A Vida Dos Santos

 

Maio — Junho

 

 

Bispo Alexandre (Mileant).

Traduzido por Tatiana Zyromski

 

 

 

Conteúdo:  

A Dedicação Monástica.

Maio:

Santa Tamara, Rainha da Geórgia. Santo Atanásio Grande. Santa Mártir Pelaguéia. Santa Mártir Irene. Santo Apóstolo João Teólogo. Santo Mártir Cristóforo. Bem-Aventurada Taíssia. Santos Cirilo e Metódio. São Pacómio. Santos Constantino e Helena, Iguais-Aos-Apóstolos. Exaltação da Santíssima Cruz do Nosso Senhor. Santa Eufrosínia, Duquesa da Cidade de Pólotsk.

 

Junho:

Santo Igor. Santo Mártir Leonidas. Os Mártires Alexandre e a Virgem Antonina. Santo Mártir Leôncio. São João Batista. Santa Mártir Leonida. Santo Apóstolo Pedro. Santo Apóstolo Paulo.

 

 

 

A Dedicação Monástica.

Certas pessoas se dedicam completamente a ciência, artes, política ou qualquer outra atividade escolhida por eles. Porque ? Porque esta é a sua vocação. Estas pessoas contribuem para o progresso da arte ou ciência, a que elas se dedicaram. Por outro lado, existem pessoas, que não são atraídas pelo progresso intelectual ou material, mas sim pela aquisição de uma perfeição interior. Elas são atraídas por uma vida justa e por isso se tornam monges e freiras.

A vida dentro de uma sociedade secular pouco contribui para a perfeição, antes ela impede a atingi-la. O santo Evangelista João Teólogo diz, que a vida da sociedade é afetada por três males: "Porque tudo o que há no mundo — concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida." Portanto: "Não ameis o mundo, nem nada o que há no mundo," — ensina ele (1 João, 2:15). A vida monástica tem por finalidade livrar o homem do mal que reina no mundo: da concupiscência da carne — pela castidade e moderação, da inveja (i.e. desejo excessivo de riquezas e bens materiais) pela recusa de bens pessoais, e do orgulho — pela obediência ao superior. Desta maneira, a vida monástica está destruindo o mal na sua própria raiz e está colocando a pessoa no caminho certo, que leva à perfeição espiritual.

A palavra "monge" deriva da palavra grega "um." Ser monge significa que a pessoa vive na solidão. Os mosteiros surgiram como habitações solitárias e afastadas do mundo. A vida monástica difere da de outras pessoas, que vivem no mundo; daí o nome russo do monge: "inok" da palavra "inói" — outro, diferente.

Há muitos caminhos que levam ao Reino de Deus, e o Evangelho nos proporciona uma ampla escolha de como devemos proceder: o principal é evitar o mal e fazer o bem. Mas, para aqueles que sentem vocação para uma vida mais perfeita, dirigem-se as seguintes palavras do Nosso Senhor: "Se alguém quiser vir atrás de Mim, tome a sua cruz e siga-Me ... Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-Me ...Há impotentes que por si mesmos se tornaram tais por amor do Reino dos Céus. Quem é capaz de entender, entenda ... Qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo" (Mateus 16:24; 19:12-21; Lucas 14:26-33). Aqui são determinadas as principais condições, na base das quais são formulados os votos (promessas feitas a Deus pelas pessoas que entram para o mosteiro).

A tendência de seguir uma vida cheia de provações surgiu junto com o cristianismo. De acordo com o são Cassiano (século IV) os discípulos do Evangelista Mateus, que era o primeiro bispo em Alexandria (Egito), eram os primeiros monges. Eles saíam das cidades para os lugares mais afastados, onde levavam uma vida diferente, seguindo os preceitos elaborados pelo são Marcos. O historiador judeu Filós, morador de Alexandria contemporâneo dos apóstolos, escreve sobre uns certos Terapeutas, que se afastaram do centro da Alexandria até os subúrbios dela, e onde levavam uma vida austera, exatamente igual aquilo que mais tarde nos diz são Cassiano sobre os primeiros monges da Alexandria e chama as moradias deles de mosteiros.

Há notícias de que os monges apareceram na Síria ainda durante a vida dos apóstolos. Santa Eudoxia, que desde o ano de 96 d.C. viveu na cidade de Heliopolis na Síria, durante o reinado de Trajano, foi convertida para o cristianismo pelo santo Herman, abade de um mosteiro, onde havia 70 monges. Ela mesma, após a sua conversão, entrou para um convento, onde havia 30 freiras.

Não obstante a escassez de documentos, não há dúvida de que a instituição monástica surgiu ainda durante a vida dos apóstolos. É difícil admitir a falta de sede da perfeição espiritual naqueles tempos, quando os cristãos deixavam tudo para seguir o ensinamento do apóstolo Paulo sobre a virgindade, formulado na sua epístola aos Coríntios (1 Cor., capítulo 7). Para estas pessoas, o exemplo vivo sempre eram e serão o Próprio Senhor Jesus Cristo, a Sempre Virgem Maria, o profeta João Batista, o discípulo amado e celibatário apóstolo João Teólogo, o apóstolo Paulo, o apóstolo Tiago, irmão do Senhor e primeiro bispo de Jerusalém, e muitos, muitos outros. Eis os exemplos, tão sublimes, que serviram de modelo para os monges, onde nasceu a vida monástica, eis a sua fonte espiritual.

É desta forma que o são Doroteu explica o surgimento da vida monástica, dizendo: "Eles (os cristãos) entenderam que para as pessoas que vivem no mundo, é muito difícil se aperfeiçoar espiritualmente e portanto escolheram uma maneira diferente de viver, uma maneira diferente de passar o tempo, uma maneira diferente de agir — que é uma vida monástica e assim eles começaram a sair das cidades e passaram a morar nos desertos, levando uma vida cheia de privações, jejuando, dormindo muito pouco no chão sem nenhum cobertor por baixo ou por cima e suportando voluntariamente muitas privações e sofrimentos, renunciando a vínculos de parentesco ou da pátria, de todos os bens materiais. Por outras palavras, eles se crucificaram ao mundo."

Nas antigas comunidades monásticas a atenção principal era dada a ocupações espirituais: à oração, ao jejum e às reflexões sobre Deus e sobre o mundo espiritual. Mas, ao mesmo tempo, o trabalho físico era tido como indispensável para proporcionar uma diversificação das atividades, porque ele proporcionava meios de subsistência e de ajuda aos pobres.

No começo do século IV surge uma enorme tendência à vida monástica. Isto surgiu como conseqüência do enfraquecimento no rigor da vida cristã, enfraquecimento este que aconteceu porque eram batizados muitos pagãos que continuavam a se interessar exclusivamente por assuntos materiais. Este fato estimulou muitos verdadeiros cristãos a se afastar das cidades, vilas e aldeias e viver nos desertos para lá, longe da agitação do mundo, se aperfeiçoar espiritualmente, rezando, jejuando e refletindo sobre Deus. O primeiro lugar no meio destes grandes homens pertence ao Antônio Magno.

Santo Antônio nasceu nos meados do século III no Egito. Visando solidão e perfeição ele se estabeleceu numas ruínas de um forte antigo, na margem oriental do Nilo. Ali ele viveu durante 20 anos numa completa solidão, jejuando, rezando e se submetendo a diversas privações. Com o passar do tempo, muita gente ficou sabendo sobre ele e começou a visitá-lo. Alguns até começaram a se instalar perto dele para serem guiados por ele e desejando levar a mesma vida austera. Assim, aos poucos, em volta do Santo Antônio se formou um círculo de discípulos (ano 305).

Santo Antônio não estabeleceu nenhuma regra sobre a vida monástica, mas explicou em linhas gerais o caminho para atingir perfeição espiritual. Assim, baseado no próprio exemplo, ele ensinava a renegação dos bens materiais, uma plena devoção à vontade de Deus, uma contínua oração, uma reflexão solitária sobre Deus e trabalho físico. Conforme foi estabelecido por ele, tais pessoas se encontravam sob cuidados de um padre (um "starets," um "ancião," que era uma pessoa com uma grande experiência espiritual e que era plenamente responsável por seus discípulos), moravam separados um do outro em cabanas ou cavernas e se empenhavam no aperfeiçoamento espiritual. Estas comunidades eram chamadas de "lavra."

