E tu queres sair?!..Sua igreja é velha; começou a cair... Mas tu constróis uma nova, grande, de pedra, e quente. E o assoalho, faça-o de madeira. Levarão pessoas doentes lá, então tem que estar quente para elas. Vá para casa padre, vá. E chuta para fora da tua cabeça esta coisa sem sentido. Lembra-te. Uma igreja. Constrói uma igreja como eu estou te dizendo. Vai, padre. Deus te abençoe!’

"Mas eu não estava com’nenhuma peça de roupa de padre. Não conseguia falar uma palavra. Fui direto para casa. Enquanto andava pensava: mas o que foi isto? Tenho que construir uma igreja? Em casa tu estás quase morrendo de fome, e agora construir uma nova igreja. Quão habilmente ele consola. Não havia nada a dizer.

Eu cheguei em casa, e de alguma forma desviei-me das perguntas da minha mulher. Bem, o que era suposto que eu dissesse para ela?! Eu só disse que o Ancião não me abençoou para pedir transferência. O que se passava na minha alma então, não se consegue nem por em palavras.

Uma perturbadora depressão tomou conta de mim. Eu queria orar, mas não havia oração em minha mente. Eu não falava com as pessoas, nem com a minha mulher. Perdi-me nos pensamentos. E passei a ouvir, dia e noite, principalmente à noite, algum tipo de vozes estranhas": ‘Vá embora!’ elas diziam, ‘rápido! Tu estás sozinho e nós somos muitos. Como tu vais lutar conosco? Nós todos seremos a morte de ti!’... "Alucinações devem ser... Bem, fossem o que fossem, eu cheguei a um ponto em que não só não conseguia mais orar, como pensamentos blasfemos começaram a pulular na minha cabeça. A noite veio. Eu não conseguia dormir. Algum tipo de poder me jogou para fora da cama, para o chão, e não num sonho, mas quando eu estava bem acordado. Esta coisa simplesmente me levantou e me arremessou para fora da cama, no chão. E as vozes, mais ameaçadoras, mais terríveis, mais persistentes": ‘Vá embora! Deixe-nos!’

"Aterrorizado, mantendo a sanidade com dificuldade, pelo medo do que estava acontecendo, eu corri de novo para o Padre Ambrosio. Assim que ele me viu, diretamente, sem perguntar nada, ele me disse:

‘Bem, então com que estás assustado, padre? Ele é um, e há dois de vós.’

"Como é isto, Batushka," eu disse.

‘Cristo Deus e tu, vê isto faz dois de vós. E o inimigo, ele é um. Vá para casa’ ele disse, ‘e não tenha medo de nada que esteja diante de ti. E a igreja, a grande igreja de pedra, e quente, não esqueça de construí-la. Deus te abençoe!’

"E com isso, eu sai. Eu fui para casa, e foi como se uma montanha tivesse caído do meu coração. E o medo saiu de mim. Então eu logo comecei a orar para Deus. Pus um analogion na igreja,atrás do kliros da esquerda, diante do ícone da Rainha do Céu, e uma lamparina acesa, bem como uma vela também acesa. E eu comecei, sozinho na igreja, a ler um cânon para ela. E comecei a acrescentar algumas outras orações.

Após uma semana, alguém mais veio sozinho, ficou num canto, e junto comigo começou a orar para Deus. Então um outro, um terceiro, e começaram a se juntar e a encher a igreja..."

Acrescentaremos agora, que pelo cuidado do P. George, uma grande igreja de pedra, uma casa de repouso, orfanatos e escolas foram construídas, e de todos os confins da Rússia vêm fiéis para obter conselhos, bênçãos, orações e consolação.

Um Atraso Salvador de Vida.

Eis outra história chocante.

