A Igreja é Una

(Alexei Khomiakov)

 

I. Unidade da Igreja. II. A Igreja Visível e Invisível. III. A Igreja na Terra. IV. Una, Santa, Católica e Apostólica. V. Escritura e Tradição. VI. Confissão, Oração e Ações. VII. O Credo. VIII. A Igreja e os Seus Mistérios. IX. Fé e Vida na Unidade da Igreja. X. Salvação. XI. A Unidade da Ortodoxia.

 

 

I. Unidade da Igreja.

A unidade da Igreja deriva necessariamente da unidade de Deus, porque a Igreja não é uma multidão de pessoas com a sua própria individualidade, mas uma unidade na Graça de Deus, vivendo num numeroso conjunto de criaturas racionais submetendo-se voluntariamente à Graça. Ela é também dada àqueles que lhe resistem e àqueles que não fazem uso dela (que escondem a sua vocação na terra), mas estes não estão na Igreja. Na realidade, a unidade da Igreja não é imaginária ou alegórica, mas unidade substancial e verdadeira, assim como o é a unidade de muitos membros de um corpo vivo.

A Igreja é una, apesar das divisões com que aparece ao homem que está ainda vivo sobre a Terra. É apenas em relação ao homem que é possível reconhecer a divisão da Igreja em visível ou invisível. A sua unidade é, na realidade, verdadeira e absoluta. Aqueles que estão vivos sobre a Terra, aqueles que acabaram o seu percurso terreno, aqueles que, como os anjos, não foram criados para uma vida terrena, as futuras gerações que ainda não iniciaram o seu percurso terreno, estão todos juntos na mesma Igreja una, na mesma e una Graça de Deus. Porque a criação de Deus que ainda não foi manifestada, está manifestada para Ele e Deus ouve as orações e sabe da fé daqueles que ainda não chamou da não existência para a existência. Na verdade a Igreja, o Corpo de Deus, manifesta-se visivelmente e realiza-se no tempo, sem mudar a sua unidade essencial ou a sua vida ou Graça interior. E, no entanto, quando nós falamos de "Igreja visível e invisível," fazemos unicamente em relação ao homem.

 

II. A Igreja Visível e Invisível.

A Igreja visível ou terrena vive em completa comunhão e unidade com o corpo inteiro da Igreja, do qual Cristo é a cabeça. Ela possui permanentemente Cristo dentro de si e a Graça do Espírito Santo em toda a plenitude da Sua existência, mas não na plenitude das suas manifestações, porque ela, a Igreja, atua e sabe apenas na medida do que Deus quiser.

Além disso, a Igreja terrena e visível não é a plenitude e o conjunto completo da Igreja que o Senhor designou para comparecer no juízo final de toda a criação. Ela atua e conhece apenas dentro dos seus próprios limites e, de acordo com as palavras do Apóstolo Paulo aos Coríntios (I Cor. 5:12), não julga o resto da raça humana, apenas os olha como excluídos, significando dizer que não lhe pertencem aqueles que se excluíram. O resto da humanidade, ainda que estranha à Igreja ou unida a Ela por laços que Deus não desejou revelar-lhe, vive para o julgamento do grande dia. A Igreja terrena julga por ela própria apenas com a Graça do Espírito e a liberdade que Lhe é garantida através de Cristo, convidando também o resto da humanidade para a adoção e para a unidade de Deus em Cristo. Mas àqueles que não ouvirem o seu apelo Ela não pronunciará nenhuma sentença, conhecedora do mandamento do seu Salvador e Cabeça: "não julgues os servidores de outro senhor" (Rom. 14:4).

 

III. A Igreja na Terra.

Desde a criação do Mundo a Igreja terrena continuou ininterruptamente sobre a Terra e continuará até à consumação da Obra de Deus, de acordo com a promessa que Lhe foi dada pelo próprio Deus. E a sua prova de genuinidade é a santidade interior, que não permite nenhuma mistura com o erro, porque o Espírito de Verdade e a sua imutabilidade exterior vivem com ela, da mesma forma que Cristo, seu Protetor e Cabeça, não muda.

Todas as características da Igreja, tanto interiores como exteriores, são reconhecidas por Ela própria e por todos aqueles que a Graça chamou para serem membros Dela. Para aqueles que na verdade estão afastados Dela e não foram chamados, elas são incompreensíveis; pois para estes uma mudança exterior do rito aparece como sendo uma alteração do próprio Espírito, que é glorificado no rito (como por exemplo na transição da Igreja do Antigo Testamento para o Novo ou na mudança dos ritos eclesiásticos e de ordenações, desde os tempos Apostólicos). A Igreja e os seus membros conhecem, através do conhecimento interior da fé, a unidade e a imutabilidade do seu Espírito, que é o Espírito de Deus. Mas aqueles que estão de fora e não foram chamados a Ela conhecem e olham para as mudanças exteriores do rito através de um conhecimento exterior, o qual não compreende o conhecimento interior (sabedoria). Assim como a imutabilidade de Deus surge para eles como sendo mutável nas diversificações da Sua criação. Por conseguinte a Igreja não tem sido nem pode ser alterada ou confundida nem pode ser destruída porque nesse caso Ela teria sido privada do Espírito de Verdade. É impossível que tenha havido um tempo durante o qual a Igreja tenha recebido o erro no seu seio, mesmo quando o laicado, o presbiterado e o episcopado foram submetidos a instruções ou ensinamentos incompatíveis com o ensinamento e o Espírito de Cristo. Quem disser que tal enfraquecimento do Espírito de Cristo poderia vir a ocorrer no seu seio não sabe nada da Igreja e estão completamente fora Dela. Além disso, uma revolta parcial contra as falsas doutrinas, juntamente com uma aceitação ou absorção de outras falsas doutrinas, não é nem pode ser uma obra da Igreja; porque ao seu interior e de acordo com a sua verdadeira essência, deve sempre haver pregadores, mestres e mártires confessando não uma verdade parcial misturada com o erro, mas uma verdade total e inadulterável. A Igreja não conhece o erro parcial nem a verdade parcial, mas apenas a verdade completa sem mistura de erro. E todo aquele que vive na Igreja não é submetido a falso ensinamento nem recebe sacramentos de um falso mestre; reconhecendo-o como falso, ninguém seguirá os seus falsos rituais. E a Igreja não erra, porque é a Verdade e é incapaz de astúcia ou covardia porque é Santa. E, naturalmente, a Igreja, em virtude da sua completa imutabilidade, não considera como errado o que anteriormente reconheceu como sendo verdadeiro.

Tendo proclamado em Concílio Geral e por consenso que é possível a qualquer Bispo ou Patriarca errar nos seus ensinamentos, Ela não reconhece a qualquer indivíduo, ou Bispo ou Patriarca ou sucessor destes, a incapacidade de errar nos seus ensinamentos; ou que eles estejam protegidos do erro através de qualquer graça especial. De que modo seria o mundo santificado se a Igreja estivesse em risco de perder a sua santidade? Onde estaria a verdade se os seus julgamentos de hoje fossem contrários aos de ontem? No interior da Igreja, isto é, entre os seus membros, podem ser engendradas falsas doutrinas, mas então os membros infectados caem, constituindo uma heresia ou um cisma, e não pervertem a santidade da Igreja.