Mas, ainda durante a vida do santo Antônio apareceu uma outra forma de vida monástica — comunidades. Os que desejavam atingir a perfeição se reuniam numa comunidade, que era dirigida por um abade, viveram juntos, as vezes todos num mesmo compartimento, as vezes em celas individuais, mas todos seguiram as mesmas regras. Estas comunidades eram chamadas de "mosteiros" (cenóbios). O fundador desta forma de vida monástica era o são Pacómio Grande (348).

São Pacómio também nasceu no Egito. Ele era militar e durante uma campanha teve a possibilidade de conhecer a caridade cristã, e desde então teve um grande desejo de abraçar o cristianismo e realmente, após o término do serviço militar, ele foi batizado. Ele conheceu a vida austera no deserto da Tebaida e para si escolheu um lugar deserto na margem do Nilo, chamado de Tavenna. É aqui que surgiu a idéia à são Pacómio de instituir uma comunidade monástica e assim, numa das ilhas do Nilo ele fundou um mosteiro para todos aqueles, que desejassem viver numa comunidade.

A vida austera do são Pacómio atraiu à ele muitos discípulos, tantos, que no mosteiro construído por ele não havia mais lugar e ele foi obrigado a construir mais alguns mosteiros nas margens do Nilo, próximos um do outro. Também foi ele quem fundou um convento para as mulheres na outra margem do Nilo.

Nos mosteiros por ele fundados são Pacómio introduziu certas regras. Este é o primeiro estatuto de uma vida monástica. Todos os monges eram divididos por são Pacómio em 24 categorias, conforme a evolução da vida espiritual deles, mas todos eram dirigidos por um único abade. Cada mosteiro teve seus próprios superiores, chamados de "hegúmenos." Eles todos eram subordinados ao abade principal e o informavam sobre a vida nos respetivos mosteiros. Nos mosteiros também houve ecônomos com ajudantes, que cuidavam da parte econômica da comunidade. Todos os superiores eram obrigados a levar uma vida que servisse de exemplo para o resto dos irmãos. Guiados pelos superiores, os monges eram obrigados a levar uma vida austera, rezando, lendo livros de conteúdo espiritual, principalmente as Escrituras Sagradas, e também deviam trabalhar muito. As missas eram celebradas duas vezes ao dia — de dia e de noite. Após um determinado sinal os monges, sempre modestos e calados, se reuniam na igreja, liam as Escrituras Sagradas e orações e cantavam. Aos domingos — comungavam. Além disso, os monges deviam rezar individualmente antes de dormir e ao levantar. Após as orações ou após as missas, o superior conversava com eles sobre uma vida cristã. Os monges se dedicavam à leitura individualmente nas suas celas, nas horas livres de trabalho e da oração. Os livros lhes eram entregues pelo ecônomo, da biblioteca do mosteiro.

Os monges trabalhavam nas hortas, pomares, ferrarias, moinhos, curtiam o couro, eram marceneiros, tecelões, fabricavam cestas de vime. Saíam para o trabalho numa completa ordem e silencio, guiados pelo seu superior. O silencio era obrigatório em quaisquer circunstâncias. Tudo isso devia ser cumprido com absoluta obediência. Sem a permissão do superior, nenhum irmão poderia nem só sair do mosteiro, mas nem poderia começar um outro trabalho. Todos os monges eram vestidos em roupas muito simples e iguais para todos. A roupa de baixo era de linho — uma túnica sem mangas, e por cima dela era usada uma roupa de couro, na cabeça eles usavam um gorro e nos pés — sandálias. Esta roupa não era tirada nunca, nem para dormir. Eles não tinham camas, somente assentos entre duas paredes; eles só podiam dormir numa esteira. Os monges se levantavam bem antes de amanhecer. A comida deles era a mais simples, uma vez por dia, geralmente ao meio dia. A comida deles consistia de pão, azeitonas, queijo, legumes e frutas. Nos sábados e domingos havia também uma refeição à noite. Todos comiam juntos, num absoluto silencio.

A pobreza é um dos principais votos monásticos no regulamento de são Pacómio. As pessoas que entravam para a comunidade eram proibidas de trazer qualquer objeto, mesmo as roupas usadas por elas na chegada eram distribuídas entre os pobres. O trabalho executado por um irmão pertencia a todos. Os monges recebiam tudo o que for lhes necessário do próprio mosteiro. Os ecônomos distribuíam aos monges a comida e as roupas, que foram produzidas no próprio mosteiro, ou então compradas com o dinheiro ganho com a venda de objetos feitos pelos irmãos. Para que estas regras fossem obedecidas, são Pacómio determinou, que as pessoas, que desejavam entrar para a comunidade, não podiam ser aceitas antes de serem postas a prova durante um ano.

Durante a vida do são Pacómio, o número dos monges na comunidade dele era de 7.000, e cem anos mais tarde — 50 000. A vida monástica, tanto eremítica como em comunidade se espalhou rapidamente por todo o Egito e de lá passou para outros países. Assim, Ammon fundou uma ordem de eremitas no monte Nitrio com o seu deserto adjacente, Makários do Egito — no deserto de Sceto, onde viviam muitos homens maravilhosos. Hilário, o discípulo predileto de Antônio, levou a vida monástica até a sua pátria, Palestina onde, perto de Gaza, fundou o seu mosteiro. Daí, a vida monástica se espalhou por toda a Síria e Palestina.

São Basílio Grande, que viajou pelo Egito e pela Palestina e conheceu a vida monástica de lá, difundindo-a na Capadócia (Ásia Menor, hoje Turquia), tanto para homens, como para mulheres. O seu regulamento que ele estabeleceu para os seus monges se espalhou rapidamente pelo oriente e virou comum a todos. No século V todo o oriente já era literalmente coberto por mosteiros. Os monges mais notáveis do século V são Isidoro Polusiota, Simão Stolpnik (que passou a vida encima de uma coluna) Eufímio, Sava Santificado, e muitos outros.

São Simão nasceu na Síria, passou muitos anos em orações encima de uma coluna, sem descer de lá, sofrendo de fome e das intempéries. Ele foi o fundador de uma nova forma de dedicação: a vida sobre uma coluna — uma espécie de torre ("stolpnichestvo" — da palavra "stolp" — coluna). Eufímio, fundador do mosteiro em Palestina, por sua dedicação recebeu de Deus o dom de fazer milagres. Sava, discípulo de Eufímio, entrou para a vida monástica aos 8 anos de idade e virou eremita. Ele fundou muitos mosteiros na Palestina e introduziu lá o regulamento sobre missas.

Além do "stolpnichestvo," no século V apareceu ainda um outro modo de dedicação nos mosteiros: os que não dormiam. O monge Alexandre organizou um mosteiro, onde as missas eram rezadas ininterruptamente, durante 24 horas por dia. Um rico habitante de Constantinopla, Studio, gostou desta ordem e fundou em Constantinopla um mosteiro igual, chamando para lá os que não dormiam nunca. Este mosteiro passou a se chamar de "Studiiski."

Notáveis santos viveram no século VI: Simão "Iuródivyi" (Desvairado) que, gozando de absoluta lucidez, se apresentava a todos como um que perdeu razão; este modo de vida, que ele empreendeu por amor à Cristo, lhe dava a possibilidade de ser constantemente humilhado, e desta forma ele chegou a completa impassibilidade, e também são João Clímaco, que passou muitos anos sobre o monte Sinai e escreveu a obra chamada de "Lestvitsa" (Escada), onde ele demonstrou como se aperfeiçoar espiritualmente até chegar à perfeição; no século VII — Alípio "Stolpnik" , que viveu encima de uma torre mais de 50 anos, sem nunca descer de lá. No fim do século VIII e começo de IX houve um outro representante de uma vida monástica rigorosa, que também era um fervoroso defensor de adoração dos ícones — Teodoro Studita. O seu mosteiro, que era famoso pelo seu regulamento rigoroso, deu ao mundo muitos monges santos, conhecidos pela austeridade de suas vidas, como, por exemplo, Nicolau, que foi torturado por causa da adoração dos ícones, Joaniquio, famoso pelo seu dom de clarividência, e outros.

No mesmo século IX apareceram eremitas no monte Atos, tais como são Pedro (século XI), que lá viveu em solidão por mais de 50 anos, e santo Atanásio, (século X), que fundou um mosteiro no Atos, onde mais tarde viveram muitos monges, que procuravam a perfeição.

