A Natividade de Cristo

 

O Grande Mistério Da Piedade

 

Bispo Alexander (Mileant).

Traduzido por Olga Dandolo

 

 

Conteúdo:  

O Acontecimento da Natividade de Cristo. A Adoração dos Magos. O Filho de Deus E o Filho do Homem. A Finalidade da Encarnação do Filho de Deus. Ofícios Divinos na Natividade de Cristo. Troparion: Kondaquion: Zadostoinik: Canone da Natividade. Na Noite de Natal

 

 

 

Na história da humanidade não existe acontecimento maior e mais radiante do que a encarnação e a vinda ao mundo do Filho de Deus. Esta é a obra do infinito amor de Deus Pai, Quem "amou tanto o mundo, que entregou Seu Filho, para que todo crente Nele não sucumbisse, e sim tivesse vida eterna."

A encarnação do Filho de Deus através da Virgem Maria, modificou o mundo para melhor e de modo radical: proporcionou aos homens uma nova maneira de pensar, enobreceu seus princípios morais, dirigiu os acontecimentos do mundo para um novo rumo. Trouxe força para as pessoas lutarem contra o pecado, reconciliou os homens com Deus, perfilhou as pessoas ao Pai e fez renascer toda sua natureza. Derramou um jacto da vida Divina no organismo deteriorado dos homens e com isto trouxe-lhes a vida eterna. Por estes motivos a encarnação do Filho de Deus encontra-se no centro dos acontecimentos mundiais e dela é avaliada a cronologia – antes e depois da Natividade de Cristo. A celebração da Natividade de Cristo tornou-se a festa mais radiante da humanidade crente.

No presente artigo estaremos relatando os acontecimentos ligados à Natividade de Cristo, conversaremos sobre o significado espiritual desse acontecimento e no final iremos nos deter nos principais momentos do divino ofício natalino.

 

 

O Acontecimento da Natividade de Cristo.

Antes do nascimento de Jesus Cristo havia uma expectativa geral pelo Salvador. Os judeus aguardavam Sua chegada, baseados nas profecias; os pagãos estando em desgraça pela descrença e depravação geral do caráter, também aguardavam com impaciência pelo Libertador. Todas as profecias referentes aos tempos da encarnação do Filho de Deus foram cumpridas. O Patriarca Jacó profetizou, que o Salvador virá quando o cetro se apartar de Judá (Gen. 49:10). O profeta Daniel profetizou, que o Reino do Messias chegará nas setenta semanas (490 anos) após a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém, no período do poderoso reino pagão, o qual será tão forte quanto o ferro (Dan. 9:24-27).

E de fato, ao final das setenta semanas de Daniel, a Judéia ficou sob o domínio do potente império Romano e o cetro passou de Judá para Herodes, pela origem. Veio o tempo de Cristo chegar. As pessoas, tendo se afastado de Deus, começaram a divinizar os bens terrestres, as riquezas e glórias do mundo. O Filho de Deus rejeitou esses ídolos insignificantes assim como o fruto do pecado e impetuosidades humanas e achou por bem vir ao mundo nas mais modestas condições.

Os acontecimentos da Natividade são descritos por dois evangelistas – o apóstolo Mateus (dos 12) e Lucas (dos 70 discípulos). Visto que o evangelista Mateus escreveu seu Evangelho para os hebreus, ele colocou para si o objetivo de provar, que o Messias descende dos antepassados de Abraão e do rei Davi, conforme foi profetizado pelos profetas. Por isso o evangelista Mateus inicia sua narrativa sobre a Natividade de Cristo com a genealogia (Mat. 1:1-17).

Sabendo que Jesus não era filho de José, o evangelista não diz que José gerou, mas sim, que Jacó gerou José, o marido de Maria de Quem nasceu Jesus, chamado de Cristo. Mas por que então ele cita a genealogia de José, e não a de Maria? Acontece que os hebreus não tinham o costuma de conduzir a genealogia pela linha feminina. A lei deles ordenava que o homem tomasse infalivelmente uma esposa da mesma descendência a que ele pertencesse. Por esta razão o evangelista não se desviando do costume, cita a genealogia de José, mostrando que Maria – é a esposa de José, e, conseqüentemente também nascido Dela descendem da mesma clã de Judá e ancestrais de Davi.

Tendo sido informada pelo Arcanjo Gabriel de que Ela foi escolhida para ser a Mãe do Messias, a Virgem Santíssima que se casara recentemente com José, partiu ao encontro de Elizabeth. Já se passavam quase três meses da boa nova do Anjo. José que não havia sido iniciado neste mistério, notou Seu estado; Sua aparência externa podia ser pretexto para o pensamento da infidelidade Dela; ele poderia acusá-La publicamente e submete-La a uma severa punição, instituída pela lei de Moisés, mas por sua bondade, não quis tomar medidas tão drásticas. Após longos vacilos, ele decidiu deixar sua esposa ir embora secretamente, não fazendo nenhum alarde, entregando-Lhe uma carta de separação.

Porém um Anjo apareceu-lhe em sonho e anunciou que a noiva que o esposou iria ter um filho por obra do Espírito Santo, e que ao Filho que Ela daria a luz seria dado o nome de Jesus (Ieshua), ou seja, Salvador, pois, Ele irá salvar Seu povo dos seus pecados. Por isso "não temas tomar Maria por tua esposa!" – José reconheceu este sonho como inspiração do alto, obedeceu e aceitou Maria por esposa, porém "não A conheceu," ou seja, viveu com Ela não como marido e mulher, e sim como irmão e irmã, ou antes, julgando a enorme diferença de idade, como pai e filha. Narrando a esse respeito, o evangelista acrescentou por si mesmo: "por isto, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho, e O chamará Emanuel" (Isa. 7:14). O nome "Emanuel" significa "Deus conosco." Aqui Isaías não está chamando Aquele que nasceu da Virgem de Emanuel: ele diz que Ele será chamado assim pelas pessoas. Este não é propriamente o nome Do Nascido da Virgem, mas apenas a indicação profética para o fato de que, na face Dele estará Deus.

