Cartas de uma Conversão

Marianna Friesel

 

Tradução de Rafael Resende Daher

 

 

Conteúdo:

Primeira Carta:

A Bíblia Concílios A Igreja A Santa Tradição

Segunda Carta:

Salvação Santos Maria, Mãe de Deus Intercessão dos Santos Intercessão pelos mortos Relíquias Ícones Padres Monges A Eucaristia Batismo de Crianças Incenso e Velas Vinho

Terceira Carta:

Os erros dos Protestantes Os erros dos Católicos Romanos Sobre os Cristãos que estão fora da Igreja Ecumenismo

 

Agradecimentos.

Este trabalho é o resultado do suor de muita gente que merece ter seu nome citado. Gostaria de agradecer os que enviaram comentários, sugestões e revisões, e também o leitor Isaac Lambertson que ajudou na edição. Também gostaria de agradecer o Padre Gregory Williams por sua paciente ajuda. Também gostaria de dar minha particular gratidão a meu padre, Padre Stephen Wallsteadt, e todos párocos da Igreja Ortodoxa Cristo Salvador, que me ajudaram a fazer tudo isso, dando-me coragem e assistência. Além de agradecer as orações de todos aqueles que me conduziram a verdadeira Igreja. Que Deus esteja com vocês durante muitos anos.

Primeira Carta

Queridos pais,

Após nossa conversa ontem, no telefone, decidi que seria mais fácil explicar porque virei Ortodoxa respondendo suas perguntas por cartas. Esta é a melhor maneira que encontrei para poder pensar, e organizar minhas respostas, e também pensar em respostas para perguntas futuras. Decidi começar nossa correspondência, discutindo sobre as fundações de nossas crenças, como: as autoridades que reconhecemos como verdade e por que a reconhecemos como Verdade. Finalmente, nas próximas cartas, escreverei sobre a própria Igreja, quem são seus membros, e o que a Igreja ensina sobre o ecumenismo.

 

A Bíblia.

Primeiro, iremos discutir a Bíblia. Quando você olha para a Igreja Ortodoxa, percebe que muito do que os ortodoxos acreditam e fazem, não estão mencionadas especificamente na Bíblia. Esta diferença ocorre porque os ortodoxos aceitam outras autoridades e fontes da Verdade, junto com a Bíblia. Mas antes de explicar estas autoridades, gostaria de explicar porque acredito na Bíblia. Quando comecei a estudar a Ortodoxia, fiquei pensando na pergunta: "Porque devo acreditar que a Bíblia é a palavra de Deus? Porque isto está nos livros que ela contêm? Porque outros livros não fazem parte dela?"

Veja bem, descobri que os cristãos do primeiro século possuíam diferentes opiniões sobre quais livros eram Escrituras de Deus, e quais eram Escrituras dos Homens (alguns de sábios, santos, ou falsos e heréticos, escrituras não inspiradas). Por exemplo, no ano 300 D.C. muitas questões sobre a validade dos livros de Tiago, II Pedro, II João e III João, e também diversas opiniões sobre o livro do Apocalipse (Revelação de João). Havia um livro chamado "Evangelho Segundo Pedro na existência". Há uma carta chamada Didache, que seria uma carta enviada pelos Apóstolos no primeiro século, depois que se encontraram no Concílio de Jerusalém (cf. Atos 15:1-32). Há cartas de São Policarpo e Ignácio, discípulos de São João o Apóstolo, assim como São Marcos, Mateus e Lucas eram discípulos dos outros apóstolos, mas mesmo assim seus evangelhos foram incluídos na Bíblia, diferente do que ocorreu com São Policarpo e Ignácio. Já li estes livros, eles não sendo contra a Bíblia Sagrada, são livros muito bons, mas mesmo assim não são considerados como parte da Bíblia. Quem julga estes livros, os homens ou Deus?

Historicamente, posso afirmar que os livros que estão na Bíblia Sagrada, estão nela por decisões dos Concílios da Igreja, que decidiam sobre estes assuntos (e outros também). Os primeiros Concílios locais ocorreram em 58-65 e 419, e os Concílios universais ocorreram em 691 e 787 D.C. Estes Concílios tomaram decisões com a confirmação da Igreja para tornar as palavras estabelecidas por Deus. Muito tempo depois, quando protestantes se rebelaram e se separaram dos católicos romanos (1400 D.C), mantiveram as mesmas doutrinas sobre a Bíblia, mas descartaram diversas outras. Este é o ensinamento sobre os livros da Bíblia, a comunicação de Deus com o homem. Esta é a razão histórica porque acreditamos que a Bíblia é a palavra de Deus. Foram estes os critérios utilizados.

Agora, qual método determinava os conteúdos que a Bíblia eram utilizados para que um Concílio de Bispos julgassem um assunto doutrinal? Estes métodos foram ensinados pelos apóstolos, e a própria Bíblia aponta vários.

Em Atos 15:1-32, vemos uma disputa doutrinal, cristãos e pagãos discutiam sobre se deveriam seguir os rituais judaicos. Os apóstolos decidiram não seguir os rituais judaicos, e mandaram uma carta para todas as Igrejas, informando sobre a decisão. Esta foi uma disputa doutrinal julgada pelos apóstolos. Mas, você pode dizer: "este Concílio era composto por apóstolos. Quais bispos teriam autoridade para fazer isso?". É historicamente correto que os apóstolos, em que cada cidade que ensinavam, deixavam bispos, que deveria presidir os diversos serviços, como: designar anciões (presbíteros ou padres) em cada igreja, consagrar as pessoas escolhidas para o diaconato, e se encontrar com outros bispos para decidir sobre disputas doutrinais. Assim, quando uma disputa doutrinal surgia, os bispos se juntavam para discutir o assunto. Esta é a Tradição que temos e seguimos. Esta é a base para acreditarmos que os Concílios possuem autoridades, e que devemos obedecer. Esta autoridade é estabelecida pela Bíblia e atesta validez à Bíblia. É Deus que separa o joio do trigo, as verdadeiras decisões das heresias.

 

Concílios

Porém, um Concílio de Bispos não é necessariamente infalível (embora os enganos sejam muito raros). Vemos que em Atos 15, a carta da Igreja não declarou "Esta é a verdade, a decisão final, a lei", mas disseram que as decisões pareciam boas ao Espírito Santo e ao Concílio Apostólico. Por isso, podemos deduzir que os apóstolos ofereciam suas decisões para a confirmação e aprovação da Igreja. i.e. "parece bom para vós, concordam?" Para que sua decisão fosse tida como final, os apóstolos teriam feito alguma declaração como "O Espírito Santo nos falou assim" ou "Se alguém discordar, que seja tido como incrédulo". Considerando o número de disputas na Igreja desta época, de acordo com o testemunho de São Paulo, os apóstolos deveriam fazer uma forte e poderosa declaração. Então, o uso da palavra "parece", como ensina a Igreja, define que não é válida a decisão de um Concílio se a Igreja não a aceitar completamente. Quando aprovado por consenso na Igreja, as decisões viram dogmas, que devem ser seguidos por todos os cristãos. Deste modo, a Igreja assegurou muitos Concílios. Alguns Concílios locais buscavam suprimir alguma heresia local ou decidir assuntos locais sobre ordem e disciplina. Mas vários Concílios representavam a Igreja inteira, sendo verdadeiro. Esta é a base da autoridade da Igreja para julgar os Concílios.

A Igreja.