O monacato russo alcançou grandes proporções e êxito espiritual, a começar pelos santos Antônio e Teodósio de Kievo-Petchersk e terminando com os santos de Optina. Infelizmente, aqui é impossível relatar a história do desenvolvimento e a experiência espiritual do monacato russo.

Nenhum passado de uma pessoa pode impedir a ela de entrar no mosteiro, porque a vida monástica consiste de penitencia, e o mosteiro é um hospital. No começo, a pessoa que entra no mosteiro se encontra no estágio de teste para determinar, até que ponto ela realmente deseja se dedicar à esta vida. Se o abade se convence, de que esta pessoa é realmente sincera na sua decisão, ele lhe concede a benção de usar "podriasnik" com cinto e "scufiá" ("podriasnik" consiste de uma veste preta, comprida, com mangas estreitas e a "scufiá" é um gorro, lembrando um cone). Este futuro monge, que está ainda em fase de teste, se chama de "poslúshnik" (obediente), porque o principal dever dele é obedecer.

O poslúshnik deve demonstrar toda a sua paciência e humildade na execução de todas as tarefas que lhe forem atribuídas, pois estas são as principais virtudes de um monge. "A obediência é mais importante do que jejum e a oração," — diz um ditado monástico, porque a obediência, baseada na humildade, ajuda a exterminar a doença principal da nossa alma — o orgulho, bem como o amor próprio, que é o berço de todas as paixões.

Quando, após um determinado período de tempo, o poslúshnik prova com a sua boa conduta a sinceridade o seu desejo de monacato, ele pode ser ordenado para o segundo grau, chamado de "riasofór." Ele ainda não faz nenhum voto, mas geralmente recebe um novo nome e tem direito de usar, por cima do "podriasnik" a "riasa" e a "kamilávka" ("riasa" é uma veste comprida, preta, com mangas largas, usada por cima do "podriasnik"; a "kamilávka" é uma espécie de chapéu sem abas, mais larga em cima). A ordenação para o "riasofór" é feita durante uma missa especial, que se chama de "Missa para vestir a ‘riasa’ e a ‘kamilávka’.

"O homem que não é casado é solícito das coisas do Senhor: cuida e agrada ao Senhor; mas o que é casado é solícito das coisas do mundo: cuida e agrada a mulher" (1 Cor. 7:32-34). Jesus disse ao jovem, que procurava a vida eterna: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu." Baseando-se neste ensinamento, os monges se recusam a possuir qualquer coisa, para que nada lhes possa impedir alcançar a perfeição espiritual.

São Gregório Teólogo diz: "Será que o monge deve ser preocupar para que não seja roubado (seqüestrado) ele mesmo? Porque ele não possui nada além do seu próprio corpo, coberto por uma roupa velha, rasgada. Deixa os outros, que possuem muito dinheiro, tomar as medidas necessárias contra o roubo. Todos os meus bens consistem de Deus, e este tesouro ninguém conseguirá roubar. No que se refere à outras coisas, podem levar tudo; a minha condição é a mais segura, pois aquilo que eu possuo, ficará comigo eternamente. Deus é a minha parte. Não quero possuir nada além de Deus; quando sirvo no altar, tenho comida e roupa, e estou satisfeito com isto; pobre seguirei atras de uma pobre cruz, para que possa subir sempre mais, sem impedimentos, voando, conforme a palavra do apóstolo, encima de uma nuvem para encontrar o Senhor nas alturas."

É natural que o maior número dos santos provem dos monges, pois a meta do monacato é a perfeição espiritual. Os santos monges são chamados de "prepodobnyi" — reverendo — (podobnyi — semelhante), pois eles mais se assemelharam à Cristo. A pessoa que sentiu, que tudo na vida é somente uma preocupação sem um valor real, e que queria se livrar destas preocupações fúteis para encontrar Deus, entra para o mosteiro. O caminho do monge é um caminho reto, o caminho mais curto entre duas extremidades — o homem e Deus.

Nos mosteiros surgiu uma rica literatura espiritual. Para a maioria dos leigos ela é algo incompreensível e inatingível. As condições espirituais lá descritas são inatingíveis para as pessoas que vivem no mundo secular. Porém, há coisas que são perfeitamente atingíveis à todas as pessoas que procuram a Deus. Os russos sempre gostavam de ler o livro chamado "Dobrotoliubie" ("Amor às coisas corretas"), onde em 5 volumes estão compilados os ensinamentos dos monges da antigüidade; "Lestvitsa" ("Uma escada") do João, abade do mosteiro no monte Sinai; "Uma luta invisível" do são Nicodemo Sviatogorets; "Ensinamentos úteis para as nossas almas" do abade Dorotéu; os ensinamentos dos anciões Varsonófio e João; contos sobre antigos monges compilados em "Lavsaík" do bispo Paládio Helenopolitano, e "Campina espiritual" do bem-aventurado João Mosque. Para os leitores de hoje, podemos recomendar uma literatura mais atualizada, que seriam as cartas do bispo Teófano Recluso, as obras do bispo Inácio Brianchaninov, os ensinamentos dos "startsy" (anciões) da Optina, conversas de são Serafim de Sarov com o amigo dele, Motovilov.

Na Rússia, antes da revolução, havia muitos mosteiros e conventos, e sua influencia sobre os costumes e a vida do povo, sobre a sua história, era enorme. Lá, nos mosteiros, os peregrinos achavam uma renovação moral e espiritual, tranqüilidade, forças para a luta com o pecado. Aqui eles achavam o seu ideal. Os mosteiros eram centros de recuperação moral para o pais inteiro.

 

 

Santa Tamara, Rainha Da Geórgia.

14 de maio (1 de maio no estilo velho).

Santa Tamara, (1184-1213), rainha da Geórgia, era filha do rei Jorge III e da bela Burdukhan. Já durante a vida da mãe dela o cristianismo era divulgado em diferentes regiões da Geórgia. Tamara foi muito querida pelo povo. Muitos geórgicos veneram santa Tamara que cura muitas doenças.

Conforme a tradição, santa Tamara era meiga, humilde, sábia, pacificadora e bela. Sabemos, que ela cuidava dos pobres, das viuvas, dos órfãos e contribuiu para a evolução espiritual do povo. Além disso, ela patrocinava os artistas, poetas, construía muitas igrejas bem como o suntuoso palácio de Vardza. Por todos os seus cuidados e ricos donativos ela foi canonizada.

 

Santa Tamara conclamou um concílio da igreja que eliminou muitos problemas da vida da igreja e destituiu vários clérigos indignos. O seu governo foi muito bem sucedido, o que contribuiu para a ampliação das fronteiras do país e seu fortalecimento.

 

 

Santo Atanásio Grande.

15 de maio (2 de maio no estilo velho).

A grande fileira dos santos padres e doutores da Igreja tem seu começo no tempo dos santos apóstolos. Geralmente, os santos padres da Igreja são escritores religiosos (na sua maioria na dignidade episcopal), que levavam uma vida santa. Os escritores religiosos não canonizados são chamados de doutores da Igreja.

Os padres e doutores da Igreja, nos seus livros, nos relegaram as tradições apostólicas e explicaram os verdadeiros ensinamentos e doutrinas da fé e religiosidade. Nos tempos difíceis de conflitos e lutas contra hereges e seus ensinamentos eles eram os defensores da Ortodoxia e a sua vida e atividade servem de um digno exemplo para todos.

Em particular, durante o século IV houve grandes padres e doutores, que defenderam a sua Igreja na época, em que a Igreja foi profundamente e por muito tempo abalada pela heresia de Ário (este herege renegava a natureza divina do Nosso Senhor Jesus Cristo).

O primeiro e grande defensor da Igreja contra os arianos era santo Atanásio Grande (293-373). Desde criança, este santo já demonstrou ter dons e talentos especiais e mais tarde a sua educação foi aperfeiçoada pelos arcebispos da Alexandria, Pedro e Alexandre. O santo Antônio Grande, cuja vida o santo Atanásio descreveu, exerceu uma grande influencia sobre ele. Após ter se aprofundado nos estudos das Escrituras Sagradas e obras dos santos padres e doutores da Igreja, bem como a literatura clássica da antigüidade, santo Atanásio assumiu um cargo muito importante naquela época de arcediácono junto do arcebispo Alexandre e lhe ajudou muito na luta inicial com a heresia de Ário.