O Santo evangelista Lucas anota que o tempo da Natividade de Cristo coincidiu com o censo dos habitantes do império Romano, o qual foi realizado conforme o comando de César Augusto, isto é, o imperador romano Otaviano, que recebeu do senado o título de Augusto – "sagrado." O edital sobre o censo foi publicado no ano 746 da fundação de Roma, mas na Judéia o censo começou aproximadamente em 750, nos últimos anos do reinado de Herodes, chamado o grande.

Os hebreus avaliavam sua genealogia de acordo com a descendência e origem. Esse costume era tão forte, que tendo tido conhecimento das ordens de Augusto, eles foram se inscrever cada um na cidade de sua origem. José e a Virgem Maria descendiam, como é sabido, da geração de Davi. Por isso eles tiveram que partir para Belém, chamada cidade de Davi, pois foi ali que ele nasceu.

Assim, pela Providência de Deus, cumpriu-se a antiga profecia do profeta Miquéias, de que Cristo nasceria precisamente em Belém: "Mas tu Belém – Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para Mim Aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado" (Miquéias 5:1; Mat. 2:6).

Pelas leis romanas, as mulheres em igualdade com os homens eram sujeitadas ao censo universal. Por esta razão José não foi sozinho a Belém para se inscrever; ele foi junto com a Virgem Maria. A jornada inesperada à sua Belém nativa, e além disso, a proximidade do nascimento da Criança, deveriam convencer José de que o decreto de César era uma arma nas mãos da Providência, direcionando para que o Filho de Maria nascesse precisamente ali, onde deveria nascer o Messias Salvador.

Depois da exaustiva jornada, o ancião José e a Virgem Maria chegaram a Belém. Não havia lugar na hospedaria para a futura Mãe do Salvador do mundo, e Ela então, juntamente com Seu companheiro, foi obrigada a se instalar em uma caverna para onde os pastores conduziam o gado quando o tempo estava ruim. Aqui, durante uma noite de inverno, na mais miserável condição, nasceu o Salvador do mundo – Cristo.

Tendo dado à luz ao Filho, a Virgem Santíssima sozinha O enfaixou e colocou na manjedoura. Com estas curtas palavras o evangelista informa que a mãe de Deus deu à luz sem dor. A expressão do evangelista "deu à luz ao Seu Filho primogênito" dá motivos para os incrédulos dizerem que além de Jesus Primogênito, a Virgem Santíssima teve outros filhos, pois inclusive os evangelistas mencionam "os irmãos" de Cristo (Simão, Josias, Judas e Jacó). Mas é preciso lembrar de que pela lei de Moisés (13:2) toda criança do sexo masculino era chamada de "aquele que descerra as entranhas," ou seja, era chamado de primogênito mesmo sendo o último. Assim sendo, os "irmãos" de Jesus mencionados no Evangelho não eram Seus irmãos verdadeiros e sim apenas parentes, pois, eram os filhos de José e de sua primeira esposa Salomé, e também as crianças de Maria esposa de Cleophas, a qual o Evangelista João denomina de "irmã de Sua Mãe." Em todo caso, todos eles eram muito mais velhos do que Cristo e sendo assim, jamais poderiam se filhos da Virgem Maria.

Jesus Cristo nasceu de noite, quando todos, em Jerusalém e imediações, dormiam profundamente. Apenas os pastores não dormiam, pois, cuidavam do rebanho que lhes era confiado. A essas pessoas modestas, trabalhadoras e sobrecarregadas, um Anjo apareceu com a feliz notícia do nascimento do Salvador do mundo. A luz resplandecente que rodeava o Anjo em plena escuridão noturna, assustou os pastores. Mas o Anjo imediatamente os tranqüilizou dizendo: "não tenham medo! Eu lhes anuncio uma imensa alegria, a qual será para todas as pessoas: pois nasceu o Salvador na cidade de Davi, o Qual é o Cristo Senhor." Com estas palavras o Anjo fez entender o verdadeiro designio do Messias Que veio não sòmente para os hebreus, mas para todas as pessoas, pois "a alegria será para todos" aqueles que O aceitarem como Salvador.

O Anjo explicou aos pastores que eles encontrariam o Cristo Senhor nascido enrolado em faixas, deitado em uma manjedoura. Mas por que o Anjo não anunciou o nascimento de Cristo aos hebreus anciãos, aos escriturários e fariseus, e não os chamou também para venerarem a Criança Divina? Foi porque esses "líderes cegos dos cegos "deixaram de entender o verdadeiro significado das profecias sobre o Messias e devido ao seu orgulho, imaginavam que o Libertador prometido iria surgir em pleno esplendor de um majestoso rei-conquistador e subjugar o mundo inteiro. Um modesto pregador da paz e do amor aos seus inimigos lhes era inadmissível.

Os pastores não duvidaram de que o Anjo lhes fora enviado por Deus, e por esta razão foram dignos de ouvirem o triunfante hino celestial: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra, e boa vontade entre os homens!" Os Anjos glorificam a Deus, que enviou o Salvador para o mundo, pois a partir daí, a paz da consciência foi restaurada e foi eliminada a inimizade entre o Céu e a terra, que surgiu em consequência do pecado.