Consideremos agora a autoridade da Igreja em assuntos diferentes dos Concílios. É um ensinamento da Bíblia que a Igreja é um Corpo, não uma organização "solta", onde indivíduos buscam suas próprias verdades. A Igreja é una, uma submissão mútua de cada membro. Assim, a Igreja como um conjunto – todos os membros trabalhando juntos – diferenciando o bem do mal pela graça do Espírito Santo. O Espírito Santo guia toda Igreja, não cada indivíduo. Se Deus concedesse para os indivíduos, revelações separadas, estaria desconsiderando o nível espiritual e emocional de cada um, Ele estaria dando uma oportunidade para o indivíduo entrar no pecado do orgulho, o mais sutil e difícil de se descobrir e purgar. Assim, para não tentar os "cristãos mais fracos", Deus nos fala pela Igreja inteira, e por certos santos e padres. Deus escolhe estes indivíduos, pois são amadurecidos espiritualmente, cristãos cujo o estilo de vida agüenta o testemunho eloqüente da fé, e é a Igreja que confirma a validade de suas mensagens. Assim como os portões do inferno podem prevalecer contra estes indivíduos, estes não podem prevalecer contra a Igreja que Cristo fundou, pois ele não permite que seu Corpo entre em erro. Se esta doutrina sobre a Igreja parece estranha para você, eu lhe ofereço um verso que influenciou muito minha conversão para a Ortodoxia: "a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade." (I Timóteo 3:15). Se a Igreja é o pilar e sustentáculo da verdade, devemos escutar e obedecer seus ensinamentos. Cristo nos disse que o Espírito Santo nos conduzirá em toda verdade (João 16:13). No texto grego, "vós" é plural, tendo assim que recorrer a toda Igreja ou seus discípulos. Se você interpreta isto destas maneiras, caminha para a Ortodoxia. Se você interpretar que isto significa a Igreja, você segue seus ensinamentos, caminhando para a Ortodoxia. Se você interpreta isto como os discípulos, você deve obedecer as passagens bíblicas mencionadas nesta carta, sobre os Concílios da Igreja e suas Tradições, caminhando novamente para a Ortodoxia. O Espírito Santo não conduz cada Cristão individualmente e separadamente, pois estes são enganáveis e imaturos, o Espírito Santo se faz conhecido nos ensinamentos da Igreja. Por isso não acreditamos na infalibilidade de nenhum homem que não seja o Deus Cristo Jesus. O papa, um protestante sincero, ou um santo estão sujeitos ao erro. Mas o Espírito Santo apresentará sua Igreja a seu Noivo se uma mancha ou ruga (Efésios 5:27). E se você acredita que as falsas doutrinas não são manchas ou rugas, veja o que São Paulo diz aos Gálatas sobre os erros em que estavam caindo (Gálatas 1:6-9, 5:4, 7:10). Assim a Igreja como um Corpo, falando apenas pelos Concílios e pelos seu santos pais, guia os Cristãos em suas convicções e ações.

A Santa Tradição.

É muito claro na Escritura a autoridade da Santa Tradição, dos Concílios e da Igreja. Nos sabemos que muitas pessoas tentam interpretar a Bíblia, e como são facilmente enganadas e distorcidas. Por isso necessitamos dos ensinamentos Apostólicos, como São Paulo ensinou (veja o tópico anterior), para nos guiar na interpretação da Bíblia. Não podemos discernir corretamente o que a Bíblia quer nos dizer, se negarmos suas instruções sobre a Tradição, os Concílios e a Igreja. Estaríamos negando a mesma coisa que buscamos entender. A própria Bíblia nos mostra que a interpretação não é particular, "sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal." (II Pedro 1:20). Aqui São Pedro nos mostra que os Cristãos não devem buscar uma verdade individual (como é a crença protestante). Pelos Concílios e pelos antigos ensinamentos da Santa Tradição, a Igreja celebra a verdade, e não uma Bíblia cheia de contradições, sendo guiada em sua interpretação.

A idéia da Igreja ter novos Concílios para estabelecer novos rituais, revelações e interpretações dos ensinos passados parece estranha, mas perceba que Deus sempre deu revelações progressivas aos homens. Claro que Deus não muda, e nem a verdade, mas freqüentemente Ele soma e clarifica as informações já conhecidas. Por exemplo, Enoque foi um profeta, mas Deus estabeleceu as pessoas escolhidas com Abraão. Abraão era um amigo de Deus, mas Deus deu a revelação da lei para Moisés. Moisés teve sua primeira visão na sarça ardente, e depois fez a Arca da Aliança e teve a revelação da Lei. Então, temos revelações posteriores na história dos Israelitas. Deus também nos ensinou pelos profetas e livros da sabedoria, não contradizendo o que foi afirmado antes, apenas completando ou enriquecendo o que já tinha sido ensinado. Há também a revelação que Deus deu para São João Batista. O Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é a revelação perfeita de Deus, você poderia pensar que não há necessidade de nenhuma revelação adicional. Mas é claro que após a ascensão de Cristo, a Igreja necessitasse de ensinamentos sobre o que Jesus disse. Deus se revelou a Saulo na estrada para Damasco, São Paulo passou muitos anos no deserto aprendendo sobre Deus (mais tarde ele assegurou para os apóstolos que tinha aprendido tudo corretamente). E além isso, há outros testemunhos em Atos dos apóstolos na Igreja (Atos 11:27, 13:1, 15:32, 21:9, além de Efésios 4:11 e outras Epístolas), além de "Quando vos reunis, quem dentre vós tem um cântico, um ensinamento, uma revelação, um discurso em línguas, uma interpretação a fazer - que isto se faça de modo a edificar." (I Coríntios 13:26). Este é o testemunho da Bíblia que nos mostra que Deus continua ao longo dos tempos revelando a Verdade a seu povo.

Eu não entendia porque a Igreja Ortodoxa fazia certas coisas que não estavam mencionadas especificamente na Bíblia. Por ela ser a Igreja, guiada pelo Espírito Santo, que determina o que a Santa Tradição ensina, mas a Bíblia está sempre em primeiro lugar. Pela orientação do Espírito Santo, os bispos e a Igreja construiu estes livros, isto é, a palavra de Deus. Porém, a Bíblia testemunha a autoridade da Igreja em assuntos doutrinais (I Timóteo 3:15), e também testemunha autoridade a Santa Tradição (I Coríntios 11:2. Filipenses 4:9, II Tessalonicenses 2:15). A Bíblia e a Santa Tradição nos ensinam sobre a autoridade dos bispos e os métodos corretos para achar respostas doutrinais, não em opiniões individuais, mas sim com os bispos da Igreja reunidos em Concílios – com a Igreja testemunhando pelo Espírito Santo a verdade ou falsidade da decisão. Estas são as diferentes autoridades: a Bíblia, Santa Tradição, Concílios, Igreja e Bispos, todos de acordo, um completando o outro. Não se contradizem, e nem entram em conflito. De fato, são interdependestes. Deus estabeleceu cada um deles, de uma forma para serem interdependentes, cada um conferindo e equilibrando o outro, para que não possamos ser enganados pelo "mal que sempre deseja enganar", e que fiquemos como crianças de Deus, Nele não há nenhuma mentira ou falsidade.

Isto é tudo que tenho para escrever neste momento. Por favor, pense e reze sobre tudo que disse aqui. Vocês estão em minhas orações, porque eu sei que precisam de ajuda para entender ou lidar com estas idéias. Eu peço para que Deus Pai, pelo seu Filho Jesus Cristo e pelo poder do Espírito Santo, os concedam a verdade, para que estejam junto com Ele.

Com muito amor, sempre

Marianna

Segunda Carta

Queridos pais,

Recebi a carta de vocês, e entendo a razão de suas confusões e indecisões. Vocês me disseram que concordam com a primeira carta que escrevi, mas ainda possuem muitas perguntas resolvidas sobre a validade de muitas coisas que fazemos e acreditamos. Irei escrever esta nova carta a resposta para estas perguntas.

Salvação.