Sendo o colaborador mais próximo, a quem o arcebispo Alexandre mais confiava, Atanásio acompanhou-o no Primeiro Concílio e neste Concílio foi notado por todos os presentes: ninguém falava tão enfaticamente contra Ário e ninguém era tão eloqüente e expressivo, como ele. Em menos de um ano após o Concílio, o jovem arcediácono foi nomeado arcebispo da Alexandria. Apesar da sua pouca idade (ele tinha somente 28 anos), o arcebispo Atanásio dirigiu toda aquela vasta região com rigor e sagacidade, se aproximou dos outros bispos, ordenou Frumencio bispo mandando-o para a Abissínia, visitou os numerosos mosteiros em Tebaida e outras regiões do Egito e também visitou o seu mestre de juventude, santo Antônio.

Santo Atanásio era enérgico e simpático, inflexível no que se referia a verdade, porém condescendente com aqueles que se equivocavam. Ele era muito discreto e ao mesmo tempo era muito perspicaz, tinha uma vasta cultura e tudo isto contribuiu para que ele se tornasse logo muito querido e ao mesmo tempo muito respeitado. Mas esta sua atividade durou somente 2 anos; após este tempo começou um período de muitas provações e calamidades. Os adeptos de Ário, encabeçados pelo bispo Eusébio, bastante conhecido na corte de Nicomédia, e que ainda na escola era colega de Atanásio, tentaram de todos os meios levar de volta na igreja o Ário, e até conseguiram dispor a favor dele a irmã do imperador, Constância, e através dela o próprio imperador Constantino. Ficou decidido chamar Ário — que aparentemente se arrependeu — de volta do exílio e o arcebispo de Alexandria foi obrigado a aceitá-lo novamente na Igreja. Atanásio, compreendendo perfeitamente a astúcia e o fingimento dos pseudo-doutores, se recusou a aceitar o herege, que rejeitava a divindade do Nosso Senhor Jesus Cristo.

A partir deste momento começam as perseguições do confessor de Cristo e são inventadas contra ele as mais incríveis calunias. Ele foi acusado de extorsão e de roubo dos rendimentos da igreja, de contatos com os inimigos do império, do assassínio de um bispo chamado Arsênio, e foi acusado até de ter decepado a mão do Arsênio para fazer bruxaria com ela e para maior credibilidade, os inimigos do santo mostravam aquela mesma mão, que foi — diziam eles — achada nos aposentos do santo. Mas, inesperadamente para todos eles, o próprio Arsênio apareceu em pessoa e foi levado até a reunião dos caluniadores, mostrando-lhes ambas as mãos completamente sãs. Isto levou os inimigos do santo à uma ira irrefreável: eles avançaram contra ele e quase o estrangularam. Isto aconteceu ainda durante a vida do imperador Constantino, protetor da Igreja. Os sucessores dele, Constâncio-ariano e Juliano-apóstata, perseguiram abertamente o santo Atanásio, mas não conseguiram vencer a sua firmeza.

Houve uma época, em que os colaboradores mais fervorosos do santo Atanásio — Oseias, bispo de Córdoba, Liberio, papa de Roma, que lutavam contra os arianos, e que como ele não conseguiram vence-los, foram destituídos de suas cátedras, aprisionados, e em conseqüência disto fraquejaram e aceitaram compromissos com os arianos, mas o santo Atanásio permaneceu solitário e firme, liderando a luta dos ortodoxos contra os arianos. Durante os quase cinqüenta anos de seu exercício de arcebispado, santo Atanásio foi cinco vezes expulso da Alexandria, passou quase vinte anos nas prisões e no exílio e até os últimos dias de sua vida lutou contra os hereges tentando restabelecer a paz e a unanimidade na Igreja.

Durante a sua vida tão agitada e sacrificada, santo Atanásio escreveu muitas obras em defesa da Ortodoxia e ensinamentos para os fieis. As suas obras, traduzidas para o russo, foram editadas em quatro volumes. Até hoje, os pensamentos e as demonstrações e provas do santo Atanásio têm um grande significado para todos nos, a sua linguagem é muito rica. Este grande homem morreu aos 75 anos.

 

Tropário:

Eras um pilar da Ortodoxia, confirmando a Igreja pelos dogmas divinos, santo Atanásio. Pregaste, pois, o Filho consubstancial ao Pai e venceste Ário; santo padre, roga, pois, à Cristo Deus que Ele nos dê a grande graça.

 

 

Santa Mártir Pelaguéia.

17 de maio (4 de maio no estilo velho).

Santa Pelaguéia nasceu em Tarso (Ásia Menor) e era filha de pais nobres — pagãos. Ela era de uma beleza extraordinária e recebeu uma educação refinada. O imperador Diocleciano (284-305) queria casar o seu herdeiro, adotado, com Pelaguéia, mas Pelaguéia, tornando-se cristã, decidiu dedicar a sua vida a Cristo e recusou-se a casar com o herdeiro. Após o seu batismo, ela decidiu converter também a sua mãe-pagã, mas esta era inflexível, e ficando com raiva da filha, levou-a ao noivo por ela recusado e entregou-a à ele. O noivo sabendo, que Pelaguéia não renunciará ao cristianismo e que por isto será torturada, assim como os outros cristãos, ficou tão desesperado, que se suicidou. Este triste acontecimento enfureceu a mãe da Pelaguéia ainda mais e ela levou a própria filha ao imperador Diocleciano para julgamento. Diocleciano ele mesmo ficou encantado com a beleza da Pelaguéia e queria casar com ela. "Eu já tenho um Noivo — Cristo, e estou pronta morrer por Ele," — respondeu Pelaguéia. Após grandes torturas, Pelaguéia foi jogada dentro de um incandescente touro de cobre, onde ela entregou a sua alma à Deus, no ano de 287.

 

Kondakio:

Desprezaste os bens transitórios e recebeste bens celestiais, aceitaste a coroa de martírio, Pelaguéia, digna de louvor, trouxeste ao Senhor Cristo, como oferenda rios do teu sangue. Ora por nós, que veneramos a tua memória, para que nos salvemos da desgraça.

 

 

Santa Mártir Irene.

18 de maio (5 de maio no estilo velho).

Santa Irene, que era de origem, eslava, viveu na segunda metade do século I e era filha de Licínio, prefeito da cidade de Maggedona na Macedonia. Ainda muito jovem Irene compreendeu a inconsistência do paganismo e aceitou a fé cristã. Conforme a tradição, apóstolo Timóteo, discípulo do apóstolo Paulo, batizou-a. Santa Irene decidiu dedicar a sua vida a Deus e recusou o casamento.

Aprofundando-se cada vez mais nos ensinamentos de cristianismo, santa Irene começou a persuadir também os seus pais a se tornarem cristãos. O pai dela, que no começo ainda ouvia as palavras dela com uma certa benevolência, mais tarde ficou com raiva dela e quando ela se recusou a venerar os ídolos pagãos, enfurecido jogou ela debaixo dos cavalos selvagens. Porém os cavalos nem tocaram na santa, mas se jogaram contra o Licínio e o mataram. Quando, após uma oração fervorosa da santa Irene o pai dela ressuscitou, ele e toda a sua família e junto com eles ainda 3.000 pessoas se converteram.

Após disto, santa Irene começou pregar abertamente o cristianismo entre os habitantes da Macedonia, pelo que muitas vezes foi humilhada e sofria muito. O prefeito da Sedêcia muitas vezes mandava jogar santa Irene num buraco fundo cheio de serpentes, várias vezes tentavam serrá-la, ou amarravam à roda do moinho. Mas todos estes sofrimentos da santa eram acompanhadas de milagres, o que atraía muitas pessoas e muitos se convertiam. Assim: as serpentes nem tocavam no corpo da santa, as serras não lhe causavam nenhum ferimento e a roda do moinho não girava. O próprio torturador Vavodon se converteu e foi batizado. No total, Irene converteu mais de dez mil pagãos.

Quando o Senhor anunciou a ela o dia de sua morte, Irene se retirou para uma gruta perto da cidade de Êfeso e pediu aos outros de fechar a entrada da gruta com um monte de pedras. Após quatro dias, os seus conhecidos voltaram à gruta e abrindo-a e entrando nela não encontraram o corpo da santa Irene. Todos compreenderam, que Deus a levou ao céu.