 

IV. Una, Santa, Católica e Apostólica.

A Igreja é chamada Una, Santa, Católica e Apostólica; porque Ela é una e Santa: porque pertence a todo o mundo e não a uma região em especial; porque através dela toda a humanidade e toda a terra são santificadas, e não alguma nação ou região em particular; porque a sua verdadeira essência consiste no entendimento e na unidade do espírito e vida de todos os seus membros que a reconhecem através do mundo e por fim, porque nos escritos e doutrinas dos Apóstolos está contida a globalidade da sua Fé, dá sua Esperança e do seu Amor.

Daqui advém que qualquer comunidade quando é designada como Igreja de Cristo com a adição de um nome local, como por exemplo: Grega, Russa ou Síria, estes nomes não significam mais do que a congregação de membros da Igreja viva nesse local particular. Ou seja na Grécia, Rússia ou Síria; e isso não envolve qualquer idéia de que uma simples comunidade de cristãos possa formular a doutrina da Igreja ou uma interpretação dogmática aos seus ensinamentos, sem a concordância das outras comunidades; ainda muito menos se pode concluir daí que qualquer comunidade particular ou o seu pastor possam impor as suas próprias interpretações às outras. A Graça da Fé não pode ser separada da santidade da vida, nem qualquer comunidade ou qualquer pastor pode se considerar guardião da Fé da Igreja, nem qualquer simples comunidade ou o seu pastor pode considerar como representante de toda a santidade. Sem querer assumir a prerrogativa da interpretação dos dogmas e dos ensinamentos, tem todo o direito de mudar as suas formalidades e cerimônias e de introduzir inovações , na medida em que isso não ofenda às outras comunidades. Neste último caso, ela deve abandonar as suas próprias opiniões e submeter-se às das outras a fim de que aquilo que para umas possa parecer inócuo ou mesmo louvável, não pareça censurável a outras; ou que um irmão possa conduzir outro ao pecado da dúvida e da discórdia. Todo o Cristão deve considerar como valor elevado a unidade dos ritos da Igreja. Porque através disso se manifesta, mesmo para os não iluminados, a unidade do espírito e da doutrina, enquanto que para os iluminados isso se torna uma fonte de viva alegria Cristã. 0 Amor é a coroa e a glória da Igreja.

 

V. Escritura e Tradição.

O Espírito de Deus, que habita na Igreja, conduzindo-A e tornando-A sábia, manifesta-se no Seu interior de diversas maneiras: na Escritura, na Tradição e nas Obras. Pois a Igreja que executa a obra de Deus é a mesma que preserva a Tradição e redigiu as Escrituras. Nem um indivíduo nem um conjunto de indivíduos, dentro da Igreja, preservam a Tradição ou escrevem as Escrituras; mas sim o Espírito de Deus, que habita na totalidade do corpo da Igreja. Portanto não é nem correto nem possível que se procurem áreas de Tradição nas Escrituras, nem provas das Escrituras na Tradição, nem a justificação das Escrituras e da Tradição nas Obras. Para um homem que viva fora da Igreja nem a Escritura nem a Tradição nem as Obras são compreensíveis. Mas para aquele que vive no seu seio e está unido ao espírito da Igreja, essa unidade é expressa pela Graça que habita no interior Dela.

As Obras não precedem a Escritura e a Tradição? A Tradição não precede a Escritura? As obras de Noé, Abraão e dos nossos antepassados, representativos da Igreja do Velho Testamento, não agradaram a Deus? E a Tradição não existia entre os Patriarcas, começando por Adão, o nosso primeiro pai? Deus não deu liberdade ao homem e não concedeu ensinamento verbal antes dos Apóstolos, pelos seus escritos, difundirem o testemunho da obra da redenção e da lei da liberdade? Por conseguinte, entre Tradição, Obras e Escritura não há contradições, mas, pelo contrário, completa concordância. O homem compreende as Escrituras, assim como preserva a Tradição e executa as Obras, de acordo com a sabedoria que habita nele. Mas a sabedoria que nele existe não lhe é concedida individualmente, mas como membro da Igreja, e é concedida parcialmente, sem que fique anulada a sua possibilidade de erro individual; mas à Igreja é dada a plenitude da Verdade, sem a possibilidade de erro. Consequentemente não deve julgar a Igreja mas submeter-se a Ela, porque a sabedoria não pode ser obtida a partir dele.

Todo aquele que procure prova da verdade da Igreja, ou manifesta através desse ato a sua dúvida e se exclui da Igreja, ou assume a aparência daquele que duvida e simultaneamente conserva a esperança de provar a verdade e de chegar até ela através da razão. Mas os poderes da razão não alcançam a verdade de Deus, e a fraqueza do homem manifesta-se pela fraqueza das suas razões. O homem que aceita somente a Escritura e apenas Nela encontra a Igreja, está na verdade a rejeitá-La, e espera fundí-La de novo pelos seus próprios meios. O homem que aceita somente a Tradição e as Obras e deprecia a importância das Escrituras, está igualmente, e na realidade, a rejeitar a Igreja e a constituir-se em juiz do Espírito de Deus que falou pela Escritura. A sabedoria cristã não é um tema de investigação intelectual, mas de uma fé viva que é uma dádiva da Graça.

A Escritura, a Tradição e as Obras são exteriores e o que lhes é interior é o Espírito de Deus. Partindo apenas da Tradição, das Escrituras ou das Obras, o homem não consegue senão obter um conhecimento incompleto e exterior, que pode de fato conter em si verdade porque é parte da Verdade, mas ao mesmo tempo é necessariamente errôneo, pois incompleto. Um crente conhece a Verdade, mas um descrente não a conhece ou pelo menos apenas a identifica através de um conhecimento exterior e imperfeito A Igreja não se prova quer pelas Escrituras, quer pela Tradição ou pelas Obras, mas contém em si própria o testemunho, como o Espírito de Deus, habitando nela, manifesta o Seu testemunho nas Escrituras. A Igreja não pergunta qual Escritura é verdadeira, qual Tradição é verdadeira, qual Concílio é verdadeiro ou que Obras agradam a Deus porque Cristo conhece a Sua própria herança, e a Igreja na qual Ele habita sabe isso através do conhecimento interior e não pode deixar de identificar as suas próprias manifestações. O conjunto dos livros do Novo e do Antigo Testamentos, que a Igreja reconhece como seus, chama-se Sagrada Escritura. Mas não há limites às Escrituras, porque qualquer escrito que a Igreja reconheça como seu é Sagrada Escritura. Do mesmo modo e de maneira proeminente, estão os Credos dos Concílios Gerais e, especialmente, o Credo de Nicéia-Constantinopla. Por conseguinte os textos das Sagradas Escrituras chegaram até aos nossos dias e, se Deus quiser, mais alguns serão escritos. Mas na Igreja não houve nem haverá qualquer contradição, tanto nas Escrituras como na Tradição ou nas Obras; porque nas três está Cristo, uno e imutável.