Irei começar como uma breve resposta para as doutrinas protestantes de salvação. De acordo com Jesus Cristo e os apóstolos, ganhamos a salvação pela graça de Deus, e isto é um processo que começa quando a pessoa entra na Igreja, e que pode acabar somente com a morte. A Igreja nunca afirmou a crença de que uma experiência mística pode levar alguém para o céu. Jesus disse: "Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mateus 24:13). Este ensinamento sobre a salvação foi passado pelos apóstolos. Quando um cristão busca sua salvação, deve passar por um processo para reformar sua vida, motivado pelo seu amor a Deus. O Espírito Santo recebido pelo Batismo e pela Crisma, é o começo da salvação, mas o cristão deve continuar sempre, sempre semeando sua semente (Lucas 8:15).

A Salvação não é apenas uma recompensa para nossas ações, que são como roupas imundas (Isaías 64:6), mas antes o Cristão deve buscar amor a Deus, e por causa desse amor, ser como Deus. Deus, em seu amor e clemência, vê a vontade do cristão, e mesmo com todos fracassos, Deus concede a salvação.

Ninguém é predestinado para o céu ou para o inferno, isto é uma heresia antiga que a Igreja sempre descartou, e que foi revivida durante a Reforma protestante. O fato de Deus poder ver nosso princípio e nosso fim não nega nosso livre-arbítrio, isso somente testemunha que Deus é verdadeiramente Onisciente, sabendo o que fizemos e o que faremos no futuro. Um exemplo do cotidiano é quando você já sabe o que uma pessoa dirá ou fará. Ela tem livre arbítrio, mas você já sabe o que a pessoa irá escolher. Deus, como sabe de tudo, pode prever tudo desde o princípio. Ele sabe de nossas escolhas, da maneira que desejamos. Mas tudo é do nosso livre-arbítrio, não havendo desculpas para nossas decisões erradas.

Deus nos dá a escolha de como viver nossas vidas. Nossas decisões revelam a aceitação de Deus e de sua graça. Assim, a salvação é algo que a pessoa escolhe durante toda sua vida, e não apenas algo ganho em uma manhã de domingo. É algo que devemos nos esforçar durante toda nossa vida, assim como São Paulo descreve em I Tessalonicences 5:17, orai sem parar. Reze alegremente, em tudo agradeça a Deus, pois este é o testamento que está em Cristo Jesus. Assim, o modo gasto em cada momento da minha vida, determina se estou indo para a salvação ou para perdição, mas a decisão final é de Deus em seu julgamento. É assim que passo meu tempo em busca da salvação, me arrependendo de meus pecados, confiando na clemência de Deus, o obedecendo e o amando, só assim ganharei a clemência de Deus, pois o preço disso é muito alto. Isto é dado por Deus, que ama muito toda humanidade.

Santos.

Agora sei que vocês honram e respeitam o Presidente dos Estados Unidos. Se ele entrasse no quarto, vocês levantariam em referência a ele, talvez até travando a língua por estar perto de uma pessoa tão importante. Mas mesmo assim vocês questionam a honra que damos aos santos. Eles passaram por uma luta bem mais difícil que uma eleição: eles venceram Satanás. Nós não deveríamos os honrar muito mais do que alguém que venceu uma eleição temporal? Nós nos alegramos com os vencedores das Olimpíadas, e pensamos muito nos seus esforços e habilidades. Uma vida santa não é infinitamente mais merecedora de honra e respeito?

Mas não pense que nós esquecemos de Deus quando olhamos para estes homens e mulheres. Eles são como luzes para o mundo e para a Igreja, reflexões da clareza de Deus. As vezes gradualmente, quando vejo como a graça de Deus iluminou a vida da Santíssima Virgem Mãe de Deus, ou de algum outro santo, maravilho-me de sua clemência junto a vida daquela pessoa, e fico encorajada para fazer o mesmo. Os santos ficaram assim causa da clemência de Deus, suas situações elogiam Deus, seu Criador e Ajudante. Também, se os santos fazem parte do Corpo de Cristo, deveríamos olhar sempre para eles.

Todos os cristãos são santos, mas há um significado especial para a palavra "santo". Mas aqueles que seus nomes possuem a palavra "santo", foram exemplos cuja vida na erra era exemplar, e nos apontam como guias que devemos seguir os passos no caminho Cristão, assim como São Paulo nos mandou seguir seu exemplo (I Coríntios 4:16,11:1). Também a Igreja testemunha que os santos estão com Deus, o adorando no céu. Pelo ensinamento da Igreja, só Deus conhece os corações dos homens, para poder julgar corretamente. Mas os santos são assim declarados pelos milagres que aconteceram após sua morte, e pelo fato das orações destinadas a eles serem respondidas. Assim a Igreja testemunha a criação destes verdadeiros filhos de Deus, que estão morando com Ele no céu.

Maria, Mãe de Deus.

As razões que damos para honrar Maria, Mãe de Jesus Cristo, são muitas. A primeira, porque ela é uma santa, e como todos os santos é merecedora de honra, respeito e veneração. Mas é uma santa especial, pois de todas as mulheres do mundo, Deus a escolheu para ser a mãe de seu Filho. Deus não a escolheu aleatoriamente, por uma pequena razão. Ele escolheu Maria, pois ela era diferente e santa. Isto já é um razão para honrá-la, porque temos indicação da aprovação de Deus sobre ela. Mas há mais razões. Ela foi a primeira a acreditar que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus, ela foi a primeira "cristã". Ela é o símbolo da Igreja, pois assim como Cristo morou dentro dela, Cristo mora na Igreja. Como Cristo morou em seu útero, fica claro sua missão no mundo. Como ela respondeu para o Arcanjo Gabriel "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela." (Lucas 1:38), assim vemos como é a submissão, obediência e humildade a Deus. Como ela suportou deboches, insultos e abusos por causa de Cristo, nós devemos também suportar. Sua ordem para os criados das bodas de Caná, é um conselho para todos nós: "Fazei o que ele vos disser" (João 2:5). Na verdade, é dito que quem olha para Virgem Maria enxerga Deus, devido a sua virtuosa transparência. Assim ela é pintada na maioria dos ícones, apontando para Cristo, fazendo Ele o principal ponto.

Maria também protege o dogma da Encarnação: o Deus (não um ser humano que se divinizou mais tarde) se fez carne (não era somente espírito) e se tornou Nosso Salvador. Esta é a razão do título "Theotokos", que significa "Mãe de Deus". Ela é para nós a epítome de todos os santos, de tudo aquilo que devíamos ser. Mas é a Deus que adoramos, não a mãe do Filho Dele.

E porque a chamamos de "Mãe de Deus"? Nós a chamamos assim para ficar claro que Jesus era e é Deus, e apenas um homem, como um Messias enviado por Deus. É freqüentemente declarado nos hinos da Igreja que Cristo é pré-eterno, Maria não é a fonte de sua divindade, porque Ele sempre existiu, antes da criação do tempo. Cristo é uma das pessoas da Trindade, que assumiu a humanidade por Maria. Por estas declarações, contestamos a heresia de que Maria é a causa da Trindade. Mas ela é a mãe de Jesus, portanto mãe de Deus, mãe do Deus-homem, Cristo Jesus.

Intercessão dos Santos.

Desde o começo, a Igreja ensinou que os santos rezam no céu pelos que estão na terra, e que podemos pedir suas orações. Quando comecei a estudar está doutrina antes de me tornar Ortodoxa, percebi que uma falsa filosofia estava influenciando minha fé. Ainda não havia entendido as implicações obre a Ressurreição de Cristo. "Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos." (I Coríntios 15:21). "Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos." (Apocalipse 1:18). A morte não pode separar totalmente o Corpo de Cristo, se não haveria dois corpos. Considere também que o Apocalipse (Revelação) nos mostra os mártires clamando para que as perseguições terminassem (Apocalipse 6:9-10). Nos documentos históricos do início da Igreja, encontramos nas histórias de martírio de São Policarpo e Ignácio, datando aproximadamente de 108 e 110 D.C, relatos cristãos rezando aos mártires, e se alegrando por um novo santo no céu a interceder por eles.