Os Anjos se afastaram, e os pastores apressadamente partiram para Belém, encontraram a Criança deitada numa manjedoura, e foram os primeiros a venera-La. Eles contaram a Maria e a José sobre o acontecimento que os trouxe ao berço de Cristo; contaram o mesmo também a outras pessoas, e todos que ouviam sua história ficavam admirados. "Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no Seu coração," isto é, Ela guardou na memória tudo aquilo que ouviu. Quando o Evangelista Lucas descreveu a Anunciação do Arcanjo Gabriel, o nascimento de Cristo e outros acontecimentos, (Luc., cap.2), evidentemente escrevia baseado nas palavras Dela.

No oitavo dia a Criança foi circuncisada, conforme era prescrito pela Lei de Moisés. Provàvelmente logo após o Nascimento, a Sagrada Família mudou-se da gruta para uma casa, pois para a maioria dos que chegavam a Belém, após a inscrição não havia necessidade de permanecerem ali.

 

 

A Adoração dos Magos.

A narrativa posterior do Evangelho a respeito da adoração dos magos (Mat., cap. 2), é muito edificante. Antes de mais nada, esta é a história sobre a "epifania," ou a manifestação de Cristo aos pagãos.

José e a Santíssima Mãe de Deus, juntamente com Jesus Menino, ainda estavam em Belém quando os magos chegaram de um país distante (Pérsia ou Babilônia). Eram chamados de magos ou sábios aqueles que se empenhavam em observar e estudar as estrelas. Naquele tempo as pessoas acreditavam que ao nascer um grande homem surgia uma nova estrela no céu. Muitos pagãos dos confins da Pérsia que foram ensinados por judeus dispersos, sabiam a respeito da vinda do Messias ao mundo – o Grande Rei de Israel. Dos judeus eles poderiam até ter aprendido a seguinte profecia de Balaão a respeito do Messias: "Eu O vejo, mas não é para agora. Percebo-O, mas não de perto; um Cetro levanta-se de Israel, Que fratura a cabeça de Moab" (Num. 24:17; "Moab"é a personificação dos inimigos do Messias). Os magos persianos aguardavam que quando o Rei prometido nascesse, no céu surgiria uma nova estrela. Embora a profecia de Balaão falasse sobre uma estrela no sentido espiritual, o Senhor, em Sua misericórdia, afim de trazer os pagãos para a fé, deu um sinal nos céus na forma do aparecimento de uma estrela extraordinária. Vendo isso, os magos compreenderam que o esperado Rei nasceu.

Após uma longa e prolongada jornada, eles finalmente chegaram à capital do reino de Jerusalém, e começaram a perguntar: "Onde está o Rei dos judeus que nasceu? Pois nós avistamos a estrela Dele no horizonte e viemos reverenciá-Lo." Estas palavras vindas de desconhecidos tão notáveis, agitaram muitos habitantes de Jerusalém, e em especial o rei Herodes o qual foi imediatamente avisado sobre a chegada dos misteriosos sábios orientais.

Desde os primeiros dias da acessão de Herodes, seu trono era vacilante. O povo o odiava, considerando-o como usurpador do trono de Davi e tirano; o abominavam como um pagão. Os últimos anos de vida de Herodes se agravaram ainda mais por infortúnios pessoais e represálias sangrentas. Ele tornou-se extremamente suspeito, e por mínimas causas executava seus inimigos reais e fictícios. Por este motivo algumas crianças de Herodes pereceram, inclusive também sua mulher a quem ele outrora amou ardentemente. Doente e decrépito, Herodes agora residia em seu novo palácio em Sion. Tendo ouvido a respeito do Rei que havia nascido, ele ficou particularmente preocupado, temendo que as pessoas aproveitando de sua velhice lhe tirariam o poder e o passariam para o Rei recém nascido.

Para esclarecer quem seria esse novo pretendente ao trono, Herodes reuniu todos os sacerdotes e escriturários – pessoas que conheciam bem os livros da Sagrada Escritura, e perguntou-lhes: "Onde Cristo deveria nascer?" Eles responderam: "Em Belém da Judéia, pois assim está escrito pelo profeta Mequéias." Então Herodes chamou secretamente os magos, investigou a hora do aparecimento da estrela e os mandou para Belém. Fingindo-se de piedoso, o astuto Herodes disse-lhes: "Ide e lá procurem saber bem tudo a respeito da Criança, e quando O encontrarem venham relatar-me para que eu possa também ir reverenciá-Lo." Na realidade Herodes queria era aproveitar-se da informação deles para condenar a Criança à morte.

Tendo ouvido o rei Herodes, os magos sem desconfiarem de nada, partiram para Belém. Ali novamente apareceu aquela estrela, a mesma que eles tinham visto antes no horizonte. Ela movimentando-se pelo céu, andava adiante deles mostrando-lhes o caminho. Em Belém a estrela ficou parada sobre o lugar onde estava o Menino Jesus.

Os magos entraram na casa e avistaram o Menino Jesus junto com Sua Mãe. Eles inclinaram a cabeça diante Dele, fazendo a reverência até o solo e O presentearam com: ouro, incenso e mirra (um precioso óleo aromático). Nos presentes dos magos pode-se notar o seguinte significado simbólico: O ouro Lhe foi ofertado como a um Rei (como tributos ou faixas), o incenso, como a Deus (o incenso é usado nos divinos ofícios), e a mirra, como para uma Pessoa, a qual está para morrer (pois naquele tempo os mortos eram ungidos com óleos misturados com mirra aromática).