 

VI. Confissão, Oração e Ações.

Toda a ação da Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, o Espírito de Vida e da Verdade, põe em evidência a total perfeição dos seus dons — a Fé, a Esperança e o Amor. Na Escritura não apenas a Fé se manifesta, mas também a esperança da Igreja e o Amor de Deus, e nas obras que agradam a Deus evidenciam-se não apenas o Amor, mas igualmente a Fé, a Esperança e a Graça; e na Tradição viva da Igreja que espera de Deus a sua coroação e consumação em Cristo, não apenas a Esperança mas também a Fé e o Amor se manifestam. Os dons do Espírito Santo estão inseparavelmente unidos numa unidade santa e vivida, mas assim como as obras que agradam a Deus estão mais especialmente associadas ao Amor, e a oração que agrada a Deus está mais intimamente ligada à Esperança, assim um Credo que agrade a Deus está associado à Fé de um modo mais especial, e o Credo da Igreja é corretamente designado por Confissão ou Símbolo da Fé.

Portanto deve-se compreender que os Credos, as Orações e as Obras não são nada em si próprios, mas apenas constituem uma manifestação exterior do espírito interior. Por conseqüência segue-se que nem aquele que reza, nem o que realiza obras, nem o que confessa o Credo da Igreja agrada a Deus, mas apenas aquele que atua, se confessa e reza de acordo com o Espírito de Cristo habitando nele. Os homens não têm todos a mesma fé, a mesma esperança ou o mesmo amor porque um homem pode amar a carne, fixar as suas esperanças no mundo e confessar as suas crenças numa mentira. Pode também amar, esperar e acreditar não no todo, mas apenas numa parte e a Igreja pode chamar à sua fé, fé, à sua esperança, esperança, e ao seu amor, amor. Porque o homem se reconhece assim e a Igreja não discute com ele a propósito de palavras, mas o que ela própria designa por Fé, Esperança e Amor, são os dons do Espírito Santo e ela sabe que eles são verdadeiros e perfeitos.

 

VII. O Credo.

A Santa Igreja confessa a sua Fé pela totalidade da sua vida; pela sua Doutrina, que é inspirada pelo Espírito Santo; pelos seus Sacramentos, através dos quais o Espírito Santo atua; e pelos seus ritos, que Ele dirige. E o Símbolo de Nicéia-Constantinopla é designado de um modo proeminente como a sua Confissão de Fé.

No Símbolo de Nicéia-Constantinopla está contida a confissão da doutrina da Igreja; mas, para que possa ser conhecido que a esperança da Igreja é inseparável da sua doutrina, igualmente confessa, Nele sua esperança, porque nele se afirma: "Nós esperamos," e não somente "nós acreditamos," no que está para vir.

O Símbolo de Nicéia-Constantinopla, a total e completa confissão da Igreja, na qual Ela não admite qualquer omissão nem qualquer acrescento, é o seguinte: "Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por Quem todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus e encarnou pelo Espírito Santo, no seio de Maria Virgem e Se fez Homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir cheio de glória, para julgar os vivos e os mortos, e o Seu Reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor Vivificante que procede do Pai e com o Pai e o Filho é juntamente adorado e glorificado e que falou pelos Profetas. E na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Reconheço um só Batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amem!"

Essa confissão, assim como toda a vida do Espírito, apenas é compreensível para aquele que acredita e é membro da Igreja. Ela contém em si própria mistérios inacessíveis ao exame intelectual e revela apenas o Próprio Deus, e para aqueles a quem Ele os manifesta para um conhecimento interior e vivo, e não um conhecimento exterior e morto. Contém no seu interior o mistério da existência de Deus não apenas em relação à Sua ação exterior no que se refere à Criação, mas também em relação ao Seu eterno estado interior. Portanto, o orgulho da razão e da sua autoridade ilegal, em oposição ao decretado pela totalidade da Igreja (pronunciado no Concílio de Efeso), destinado a considerar como certo o direito a adicionar as suas próprias explicações e hipóteses humanas ao Símbolo de Nicéia-Constantinopla, é em si próprio uma infração à santidade e inviolabilidade da igreja. Assim como o próprio orgulho das igrejas separadas que ousaram alterar o Símbolo da Igreja sem o consentimento dos seus irmãos foi inspirado pela falta de amor, e foi um crime contra Deus e a Igreja, assim também as suas cegas sabedorias que não compreenderam os mistérios de Deus, constituíram uma distorção da Fé, porque a Fé não é preservada onde o amor decaiu. Por conseqüência, a adição do "Filioque" (e do filho) contém uma espécie de dogma imaginário, desconhecido de todos os autores que serviram a Deus, ou dos Bispos ou sucessores dos Apóstolos nas primeiras eras da Igreja, e não pronunciado por Cristo nosso Salvador. Assim como Cristo falou claramente, também a Igreja claramente reconheceu e reconhece que o Espírito Santo procede do Pai. Porque não só exteriormente mas também interiormente, os mistérios de Deus foram revelados por Cristo e pelo Espírito da Fé, aos Santos Apóstolos e à Santa Igreja. Teodoreto chamou blasfemos a todos os que confessaram a procedência do Espírito Santo do Pai e do Filho. A Igreja, embora tivesse detectado alguns erros de Teodoreto, neste caso aprovou o seu julgamento através de um eloqüente silêncio A Igreja não nega que o Espírito Santo é enviado não apenas pelo Pai mas também pelo Filho. A Igreja não nega que o Espírito Santo é comunicado a todas as criaturas racionais não apenas a partir do Pai mas também através do Filho. Mas o que Ela rejeita realmente é que o Espírito Santo tenha a sua procedência na essência de Deus não somente do Pai mas também do Filho. Aquele que renunciou ao espírito do amor e se privou a si próprio dos dons da Graça não pode jamais possuir o conhecimento interior — que é a Fé — mas limita-se a um mero conhecimento exterior; portanto apenas pode conhecer o que é exterior e não tem acesso profundo aos mistérios de Deus. As comunidades cristãs que se afastaram da Santa Igreja nunca mais podem reconhecer (porquanto elas não podem agora compreender com o Espírito) a processão do Espírito Santo, em Deus, somente a partir do Pai; mas a partir daquele momento foram obrigadas a confessar apenas a missão exterior do Espírito em toda a Criação, uma missão que provém não somente do Pai mas passa também através do Filho. Eles preservaram a parte exterior da Fé, mas perderam o seu sentido interior e a Graça de Deus. Assim como aconteceu na sua confissão, também aconteceu nas suas vidas.

 

VIII. A Igreja e os Seus Mistérios.

Tendo confessado a sua Fé na Divindade tri-hipostásica, a Igreja confessa a sua fé em si própria, porque se reconhece como instrumento e veículo da Graça divina e reconhece as suas obras como obras de Deus, não como obras dos indivíduos que a compõem na sua manifestação visível (sobre a Terra). Nesta concisão ela mostra que o conhecimento no que diz respeito à sua essência e existência é como um dom da Graça, concedido de cima e acessível apenas à Fé e não à razão.