Você pode me perguntar como os santos podem ouvir nossas orações. Como os santos fazem parte do Corpo de Cristo, e Cristo é onipresente, pela graça de Deus, qualquer coisa dita a eles pode chegar até eles. Se você procurar mais detalhes, achará regras físicas explicando a Onipresença do Criador, Onipotente de tudo, e que qualquer trabalho finito pode ser encontrado por este ser Infinito. Nossas orações podem ser localizadas pelos santos, isso é tudo que nós precisamos saber.

E você pode perguntar: porque os santos rezam? Como São Tiago, o apóstolo escreveu: "A oração do justo tem grande eficácia." (Tiago 5:16), temos assim a garantia da Igreja dos que foram considerados íntegros por Deus.

Também, sabemos que tudo que o pedirmos, ele nos atenderá (I João 5:14-15), e esses que estão vivos perto do trono de Deus, possuem o conhecimento da vontade Dele. Estando livres dos pecados, e dos perigos desta vida, eles rezam a Deus, e com um grande efeito. Além disso, nem todo cristão pode estar sempre orando pelos outros, mas os santos estão sempre disponíveis. Isto não tira a responsabilidade dos cristãos deste mundo para orar pelos outros, somos obrigados e privilegiados para fazer isso. Ao rezar pelos santos que estão no céu, asseguramos que alguém cuja nossas orações serão ouvidas a qualquer ora, para nossa necessidade e pela ajuda de Deus.

Intercessão pelos Mortos.

Os cristãos que morrem, necessariamente não atingiram a perfeição. Embora os que sejam intitulados "santos" tenham atingido a perfeição, a Igreja acredita que continuam crescendo em abundância na estima de Cristo. "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." (Hebreus 5:8), portanto quanto nós precisamos aprender muito, para que Deus nos conceda a salvação? Então, rezamos porque o Corpo de Cristo é um, pois nenhum membro do Corpo de Cristo deve ser privado da ajuda das orações de intercessão. Assim, rezamos para que os mortos em Cristo, se juntem ao amor de Deus. Até mesmo nossas simples orações os ajudam, e devemos rezar em todos os lugares para todos os cristãos.

Relíquias.

A primeira vez em que um milagre foi feito pela relíquia dos santos está em II Reis 13:20-21, onde um homem morto foi colocado sobre os ossos do Profeta Eliseu, ressuscitando. Temos vemos em Atos 19:11-12, onde as relíquias de São Pedro e São Paulo efetuavam milagres pela graça de Deus. Como podemos negar os milagres das relíquias sagradas, quando temos exemplos destas nas Escrituras? Também temos o exemplo de diversas histórias dos antigos cristãos, que reverenciavam as relíquias dos mártires, como nos conta os martírios de São Policarpo e Ignácio. Não se enganem, é Deus que faz os milagres, mas ele faz pelas relíquias dos santos. Se Deus assim os honra, como nós podemos negar a eles alguma honra?

Parte deste problema para aceitar a validade das relíquias ocorre porque nossa sociedade ensina que o corpo é uma coisa, que é algo onde o ego ou a alma habita: que a pessoa interna é a que verdadeiramente importa, o corpo não passaria de uma roupa que será descartada. Mas as Escrituras nos ensinam que o Corpo é como uma parte integrante da pessoa, como a alma. Se não fosse assim, por que Deus prometeria ressuscitar os mortos com seus corpos íntegros? Então, faria Ele corpos novos, de algum outro material, para a ressurreição? Mas Deus prometeu livrar os corpos dos santos da morte e da corrupção, portanto ensinamos que há uma verdadeira identidade entre o corpo e a alma. Por isso honramos os corpos dos santos, pois estes são uma ligação aos santos no céu, que foram honrados por Deus em milagres e sinais, e porque fomos ensinados a fazer isso desde o princípio.

 

 

Ícones.

Nós veneramos e honramos os ícones (assim como a Cruz e o Evangelho) pois acreditamos que a honra dadas neste símbolos é transmitida a realidade, quer dizer, a pessoa do ícone. Nos honramos a realidade pelo ícone. Como disse São João Damasceno: "O Deus do antigo testamento era incorpóreo e invisível, mas agora, que Deus se fez carne e habitou entre os homens, faço um ícone de Deus, pois ele ficou visível. Não venero o material, mas venero o Criador do material, que padeceu para minha salvação. Não deixarei de venerar o ícone, pois assim farei até a minha salvação chegar". E Leôncio de Chipre (século VII) disse: "Dois pedaços de madeira são unidos para formar uma cruz, e venero o emblema da cruz porque Cristo foi crucificado nela, mas se estiverem separados, os jogo fora ou os queimo. Não veneramos a natureza, e nem a madeira, mas pela madeira abraçamos e veneramos o crucificado. Pois adoramos o criador, e não a criatura". [Há alguma discordância sobre quais palavras inglesas deveriam ser utilizadas corretamente para distinguir a adoração a Deus, e a reverência e honra aos ícones. O problema é que nem no inglês britânico, e nem no americano, não há distinção para a palavra adoração, e para a palavra venerar, que recorremos aos ícones, santos, etc... Espero que este texto deixe claro o que a terminologia inglesa não faz.]

Nota do tradutor: No português ocorre o mesmo. No dicionário Aurélio vemos que a palavra adorar (do latim adorare) significa "Reverenciar, respeitar, amar extremamente, venerar, idolatrar." Muitos protestantes, sem razão nenhuma, buscam neste dicionário para afirmar que reverenciar é errado. Mas se levarmos em conta este dicionário, que de hermeneuta e exegese nada tem, estaríamos colocando até a Bíblia em contradição. Vejamos que em Lucas 18:20, Jesus diz "Honra teu pai e tua mãe". Ou ainda "Honrai a todos" (1 Ped 2,17). Fica claro que Jesus não estava mandando os filhos idolatrar ou adorar seus pais, sim honrar e venerar.Sem esquecer que o dicionário coloca respeitar como adorar, se fossemos levar isto em conta, não poderíamos respeitar ninguém! O mais correto é buscar significados para isso no grego, onde idolatrar é o culto dado somente a Deus (ou seja, adoração), e dualia, que é a veneração, o culto que prestamos aos santos e aos ícones. Portanto, mesmo no português, fica fácil entender que venerar é bem diferente de adorar e idolatrar.

Como vemos no Velho Testamento, os idólatras acreditavam que seus deuses viviam dentro dos ídolos, e que tinham poderes. Esta não é a nossa crença, pois o ícone ou qualquer outro material, como a cruz ou o Livro do Evangelho, não tem nenhum poder, são inanimados.

É comum dizer que os cristãos são Cristo no mundo. A Ortodoxia ensina que cada Cristão é um ícone, uma imagem de Deus, apresentado de uma forma o conhecimento de que poderia ser a verdade. E da mesma maneira que os ícones de Cristo são representações imperfeitas e incompletas, assim também é a maioria dos cristãos. De fato, quando Cristo se fez carne, foi o primeiro ícone de Deus, em carne e sangue, um retrato material de Quem é Deus. Assim nós consideramos que as criaturas de Deus são ícones, e merecedoras de honra.

Você diz que repugna o "estilo" peculiar dos ícones. Mas eles são pintados deste modo para descrever a natureza da pessoa transformada pela graça. Por isso são formais e pouco estilizados. Os detalhes terrestres sem importância como o queixo é omitido. Ao invés disso, se esforçam para mostrar Deus, já que ele ficou visível, como dos poderes divinos que refletem. Por seu simbolismo, os ícones retratam a criação, o mundo transfigurado, como disse São Paulo: "mas todos seremos transformados" (I Coríntios 15:51).

Padres.