Tendo reverenciado o Rei aguardado por todos, os magos deveriam retornar a Jerusalém e ao rei Herodes no dia seguinte. Porém um Anjo apareceu-lhes em sonho e revelou as intenções pérfidas de Herodes, e mandou-os voltarem à sua pátria, tomando outro caminho que não passasse perto de Jerusalém. A tradição preservou os nomes dos magos, os quais depois tornaram-se cristãos. Eram eles: Melchior, Gaspar e Baltazar. No relato sobre o Nascimento de Cristo, é admirável ainda notar que os primeiros a venerarem o recém-nascido Salvador foram os pastores, verdadeiros filhos da natureza, que podiam abrir diante Dele apenas o tesouro de seus corações, cheios de simplicidade, fé e humildade. Significativamente mais tarde vieram os magos do oriente, impregnados de sabedoria erudita, que mediante venerável alegria colocaram ouro, incenso e mirra diante da Criança Divina. Eles tiveram que fazer uma longa jornada para alcançarem a Judéia, e mesmo já estando em Jerusalém, não conseguiram encontrar logo o lugar do nascimento do Rei dos Judeus. Será que isto não indica que a pureza do coração e a profunda erudição conscienciosa levam igualmente a Cristo? Mas o primeiro caminho é mais direto, curto e fiel do que o segundo. Os pastores eram guiados diretamente pelos Anjos, enquanto que os magos foram "guiados" por uma estrela muda e através de Herodes, pelos escribas e anciãos judeus. Porém, sem dificuldades e perigos eles alcançaram a meta desejada, e não ouviram a harmonia celeste que soou sobre a terra – "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de bem" (pensamento do Metropolito Anastácio).

 

 

O Filho de Deus

E o Filho do Homem.

"É tão sublime – unanimemente O proclamamos – o Mistério da bondade divina manifestado na carne" (1 Tim. 3:16). Estas palavras do Apóstolo atestam de que o milagre da encarnação do Filho de Deus excede a compreensão de nossa mente limitada. Realmente nós podemos acreditar, mas não podemos explicar os acontecimentos que sucederam há dois mil anos atrás em Belém, quando na Pessoa de Jesus Cristo onde duas naturezas diferentes e opostas na essência foram unidas: a sobrenatural, eterna e infinita – Divina, e ao mesmo tempo a material, limitada e frágil – a natureza humana.

Não obstante, os Evangelhos e as epístolas Apostólicas, na extensão das nossas forças, nos revelam certos aspectos do milagre da encarnação do Filho de Deus. São João o Teólogo, no começo do seu Evangelho eleva nosso pensamento à pré-eterna existência da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Quem ele denomina de verbo dizendo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por Ele e sem Ele nada foi feito... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Joã. 1:1-3,14).

A denominação de Verbo do Filho de Deus indica que o nascimento Dele do Pai não deve ser entendido no sentido de um nascimento comum: ele ocorreu impassível e sem desagregação. O Filho de Deus nasceu do Pai assim como a palavra nasce do pensamento. O pensamento e a palavra são diferentes um do outro e ao mesmo tempo são inseparáveis. Não existe palavra sem o pensamento, e o pensamento infalivelmente é expresso na palavra.

A prédica Apostólica subsequente é mais completa ao revelar a verdade da Natureza Divina de Cristo, ou seja, que Ele é verdadeiramente o Unigênito (o único) Filho de Deus, o qual nasceu do Pai antes de todos os séculos, isto é, Ele é eterno, assim como Deus Pai é eterno. O Filho de Deus tem a mesma natureza Divina que Deus Pai, e por esta razão – Ele é o Criador do mundo visível e invisível, e de nós homens. Resumindo, Ele, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é o verdadeiro e absoluto Deus. A fé em Jesus Cristo como o Filho encarnado de Deus representa a fortaleza ou a pedra na qual a Igreja está estabelecida, de acordo com a palavra do Senhor: "Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mat. 16:18).

Sendo Deus perfeito, Cristo-Salvador é ao mesmo tempo um Homem perfeito. Tendo corpo humano e alma com todas suas particularidades – razão, vontade e sentimentos, como homem, Ele nasceu da Virgem Maria. Como Filho de Maria, Ele obedecia a Ela e a José. Como homem, Ele foi batizado no Jordão, visitou cidades e vilarejos com Seu sermão de salvação. Como homem, Ele sentiu fome, sede, cansaço, necessitava dormir e repousar; suportou sensação de enfermidades e sofrimentos físicos. Vivendo uma vida física inerente ao homem, o Senhor também viveu uma vida espiritual. Ele fortalecia Suas forças espirituais com jejum e orações. Ele experimentou sentimentos humanos – alegria, cólera, tristeza; derramou lágrimas. Deste modo o Senhor Jesus Cristo, tendo tomado nossa natureza humana, era igual a nós em tudo, exceto no pecado.

Possuindo duas naturezas, Jesus Cristo tinha também duas vontades livres. A vontade humana racional consciente de Jesus Cristo invariavelmente subordinava suas aspirações humanas e o desejo da vontade Divina dentro Dele. A vontade humana em Cristo está claramente visível durante Seus profundos sofrimentos no jardim de Gethsemani: "Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que Eu quero, mas, sim, o que Tu queres" (Mat. 26:39).

Assim, pela Sua obediência a Deus Pai, o Senhor Jesus Cristo corrigiu nossa desobediência e nos ensinou a colocar a vontade de Deus acima dos nossos desejos.