Que necessidade teria de dizer "eu creio," se já conhecesse? Não é a Fé a evidência das coisas não vistas? Mas a Igreja visível não é a sociedade visível dos cristãos, mas o Espírito de Deus e a Graça dos Sacramentos habitando nessa sociedade. Razão pela qual até a Igreja visível apenas o é para o crente; porque para o descrente um Sacramento é apenas um rito e a Igreja somente uma sociedade. O crente, que com os olhos do corpo e da razão apenas vê a Igreja nas suas manifestações exteriores, pelo Espírito toma conhecimento Dela nos seus Sacramentos, orações e obras que agradam a Deus. Por esse motivo não a confunde com a sociedade que usa o nome de Cristã porque nem todos os que dizem "Senhor, Senhor" pertencem realmente ao povo eleito e à semente de Abraão. O verdadeiro Cristão sabe pela Fé que a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica nunca desaparecerá da face da terra até ao juízo final de toda a Criação, que Ela permanecerá na terra, invisível aos olhos da carne ou à compreensão humana, entre a sociedade Cristã visível, exatamente da mesma maneira como permanece na Igreja celeste, visível aos olhos da Fé mas invisível aos olhos do corpo. Os Cristãos também sabem, através da Fé, que a Igreja terrena apesar de invisível, está sempre revestida de uma forma visível, que nunca constituiu nem pode ter constituído, nem constituirá uma época durante a qual os Sacramentos sejam mutilados, a santidade anulada ou a doutrina corrompida. E sabem ainda que não é Cristão quem não souber dizer onde, desde o tempo dos Apóstolos, os Santos Sacramentos têm sido e estão a ser administrados, onde a doutrina foi e é preservada, onde as orações foram e estão a ser enviadas para o Trono da Graça. A Santa Igreja confessa e acredita que a ovelha nunca foi privada do seu Divino Pastor e que a Igreja nunca se pôde desviar pela vontade da razão — pela compreensão da ação de Deus no seu seio — ou submeter-se a falsas doutrinas por atrevimento — porque dentro dela age o poder do Espírito de Deus.

Acreditando nas palavras da promessa de Deus que designou por amigos de Cristo e Seus irmãos a todos os seguidores da doutrina de Cristo, e através d'Ele, filhos adotivos de Deus, a Santa Igreja revela os caminhos pelos quais agrada a Deus conduzir a humanidade morta da Queda até à reconciliação no Espírito da Graça e da Vida. Assim, mencionando os Profetas (os representantes da época do Antigo Testamento) Ela revela os Sacramentos, através dos quais, na Igreja do Novo Testamento, Deus faz descer a Sua Graça sobre os homens e mais especificamente revela o Sacramento do Batismo para a remissão dos pecados, como contendo dentro de si o princípio de todos os outros; porque só pelo Batismo o homem entra na Unidade da Igreja, que é a guardiã de todos os outros Sacramentos.

Sacramento do Batismo.

Confessando um só Batismo para a remissão dos pecados como um Sacramento ordenado por Cristo para a entrada na Igreja do Novo Testamento, a Igreja não julga aqueles que não entraram na comunhão com Ela através do Batismo, porque somente se julga e se conhece a si própria. Só Deus conhece a dureza do coração e julga a fraqueza da razão de acordo com a Verdade e a Misericórdia. Muitos foram salvos e receberam a Herança sem terem recebido o Sacramento do Batismo com água; porque isto foi instituído somente para a Igreja do Novo Testamento. Quem o rejeita, rejeita a Igreja inteira e o Espírito de Deus que habita no seu seio, mas ele não foi ordenado ao homem desde o princípio, nem foi prescrito pela Igreja do Antigo Testamento. Assim, se alguém disser que a circuncisão era o Batismo do Antigo Testamento, rejeita o Batismo da mulher, para a qual não havia circuncisão; e o que se dirá acerca dos Patriarcas, de Adão à Abraão, que não receberam o selo da circuncisão? E, em qualquer caso, não se reconhece que fora da Igreja do Novo Testamento o Sacramento do Batismo não era uma obrigação? Se se disser que foi em benefício da Igreja do Antigo Testamento que Cristo recebeu o Batismo, quem estabelecerá um limite à bondade amorosa de Deus que tomou sobre Ele os pecados do mundo? O Batismo é na verdade uma obrigação, porque só ele é a porta de entrada para a Igreja do Novo Testamento e só no Batismo o homem testemunha o seu assentimento à ação redentora da Graça. Por conseguinte, também no único Batismo ele é salvo.

Além disso, nós sabemos que confessando um só Batismo, como princípio de todos os Sacramentos nós não rejeitamos os outros porque, acreditando na Igreja, confessamos juntamente com ela sete Sacramentos, a saber: Batismo, Eucaristia, Ordem, Confirmação com Crisma, Matrimônio, Penitência e a Unção dos Enfermos. Há ainda muitos outros Sacramentos, porque cada obra realizada com Fé, Amor e Esperança é sugerida ao homem pelo Espírito de Deus e invoca a Graça invisível de Deus. Mas, na realidade, os Sete Sacramentos não são executados por um único indivíduo, digno da misericórdia de Deus, mas por toda a Igreja através desse indivíduo, mesmo que ele não seja digno.

Sacramento da Eucaristia.

No que diz respeito ao Sacramento da Eucaristia a Santa Igreja ensina que através dele é verdadeiramente realizada a transformação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. A Igreja não rejeita o termo "transubstanciação," mas não lhe atribui aquele significado material que lhe é dado pelos mestres das igrejas que apostataram. A transformação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo é realizada dentro da Igreja e para a Igreja. Se um homem recebe os Dons consagrados, lhes presta culto ou pensa neles com Fé, ele na realidade recebe, adora e pensa no Corpo e Sangue de Cristo. Se ele os recebe indignamente, rejeita na realidade o Corpo e o Sangue de Cristo. Em qualquer dos casos, com Fé ou com descrença, ele é santificado ou condenado pelo Corpo e Sangue de Cristo. Mas este Sacramento existe para a Igreja e não para o mundo exterior, nem para o fogo, nem para as criaturas irracionais, nem para a corrupção, nem para o homem que não der ouvidos a Lei de Cristo. Na Igreja (estamos a falar da Igreja visível), para os eleitos e para os réprobos, a sagrada Eucaristia não é somente uma comemoração relacionada com o Mistério da Redenção, não se trata de uma simples presença de dons espirituais no pão e no vinho, não é apenas uma recepção espiritual do Corpo e Sangue de Cristo, mas é o Seu verdadeiro Corpo e Sangue. Não só em Espírito quis Cristo unir-se com os fiéis, mas também em Corpo e Sangue. Para que essa união possa ser completa, ela não é só espiritual, mas também corporal. As explicações absurdas que dizem respeito à relação entre o santo Sacramento e os elementos e as criaturas irracionais (quando o Sacramento apenas foi instituído para a Igreja), e esse orgulho espiritual que despreza o Corpo e o Sangue e rejeita a união corporal com Cristo, são igualmente contrárias à Igreja. Nós não podemos ressuscitar sem o corpo e nenhum espírito (à exceção do Espírito de Deus) pode ser considerado inteiramente incorpóreo. Aquele que despreza o corpo peca por orgulho espiritual.

Sacramento da Ordem.