Cerca de dois anos antes da morte do staretz, eu tive que viajar para Optina para receber dinheiro. Nós tínhamos terminado de fazer uma iconostase, e por este trabalho eu deveria receber uma boa soma de dinheiro do Padre Superior. Tendo recebido o meu dinheiro, eu resolvi passar pelo Padre Ambrosio para receber uma bênção especial para a minha viagem de volta. Estava com pressa para voltar para casa, pois no dia seguinte deveria encontrar uns clientes para fechar um importante contrato da ordem de 10000 rublos, e os clientes estariam sem falta na minha casa no dia seguinte. Como sempre, o número de pessoas que esperavam pelo staretz era enorme. Tendo apurado que eu estava ali para vê-lo, mandou que seu ajudante me pedisse que fosse tomar chá com ele ao entardecer. Apesar de eu estar com pressa de voltar para casa, a honra e alegria de tomar chá com o staretz era tão grande, que eu raciocinei que se atrasasse a minha partida até o inicio da noite, eu ainda chegaria em casa a tempo se viajasse a noite toda.

Quando chegou o entardecer eu fui para o encontro com o staretz. Cumprimentando-me, ele estava tão feliz que eu não pude nem sentir o chão sob meus pés. Batushka, nosso anjo me reteve até que começou a ficar escuro. "Bem, vai com Deus," disse ele, "durma aqui esta noite e eu te abençôo para participar da liturgia amanhã cedo, e depois vir tomar outro chá comigo." "O que é isto? Eu me perguntei. Mas não ousei objetar. Dormi, fui à liturgia e tomei chá com o staretz, lamentando pelos meus clientes, e pensando que talvez pudesse estar em casa no fim da tarde. Depois de tomar o chá, quis pedir a bênção para a viagem, mas ele não me deu tempo de dizer nada, e logo disse: "vem dormir aqui esta noite." Quase desmaiei, mas não me atrevi a contradizê-lo. Passou o dia e passou a noite! Pela manhã me animei um pouco e pensei: seja como seja, hoje viajo, e pode ser que os meus clientes tenham me esperado por um dia. Mas não! Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, o staretz me disse para vir ao oficio vespertino e pela manhã à liturgia e que para isto, dormisse ali. Que tipo de parábola era esta?! Ai, eu comecei de fato a me preocupar, e para falar a verdade eu pequei contra o staretz: que sábio era este? Ele sabia perfeitamente que por conta de sua generosidade, um negócio lucrativo tinha se escorrido pelos meus dedos. Estava tão incomodado com o staretz, que à noite, na igreja, não podia rezar, pois pensava o tempo todo: "Que staretz! Que tipo de clarividente é este? Nesta hora eu fiquei realmente perturbado. Mas, depois do oficio o staretz tornou a me receber muito alegre. Eu estava amargurado, e Deus me perdoe, cheguei a pensar, ao vê-lo tão contente, que estava zombando de mim. Apesar da minha amargura, não ousei lhe contar meus pensamentos. Passei a terceira noite da mesma forma. Durante a noite, lentamente, meus lamentos diminuíram: foi como água sob a ponte, de todo jeito, o que tinha passado tão perto das mãos não podia ser recuperado. Na manhã seguinte fui ter com o staretz e ele me disse: "Bem, chegou a hora de ires para casa! Deus te abençoará! Vá com Deus! E no tempo certo, não esqueças de agradecer a Ele!"

Deste ponto em diante, todos os meus pesares se afastaram de mim. Eu deixei Optina com um coração tão leve e alegre que era impossível carregá-los. A única coisa que eu pensava era: ‘Porque o Batushka me disse: mais adiante não esqueça de agradecer a Deus?’ Eu pensava que talvez fosse porque ele tinha me dado a grande honra de passar três dias na igreja. Viajando para casa sem pressa eu não pensava nos meus clientes. Eu estava muito contente com a maneira que o Batushka havia me tratado. Cheguei em casa, e o que vós pensais? Eu entrava em minha casa e os clientes estavam atrás de mim. Estavam atrazados três dias! Eu pensei, meu bendito staretz! Tuas obras são de fato maravilhosas ó Senhor! Mas, isto não termina aqui. Ouvi o que aconteceu depois!