 

 

A Finalidade da Encarnação

do Filho de Deus.

A parábola sobre a ovelha desgarrada fala de modo claro e figurativo sobre o objetivo da vinda do Filho de Deus ao mundo. O bondoso Pastor deixa noventa e nove ovelhas o que significava o mundo angelical, e dirige-se às montanhas, afim de procurar sua ovelha perdida – a raça humana perdida nos pecados. O imenso amos do Pastor por sua ovelha desgarrada é evidente não apenas pelo fato dele procurá-la cheio de preocupação, mas particularmente por ele carregá-la em seus ombros e traze-la de volta após encontrá-la. Em outras palavras, Deus com Seu poder devolve ao homem a inocência, a santidade e bem aventurança perdidas. O Filho de Deus uniu-se a nossa natureza, de acordo com as palavras do Profeta, "Ele tomou sobre Sí nossas enfermidades e carregou com nossos sofrimentos" (Isa. Cap. 53).

Cristo fez-Se homem não sòmente para nos ensinar o caminho e nos mostrar bons exemplos. Ele Se fez homem para nos unirmos a Ele, para juntar nossa débil e doente natureza humana à Sua Divindade. A Natividade de Cristo testemunha o fato de que nós alcançamos o alvo final de nossa vida não apenas através da fé e a procura do bem, mas essencialmente através do poder regenerativo da encarnação do Filho de Deus, com Quem nós nos unimos.

E, ao nos aprofundarmos no mistério da encarnação do Filho de Deus, podemos ver que está estreitamente ligada ao mistério da Comunhão e com a Igreja, o que, pelos ensinamentos Apostólicos, significa o Corpo Místico de Cristo. Na Sagrada Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, o homem se une à natureza Divina de Cristo, junta-se a Ele e nessa união é totalmente transfigurado. Ao mesmo tempo na Sagrada Comunhão, o cristão se une também a outros membros da Igreja – e assim o Corpo místico de Cristo cresce.

Os cristãos heterodoxos, os quais não crêem na Sagrada Comunhão entendem a união com Cristo de um modo alegórico, figurado, ou no sentido de apenas uma comunicação espiritual com Ele. Mas para uma comunicação espiritual, a encarnação do Filho de Deus é supérflua. Afinal de contas, mesmo antes da Natividade de Cristo, os profetas e os justos eram dígnos da abençoada comunicação com Deus.

Devemos entender que o homem está enfermo não apenas espiritualmente, mas também fisicamente: toda a natureza humana está danificada pelo pecado. Por esta razão, é essencial curar o homem inteiro e não apenas seu lado espiritual. Para remover qualquer dúvida em relação à necessidade da total comunhão com Ele, o Senhor Jesus Cristo em Seu discurso sobre o Pão da vida, diz assim: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia... Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele" (Joã. 6:53-56). Um pouco mais tarde, no discurso sobre a videira, Cristo explica aos Seus discípulos que justamente na união estreita com Ele o homem recebe forças necessárias para o desenvolvimento espiritual e a perfeição: "o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em Mim" (Joã. 15:4-5).

Alguns Pais santos comparavam devidamente a Comunhão com a árvore mística da vida, da qual nossos antepassados comiam no Éden e a qual depois são João o Teólogo viu no paraíso (Gen. 2:9; Apo. 2:7, 22:2). Na Sagrada Comunhão o cristão se une à vida imortal de Deus-Homem.

Desta maneira, a finalidade da encarnação do Filho de Deus consiste na regeneração física e espiritual do homem. A renovação espiritual sucede no decorrer de toda a vida do cristão. Mas a renovação da natureza física dele será concluída no dia da ressurreição geral dos mortos, quando "Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol" (Mat. 13:43).

 

 

Ofícios Divinos

na Natividade de Cristo.

Depois da Páscoa, a Natividade de Cristo é a festividade mais radiante, a qual pode ser chamada verdadeiramente de "Páscoa do Inverno." A celebração da Natividade de Cristo surgiu muito cedo, possivelmente ainda no primeiro século. Mas até o final do século 4, a Natividade de Cristo era celebrada no dia 6 de janeiro (19, de acordo com o novo estilo), junto com o Batismo, e era chamada de Epifania. Iniciando no 4o século, a Natividade de Cristo começou a ser celebrada em 25 de dezembro (no dia da festividade pagã em honra ao "Sol Invensível"). Atualmente isso sucede em 7 de janeiro, pelo calendário Gregoriano. A Igreja prepara os crentes para uma celebração digna da Natividade de Cristo pelo jejum de 40 dias, o qual tem início em 28 de novembro, pelo novo estilo, no dia da comemoração do Apóstolo Felipe (daí provém o jejum de Felipe). Os cristãos ortodoxos passam a véspera da Natividade de Cristo em jejum rigoroso. De acordo com o regulamento, nesse dia come-se apenas sochivo (trigo escaldado com mel). Por esta razão esse dia é denominado "Sotchelnic."

Na véspera da Natividade de Cristo realizam-se as "horas reais." Este ofício divino difere das "horas" habituais nas leituras das "paremias" especiais (leituras escolhidas da Bíblia principalmente do Antigo Testamento). Além disso são lidos o Apóstolo e o Evangelho.

Depois é realizada a Liturgia de São Basílio o Grande com as Vésperas. Nestas Vésperas são cantados os cânticos sobre "Senhor eu clamo," nos quais, por um lado é representado o significado interior da encarnação do Filho de Deus, graças a que foi destruído o conflito entre Deus e as pessoas; a espada de fogo do anjo que interceptava a entrada ao paraíso voltou para traz e nós novamente recebemos acesso ao paraíso. Por outro lado é representado o quadro da Natividade de Cristo: a dexologia dos anjos, distúrbios de Herodes e a unificação de todos os homens sob o domínio do imperador romano Augusto.