Santa Irene era muito venerada no Bizâncio antigo. Lá foram construídas várias igrejas suntuosas, das quais ela era a santa padroeira.

 

Kondakio:

Virgem, eras ornada com virtudes da virgindade, e embelezada com o sofrimento, eras recoberta com o teu sangue e venceste a tentação do paganismo. Por tudo isso recebeste da mão do Criador as honras de vitória.

 

 

 

Santo Apóstolo João Teólogo.

21 de maio e 9 de outubro (8 de maio e 26 de setembro no estilo velho).

Apóstolo e Evangelista João, cognominado Teólogo, era filho de um pescador galileu, Zebedeu e Solomia. Zebedeu era uma pessoa abastada, ele tinha vários trabalhadores e era um membro importante da comunidade judaica, tendo acesso são sumo sacerdote. A mãe de João, Solomia, é mencionada como uma das mulheres que serviram Jesus com as suas propriedades.

Primeiro, João era discípulo do são João Batista. Ao ouvir a pregação dele sobre Cristo como o Cordeiro de Deus, que toma sobre Si os pecados do mundo, ele junto com o André o Primeiro Chamado seguiu Jesus. No entanto era um pouco mais tarde que ele se tornou discípulo constante do Senhor, quando, após a milagrosa pesca no lago de Genezaré (mar de Galiléia) o Próprio Senhor chamou-o, junto com o seu irmão Tiago.

Ao apóstolo João, junto com o Pedro e o seu irmão Tiago foi concedida uma proximidade especial ao Senhor, pois estes três apóstolos estavam sempre junto com o Senhor nos momentos mais importantes e solenes da Sua vida na terra. Assim ele foi digno de presenciar a ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração do Senhor no monte, ouvir as Suas palavras sobre os sinais da Sua segunda vinda, ser testemunha da Sua oração no Getsêmani. E durante a Ceia ele era apoiado no peito do Senhor, conforme ele mesmo testemunha.

Ele era tão humilde, que ao escrever sobre si no seu Evangelho, ele não menciona o seu nome, contentando-se a dizer somente "o discípulo predileto do Senhor." Este amor do Senhor teve a sua maior expressão nas palavras proferidas por Ele da cruz: "Eis aí a tua Mãe," desta forma encarregando-o de cuidar da Sua Puríssima Mãe.

Amando o Senhor com todo o seu coração, João era cheio de indignação dos que eram hostis ao Senhor, ou aqueles que estranharam Ele. Por isso ele proibia ao homem, que não andava junto com eles, de expulsar o demônio com o nome de Jesus e pediu a permissão ao Senhor de mandar descer o fogo sobre os habitantes de uma aldeia samaritana, que não queriam aceitá-Lo, quando Ele se dirigia ao Jerusalém, atravessando a Samária. Por causa disto, o Senhor chamou a ele e ao Tiago de "filhos de trovão." João sentiu a predileção do Senhor, mas ainda não era iluminado pela graça do Espírito Santo e portanto decidiu pedir para ele e para o seu irmão um lugar ao lado do Senhor no Reino dos Céus, e recebeu como resposta o anúncio dos futuros sofrimentos dos ambos.

Após a Ascensão vemos muitas vezes o apóstolo João junto com o apóstolo Pedro. Estes dois apóstolos são considerados os pilares da Igreja e o apóstolo João permanece na maior parte do tempo em Jerusalém e fiel ao mandamento do Senhor, cuida da Puríssima Virgem Maria, tornando-se o Seu filho mais fiel e somente após a assunção da Virgem, ele começa a pregar em outros países.

Na atividade missionária do apóstolo João percebemos uma particularidade: ele escolhe uma determinada região e se empenha com todas as suas forças para erradicar o paganismo e firmar lá o cristianismo. O seu alvo principal eram sete igrejas da Ásia Menor: Êfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Ele morava principalmente em Êfeso.

Sob o reinado do imperador Domiciano (81-96), o apóstolo João foi chamado para a Roma, pois ele era a único apóstolo ainda vivo, e sob a ordem do imperador foi jogado num caldeirão cheio de óleo fervendo, mas Deus salvou o seu fiel servo, que ficou ileso, igual aos três jovens na fornalha incandescente. Depois disto, Domiciano exilou o apóstolo para a ilha deserta de Patmos e foi aqui que ele escreveu o Apocalipse, que é uma revelação sobre o destino da Igreja e do mundo.

Após a morte de Domiciano o apóstolo João voltou do seu exílio para Êfeso. Os bispos e presbíteros da igreja de Êfeso lhe mostraram os três Evangelhos escritos pelos apóstolos Mateus, Marcos e Lucas. Ele aprovou estas obras, porém achou necessário completar ainda aquilo que foi omitido lá e que ele, como o último testemunha ocular ainda vivo conhecia bem de perto. Isto era muito importante, pois lá pelo final do século 1 se difundiam várias seitas gnósticas, que humilhavam ou até mesmo negavam a divindade do nosso Salvador, Jesus Cristo. E assim tornou-se absolutamente necessário proteger os fieis deste ensinamento.

O apóstolo João no seu Evangelho relatou os ensinamentos de Jesus, ditos por Ele na Judéia. Estes ensinamentos que eram dirigidos aos escribas cultos eram mais difíceis para a compreensão geral e provavelmente foi por isto que eles não foram relatados nos três primeiros Evangelhos, destinados aos pagãos recém convertidos. Antes de começar escrever o seu Evangelho, o apóstolo João impôs jejum à igreja de Êfeso e se retirou junto com o seu discípulo Prokhor para um monte, onde escreveu o Evangelho, que leva o seu nome.

O Evangelho de João era desde o começo chamado de "espiritual," pois nele, comparando com os três outros Evangelhos, são contidos os ensinamentos do Nosso Senhor sobre as verdades mais profundas da fé — sobre a encarnação do Filho de Deus, sobre a Trindade, sobre a redenção dos homens, sobre a ressurreição espiritual, sobre a graça de Espírito Santo e sobre a Comunhão. Logo no começo, nas primeiras palavras, João eleva os pensamentos dos fiéis para as alturas de procedência divina do Filho de Deus do Deus Pai: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1). O apóstolo João explica assim a finalidade do seu Evangelho: "Esses foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, Filho de Deus, e assim crendo tenhais a vida em Seu nome" (João 20:31).

Além do Evangelho e do Apocalipse, o apóstolo João escreveu ainda três epístolas, que também foram incluídas no conjunto dos livros do Novo Testamento, pois eram dirigidas à toda a comunidade cristã. O primeiro e principal ensinamento é sobre o amor dos cristãos: "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus, e todo aquele que ama nasce de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor" (1 João 4:7-8).

"O amor que Ele nos tem terá seu cumprimento no dia do Juízo, infundindo-nos confiança. Porque como Ele é, também nós somos neste mundo. No amor não há lugar para o temor: o perfeito amor expele o temor, pois o temor supõe castigo e o que teme não é perfeito no amor. Quanto a nós, amemos à Deus, porque Ele nos amou primeiro. Se alguém diz: ‘Amo a Deus’ e detesta seu irmão, ele mente. Pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não é possível que ame a Deus, a Quem não vê. Sim, eis o mandamento que d’Ele recebemos: quem ama a Deus, ame também a seu irmão" (1 João 4:17-21).

A tradição nos deixou várias informações muito valiosas sobre as atividades do apostolo João, que nos mostram todo o seu amor que ele sentiu por todos. Durante a sua visita a uma das igrejas da Ásia Menor, João notou no meio da multidão um jovem que se destacava por talentos excepcionais e o confiou aos cuidados especiais de um bispo. Mais tarde este jovem fez amizade com maus elementos e enfim virou chefe de bandidos. Ao saber disto do próprio bispo, João foi até as montanhas, onde os bandidos atacavam as pessoas, foi capturado por eles e trazido até o chefe deles.

Quando o jovem viu o Apóstolo, ele ficou tão desconcertado, que se pôs a correr. João correu atras dele, o encorajou com as suas palavras cheias de amor, levou-o pessoalmente até a igreja, dividiu com ele a penitencia e não sossegou, enquanto não o reconciliou completamente com a Igreja. Nos últimos anos de sua vida o Apóstolo não se cansou de repetir sempre: "Meus filhos, amem uns aos outros." Os discípulos perguntaram: "Porque repetes sempre a mesma coisa?" O Apóstolo respondeu: "Porque este é o mandamento principal. Quem cumpre este mandamento, cumpre toda a lei Divina."