Sobre o Sacramento da Ordem a Santa Igreja ensina que através dele a Graça que torna os Sacramentos atuantes é transmitida sucessivamente desde os Apóstolos e a partir de Cristo. Assim nenhum Sacramento pode ser atuante sem ser através da Ordenação (apesar de que qualquer cristão está apto a abrir a porta da Igreja através do Batismo, a uma criança, a um judeu ou a um pagão), e essa Ordenação contém em si própria toda a amplitude da Graça dada por Cristo à Sua Igreja. E a Igreja, ao comunicar aos seus membros a plenitude dos Dons espirituais, no vigor da liberdade que lhe foi dada por Deus, estabeleceu diferenças nos graus da Ordem. 0 Presbítero, que executa todos os Sacramentos à exceção da Ordem, tem um determinado dom. 0 Bispo, que executa a Ordenação, tem outro, e não existe nenhum dom mais elevado que o do Episcopado. Este Sacramento tem, para aquele que o recebe, o importante significado de que, mesmo no caso de ser indigno, ao ministrar os Sacramentos, necessariamente que a sua ação não provirá dele próprio mas de toda a Igreja, isto é, de Cristo vivendo no seu seio. Se o Sacramento da Ordem cessasse, todos os Sacramentos, à exceção do Batismo, igualmente cessariam e a raça humana seria afastada da Graça: porque a própria Igreja prestaria então testemunho de que Cristo se teria afastado d'Ela.

Sacramento da Crisma.

Acerca do Sacramento da Confirmação (ou Crisma ) a Igreja ensina que através dele os dons do Espírito Santo são conferidos aos Cristãos, confirmando a sua Fé e a sua santidade interior. Este Sacramento é, pela vontade da Santa Igreja, distribuído não apenas pelos Bispos mas também pelos Presbíteros, apesar do Crisma poder ser abençoado somente por um Bispo.

Sacramento do Matrimônio.

Sobre o Sacramento do Matrimônio a Santa Igreja ensina que a Graça de Deus, que abençoa a sucessão das gerações na existência temporal da raça humana e a santa união do homem e da mulher para a organização de uma família, é uma Graça sacramental que impõe sobre aqueles que a recebem uma elevada obrigação de amor mútuo e de santidade espiritual, através da qual o que de outra maneira seria pecaminoso e material é revestido de retidão e pureza. Razão pela qual os grandes mestres da Igreja, os Apóstolos, reconhecem o Sacramento do Matrimônio mesmo entre os pagãos porque ao mesmo tempo que proíbem a união irregular, confirmam o casamento entre os Cristãos e os pagãos, dizendo que o homem é santificado pela mulher crente, e a mulher pelo marido crente (Cor 7:14). Estas palavras dos Apóstolos não significam que um descrente possa ser salvo pela sua união com um crente, mas que o seu casamento é santificado, porque não é a pessoa, mas o marido ou a mulher que são santificados. Uma pessoa não é salva através de outra, mas ou o marido ou a mulher é santificado em relação ao casamento. E assim o casamento não é impuro mesmo entre os idólatras; mas eles não conhecem a graça que Deus lhe deu. A Santa Igreja, através dos seus sacerdotes reconhece e abençoa a união, abençoada por Deus, do marido e da mulher. Deste modo o casamento não é somente um ritual, mas um verdadeiro Sacramento. E esse Sacramento é realizado na Santa Igreja, porque apenas Nela os santos atos são cumpridos em toda a sua plenitude.

Sacramento da Penitência.

Acerca do Sacramento da Penitência a Santa Igreja ensina que sem ele o homem não pode ser liberto da escravidão do pecado e do orgulho pecaminoso, porque o homem não pode redimir a si próprio dos seus pecados (porque nós apenas temos a possibilidade de nos condenarmos e nunca de nos auto justificarmos), e apenas a Igreja tem o poder de justificar, porque dentro Dela vive a plenitude do Espírito de Cristo. Nós sabemos que depois do Salvador, o primogêntito do Paraíso ou no Santuário de Deus pela condenação de si próprio, isto é, pelo Sacramento da Penitência, porque ele disse: "para que cada um receba o galardão segundo o que tiver feito" (II Cor 5:10 N .dos T.), e o homem recebe a absolvição de Deus porque só Ele pode absolver e o faz pela boca da Sua Igreja.

Sacramento da Unção.

Acerca do Sacramento da Unção com óleo consagrado (Unção dos Doentes) a Igreja ensina que com ele se completa a bênção de todos os esforços (Tim 4:7) do homem durante a sua vida sobre a terra, de toda a caminhada que ele realiza com fé e humildade, e que na Unção dos Doentes o divino veredito é pronunciado sobre o corpo terreno, curando-o, quando todos os meios medicinais não se mostraram benéficos ou, de outro modo, permitindo que a morte destrua o corpo corruptível que deixa de ser necessário para a Igreja Terrena ou para os misteriosos caminhos de Deus.

 

IX. Fé e Vida na Unidade da Igreja.

A Igreja, ainda mesmo sobre a terra, não vive uma vida humana terrena mas uma vida de Graça que é Divina. Deste modo, não apenas em cada um dos seus membros, mas como um todo, proclama-se Santa solenemente. A sua manifestação visível está contida nos Sacramentos; mas a sua vida interior está nos Dons do Espírit0 Santo, na Fé, na Esperança e no Amor. Oprimida e perseguida por inimigos exteriores, por vezes agitada e dilacerada interiormente pelas pecaminosas paixões dos seus filhos, sempre foi e será preservada sem vacilações ou mudanças enquanto os Sacramentos e a santidade espiritual forem preservados. Nunca está desfigurada ou necessitada de reformas. Ela não vive sob uma lei de escravidão, mas sob uma lei de liberdade. Não reconhece nenhuma autoridade sobre ela, exceto a sua própria, nem nenhum outro tribunal, somente o tribunal da Fé (por razões que não compreende), e exprime o seu Amor, a sua Fé e a sua Esperança nos seus pregadores e ritos, que lhe foram sugeridos pelo Espírito de Verdade e pela Graça de Cristo. Assim, os seus próprios ritos, mesmo que não sejam imutáveis (porque foram compostos com Espírito de liberdade e podem ser mudados de acordo com o julgamento da Igreja) nunca podem, em caso algum, conter qualquer (nem mesmo a mais pequena mistura) erro ou falsa doutrina. E os ritos da Igreja, enquanto não forem mudados, são da obrigação dos membros da Igreja porque na sua observância está a alegria da santa unidade.

A unidade exterior é a unidade manifestada na comunhão dos Sacramentos enquanto que a unidade interior é a unidade do Espírito. Muitos se salvaram (alguns dos mártires, por exemplo) sem terem participado de nenhum dos Sacramentos da Igreja (nem mesmo do Batismo), mas ninguém é salvo sem ter participado da santidade interior da Igreja, da sua Fé, Esperança e Amor, porque não são as obras que salvam mas a Fé. E a Fé, isto é, a Fé verdadeira e viva não é dúplice, mas única. Portanto, os que dizem que a Fé sozinha não salva e que as obras são também necessárias e aqueles que dizem que a Fé salva sem obras, sofrem de uma lacuna na compreensão desta matéria: porque se não há Obras, então a Fé está como morta e, se ela está morta é, além disso, falsa; porque na Fé verdadeira existe Cristo, a Verdade e a Vida. Se não é verdadeira então é falsa, isto é, um mero conhecimento exterior. Mas pode essa falsa fé salvar o homem? Se ela é verdadeira, então é também uma Fé viva, isto é, uma Fé operante. E se essa Fé já produz obras, que outras serão ainda necessárias?