As seis paremias são constituídas dos seguintes pensamentos: a 1a leitura do Antigo Testamento (1:1-13) fala sobre a criação dos homens por Deus; a 2a (Num. 24:2-9; 17-18) fala sobre o significado profético da estrela de Jacó e o nascimento do Messias, a Quem todos os homens se submeterão. A 3a leitura (Miq. 4:6-7; 2-4 e 5:2-4), fala sobre o nascimento de Cristo em Belém; A 4a (Isa 11:1-10) fala sobre um Rebento que brotará do tronco de Jessé (o Messias) e a respeito do Espírito de Deus que repousará sobre Ele; a 5a (3:36-38; 4:1-4) diz sobre o aparecimento de Deus sobre a terra e sobre Sua vida entre os homens. A 6a (Dan. 2:31-36; 44-45) fala sobre a restauração (por Deus) do Reino Celeste. Ao final da Liturgia os sacerdotes, diante do ícone da festa colocado no centro da Igreja, glorificam Cristo com cantos do troparion e Kondaquion da comemoração desse dia.

Ao anoitecer, na véspera da Natividade de Cristo, é celebrada a Vigília solenem a qual inicia-se com a 1a parte da Vigília de Natal, com cânticos triunfantes dos versos: "Deus está conosco" (que conteêm a profecia sobre o nascimento do Messias, veja Isa 7:14; 8:8-15 e 9:6-7). Nos cânticos é expressado o triunfo do céu e da terra, dos anjos e dos homens, que se alegram pela descida de Deus à terra e na conseqüente mudança moral e espiritual nos homens. Os cânticos no final das Vésperas exprimem o pensamento a respeito de que se realizou o milagre glorioso: "a Palavra nasceu incorruptível da Virgem e não está separada do Pai. Após "Concede agora ao Teu servo partir" é cantado o seguinte troparion:

 

Troparion:

 

Tua natividade, Ó Cristo nosso Deus,

iluminou o mundo com a luz da razão:

porque aqueles que adoravam

as estrelas, aprenderam através da estrela

a Te reverenciar, Sol da verdade, e a

Te ver nas alturas do Nascer

Do dia: Ó Senhor, glória a Ti.

 

Antes da leitura dos seis salmos no começo das Matinas, é como se o coro da Igreja se fundisse com o coro do céu cantando: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de bem."

O "Cânone" (parte do ofício divino após o Evangelho) expressa o pensamento de que Aquele que nasceu da Virgem não é um simples homem, mas sim é Deus surgido em carne na terra para a salvação dos homens, conforme foi profetizado a respeito Dele no Antigo Testamento. No cânone Jesus Cristo é chamado de Bemfeitor, Aquele que nos reconciliou com Deus Pai, livrando-nos do domínio do demônio e nos salvou do pecado da maldição e morte (veja o Cânone abaixo). Após o sexto cântico do Cânone e a Pequena Ladainha canta-se o seguinte:

 

 

Kondaquion:

 

Hoje a Virgem deu à luz Àquele que

está acima de tudo que existe, e

a terra oferece uma caverna

ao Inacessível; os Anjos veneram com

os pastores, e os magos viajam com

a estrela, pois para a nossa salvação

nasceu uma Criança, Deus pré-eterno.

 

No próprio dia da festa da Natividade, no início da Liturgia, em lugar dos salmos "Bendize ó minha alma" e "louva ó minha alma," são cantadas antíforas especiais. O prokimenon antes do da Epístola expressa a adoração a Jesus Cristo por toda a criação – "Toda criação Te venera e canta a Ti; cantemos ao Teu nome, ó Altíssimo." Na leitura Apostólica explica-se de como através da encarnação de Jesus Cristo nós nos fizemos filhos do Pai Celestial: "Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, Que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma Lei, a fim de remir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a Sua adoção. A prova de que sois filhos, é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama "Aba! Pai!. "Portanto, já não és escravo mas filho, e se és filho, então também herdeiro de Deus, através de Jesus Cristo" (Gal. 4:4-7). A leitura do Evangelho narra sobre a adoração dos magos ao Senhor nascido (Mat. 2:1-12).

Em lugar de "É verdadeiramente digno louvar-Te é cantado o seguinte "zadostoinik."

 

 

Zadostoinik:

 

Por receio (para não injuriar a Virgem

Maria), seria melhor guardarmos

silêncio, o que seria mais seguro; pois

por amor a Ti, Virgem, compor habilmente

cânticos harmoniosos, não

é fácil. Porém Tu Mesma, Mãe,

dá-nos habilidade em nosso fervor.

 

 

Canone da Natividade.

Na Vigília da véspera da Natividade de Cristo são cantados dois cânones, que foram escritos por dois famosos compositores do oitavo século; eram eles São Cosme de Maiuma e São João de Damascus. Os dois cânones são repletos de pensamentos profundos e sublimes, com imagens vivas e expressões majestosas, que correspondem inteiramente à solenidade da celebração da festividade.