Você pergunta como chamamos nossos padres de "pais", quando em Mateus 23:9-10 nos ensina: "E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus". E também não chame nenhum homem de senhor (como esta em algumas traduções). A questão é se Cristo fez esta declaração para ser interpretada literalmente, cf. nunca chame ninguém de pai ou mestre, exceto para se referir a Deus. O Apóstolo Paulo entendeu esta declaração corretamente, diferente de você, pois ele chama de os "donos" dos escravos de senhores. Em Efésios 6:5-9 e em Efésios 6:2-4. ele chama um parente homem de "pai". Mas a refutação mais clara para este argumento está em Coríntios 4:15: "Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; ora, fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho."

Se você insistir em uma interpretação literal deste verso de Mateus, terá que chamar seu pai terrestre por seu nome, pois se você o chama de papai, pai ou qualquer outro sinônimo, estaria neste jogo de palavras para utilizar este pensamento. Cristo não estava nos mandando desrespeitar nossos pais ou mudar nosso idioma. Mas com isso, Ele quis nos dizer que só há um verdadeiro Pai, um verdadeiro Deus, e que devemos reconhecer claramente como sendo merecedor de nossa obediência e amor.

O sacerdócio não é estranho ao Cristianismo. Os sacerdotes administram os Sacramentos, ensinam, exortam e encorajam o povo de Deus. Com efeito, cada padre está debaixo da autoridade de um bispo, a quem deve obedecer. Só os bispos e padres podem administrar os Sacramentos. Isto foi ensinado pelos apóstolos e bispos, e mantemos esta tradição até hoje. Você pode ver que o Espírito Santo ensinou aos apóstolos e aos bispos que o Corpo de Cristo deve permanecer junto, nenhum cristão pode estar completamente no Corpo de Cristo fora da Igreja e de seus sacramentos, só assim ele pode aprender coragem e disciplina. Assim que a interdependência dos membros do Corpo de Cristo é protegida.

Nossos padres são como pastores, que assistem o rebanho de nossas almas. Não são senhores das nossas almas. Não é como uma aristocracia, acima dos fiéis leigos. Mas são pessoas escolhidas por Deus, com a responsabilidade de acompanhar as almas de suas ovelhas. É uma grande responsabilidade, uma tarefa exigente. Nós os honramos pois vemos suas lutas, e somos gratos pelo apreço e trabalhos que fazem por nós. Não somos submissos a eles, como São Paulo ensinou em Hebreus 13:17: "Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas". Assim esta tradição foi ensinada.

Monges.

Elias passou muito tempo sozinho na selva (I Reis 17:1-5). São Paulo passou quatorze anos aprendendo sobre Deus no deserto (I Gálatas 2:1). Estes são exemplos Bíblicos do monaquismo. Porém, o monaquismo floresceu no século IV, depois que o Cristianismo foi legalizado pelo Imperador São Constantino. Até então, quem se tornava cristão, pagava com a própria vida. Mas depois que o cristianismo foi legalizado, muitas pessoas mundanas entraram na Igreja, para ficar "na moda". Esta invasão mundana na Igreja, fez muitos cristãos fugirem para o deserto em busca de Deus, longe da multidão. Nos antigos escritos, principalmente nos de Santo Antão, um dos primeiros padres do deserto, vemos que a vida destes padres era inspirada na oração, castidade e privação física. Este foi o princípio da idade de ouro do monaquismo.

As principais tarefas do monge são: 1) buscar sua própria salvação (se não estiver em um caminho correto, não pode ajudar ninguém), 2) rezar pelo mundo inteiro. Assim, os monges são como guerreiros da Igreja em oração. Este é o trabalho deles para a Igreja e para o mundo. O ministério do monge é rezar pela Igreja e pelo mundo. Trabalham em tarefas que permitem a oração, e trabalham sem distração, no resto do tempo ficam na igreja, em orações particulares ou lendo livros sagrados em suas celas. Eles sempre oram (I Tessalonicenses 5:16-18), adquirindo virtudes e negando as tentações da carne. Seguem jejuns mais rígidos, seu principal foco é adorar Deus. Suas vestes são simples, e sempre iguais, para que não se preocupem com vestuário, usando sempre um estilo sóbrio. Monastérios e conventos também servem de fonte de espiritualidade para a Igreja. Muitos cristãos buscam seus santos conselhos. A maioria de nossos bispos chegam dos monastérios, levando aos fiéis o arrependimento e a busca por Deus. De fato, os monges fazem coisas que os cristãos do mundo não podem fazer, como o juramento da castidade e a disciplina monástica dentro de um rigoroso jejum. Mas devemos fazer uma coisa que eles fazem: rezar sem cessar, e buscar Deus e a santidade, fazendo sempre o melhor, evitando as distrações mundanas.

 

A Eucaristia.

Nós não "sacrificamos o Filho de Deus toda semana", na sua Liturgia unimos a Crucificação e a Ressurreição. Nos participamos dEle, que foi pregado na Cruz, e ressuscitou "e é perpetuamente sacrificado, santificando os que comungam" (Cânon para Preparação da Santa Comunhão), "e hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado." (Apocalipse 13:8)

É a nossa participação literal no mais precioso Corpo e Sangue de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Você diz que não entende como pão e vinho se transformam em carne e sangue. Eu também não entendo muita cosa, mas não é necessário entender como as coisas funcionam para poder acreditar. Não entendo como Deus criou o mundo, também não entendo a Trindade, mas acredito em ambos. É como a eletricidade, que não entendo como funciona, mas basta acionar o botão do abajur para receber sua iluminação. É bastante claro o que Nosso Senhor falou: "Tomai e comei, isto é meu corpo." (Mateus 26:26, Marcos 14:22-24, Lucas 22:19-20).

Historicamente, os ensinamentos mais antigos da Igreja, apontam que a Eucaristia é verdadeiramente o corpo e o sangue d Cristo. Em aproximadamente 100 D.C, o bispo e mártir São Ignácio, que era discípulo de São João, o Apóstolo, ensinou que: "eles (os hereges) não acreditam no sangue de Cristo, estão cavando sua própria condenação... eles não acreditam que a Eucaristia é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo..." Também escreveu: "não tenho nenhum prazer na comida corruptível, nem nos prazeres desta vida. Desejo o pão de Deus, o pão divino, o pão da vida que a carne é Jesus Cristo". Ele não falou da Eucaristia como símbolo da carne de Jesus Cristo, mas ensinou que a Eucaristia é a carne de Cristo. Não é uma comida corruptível, como um mero símbolo, mas sim incorruptível, a carne do Deus que se fez homem, Cristo Jesus. A Igreja sempre entendeu que o Sangue de Cristo limpa todo pecado (I João 1:7), entendendo que a Eucaristia transforma misticamente seu sangue. Sempre foi crença que o sangue de Cristo está na Eucaristia.

A Páscoa do Velho Testamento nos mostra a transfiguração para a salvação. Depois que os hebreus sacrificavam o cordeiro, que é uma figura de Cristo (I Coríntios 5:7), pintavam as portas com vinho ou suco de uva. Levavam o sangue do cordeiro, e colocavam na porta de suas casas. Da mesma maneira, isto ocorre quando participamos do verdadeiro e atual Sangue e Corpo de Cristo, para que sejamos limpos. Este sempre foi um ensinamento da Bíblia e dos apóstolos.

Batismo de Crianças.

Argumentos contra o batismo de crianças só começaram a aparecer nos tempos modernos. A maioria dos protestantes faz esta pergunta suja. Dizem que a criança não tem maturidade para decidir o que quer, assim não pode ter fé, portanto não deveriam ser batizadas. Mas onde está a prova para esta crença modernista? Não está na Bíblia e nem na ciência. A psicologia reconhece que as crianças aprendem a reconhecer a voz da mãe ainda no útero. A Bíblia declara que: "Sim, fostes vós que me tirastes das entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio." (Salmos 21:10), e "Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio." (Lucas 1:44). Tanto o Rei Davi como São João Batista, estavam tendo relações com Deus já no útero, portanto como podemos dizer que isso não existe? Fé não é apenas uma relação entre a crença em diversas doutrinas. Considerando que as crianças podem ter esta relação, elas também podem ter fé, que é uma relação de confiança em Deus. O que recebemos de Deus, recebemos por graça, e não pelo exercício de nossas habilidades mentais.