O Apóstolo divinamente inspirado dizia: "Mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras" (Tiago, 2-18). Ele reconhece porventura duas fés? Não, mas condena uma ostentação insensata. "Tu crês que há um Deus; fazes bem, mas também os demônios o crêem, e estremecem." Reconhece ele, porventura, que existe fé nos demônios? Não, mas detecta a falsidade de uma qualidade que até os demônios possuem. "O corpo," diz ele, "sem o espírito está morto, assim também, a fé, sem as obras é morta." Está ele a comparar a Fé com o corpo e as obras com o Espírito? Não, porque essa comparação seria falsa, mas o significado das suas palavras é claro: assim como um corpo sem o espírito não pode ser chamado com propriedade uma pessoa, mas um cadáver; assim também a fé que não produz obras não pode ser considerada verdadeira, mas falsa, isto é, um conhecimento exterior, infrutífero e até alcançável pelo demônio. Aquilo que está escrito com simplicidade deve também ser lido com simplicidade. Aqueles que interpretaram o Apóstolo Tiago de modo a provar a existência de uma fé morta e de uma fé viva e, portanto, a existência de duas fés, não compreenderam as suas palavras porque ele não testemunha isso, mas sim o contrário. De igual modo quando o Grande Apóstolo dos Gentios disse "para que serve a fé sem o amor, mesmo que essa fé remova montanhas?" (Cf. I Cor 13:2), ele não admite a possibilidade da existência dessa fé sem amor, mas assumindo essa possibilidade prova que seria inútil. A Sagrada Escritura não pode ser interpretada com conhecimento mundano, o qual colide com as palavras, mas sim com sabedoria divina e simplicidade espiritual. 0 Apóstolo, ao definir a fé, disse: "é a evidência das coisas não vistas e o fundamento das que se esperam" (Tg 2:18, N. dos T.), não simplesmente das coisas que aguardamos ou das que estão para vir. Se nós temos esperança também desejamos e se desejamos também amamos, porque é impossível desejar o que não se ama. Ou será que os demônios também têm esperança? No entanto existe apenas uma fé, e quando perguntamos: "A verdadeira fé pode salvar sem obras?" fazemos uma pergunta disparatada, ou pelo contrário, não fazemos pergunta nenhuma. Porque a Fé verdadeira é a Fé viva que produz obras, é a Fé em Cristo e Cristo na Fé.

Aqueles que se enganaram seguindo uma fé morta, isto é, uma fé falsa, ou um simples conhecimento exterior, em vez de uma Fé verdadeira, foram tão longe no seu erro que sem se aperceberem fizeram dela um oitavo falso sacramento. A Igreja tem Fé, mas é uma Fé viva, porque Ela também é santa. Mas se se presume que algum homem ou algum Bispo tem necessariamente fé, o que se poderia dizer? Que tem santidade? Não, porque pode cometer crimes ou imoralidades. Mas essa fé habita nele mesmo que seja pecador. Então a fé que habita nele é um oitavo sacramento, visto que qualquer Sacramento é a ação da Igreja no indivíduo mesmo que ele seja indigno. Mas através desse sacramento que espécie de fé habita nele? Uma fé viva? Não, porque é um pecador, mas uma fé morta, isto é, um conhecimento exterior acessível até aos demônios. E é isto um oitavo sacramento? Desta maneira um afastamento da verdade traz consigo a sua própria punição (Tg 2:19, N. dos T.).

Devemos compreender que nem a fé, nem a esperança e nem o amor salvam por si próprios, (salvar-nos-á a fé na razão, ou a esperança no mundo, ou o amor pela carne?). Mas é o objeto da Fé que salva. Se um homem crê em Cristo ele é salvo pela sua Fé em Cristo, se acredita na Igreja, é salvo pela Igreja. Se acredita nos Sacramentos de Cristo, é salvo por eles, porque Cristo Nosso Senhor está na Igreja e nos Sacramentos. A Igreja do Antigo Testamento era salva pela Fé num Redentor que viria. Abraão foi salvo pelo mesmo Cristo que nós. Ele possuía Cristo em esperança, enquanto que nós 0 possuímos em júbilo. Portanto, aquele que deseja o Batismo é batizado em esperança, enquanto que aquele que recebeu o Batismo o possui em júbilo. Ambos são salvos por uma Fé idêntica no Batismo. Mas alguém pode dizer: "se a Fé no Batismo salva, qual é a utilidade de ser realmente batizado?." Se não recebe o Batismo por que é que o desejou? E evidente que a fé que faz desejar o Batismo deve ser completada pelo próprio Batismo, que será o seu júbilo. Assim, também a casa de Cornélio recebeu o Espírito Santo antes de receber o Batismo, enquanto que o eunuco foi insuflado com o mesmo Espírito imediatamente depois do Batismo (Atos 10:44-47; 8:38; Cf. 2:38). Porque Deus pode glorificar o Sacramento do Batismo tanto antes como depois da sua administração. Assim, a diferença entre "opus operans" e "opus operatum" desaparece. Sabemos de muitos que não batizavam as suas crianças, de muitos que não lhes permitiam a comunhão dos Santos Mistérios e de outros que não os crismavam. Mas a Santa Igreja compreende as coisas de outra maneira batizando crianças, confirmando-as e admitindo-as à Comunhão. Ela determinou estas coisas não por condenar as crianças não batizadas, cujos anjos sempre contemplam a face de Deus (Mat. 18:10), mas de acordo com o Espírito de Amor que vive no seu seio, de maneira que os primeiros pensamentos de uma criança chegada à idade do entendimento sejam não apenas um desejo, mas também uma felicidade pelos Sacramentos que já tem recebido. E pode alguém conhecer a alegria de uma criança que, segundo tudo indica, não chegou ainda ao entendimento? Não exultou, porventura, de alegria, por Cristo o profeta ainda não nascido? (Lucas 1:41)? Privaram as crianças do Batismo, da Confirmação e da Comunhão os que herdaram a cega razão do paganismo fanático e não compreenderam a majestade dos Sacramentos de Deus, exigindo razões e costumes para tudo e, tendo submetido a doutrina da Igreja a explicações escolásticas, nem sequer desejam rezar, a não ser que vejam na oração algum objetivo direto ou alguma vantagem. Mas a nossa lei não é de escravidão ou de trabalho mercenário, trabalhando pelo salário, mas uma lei de adoção de filhos e de Amor que é livre.