Este amor se transformava num ardente zelo, quando o Apóstolo se deparava com heresiarcas, que deturpavam os ensinamentos, privando as pessoas da eterna salvação. Uma vez, num edifício público ele se encontrou com um heresiarca Querinto, que rejeitava a divindade do Nosso Senhor Jesus Cristo. "Vamos sair rapidamente daqui, — disse o Apóstolo ao seu discípulo, — pois tenho medo que este prédio cairá encima de nos."

São João Teólogo era o único apostolo que morreu de morte natural na idade de quase 105 anos, durante o reinado do imperador Trajano. As circunstancias da morte dele eram extraordinárias e até misteriosas. Por insistência do próprio apostolo ele foi enterrado vivo. No dia seguinte, quando abriram o túmulo do apostolo, se verificou que ele era vazio. Este acontecimento confirmou a suposição de alguns cristãos, que o apóstolo não ia morrer, mas que ficaria vivo até a Segunda Vinda do Nosso Senhor e acusaria o Anticristo. O motivo desta suposição eram as palavras proferidos por Jesus um pouco antes da Sua ascensão. Respondendo a uma pergunta do apostolo Pedro sobre o que aconteceria com o apostolo João, Nosso Senhor respondeu: "Assim Eu quero que ele permaneça até que Eu venha (pela segunda vez), e que te importa isso?" E o apostolo João continua, a respeito disso: "Espalharam-se por isso entre os irmãos essas palavras de que tal discípulo não morreria" (João 21:22-23).

 

 

Tropário:

Ó apostolo, amado por Cristo Deus, apressa-te em vir salvar os homens humildes, pois Aquele em Cujo peito estavas apoiado te aceita, quando intercedes pelos homens. Portanto, Teólogo, ora à Ele, para que seja dispersada a neblina entre os homens, e peça para nos a paz e uma grande graça.

 

 

Santo Mártir Cristóforo.

22 de maio (9 de maio no estilo velho).

Santo Cristóforo viveu no século III, durante as perseguições dos cristãos, no reinado do imperador Décio (249-251). Ele era alto, muito bonito e muito forte. Mesmo quando ainda era pagão ele acusava os perseguidores dos cristãos. O imperador Décio ficou sabendo da grande força do Cristóforo e mandou os seus soldados buscá-lo. Naquela época o santo Cristóforo já confessava a fé cristã, mas ainda não era batizado. No caminho ele se apoiava num pedaço de pau seco, e de repente este pau floresceu. Mais tarde, após uma oração dele, multiplicaram-se os pães que começaram a escassear durante a viagem deles. Os soldados ficaram perplexos com os milagres feitos pelo Cristóforo, acreditaram em Cristo e todos junto com o Cristóforo foram batizados pelo bispo Vavila de Antioquia. Quando o imperador ficou sabendo do batismo do Cristóforo, ele resolveu usar astúcia para que ele renegasse o Cristo e incumbiu duas prostitutas, Kallinika e Aquilina, desta missão. Mas, ao contrário, Cristóforo converteu as duas mulheres ao cristianismo, pelo que elas foram torturadas. Ambas morreram como mártires. Os soldados que se converteram e trouxeram Cristóforo até o imperador foram decapitados. Cristóforo foi jogado num incandescente caldeirão de cobre, mas ficou ileso. Depois disso, são Cristóforo foi submetido a novas torturas, e por fim, decapitado, na Lícia, (Ásia Menor), por volta do ano de 250.

O santo mártir Cristóforo é igualmente venerado tanto no Oriente, como no Ocidente, principalmente, na Espanha. No Ocidente ele é invocado durante as epidemias e durante as viagens. As relíquias do santo mártir estavam guardadas no mosteiro do são Dionísio em Paris, onde são enterrados os reis franceses.

 

Tropário:

Com suas vestes ornadas por teu sangue estás diante do Senhor Deus, Cristóforo sempre lembrado: e de lá, junto com os anjos e outros mártires cantas maravilhosamente hinos da Trindade: assim, com tuas orações, salva o teu rebanho.

 

 

Bem-Aventurada Taíssia.

23 de maio (10 de maio no estilo velho).

Santa Taíssia viveu no Egito no século V. Ela era filha de pais ricos, e quando ficou órfã, no começo levava uma vida piedosa, fazendo bem aos outros e ajudando a enfermos. Muitas vezes monges, que vieram do deserto para a cidade vender os seus artesanatos, se hospedavam na casa dela. Taíssia era amada e honrada por todos.

Após alguns anos de vida cheia de caridade, ela gastou tudo que tinha e começou sentir privações. Aí ela conheceu algumas pessoas mal intencionadas e influenciada por elas, começou a levar uma vida desregrada.

Os monges que antigamente visitavam ela souberam desta sua transformação e ficaram muito tristes. Eles se reuniram com o seu abade, João Kólov, e lhe disseram: "Nos soubemos, que a irmã Taíssia perdeu todos os seus bens. Quando ela era rica, ela nos acolhia com muito amor e dedicação. Agora somos nos, que devemos mostrar a ela o nosso amor e dar-lhe a nossa ajuda. Por favor, visita ela."

O abade João visitou Taíssia, sentou junto com ela e após olhar nos olhos dela, inclinou a cabeça e começou a chorar. Taíssia ficou confusa e perguntou: "Padre, porque choras?" Ele respondeu: "Vejo no teu rosto como o satanás está se divertindo, então, como não vou chorar? O que aconteceu, que não amas mais Cristo e por isso estás fazendo coisas abomináveis nos olhos Dele?" Ela, ouvindo isso, tremeu e disse: "Padre! será que há penitencia para mim?" Ele disse: "Há perdão para ti!" — "Então, leva-me para lá," — disse ela e levantando-se chorando, o seguiu.

O abade ficou somente surpreendido que antes de sua saída, Taíssia não se despediu de ninguém, e também não deu nenhuma ordem a ninguém a respeito de suas coisas. Quando eles chegaram até o deserto, já estava escurecendo. O abade fez de areia um apoio para a cabeça para ela e um pouco mais longe, um outro igual para si. Abençoando o apoio, ele disse: "Durma aqui," — e após todas as costumeiras orações, deitou-se também.

Na manhã seguinte, o abade tentou acordar Taíssia, mas viu, que ela já estava morta. O abade se entristeceu grandemente com a morte dela, pois pensou, que a alma dela ficou condenada para sempre, porque ela não teve tempo suficiente para se arrepender, comungar e tornar-se uma religiosa. Mas ele ouviu uma voz: "Uma hora do arrependimento dela era maior do que um longo arrependimento de outros, que não mostraram durante o arrependimento tanta abnegação como ela." Assim, Nosso Senhor mostrou ao abade João, que Ele perdoou Taíssia por causa de sua sinceridade e decisão no arrependimento.

 

 

Santos Cirilo e Metódio.

24 de maio (11 de maio no estilo velho).

No começo do afastamento da igreja ocidental da Igreja Ortodoxa universal podemos ver uma notável tendência dos povos eslavos para o cristianismo. Certamente, Nosso Senhor chamou-lhes para completar a Sua Igreja e nos santos Cirilo e Metódio, iguais-aos-apóstolos, nos deu grandes missionários da fé.

Cirilo, cujo nome antes de se tornar monge era Constantino, e Metódio nasceram na Macedonia na cidade de Tessalonica. Metódio, quando terminou os seus estudos, se dedicou a carreira militar e era regente de uma província eslava. Mas logo ele decidiu abandonar esta vida e entrou para um mosteiro no monte Olimpo. Constantino desde a sua infância demonstrava uma rara inteligência e recebeu a mais alta educação e instrução junto com o adolescente imperador Miguel III na corte do imperador. O instrutor e professor dos dois era o famoso Fócio, futuro patriarca de Constantinopla. Após o término de seus estudos, Constantino poderia ter muito sucesso e fama na corte, mas no seu coração ardia um grande amor a Deus, e os bens materiais não significavam nada para ele. Durante um certo tempo ele dava aulas de sua matéria predileta, a filosofia, numa escola de Constantinopla, mas dentro em breve saiu da Constantinopla e entrou para o mosteiro junto com o seu irmão Metódio. Lá os dois passavam o tempo em jejum e orações, até que a Providencia Divina os chamou para divulgar o cristianismo entre os povos eslavos.