Pouco tempo depois, Padre Ambrosio faleceu. Depois de dois anos de sua justa morte, meu artesão principal caiu doente. Uma pessoa de confiança, ele valia seu peso em ouro. Ele viveu comigo, continuamente, por vinte anos. Sua doença ameaçava a sua vida. Nós conseguimos um padre para lhe administrar os ritos finais enquanto ele estava consciente. Chamando-me para perto do leito do moribundo, o padre disse: "A pessoa doente está te chamando, ela quer te ver. Rápido antes que ela morra." Assim que o doente me viu chegando, ele tentou se elevar apoiando-se nos seus cotovelos, olhou para mim e explodiu em lágrimas: "Por favor, perdoe o meu pecado patrão! Eu quis te matar..." "Tu o que, Deus proíba! Tu estás delirando..." "Não patrão, eu quis, de fato te matar. Lembra-te quando tu estavas três dias atrasado no regresso de Optina? Bem, combinado com dois outros, nós te esperamos debaixo da ponte por três dias: nós queríamos o dinheiro que tu recebera em Optina pela iconostase. Devido às orações de alguém tu não morreste naquela noite, e o Senhor te teria levado sem que tu pudesses se arrepender! Peço que perdoes a mim que sou um ser maldito! Deixa minha alma partir em paz!" "Que Deus te perdoe, assim como eu te perdôo." Então o enfermo começou a emitir sinais de morte. Que descanse em paz! Grande foi seu pecado, mas também grande foi seu arrependimento.

Golpeado nos Dentes.

Imitando um de seus predecessores, o Hieroesquemamonge Leonid, o Padre Ambrosio, às vezes, gostava de esconder suas ajudas miraculosas com palavras ou gestos de humor, para distrair a atenção das testemunhas. Por exemplo, certa vez um monge veio para o Batushka com uma tremenda dor de dente. Passando pelo monge o Ancião golpeou-o nos dentes, com seu punho, com toda força e alegremente acrescentou: ‘Bem feito, hein?’ ‘Bem feito, Batushka’, o monge respondeu, provocando risos generalizados, ‘mas realmente dói!’. Porém, deixando o Batushka, ele sentiu que a dor passara, e não precisou voltar depois.

Os camponeses notaram muito bem esta característica do Padre Ambrosio, e os que tinham dor de cabeça vinham a ele e diziam: ‘Batushka, golpeie-me. Tenho dor de cabeça!’

Liberação do Vício do Tabaco.

O residente de São Petersburgo, Alexandre Stepanovich Maiorov fumava excessivamente e sentiu o perigo que isto representava para sua saúde. Ele escreveu uma carta para o Padre Ambrosio, perguntando como poderia se libertar desta paixão.

Em resposta a este pedido, o Ancião enviou a Maiorov uma carta no dia 12 de outubro de 1888, na qual estava escrito o seguinte: "Tu escreves que não consegues parar de fumar. Aquilo que é impossível para o homem, é possível com a ajuda de Deus. Fique somente firme na decisão de parar de fumar, constatando o perigo pra tua alma e corpo, já que o tabaco debilita a alma, aumenta e reforça as paixões, escurece a mente, e destrói a saúde do corpo com uma morte lenta. Irritabilidade e melancolia são o resultado da enfermidade da alma que vem do fumar."

"Eu te aconselho a fazer uso de tratamento espiritual contra esta paixão. Confessa em detalhes os pecados da tua vida inteira desde os sete anos de idade, recebe os Santos Mistérios, e lê diariamente, em pé, um ou mais capítulos dos Evangelhos. E quando a depressão atacar leia de novo os Evangelhos até que ela passe. Se ela atacar de novo, leia de novo. Ou, ao invés disto, quando sozinho, faz trinta e três prostrações completas, em memória da vida terrena do Salvador e em honra da Santíssima Trindade."