Nós sabemos que quando um de nós cai, cai sozinho. Mas ninguém é salvo sozinho. Aquele que é salvo, o é na Igreja, como membro dela, e em unidade com todos os seus outros membros. Se alguém crê, então está em comunhão de Fé; se ama, está em comunhão de Amor; se reza está em comunhão de Oração. Por conseguinte, ninguém pode fundamentar a sua esperança nas suas próprias orações, e quando alguém reza pede à Igreja no seu conjunto que interceda, não porque tenha dúvidas da intercessão de Cristo, o único Advogado, mas na certeza de que toda a Igreja reza sempre por todos os seus membros. Todos os anjos rezam por nós, os Apóstolos, os Mártires e os Patriarcas e, acima de todos eles, a Mãe de Nosso Senhor, e esta santa unidade é a verdadeira vida da Igreja. Mas se a Igreja, visível e invisível, reza sem cessar, porque é que lhe havemos de pedir que reze? Não pedimos nós misericórdia a Cristo Deus, apesar da Sua misericórdia antecipar as nossas orações? A única razão pela qual nós pedimos à Igreja que reze é porque sabemos que Ela dá a assistência da sua intercessão mesmo àqueles que a não pedem. E para aqueles que a pedem Ela concede-a numa medida muito maior do que aquela que foi pedida, porque Nela está a plenitude do Espírito de Deus. Assim, nós glorificamos todos aqueles que Deus glorificou e glorifica, porque como haveríamos de dizer que Cristo está vivo dentro de nós se não nos assemelharmos a Cristo? Portanto, nós glorificamos os Santos, os Anjos, os Profetas e acima de todos a Puríssima Mãe de Nosso Senhor Jesus, não reconhecendo que Ela tenha sido concebida sem pecado ou que tenha sido perfeita (porque somente Cristo é sem pecado e perfeito), mas recordando que a primazia, para lá de todo o entendimento humano, que Ela tem acima de todas as criaturas de Deus, testemunhada pelo anjo e por Isabel e, acima de todos, pelo próprio Salvador quando apontou João, o Seu grande Apóstolo e profeta dos mistérios, para desempenhar os deveres de filho e para A servir.

Na medida em que cada um de nós requer orações de todos, assim cada um deve dirigir as suas orações em benefício de todos (os vivos e os mortos, e mesmo aqueles que ainda não nasceram). Ao rezar, nós o fazemos com toda a Igreja, para que o mundo possa atingir o conhecimento de Deus. Nós rezamos não somente pela geração presente, mas também por aqueles que no futuro Deus quiser chamar à vida. Nós rezamos pelos vivos para que a Graça de Deus desça sobre eles e pelos mortos, para que se tornem merecedores da visão da face de Deus. Nós não conhecemos nenhum estado intermediário para as almas que ainda não foram recebidas no Reino de Deus nem condenadas ao tormento, porque dum estado como esse não recebemos qualquer ensinamento nem dos Apóstolos nem de Cristo. Não reconhecemos o Purgatório, isto é, a purificação das almas pelo sofrimento através do qual possam ser redimidas pelas suas próprias obras ou pelas de outrem. Porque a Igreja não sabe nada acerca da salvação por meios exteriores, nem através de sofrimentos, sejam eles quais forem, exceto os de Cristo, nem por negócio com Deus, como no caso do homem que quer comprar a sua salvação através de boas obras.

Todo este paganismo permanece com os herdeiros da sabedoria pagã, com aqueles que se orgulham da posição, nome ou domínio territorial e que instituíram um oitavo sacramento de fé morta. Mas nós rezamos em espírito de amor, sabendo que ninguém será salvo de outro modo que não seja pelas orações de toda a Igreja, na qual Cristo vive, sabendo e acreditando que enquanto não chegarem os fins dos tempos todos os membros da Igreja, tanto os vivos como os que já partiram, estão incessantemente a ser aperfeiçoados pelas orações recíprocas. Os Santos que Deus glorificou estão muito acima de nós, mas acima de todos está a Santa Igreja que contém no seu interior todos os Santos e reza por todos, como se pode constatar na Liturgia divinamente inspirada. Na Sua oração a nossa oração é também ouvida, ainda que sejamos indignos de ser chamados filhos da Igreja. Se enquanto veneramos e glorificamos os Santos rezamos para que Deus os glorifique, não ficamos sujeitos ao peso do orgulho, porque a nós que recebemos autorização para chamar a Deus "PAI NOSSO" foi-nos concedido igualmente rezar: "Santificado seja o Teu Nome, venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua Vontade." E se nos é permitido pedir que Deus glorifique o Seu Nome e cumpra a Sua Vontade, quem nos proibirá de Lhe rezarmos para que glorifique os Seus Santos e que dê repouso aos Seus eleitos? Porque por aqueles que na verdade não pertencem ao número dos eleitos nós não rezamos, assim como Cristo não rezou por todo o mundo mas por aqueles que o Pai Lhe confiou (João 17). Ninguém diga: "Que oração devo repartir pelos vivos e pelos que já partiram, quando as minhas orações são insuficientes até para mim próprio?." Porque se não se é capaz de rezar, de que servirá faze-lo nem que seja só por si próprio? Mas em verdade o Espírito de amor reza em nós. De igual modo ninguém diga: "Qual é o benefício da minha oração por outro, quando ele reza por si próprio e Cristo intercede por ele?." Quando um homem reza, é o Espírito de amor que reza dentro dele. Que ninguém digas: "impossível modificar o julgamento de Deus," porque as tuas orações estão incluídas nos planos de Deus e Ele previu isso. Se és um membro da Igreja, as tuas orações são necessárias para todos os seus membros. Se a mão disser que não necessita do sangue do resto do corpo e, por sua vez, não lhe der o seu sangue, ela definhará. Assim, qualquer membro é também necessário à Igreja, enquanto permanecer no seu seio e, se se afastar da comunhão com Ela, sucumbe e deixa de ser um membro da Igreja. A Igreja reza por todos e nós rezamos conjuntamente também por todos, mas a nossa oração deve ser verdadeira, uma autêntica expressão de amor e não um mero formalismo de palavras. Não conseguindo amar todos os homens, nós rezamos por aqueles que amamos e a nossa oração não é hipócrita. E rezamos a Deus para que possamos amar e rezar por todos sem hipocrisia. O sangue da Igreja é a oração recíproca, e o seu alento – a glorificação de Deus. Nós rezamos em Espírito de amor, não por interesse: em espírito de liberdade filial, não segundo a lei do mercenário que exige o seu pagamento. Todo aquele que pergunta: "Qual é a utilidade da oração?," reconhece-se em servidão. A verdadeira Oração é o verdadeiro Amor.

O Amor e a Unidade estão acima de tudo, mas Amor exprime-se de muitas maneiras: por obras, pela oração e por cânticos espirituais. A Igreja dá a sua benção a todas estas expressões do Amor. Se alguém não for capaz de exprimir o seu amor por Deus através de palavras, mas através de uma representação visível, isto é, uma imagem (ícone), a Igreja condena-o? Não, mas Ela condenará aquele que o condenar, porque está a condenar o Amor de outrém. Sabemos que sem o uso de uma imagem o homem também pode ser salvo e tem sido salvo, e se o amor de alguém não requerer nenhuma imagem então será salvo sem ela. Mas se o amor de um irmão requerer uma imagem, então quem condenar o amor desse irmão condena-se a si próprio. Se um cristão não se atreve a ouvir sem um sentimento de reverência uma oração ou um cântico espiritual composto por um seu irmão, como é que se atreve a olhar sem reverência para uma imagem que o amor desse irmão, e não as suas qualidades artísticas produziram? 0 Senhor, que conhece os segredos do coração, mais do que uma vez glorificou uma oração ou um Salmo. Alguém 0 poderá proibir de glorificar uma imagem ou as sepulturas dos santos? Qualquer pode dizer: "O Antigo Testamento proibiu as representações de Deus," mas esse que julga entender melhor do que a Santa Igreja as palavras que Ela própria escreveu (isto é, as Escrituras) não percebe que não foi a representação de Deus que o Antigo Testamento proibiu (porque permitiu também o Querubim, a serpente de bronze e a escrita do Nome de Deus), mas sim que o homem fizesse para si próprio um Deus à semelhança de qualquer objeto da terra ou do céu, visível ou mesmo imaginário?