Para nos, russos, é importante saber que antes do catecismo, Senhor levou os dois irmãos até o nosso País. No ano de 858, os khozaros, uma tribo de Cáucaso, nômades, que naquela época estavam no sudeste da atual Rússia, pediram ao imperador Miguel que lhes mande alguns missionários da fé cristã. O patriarca Fócio chamou os dois irmãos que se estabeleceram em Quersoneso, onde ficaram cerca de dois anos, aprendendo a língua dos khozaros e onde acharam as relíquias do santo mártir Clemente, bispo de Roma, exilado para lá no final do século I.

O primeiro povo eslavo, que se converteu ao cristianismo, eram os búlgaros. Naquela época, em Constantinopla uma irmã do rei búlgaro Bogoris (Boris) era mantida como refém. Ela foi batizada com o nome de Teodósia e foi educada em fé cristã. Por volta do ano 860 ela voltou para a Bulgária e começou a convencer o irmão a se converter também. Boris foi batizado com o nome de Miguel. Os santos irmãos Cirilo e Metódio se encontravam naquele país e com a sua pregação muito contribuíram para a divulgação e o fortalecimento da fé cristã. Da Bulgária, o cristianismo se espalhou pela vizinha Sérvia.

Após a divulgação do cristianismo na Bulgária e na Sérvia, vieram para a Constantinopla emissários do duque Rostislav da Morávia, com o seguinte pedido: "O nosso povo já confessa o cristianismo, mas não temos nenhuma pessoa que nos possa explicar a fé cristã na nossa língua. Por favor, mandem-nos tais instrutores." O imperador e o patriarca ficaram muito felizes com este pedido e chamando os dois irmãos, propuseram-lhes ir até os moravios. São Cirilo achou, que para maior êxito de sua missão, era imprescindível traduzir para a língua eslava as Escrituras Sagradas bem como livros litúrgicos, porque "pregar só verbalmente era igual a escrever sobre a areia." Mas, antes da tradução era necessário ainda inventar um alfabeto eslavo. Para empreender esta obra grandiosa, são Cirilo tomou como exemplo os santos apóstolos e jejuou e rezou durante 40 dias. Logo após a invenção do alfabeto, são Cirilo traduziu alguns trechos dos Evangelhos e dos Atos. Alguns cronistas acham que as primeiras palavras escritas por ele em eslavo eram as palavras do apóstolo e Evangelistas João: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus."

No ano de 863 os santos irmãos viajaram para a Morávia junto com seus discípulos Horazdo, Clemente, Sava, Naúm e outros. Os ofícios e a leitura dos Evangelhos na língua eslava logo atraiu a simpatia dos morávios dando lhes vantagem sobre os missionários alemães. Os missionários alemães e latinos invejavam os sucessos dos santos irmãos e tentavam de todos os meios barrar a sua atividade. Eles espalhavam por todos os lados uma opinião, de que a palavra de Deus só pode ser lida em três línguas, aquelas em que era feita a inscrição da Cruz, a saber: hebreu, grego e latim, e chamavam Cirilo e Metódio de hereges por causa de sua atividade em eslavo, e no fim mandaram uma queixa ao papa Nicolau.

O papa desejou ver os missionários eslavos. Os santos irmãos respeitavam o papa como sendo um dos patriarcas e também esperavam achar apoio nele para o seu trabalho e partiam para a Roma. Eles levavam junto uma parte das relíquias do são Clemente, igual-aos-apóstolos, para de Roma, e também os livros traduzidos por eles. No entanto, o papa Nicolau faleceu e no lugar dele foi eleito para Adriano, o qual, desejando apaziguar os ânimos, recebeu os missionários com grandes honrarias. Junto com o clero e uma grande multidão, ele saiu para fora da cidade em encontro dos irmãos, recebeu deles as relíquias que depositou com muita honra na igreja de são Clemente e os livros, traduzidos por eles, sagrou no altar da antiquíssima basílica romana, chamada de Maria Magna. Logo após a chegada em Roma, Cirilo ficou muito doente, pediu ao seu irmão continuar e terminar a grande obra deles e morreu em paz em 14 de fevereiro de 869.

São Metódio cumpriu o testamento do seu irmão: voltou para a Morávia já em dignidade de arcebispo e lá trabalhou durante 15 anos. Ainda durante a vida dele, da Morávia o cristianismo penetrou na Bohémia. O duque bohémio (checo) Borivói e a sua esposa Ludmila (que mais tarde era martirizada), bem como muitas outras pessoas, foram batizados por ele. Em meados do século X o duque polonês Mechisláv casou com uma duquesa checa Dombrovka, após o que ele próprio, bem como os seus súditos se converteram.

Mais tarde, devido a muitos esforços dos missionários latinos e dos imperadores alemães, a maioria destes povos eslavos se distanciou da Igreja Grega e por fim se submeteu ao papa de Roma, com exceção dos sérvios e búlgaros. Mas, independente de tudo isto, mesmo após tantos séculos, todos os povos eslavos se lembram dos santos irmãos Cirilo e Metódio e daquela santa fé ortodoxa, que os dois irmãos tentaram implantar lá. A sagrada memória dos santos Cirilo e Metódio serve de um elo de ligação entre os povos eslavos.

 

Tropário:

Sendo iguais aos apóstolos e doutores dos países eslavos, Cirilo e Metódio, sábios por obra de Deus, intercedam junto ao Senhor para que todos os povos eslavos se mantenham firmes em Ortodoxia e sabedoria cristã, que o mundo seja apaziguado e as nossas almas salvas.

 

 

São Pacómio.

28 de maio (15 de maio no estilo velho).

Os pais do são Pacómio eram pagãos. Pacómio era muito talentoso e recebeu uma ótima educação. No ano de 312 ele foi recrutado para o exército do imperador Maximino, que empreendeu uma campanha militar contra os imperadores Constantino e Licínio. Durante as muitas dificuldades e privações da campanha, o jovem soldado teve a oportunidade de conhecer os cristãos e percebeu, com quanto amor e misericórdia, que eram a direta conseqüência dos ensinamentos do Divino Mestre, os cristãos estavam tratando os seus inimigos, infelizes e sofredores. Ainda antes da sua conversão ele começou a rezar ao Nosso Senhor e na volta da campanha militar, foi batizado, saiu para o deserto para ser discípulo de um experiente monge, Polemon.

Após 15 anos de trabalhos espirituais, desconhecidos pelo mundo, Nosso Senhor inspirou-lhe a idéia de ajuntar os eremitas, que viveram separadamente, num único prédio com regras e normas, obrigatórias a todos. Para tanto ele começou a organizar um mosteiro numa das ilhas do rio Nilo (Tavenna). Dentro em breve este mosteiro já ficou pequeno para tantas pessoas que desejavam salvar a alma sob a orientação do são Pakhómio e ele foi obrigado a construir mais alguns mosteiros na beira do Nilo, próximos um de outro. Também ele organizou o primeiro convento para mulheres, onde a irmã dele era a primeira madre superiora.

Nos seus mosteiros, ele introduziu regras obrigatórias a todos. A base destas regras consistia de: pudor, humildade, abnegação de todos os bens e interesses terrestres e obediência absoluta ao abade. Em cada cela moravam três monges, que juntos trabalhavam e comiam as refeições. Todos usavam a mesma roupa (de baixo uma de linho, sem mangas e por cima uma de couro, na cabeça um gorro e nos pés — sandalhas). Várias vezes ao dia eles se reuniam na igreja ao som de uma trombeta ou uma espécie de sino de madeira — "bilo." Lá eles liam as Escrituras Sagradas, ouviram as instruções do seu abade, oravam, cantavam salmos. Aos domingos vinha um presbítero de uma vila vizinha e oficiava a santa Liturgia, dando comunhão aos monges. São Pacómio não aceitava a ordenação dele mesmo, nem a permitia aos seus monges, porque ele tinha medo do orgulho e de desejo de comandar. Todos os monges saíam juntos para os trabalhos, calados e numa perfeita ordem, junto com o seu abade. Ninguém podia começar algum trabalho sem a benção do abade e nem trocar os seus afazeres com outra pessoa. O trabalho feito por um monge não pertencia a ele, mas a toda a comunidade. Eles comiam uma vez por dia — ao meio dia: pão, legumes e frutas. No Domingo havia ainda uma refeição à noite. Para que todas estas regras sejam cumpridas, são Pacómio decidiu aceitar os novos monges só após um ano de experiência. Esta comunidade fundada sobre bases tão sólidas e sábias cresceu ainda durante a vida de são Pacómio para 7 000 monges, e cem anos mais tarde — para 50 000.