Além de que, as crianças eram circundadas com oito dias, de acordo com o Velho Testamento, lei que São Paulo definiu como um batismo (Colossences 2:11-12). Moisés também conduziu os Israelitas pelo Mar Vermelho, em um batismo, de acordo com I Coríntios 10:1-4, e havia crianças entre eles, que receberam a fé de seus pais, embora quando mais velhos tiveram que prover suas fés.

fé deles/delas na selva.

No Novo Testamento, vemos famílias inteiras batizadas (Atos 16:15, 16:33, e I Coríntios 1:16). Em grego, a palavra usada foi para família inteira, dos adultos até as crianças. A palavra utilizada não poderia denotar uma "família" composta apenas por adultos.

Tudo isto nos indica que as crianças sempre foram batizadas. Em defesa desta crença, nunca achamos nenhum escrito contra o batismo infantil até a Reforma protestante. Esta pergunta nunca tinha sido feita anteriormente. Se isso fosse apenas uma adição posterior, algum herege teria explorado isto no princípio da Igreja, mas isto nunca aconteceu. Por isso o batismo de crianças é apostólico e ensinado pela Igreja.

Porém, somente o recebimento do Sacramento não garante a salvação. Quando a criança cresce, ela deve continuar adquirindo o Espírito Santo para ganhar a salvação. De fato, o batismo infantil e a crisma é bastante semelhante a adoção de uma criança a uma família, onde a criança entra em relação com a nova família, apesar da idade. Como a criança batizada, a criança adotada pode decidir rejeitar a família adotiva, mas enquanto isto não ocorre, continua sendo parte da família.

Cristo disse: "Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham." (Marcos 10:14). Como poderíamos não batizar nossas crianças, negando-as os Sacramentos, se assim foi feito durante toda história Igreja?

[* gostaria de agradecer a ajuda de Jordan Bajis, de East Lansing, Michigan].

 

 

 

Incenso e Velas.

Os símbolos nunca foram descartados por Cristo, pois ele usou a parábola como método de ensino, pois os símbolos são partes integrantes do aprendizado do homem, podendo ser útil para sua salvação. Veja que taças de ouro eram utilizadas para guarda as nossas orações em Apocalipse 5:8 e nos Salmos 140:2 "Que minha oração suba até vós como a fumaça do incenso". A Igreja usa símbolos seguindo os exemplos da Bíblias, nos fazendo lembrar a toda hora de Deus e de nossas obrigações. Assim os materiais, como velas e incensos, nos lembram sobre quem é Deus, e sobre o que nós devemos fazer – quer dizer, são como luzes, que nos mandam orar sem cessar. Mais uma vez, a Igreja usa um material criado por Deus, para nos ajudar a virar nossas mentes para Deus.

Vinho.

Alguns protestantes interpretam alguns versos dos Provérbios, Eclesiastes e Efésios (5:18), como proibições aos cristãos quanto ao consumo de bebidas alcoólicas. Mas estes versos nos mostram que não devemos beber em excesso, o que nos conduziria ao pecado. Nos Salmos (104:15) está escrito que Deus criou o vinho para alegrar o coração do homem, vemos em Deuteronômio 14:25-26 "venderás o dízimo e, levando o dinheiro (dessa venda) em tuas mãos, irás ao lugar escolhido pelo Senhor, teu Deus. Comprarás ali com esse dinheiro tudo o que te aprouver, bois, ovelhas, vinho, bebidas fermentadas, tudo o que desejares, e comerás tudo isso em presença do Senhor, teu Deus, alegrando-te com tua família." Se Deus tivesse prescrito isto, fica prescrito também o pagamento do dízimo, pois os versos estão na mesma passagem. Por isso a Igreja Ortodoxa não proíbe seus fiéis de ingerir álcool.

Espero e rezo que esta carta seja útil para responder a maioria de suas perguntas. Mais tarde planejo escrever sobre as outras religiões, mas penso que a carta já está bastante longa. Desejo mais tarde poder passar toda a profundidade e riqueza da Ortodoxia, para que Deus possa auxiliar vocês, devido a minha pobreza de pensamento e expressão. Pois Ele abençoa todas as coisas.

De sua amada filha,

Marianna

Terceira Carta

Queridos pais,

Rezo par que esta carta chegue bem. Como prometi, escrevo esta última carta falando sobre doutrinas relativas à própria Igreja. Primeiro pensei nas contradições do Protestantismo, e depois, em algumas contradições da Igreja Católica Romana. Finalmente, falarei sobre a Igreja Ortodoxa, e sobre a pergunta de quem são os membros da Igreja.

Os Erros dos Protestantes.

Como escrevi na primeira carta, as igrejas protestantes acreditam que somente a Bíblia é a fonte da verdade, não obedecendo aos mandamentos da Bíblia, que manda obedecer as tradições orais e escritas que os santos apóstolos passaram para a Igreja: "Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa." (II Tessalonicenses 2:15); "Eu vos felicito, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais as minhas instruções, tais como eu vo-las transmiti." (I Coríntios 11:2), "O que aprendestes, recebestes, ouvistes e observastes em mim, isto praticai, e o Deus da paz estará convosco." (Filipenses 4:9). Devemos considerar que São Paulo nos fala da Igreja como um corpo, unido e trabalhando junto (Efésios 2:19-22). Também encontramos contradição na crença protestante, quando eles afirmam que cada pessoa deve achar a verdade na interpretação da Bíblia. São Paulo também exorta os fiéis a obedecerem os líderes da Igreja (Hebreus 13:7), mas a maioria dos protestantes não se encontram em nenhuma submissão a seus ministros. Seus ministros não pedem obediência, as pessoas vão para suas igrejas com menos exigências. Vocês declararam que aceitaram a autoridade dos Concílios Ecumênicos após a leitura da minha primeira carta. Agora vocês devem aceitar honrar os ícones e a Virgem Maria como sempre Virgem, mas as igrejas protestantes jamais permitirão isso, algumas são radicalmente contra isso. Cristo disse que o Espírito Santo nos conduzirá em toda verdade (João 16:13), e esta verdade se encontra ordenada na Igreja. A Igreja estabelecida pelos apóstolos e pelo Espírito Santo, tem bispos, padres e diáconos, com sucessão apostólica, que é ordenação que descende dos apóstolos. Isto está escrito nos cânones apostólicos e nos escritos patrísticos da Igreja. Com efeito, nenhum ministro protestante pode reivindicar sucessão apostólica. Assim, de acordo com os cânones e a Tradição da Igreja, seus sacramentos não são válidos, e suas doutrinas são suspeitas. Estes são alguns sinais que mostram como o Protestantismo está em erro.