Se alguém pinta uma imagem para se lembrar do Deus invisível e inconcebível, não está a fazer para si um ídolo. Se imagina Deus por si próprio e pensa que Ele é como lhe apresenta a sua imaginação, então fabrica para si próprio um ídolo — é este o significado da proibição do Antigo Testamento. Mas uma imagem – ícone — (isto é, o Nome de Deus pintado a cores), ou uma representação dos Seus Santos, feita por amor, não é proibida pelo Espírito de Verdade. Que ninguém diga: "Os cristãos estão a caminho da idolatria," porque o Espírito de Cristo que preserva a Igreja é mais sábio do que a ciência calculista do homem. Um homem pode, na realidade, ser salvo sem imagens; no entanto não deve rejeitar as imagens.

A Igreja aceita qualquer rito que exprima uma aspiração espiritual em relação a Deus, assim como aceita orações e imagens (ícones), mas reconhece acima de todos os ritos a Sagrada Liturgia, pela qual se exprime toda a amplitude da Doutrina e Espírito da Igreja, e isto não apenas por sinais convencionais ou símbolos de qualquer espécie, mas pela palavra de vida e verdade inspirada de cima. Somente conhece a Igreja aquele que compreende a Liturgia. Acima de tudo isto está a unidade da Santidade e do Amor.

 

X. Salvação.

A Santa Igreja, confessando que espera a Ressurreição dos mortos e o Juízo Final de toda a Humanidade, reconhece que a perfeição de todos os seus membros será completada juntamente com Ela, e que a vida futura pertence não apenas ao Espírito mas também ao corpo espiritual; ressuscitado porque apenas Deus é um Espírito perfeitamente incorpóreo. Deste modo Ela rejeita o orgulho daqueles que pregam a doutrina do estado incorpóreo para além do túmulo e, consequentemente, desprezam o corpo com o qual Cristo se elevou dos mortos. Esse corpo não será carnal, mas será parecido com o estado corporal dos anjos, tanto mais que Cristo disse que nós seremos como os Anjos.

No Juízo Final a nossa justificação em Cristo será revelada em toda a sua plenitude. Não apenas a nossa santificação, mas também a nossa justificação, porque ninguém foi ou está até agora completamente santificado, mas há ainda necessidade de justificação. Cristo induz tudo o que há de bom em nós, tanto na Fé como na Esperança, como no Amor enquanto nós nos submetemos exclusivamente à Sua ação, mas ninguém se submete completamente. Portanto, há ainda necessidade de justificação pelos sofrimentos e sangue de Cristo. Quem, então, pode continuar a mencionar os méritos das suas próprias obras ou o tesouro dos seus méritos e orações? Apenas aqueles que ainda estão a viver sob uma lei de escravidão. Cristo opera todo o bem em nós, mas nunca nos submetemos completamente. Ninguém, nem mesmo os Santos, como o próprio Salvador disse. A Graça opera em todos e a Graça é dada gratuitamente a todos, para que ninguém se possa lastimar, mas não de igual modo para todos. Não de acordo com uma predestinação, mas de acordo com a presciência de Deus, tal como disseram os Apóstolos. Na verdade, uma aptidão menor é dada ao homem no qual o Senhor previu negligência, de modo que a rejeição de um dom maior não sirva para aumentar a condenação. E nós não aumentamos por nós mesmos os dons com os quais fomos dotados, mas entregarmos aos mercadores para que mesmo aqui não haja qualquer mérito da nossa parte, mas apenas uma não resistência à Graça geradora de obras. Assim desaparece a distinção entre Graça "suficiente" e "eficaz." A Graça opera tudo. Se um homem se submeter a ela, o Senhor é consumado nele e aperfeiçoa-o. Mas que o homem não se gabe a si próprio da sua obediência porque essa obediência é produto da Graça. Mas nós não nos submetemos inteiramente. Assim, além da santificação nós também pedimos justificação.

Tudo isto se consuma no Juízo Final e o Espírito de Deus, que é o Espírito da Fé, Esperança e Amor, revelar-se-á em toda a Sua plenitude e todos os dons atingirão o ápice de perfeição. Mas, acima de tudo, estará o Amor. Não se deve pensar que a Fé e a Esperança, que são dons de Deus, perecerão (porque não são separáveis do Amor), mas somente o Amor preservará o seu nome enquanto que a Fé, chegada à sua consumação, tornar-se-á então completo conhecimento interior e contemplação e a Esperança tornar-se-á júbilo porque mesmo sobre a Terra nós sabemos que quanto mais forte ela for mais jubilosa se torna.

 

 

XI. A Unidade da Ortodoxia.

Pela vontade de Deus a Santa Igreja, depois da ocorrência de inúmeros cismas e o do Patriarcado Romano, foi preservada nas Dioceses e Patriarcados gregos e apenas estas comunidades se podem reconhecer mutuamente como completamente cristãs visto que ou preservaram a sua unidade com os Patriarcados do Oriente, ou vieram a entrar no seio dessa unidade. Porque como Deus é um, assim uma Igreja, e dentro d'Ela não há dissensão nem discórdia.

E por isso a Igreja é chamada Ortodoxa, Oriental ou Greco-Russa, mas estas designações são meramente temporais. A Igreja não deve ser acusada de orgulho por se chamar a si própria Ortodoxa, uma vez que também se chama Santa. Quando as falsas doutrinas tiverem desaparecido não haverá mais necessidade da existência da designação Ortodoxa, porque então não haverá Cristandade errônea. Quando a Igreja se tiver espalhado ou quando a totalidade das nações tiverem entrado para o seu seio, então todas as designações locais cessarão. Porque a Igreja não está sujeita a nenhuma zona geográfica e Ela também não se gaba de possuir nenhum pensamento particular ou território em especial, nem preserva a herança do orgulho pagão, mas chama-se a si própria Una, Santa, Católica e Apostólica, sabendo que o Mundo inteiro lhe pertence e que nenhuma localidade em especial possui qualquer significado particular, mas apenas temporariamente pode e deve servir para a glorificação do Nome de Deus, de acordo com a Sua insondável Vontade.

 

Folheto Missionário número P072

Copyright © 2002 Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Redator: Bispo Alexandre Mileant

(church_one_khomiakov_p.doc, 09-17-2002)

 

 

Edited by

Date

Fr. George Petrenko

9/17/2002