No cânone de São Cosme domina o pensamento de que Cristo feito homem, permanece como era; como Deus. Infundido por esse acontecimento, o escritor do cânone glorifica com entusiasmo e veneração o Deus-Homem Que desceu à terra, acrescentando-Lhe nomes, qualidades e ações, os quais Lhe foram atribuídos pelos antigos Profetas. O inspirado escritor estimula também outros para a alegria e um encontro digno com o recém-nascido Rei da glória, iniciando o cânone com as palavras de São Gregório o Teólogo: "Cristo nasceu, glorifiquem" (do sermão de São Gregório, da Natividade), e ao final do cânone repetindo as palavras de São Crisóstomo: o mais glorioso e estranho mistério que vejo. São João de Damasco, em seu cânone, descreve aqueles fatos de salvação, os quais sucederam para a raça humana por causa do surgimento do Filho de Deus encarnado, revelado com clareza nos livros do Novo Testamento. Apresentaremos aqui apenas o cânone de Cosme de Maiuma. Os "cânones sempre possuem nove "cânticos," porém, o 2o cântico existe somente nos cânones da Grande Quaresma.

 

Eirmos: Cristo nasceu – glorifiquem-No! Cristo vem dos céus – recebam-No! Cristo está na terra – louvem! Cante ao Senhor, o mundo todo! E com alegria glorifiquem, povo: pois Ele foi glorificado.

O homem, feito à imagem de Deus, se perverteu em consequencia do pecado, se submeteu inteiramente à corrupção e se privou da superior vida Divina, mas é reabilitado pelo sábio Criador porque Ele foi glorificado.

O Criador, vendo a perdição do homem, criado por Suas mãos, baixando dos céus, desce e assume toda sua natureza, verdadeiramente encarnado da Virgem pura, pois Ele foi glorificado.

Sendo sabedoria, pela Palavra, pela força, Filho e esplendor do Pai, Cristo Deus, mistério de todas as forças quantas existem além do mundo e sobre a terra, ao Se fazer homem nos renovou, pois Ele foi glorificado!

 

 

3o Cântico

 

Eirmos: Ao Cristo Filho de Deus, nascido sem pecado do Pai antes dos séculos e nos últimos séculos encarnado da Virgem sem semente, exclamemos: Tu ergueste nossa dignidade. Tu é santo, Ó Senhor.

O mortal Adão, participante do alento da vida, ao ver Cristo nascido da Mulher, exclama: Por minha causa Te assemelhaste a mim. Tu és santo, Ó Senhor.

Ó Cristo, tendo assumido nossa modesta carne, unido a nós Sua existência Divina, Se tornando homem sendo Deus, e tendo elevado nosso mérito, Tu és santo, Ó Senhor.

Alegra-te Ó Belém, cidade real entre as cidades de Judá: pois Cristo subiu ao trono sobre todos, descendente de tí e Que elevou nosso mérito, carregado sobre os ombros dos Querubins.

 

 

4o Cântico

 

Eirmos: Um renôvo saiu do tronco de Jessé e um rebento brotou de suas raízes: Cristo! Tu brotaste da Virgem, Ó Glorioso. Foste encarnado Daquela que não conheceu nenhum homem. Tu vieste, não formado da matéria, Ó Deus, da montanha sombreada pela floresta: glória ao Teu poder, Ó Senhor (Isa. 11:1; Hab. 3:3).

Cristo, profetizado na antiguidade por Jacó como esperança das nações; Tu foste originado da tribo de Judá e vieste derrubar o poder de Damasco e a espoliação de Samaria, substituindo os erros por fé agradável a Deus. Glória ao Teu poder, Senhor (Gen. 49:10; Isa. 8:4).

Tu, Ó Senhor, Que resplandeceste como a estrela saída de Jacó, realizaste a alegria dos sábios observadores das estrelas e dos discípulos do antigo profeta Balaão, que foram trazidos a Tí como início dos pagãos e claramente os acolheste. Glória ao Teu poder, Ó Senhor (Num.24:17).

Tu desceste, Ó Cristo, ao ventre da Virgem, como a chuva sobre o velo e como gotas de orvalho caindo sobre o solo; a Etiópia e Tharsis, as ilhas da Arábia e Saba, todas regentes da terra caíram diante de Ti, Ó Salvador. Glória o Teu poder, Senhor (Juizes 6:37).

 

 

5o Cântico

 

Eirmos: Deus da paz e Pai da misericórdia, Tu nos enviaste o Anjo do Grande Conselho que nos concede a paz. Nós sendo acordados na noite e trazidos à luz do conhecimento de Deus glorificamos a Tí que amas a humanidade (Isa. 9:1).

Tu Cristo, tendo Se submetido às ordens de César de ser incluído entre seus súbitos, Tu nos libertaste, nós que somos escravos do inimigo e do pecado; depauperado em tudo por nós, mediante a união e relação conosco, Tu divinizaste o homem mortal. Eis a Virgem, que conforme está escrito na antiguidade, concebeu no ventre e deu a luz a Deus que Se fez homem e se mantém Virgem. Através Dela nós pecadores nos reconciliamos com Deus. A glorificamos com fé, como a verdadeira Mãe de Deus.

 

 

6o Cântico

 

Eirmos: O monstro marinho regurgitou Jonas tal qual o tomou, como um bebê do ventre; e quando a Palavra, Se instalou na Virgem e Se fez carne, passou, preservando. A intocada, pois a Palavra não era sujeita a perecer, e conservou Sua Mãe intacta.

Na carne veio nosso Cristo Deus; o Pai O fez vir ao mundo do ventre antes da estrela matinal (aurora; indicação poética para a eternidade do Messias – veja salmo 109). Dirigido por forças puras Ele se deita na manjedoura de gado, é enrolado com faixas, e rasga os nós embaraçados do pecado.