Ainda em relação à sucessão apostólica: no começo da Igreja, um bispo devia localizar os apóstolos por trás de sua ordenação. Há três importantes razões para isso. Primeiro, porque é um dos modos para provar a validade do clero da Ortodoxia, ou seja, para provar que ele ensina a verdadeira adoração e fé. Quando um bispo possui sucessão apostólica, prova-se que ele não é apenas um herege ou um novo-rico tentando achar poder e atenção, pois foi ensinado dos verdadeiros modos de viver e acreditar da maneira que Cristo ensinou. Tal homem com sucessão apostólica pode ser tido como um pastor legítimo, pois passou pelo portão, não pulou o muro, está em submissão a Igreja, e não em rebelião. Secundariamente, a sucessão apostólica nos mostra porque o bispo tem autoridade para pedir obediência e ministrar Sacramentos (e também para ordenar padres). Esta autoridade era passada dos apóstolos para homens santos, os apóstolos os ordenavam como os atuais Bispos Ortodoxos (note que em a fé Ortodoxa, não há sucessão apostólica, pois quando um bispo é tido como anátema pela Igreja, deixa de ser bispo, pois não faz mais parte da Igreja). Em terceiro lugar, a sucessão apostólica nos mostra a continuidade física da Igreja. A linhagem da Igreja pode ser localizada de geração em geração, a Igreja Ortodoxa é a mesma Igreja fundada pelos Doze Apóstolos, sem cismas ou heresias, sem fraturar esta linhagem. Assim as doutrinas, virtudes e atitudes Cristãs continuam corretas, e o modo de vida cristão foi passado pelos apóstolos a seus sucessores, até os dias de hoje. Por isso nossos líderes e professores possuem razão, a Igreja assegura que o rebanho está sendo ensinado e correto ao abraçar a vida religiosa correta, que leva até a salvação.

Os Erros dos Católicos Romanos.

Como vocês pediram, falarei rapidamente sobre a Igreja Católica Romana. O rompimento ocorreu com a Ortodoxia pois acrescentaram uma palavra no Credo Niceno. Os católicos romanos recitam o Credo dizendo que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, ao contrário do nosso Credo, que declara (como em João 15:26) que o Espírito Santo procede apenas do pai. Esta adição ao Credo ocorreu no tempo do Papa Leão III, em 808 D.C, que escreveu o Credo em placas de prata, ainda sem o filioque. Mas esta adição foi aceita por outros papas, e é defendida a quase 1000 anos.

Sobre a doutrina da infalibilidade papal, temos como exemplo o Sexto Concílio Ecumênico, que excomungou um dos papas, Papa Honório. Este Concílio é aceito pelos Católicos Romanos. Esta doutrina é falsa, como provam os escritos de São Gregório, o Grande. Ele escreveu no século VI que nenhum bispo (inclusive o papa) deveria ser chamado de Sumo (como o papa é chamado hoje em dia, "Sumo Pontífice"), pois todos os bispos são iguais em autoridades. Isto foi escrito quando a Igreja Romana era Ortodoxa. O papa não pode ser cabeça da Igreja, pois Cristo é a cabeça da Igreja. Nem é necessário o papa ser o vigário de Cristo, pois Cristo está presente no mundo, sem a necessidade de ter um vigário ou um "representante".

Os apóstolos ordenaram com igualdade todos os bispos da Igreja, tradição que a Igreja Ortodoxa manteve. Realmente, no Concílio de Jerusalém descrito em Atos 15, presidido pelo apóstolo Tiago, fica claro que os apóstolos não interpretaram as palavras de Mateus 16:18 como os papas interpretaram mais tarde. Desde o início os Santos Padres sempre compreenderam a passagem: "tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mateus 16:18) como a confissão de Pedro de que Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo. Foi bem mais tarde que Igreja Católica Romana achou uma interpretação diferente para este trecho. Em nenhuma de suas epístolas São Pedro reivindica supremacia, e nenhum papa havia feito isso antes. A supremacia do papa, com o envolvimento em política, lutas pelo poder, guerras com seus próprios exércitos, nos mostra como estas práticas mundanas vão contra a doutrina entregada para a Igreja pelos santos apóstolos, e também são contra o exemplo de humildade dado por Cristo.

A doutrina Católica Romana acrescentou a Imaculada Conceição da Virgem Maria (ou seja, sua concepção sem o "pecado" original), esta inovação ocorreu pela veneração de muitos santos, como Bernard de Clairvaux. Isto foi uma inovação, nunca fez parte da tradição da Igreja. Esta doutrina é uma adição desnecessária a tradição entregada pelos apóstolos. Somando isto a os assuntos que demonstrei anteriormente, fica clara a falta de fundamento de algumas doutrinas da Igreja Católica Romana.

Sobre os Cristãos que estão fora da Igreja. Ecumenismo.

A Igreja Ortodoxa tem a certeza que é a Igreja apostólica do primeiro século. Os cristãos que estão fora dela não fazem parte da verdadeira Igreja, pois não foram batizados na Igreja por bispos com sucessão apostólica. Cristo e seus apóstolos ensinaram que este Sacramento é necessário para que entremos no rebanho de Deus (Mateus 17:19, Marcos 16:16, I Coríntios 12:13). Quem tenta arrumar outra justificativa está tentando pular o muro, ficando fora do rebanho. Somente a Igreja Ortodoxa é a Igreja de Cristo. Não faz parte dos Concílios Ecumênicos e dos escritos patrísticos a consideração de Deus aos que estão fora da Igreja. Nós alegraria muito a salvação dos que estão fora da Igreja, mas não há nenhuma indicação de que isto vai ocorrer. Não pretendo parecer rancorosa ou superior, estou apenas tentando descrever os fatos. Embora isso possa parecer desagradável, é verdade. A Igreja Ortodoxa é a única Igreja de Cristo. O resto desta carta contém as provas desta declaração, ao contrário desta fala doutrina do ecumenismo, que coloca todos os cristãos como membros da Igreja de Cristo.

Em Mateus 7:22-23 está escrito: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!" Isto nos mostra que muitos pessoas aparentemente sinceras, que estão pensam que servem a Deus, e rezam para Ele, mas na verdade, Deus não tem nada a ver com eles. Também há o fato de que alguns ministros protestantes ensinam apenas por orgulho, o pai de todos os pecados, que é manifesto em quase todos de seus pensamentos, devemos nos arrepender deste pensamento para ter uma boa vida religiosa. Eu não estou acusando-os, apenas tento explicar minha última citação, pois os protestantes tentam trabalhar para atender os olhares do mundo, o que para Deus é um pecado.

Nas Epístolas, a Igreja aparece como um Corpo. Fora dela não existia cristianismo. Acreditar em Cristo significava estar em união com a Igreja. Não há nenhum ensinamento nos mostrando sobre uma alteração em relação a isto. Também note que no Velho Testamento, com algumas exceções, ninguém se rebelava contra a Igreja, e nem começavam novas Igrejas, mas eram pessoas submetidas a autoridade. Se isso continuo na Igreja do primeiro século, e a Igreja manteve esta doutrina, como pode de repente alguém entrar no reino dos céus dizendo apenas "Senhor, Senhor...’" (Mateus 7:21).

Além disso, Cristo nos disse que devemos contar aos nossos irmãos as faltas deles... "Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu" (Mateus 18:17-18). Os Concílios foram válidos. O que devemos dizer para os que se recusam a ouvir as palavras da Igreja Una? Cristo afirmou que estes devem ser tratados como pagãos e publicanos. Assim a Igreja faz, dizendo em seus Concílios Ecumênicos: "Anátema!", para todos as heresias. Porém, a Igreja reza (em todas as orações diárias) para que os hereges (os heterodoxos, que se dizem cristãos) tomem conhecimento da verdade. Enquanto isso, nós os excluímos e oramos para os que não obedecem os mandamentos que Cristo deu para a Igreja.

Os cânones escritos pelos doze apóstolos nos mostram coisas duras para se dizer aos heterodoxos. "Aos que foram batizados e ordenados... os hereges não podem fazer parte dos fiéis e nem do clero. (Cânon Apostólico 68)".Nós ordenamos que bispos e padres não aceitem o sacrifício (Eucaristia) dos hereges. Pois se não há acordo entre cristo e o Diabo, como pode haver acordo entre um infiel e um infiel?" (Cânon Apostólico 46). "Aos bispos e padres... que não batizem um descrente ou quem menospreza a cruz e a morte de Deus, ficando sem distinção para com os verdadeiros e os falsos padres." (Cânon Apostólico 47). Se esta é a crença convicta dos santos apóstolos, que foram guiados em todas as verdades pelo Espírito Santo (João 16:13), como poderia justificar uma outra opinião?