Quando recebeu esta carta, Alexandre Stepanovitch a leu, e então acendeu um cigarro, mas subitamente ele sentiu uma forte dor de cabeça junto com uma aversão ao cheiro e gosto do tabaco, e naquela noite ele não fumou mais. No dia seguinte ele, por hábito, tentou por quatro vezes fumar, mas e não conseguia inalar a fumaça devido a severa dor de cabeça. Assim ele abandonou o vicio facilmente, enquanto nos dois anos anteriores ele havia tentado parar de fumar sem sucesso. E, naquela época, apesar de saber que lhe fazia muito mal, ele fumava setenta e cinco cigarros por dia.

Liberação do Alcoolismo.

O amado irmão mais velho de uma senhora sofria de alcoolismo há muitos anos. Não havia nada que o homem não tivesse tentado para superar o problema, mas nada tinha surtido efeito. Enquanto isto, o desafortunado tinha arruinado sua saúde e seus recursos. O problema chegou até um ponto em que os médicos que estavam cuidando dele preveniram que, se ele não parasse de beber, morreria de um ataque do coração. A pobre mulher perdeu a cabeça, e não sabendo o que fazer, lembrou-se de que no Mosteiro de Optina havia um grande e justo Ancião que podia conseguir quase qualquer coisa com suas orações. Ela apertou seus olhos, e apesar de nunca ter visto o Padre Ambrosio, tentou imaginá-lo, e mentalmente implorou a ele que ajudasse o seu irmão. Como já havia anoitecido, ela logo caiu no sono. Num sonho ela viu um velho homem vindo para ela, e instantaneamente compreendeu que era o Ancião Ambrosio. Ele disse para ela: ‘Vai até a farmácia e compre vinte e cinco kopeks da erva chernogorki-staronos, picada finamente, e ferva duas colheres de sopa da erva em cinco canecas de chá d’água. Deixe o pote de chá descansar por meia-hora em cima do fogão, então pega o pote e leve para o homem doente que deve tomar as cinco canecas de uma só vez quente ou frio, não faz diferença. Como esta erva é muito amarga ele pode tomar o chá com açúcar ou mel. Depois que tomar todo liquido ele pode ter ataques de vômito, mas não se preocupe porque isto indica que o remédio funcionou. Se depois desta dose, ele tiver vontade de vodka novamente, tu repetirás a dose. Depois deste tratamento ele perderá o apetite, mas isto não será perigoso. Então ele terá somente que tomar vinte e cinco gotas de elixir para estômago Witte e dez gotas de Hoffman em um copo de água, antes de cada vez que for comer.

A mulher acordou instantaneamente e escreveu esta receita durante a noite. Quando ela levantou de manhã, foi comprar a erva na cidade.Com o tempo gasto em ir até a cidade, procurar a erva, e voltar para casa com ela, já estava anoitecendo quando chegaram de volta. Não querendo perder tempo, a irmã compassiva preparou o chá, e quando o levou para o irmão tomar já era noite fechada. Para o horror dela, antes que fosse dormir o irmão começou a vomitar em quantidade tal que a pobre mulher ficou confusa. E como acontece normalmente, todo o tipo de pensamentos começaram a passear por sua mente, tais como: ‘Como fui descuidada! Como pude acreditar em sonho! Isto deve ser algum tipo d terrível veneno!’ Em resumo, a pobre mulher não conseguiu dormir nada à noite, e só conseguiu cochilar um pouco quando já estava quase amanhecendo. De novo ela viu o mesmo homem velho, que se aproximou dela e disse: ‘Não tema Matushka, eu te digo, não tema. Não há dano ocorrendo com o vômito, e este é o sinal de que a raiz do álcool está sendo destruída.’

Naqueles dias não existiam teorias de auto-sugestão, subconsciente e que tais. A mulher se acalmou, e na verdade, daquele momento em diante a compulsão do irmão por bebidas alcoólicas foi tirada como que por um toque.

Muitos anos depois esta mulher esteve em Optina, e como ficou deliciada e gratificada ao ver o Ancião Ambrosio exatamente como o tinha visto nos dois sonhos.

 

Folheto Missionário número PA15

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

(ambrose_p.doc, 05-31-2005)