Da natureza de Adão é nascido o Filho, pequeno Infante que é dado aos fiéis. Ele é o Pai e chefe do próximo século e é chamado de Anjo do Grande Conselho (Trindade – Ele é Deus, forte e terá toda humanidade sob seu domínio (Isa. 9:6).

 

 

7o Cântico

 

Eirmos: As crianças educadas juntas na virtuosidade, desprezando os maus preceitos, não tiveram medo do fogo. Passeavam dentro das chamas, cantavam: Louvado Tu, Deus dos nossos pais (Dam. 3).

Os pastores que estavam no campo, foram dignos da aparição da luz; pois a graça do Senhor os iluminou, e o Anjo exclamava: Cantem, pois nasceu Cristo, Deus bendito dos pais.

Subitamente, após as palavras do Anjo, os exércitos celestes começaram a exclamar: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de bem. Cristo resplandeceu, abençoado Deus dos pais.

"O que significa essa palavra? – diziam os pastores, — vamos ver o que aconteceu; vamos ver o Cristo Divino." Chegando pois a Bethlem, reverenciaram-No junto com a Mãe cantando: Deus dos pais, Tu és abençoado.

 

 

8o Cântico

 

Eirmos: O fogo da fornalha de Babilônia, aonde foram jogados os três infantes, ao invés de queimar, refrescava-os; (veja Dan. 3:50) a fornalha era a imagem de um milagre sobrenatural, pois ela não queimou os jovens, tal qual o fogo da Divindade – as entranhas da Virgem quando Ele desceu Nela. Por isso exclamemos glorificando: Que toda criação bendiga o Senhor e O exalte por todos os séculos.

A filha da Babilônia irá atrair para sí de Sião os filhos de Daví e envia seus filhos, os magos levando presentes, para reverenciarem a Filha de Daví, a Qual recebeu Deus. Por isso glorificando exclamemos: "Que toda criação bendiga o Senhor e O exalte por todos os séculos.

Cânticos lamentosos obrigaram as crianças de Sião a colocar de lado os instrumentos musicais, pois elas não poderiam cantar em terra estranha. Mas Cristo resplandeceu em Belém e dispersou toda sorte de sedução e harmonia musical da Babilônia. Por isso cantando exclamemos: Que toda criação bendiga o Senhor e O exalte por todos os séculos (Sal. 136).

A Babilônia tomou e dominou as riquezas reais de Sião. Mas Cristo através da estrela-guia atrai para Sião Seu tesouro e eruditos. Por isso cantando exclamemos: Que toda criação bendiga o Senhor e O exalte por todos os séculos (2-Reis 24).

 

 

9o Cântico

 

Eirmos: Vejo um extraordinário e maravilhoso mistério: uma cavera – o Céu, a Virgem – o trono dos Querubins; manjedoura – lugar onde Cristo Deus, o ilimitado, está deitado, a Quem louvamos cantando.

Os magos vendo o curso proeminente da extraordinária estrela que iluminava os céus, se convenceram de que Cristo o Rei nasceu na terra de Belém, para a nossa salvação.

Quando os magos diziam: Onde está a Criança recém-nascida – o Rei, da Qual a estrela, é testemunha? Nós viemos venerá-La. Então Herodes o herege ficou furioso, planejando matar Cristo.

Herodes averiguou sobre o tempo do aparecimento da estrela, sob cuja direção os magos veneravam a Cristo com presentes, em Belém. A mesma estrela os dirigiu de volta à sua terra, deixando o cruel infanticida ridicularizado.

Assim sendo, os hinos Natalinos nos lembram de que nesta noite memorável cada criatura apressou-se em trazer seu presente para o Rei-Salvador: o céu – a estrela, a terra – caverna; o deserto – a manjedoura; os Anjos – cânticos; pastores – veneração; magos – presentes. Por isso também nós devemos chegar até Ele não de "mãos vazias," e sim trazer-Lhe aquilo que é mais valioso de tudo, — nosso coração puro e cheio de fé. Pois, "para isto Deus superior apareceu na terra, para nos elevar aos céus!."

 

 

Na Noite de Natal.

 

 

Oh, como eu desejaria, com ardente fé

E a alma aflita, purificada dos pecados,

Ver a penumbra daquela caverna miserável,

Onde por nós brilhou o Amor Eterno,

Onde a Virgem estava com Cristo, Santíssima,

Contemplando o Recém-Nascido com o olhar cheio de lágrimas

Como que prevendo os terríveis sofrimentos,

Ó, como eu desejaria, com ardente fé,

Ter aquilo que Cristo recebeu na cruz pelo mundo pecador!

Ó, como eu queria derramar lágrimas sobre a manjedoura,

Onde estava deitado Cristo-Recém-Nascido, e com oração

Cair de joelhos, — rezar pedindo-Lhe para que se apaguem

O ódio e a inimizade atuantes sobre a terra pecadora.

Para que o homem na impetuosidade, irritado, cansado,

Arrasado pela tristeza, numa luta cruel,

Se esqueceu do ideal centenário

E de novo seja infiltrado pela fé santa e forte, —

Para que, como aos humildes pastores,

Na noite da Natividade, das alturas

Uma estrela milagrosa, com seu fogo sagrado,

Resplandecesse repleta de uma beleza irreal.

Para que também a ele, cansado e doente,

Como os antigos pastores bíblicos e os magos,

Ela sempre levaria, na noite da Natividade de Cristo

Para lá, onde nasceram a Verdade e o Amor.

 

V. Ivanov.

 

 

Folheto Missionário número P31

Copyright © 2001Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

 

(nativity_p.doc, 10-15-2001)

 

 

 

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