São Paulo comparou a Igreja ao corpo humano, devemos analisar bem este problema. É óbvio que uma mão não pode viver separada do corpo, pois fora do corpo é impossível dela viver. É indispensável estar unida ao corpo. É verdade que pecadores fazem parte do Corpo, e às vezes brigam entre si – como os doentes. Isso pode acontecer devido ao envolvimento de indivíduos imaturos, pecadores ou de personalidade "conflituosa". Os indivíduos que lutam correm o risco de perder suas almas, pois podem acabar podados da árvore, tornando-se espinhos, e não frutas. Se as partes do Corpo brigam, a parte que ofende será cortada. Mas mesmo assim o Corpo permanece unido.

Mais uma vez utilizo a comparação da Igreja a um corpo: se qualquer parte do corpo rejeita o sangue, morre. Os que recusam a Igreja também morrem, como Cristo ensinou. Somente quem bebe o sangue e come a carne do Filho possui vida (João 6:53). Poderia haver vida nos que nunca receberam o Corpo e o Sangue de Cristo? Se uma pessoa não participa do Corpo Cristo, como pode fazer parte de seu Corpo? Lembre-se, de acordo com os cânones apostólicos citados acima, a Eucaristia dois hereges não possuem nenhuma validez. Mas devemos seguir em frente.

Note a sutileza da doutrina do ecumenismo. Ela causa rompimento com a verdadeira Igreja, é realmente merecedora de um Concílio Ecumênico. Mas como um Concílio Ecumênico acharia resposta para esta pergunta? Como responder a pergunta "Qual é a Igreja?". Como poderíamos juntar a Igreja para resolver isto? Se o ecumenismo é verdadeiro, como poderíamos juntar os heterodoxos para encontrar à verdade? Os protestantes e Católicos Romanos já foram excomungados anteriormente por Concílios (veja os parágrafos 2 e 4 desta carta; para ver a fundamentação Bíblica para autoridade dos Concílios Ecumênicos vejam Mateus 18:15-18 e minha primeira carta).

Se a Igreja Ortodoxa não é a verdadeira Igreja, deveríamos rever algumas coisas sobre a oração de Cristo (João 17). Como: 1) Jesus estaria fazendo algum pensamento tendencioso, ou simplesmente esperando inutilmente na noite, pois se ele rezou e sua oração não foi atendida. 3) A Trindade não é uma unidade. Claro que nenhuma destas declarações é verdadeira. Na verdade: 1) Jesus estava orando para o Pai. Ele estava pedindo a unidade da Igreja. Não estava simplesmente pedindo pelos desejos de seus discípulos, mas estava claramente pedindo a unidade da Igreja. 2) Ele jamais duvidou, pois duvidar é pecado (Romanos 14:23) e em II Coríntios 5:21 vemos que Cristo não tem pecado. 3) a Trindade não está no alcance da compreensão dos homens. "Eu e o Pai somos um." (João 10:30), "Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste." (João 17:21). Então, se Cristo rezou pela unidade da Igreja com a Trindade Una, Ele pediu com fé, sendo assim, o que Ele pediu vai acontecer. Se ele fosse dar apenas uma exortação para a união dos fiéis, teria feito como uma de suas muitas lições ou parábolas. Cristo nos assegurou que o Corpo ficaria junto, pois ele pediu isso ao Pai. Ele nos avisou que nosso caminho haveria muitos lobos (João 10:7-14, Mateus 13:24), nesta passagem Ele nos assegure que o Corpo será sempre um, como um reflexo da Unidade própria da Trindade.

Quando li pela primeira vez os anátemas emitidos pelos primeiros Concílios Ecumênicos, pensei que os ortodoxos eram preconceituosos, sem-compaixão e cegos. Como vocês imaginaram, tive que mudar de opinião. É muito difícil falar para um médico que seu paciente está doente. Mas para que a cura possa ocorrer, é necessário que o médico explique que o tratamento é longo e doloroso, e que também é a única chance de se manter a vida. Embora isso causa ódio dos heterodoxos, é necessário que a Igreja diga algumas coisas que possam parecer desagradáveis, para manter a esperança de salvar as almas. Se isso causa o ódio de alguns, cumpre-se então a profecia de Cristo, que avisou que seus discípulos seriam odiados. "O Senhor não retarda o cumprimento de sua promessa, como alguns pensam, mas usa da paciência para convosco. Não quer que alguém pereça; ao contrário, quer que todos se arrependam." (II Pedro 3:9).

Para que vocês não fiquem desencorajados ou aflitos, terminarei dizendo que Deus não abandona os que estão fora da Igreja. Ele trabalha em todos os corações, sempre conduzindo até a verdade. Então, se vocês acreditam que Deus toca a qualquer hora, e conduz sempre ao arrependimento dos pecados e o amor até Ele, vocês não devem ficar de fora desta experiência. O propósito de toda verdadeira experiência com Deus é conduzir à salvação, e Ele escolheu a Igreja como o meio para salvação em Cristo.

Por favor, acreditem que só tive esta crença depois de muita agonia, lágrimas, orações e pensamentos. Tive de reconhecer que esta é a verdade. Cresci na sociedade americana, que possui o pensamento de que a fé não é importante, o importante seria ser apenas uma "boa-pessoa". Quando buscava a conversão ao Cristianismo, pensava que todos os fiéis de outras religiões teriam a salvação, os que pelo menos se diziam cristãos e que amavam a Deus estariam salvos. Como vocês perceberam, tive que mudar minha visão sobre o ecumenismo, pois o Cristianismo e ecumenismo não combinam. Os santos padres e os Concílios nos ensinaram que o ecumenismo é errado, portanto, tive que fazer uma escolha. Decidi que o ecumenismo é muito pouco provável, ao contrário do Cristianismo Ortodoxa, assim abandonei o ecumenismo. Tive que escolher a verdade. Escolhi a Ortodoxia.

Antes de terminar, gostaria de dizer que não sou uma comunicadora muito boa. Durante estas cartas, tentei usar a lógica e os fatos para provar o que é a verdade. Mas a Ortodoxia não é apenas um exercício mental, e muito menos uma filosofia ou um debate de opiniões. É um modo de vida, que orienta a pessoa. Não posso passar tudo isso nesta carta. Vocês precisam conhecer. Recomendo que visitem os serviços da Igreja, que conversem com um padre, peça orientações a alguns cristãos Ortodoxos piedosos, observando melhor suas vidas. Leiam as vidas dos santos, e os escritos patrísticos. A Igreja é viva, somente a conhecendo que a pessoa consegue ver toda sua abundância e beleza.

Estava muito aflita quando escrevi esta carta, mas fiz pelo imenso amor que tenho por vocês. Fiz breves declarações sobre a Ortodoxia (poderia escrever muitos volumes). Pensem no que escrevi, pesquisem sobre as minhas respostas, mas por favor, não ignorem o que escrevi. Peço para que Deus abra seus olhos, para que possam ver a verdade. Minhas orações e meu amor estarão sempre com vocês.

Sua filha, Marianna

Para o Leitor Curioso.

Escrevi estas cartas a pedido de um amigo de meus pais. Após o encorajamento de meu padre e de vários amigos, as publiquei, e envie diversas versões a meus amigos. Como sou convertida, meus pais ainda não são Ortodoxos, e o material apresentado aqui não representam suas opiniões. Eu deixei o título assim mesmo, para que está carta possa ser mandada por qualquer convertido a seus queridos pais. Oro para Santa Nina, que os ajude a achar a salvação.

 

 

Folheto Missionário número P123

Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Redator: Bispo Alexandre Mileant

(letters_from_convert_p doc, 10-25-2003)