Os mosteiros começaram a se espalhar cada vez mais. Ao mesmo tempo que são Pacómio fundou os seus mosteiros perto do Nilo, um dos discípulos do Antônio, Ammon, fundou um novo mosteiro perto da Alexandria, no monte de Nitria (este nome provém da abundância lá de nitra ou salitre). No final do século IV lá havia perto de 50 mosteiros, com cerca de 5.000 monges. Atrás do monte já se estendia o deserto da Líbia. Quando o monte de Nitria ficou pequeno, Ammon recebeu a benção do santo Antônio para expandir os mosteiros até o deserto de Líbia e desde então, este deserto recebeu o nome de "Celas." Bem mais longe do monte de Nitria havia um vale, comprido e muito seco, onde se instalou o são Makários do Egito, junto com alguns monges. Nenhuma vereda levava até lá. Quem queria chegar até lá, tinha que se guiar pelas estrelas.

Um dos discípulos do santo Antônio trouxe a vida monástica até a sua pátria — a Palestina (Terra Santa) e lá, perto de Gaza, fundou um mosteiro. De lá os mosteiros se espalharam por toda a Palestina, bem como a Síria. São Basílio Grande, que, terminando a sua instrução, visitou os mosteiros na Palestina e no Egito, foi depois até a Capadócia, lá construiu mosteiros e introduziu lá as regras, que se tornaram comuns para todos no Oriente. Um dos santos do século IV, são Sava Santificado (que era monge e padre), fundou um mosteiro perto de Jerusalém, numa rocha na beira do rio Cédron e lá introduziu estatutos para Divinos ofícios, chamado de Tipikón. Este Tipikón, que mais tarde foi aperfeiçoado e incrementado, serviu de base para as nossas missas ortodoxas.

No Oriente, a vida monástica se fixou basicamente nos montes Olímpico e Atos. No monte Atos, cuja área é de cerca de 20 x 30 quilômetros, existem cerca de 20 mosteiros, 100 celas e 8.000 monges. Aqui podemos encontrar toda uma variedade de vida monástica, desde grutas dos eremitas até populosos mosteiros. Do monte Atos a vida monástica foi levada até nós, na Rússia.

Os tipos mais comuns da vida monásticas são os eremitas e as comunas. Mas, ainda existem os "stólpniki" que passam a vida inteira numa espécie de torre, sem descer de lá, e os "iuródivyie" — desvairados pelo amor à Cristo. O fundador dos "stolpniks" era são Simão, sírio de nascença, que viveu no século V.

 

Kondákio:

No mundo apareceste como uma luz, no deserto e nas cidades erigiste muitos mosteiros. Crucificaste-se a si mesmo, carregaste a tua cruz, e jejuando extenuaste o corpo; ora sempre por todos nos.

 

 

Santos Constantino e Helena,

Iguais-Aos-Apóstolos.

3 de junho (21 de maio no estilo velho).

O imperador Constantino Grande era filho do Constâncio Cloro, que administrava a parte ocidental do Império Romano (Gália e Britânia) e santa Helena, igual-aos-apóstolos. Pela ordem do imperador Diocleciano, aos 18 anos Constantino foi retirado dos pais dele como refém, e viveu na corte de Nicomídia. Após a abdicação do Diocleciano, Constantino voltou para a Gália e após a morte do seu pai Constâncio, no ano de 306, foi proclamado imperador.

Graças à sua mãe, ele foi benevolente ao cristianismo. O seu pai, apesar de ser pagão, protegia os cristãos, pois ele percebeu, que os cristãos eram cidadãos fiéis e honestos. Quando Diocleciano ainda não perseguia os cristãos, na corte dele havia muitos deles nos mais variados cargos e Constantino teve a oportunidade de convencer-se da lealdade deles. Depois ele viu todos os horrores da perseguição e a firmeza invulgar dos confessores de Cristo, o que também teve um grande papel na sua tolerância e benevolência para com eles. Mais tarde, Constantino disse que a sua permanência na corte do Diocleciano contribuiu muito para a sua conversão para o cristianismo: "Eu comecei a me afastar dos administradores, pois percebi a selvageria dos seus temperamentos."

Constantino era trabalhador e muito ativo, acessível a todos, generoso, previdente e perspicaz, podemos dizer que ele era um gênio mundial, e por todas estas suas qualidades a Providencia Divina o escolheu para empreender a maior reviravolta no seu império e no mundo todo.

O imperador Constantino durante o sua reinado lutava principalmente com três inimigos, e durante esta luta aos poucos, mas decididamente, resolveu se converter ao cristianismo.

No ano 308 ele foi vitorioso na luta contra o imperador Maximiano Hércules e se apressou a expressar a sua gratidão na forma de ricas oferendas à um ídolo no templo do Apolo. Neste ato se revelou o seu traço característico: embora sendo ainda pagão, ele era uma pessoa pia e estava convencido de que venceu só com a ajuda do céu.

No ano 312 surgiu uma nova guerra do imperador Constantino com o imperador Maxêncio, filho do Maximiano. Durante esta guerra, um pouco antes da batalha final, na parte da tarde, quando o sol já começou a se pôr, Constantino viu com os seus próprios olhos no céu uma cruz luminosa com a inscrição: "Com isto vencerás" (em grego: NIKA). Durante a noite, Jesus apareceu à ele num sonho com a mesma cruz e lhe disse, que com a cruz ele venceria o inimigo. No dia seguinte Constantino mandou fazer em todos os lábaros e estandartes do seu exército a imagem da santa cruz.

Vencendo Maxêncio, Constantino entrou em Roma com grande triunfo e lá na praça principal mandou colocar a sua estátua com uma cruz na mão e com a inscrição: "Com esta cruz salvei a cidade do jugo do tirano." Após esta vitória, o imperador Constantino junto com o seu genro Licínio publicou em Milão o primeiro edito, permitindo a todos se converterem a cristianismo. O segundo edito assinado por ele no mesmo ano de 313 mandava devolver aos cristãos todos os lugares de seus cultos, assim como os seus bens materiais, seqüestrados durante as perseguições.

Ao mesmo tempo, as relações amigáveis entre Constantino e Licínio começaram a deteriorar, passando a uma luta aberta. Esta guerra deveria decidir o destino dos cristãos no Império Romano, pois Licínio achava, que os cristãos orientais eram mais dedicados ao Constantino do que à ele. Assim Licínio começou oprimi-los, passando a uma aberta perseguição, mas Constantino era um defensor dos cristãos. Ambos imperadores começaram a preparar-se para uma guerra, cada um conforme a sua religião. Os oráculos profetizavam vitória ao Licínio, no entanto os cristãos rezavam pelo Constantino. Deus deu a vitória ao Constantino na batalha de Adrianópolis (322). Licínio perdeu o trono e a vida. Constantino virou único monarca do Império e o cristianismo venceu.

Imperador Constantino dedicou toda a sua vida ao bem da Igreja, pelo que mereceu o nome de "igual-aos-apóstolos." Desde o seu tempo, todas as instituições, leis, serviço militar eram dirigidos conforme os preceitos cristãos.

Podemos mencionar, além dos editos acima mencionados, as seguintes medidas e atos do imperador Constantino, em favor do cristianismo: ele aboliu os jogos pagãos (314), libertou o clero dos deveres cívicos e as terras da igreja dos impostos (313-315), aboliu a crucificação e promulgou uma lei muito severa contra os judeus, que se revoltavam contra a Igreja (315), permitiu libertar sem maiores formalidades os escravos que trabalhavam para as igrejas, o que antigamente era muito complicado (316), proibiu às pessoas particulares fazer oferendas aos ídolos pagãos bem como chamar oráculos para a sua casa, deixando este direito somente às associações (319), mandou em todo o Império festejar o dia de Domingo (321); defendo as virgens celibatárias, aboliu as leis romanas contra o celibato; conferiu à Igreja o direito de receber bens conforme o testamento das pessoas, permitiu aos cristãos o acesso às altas posições no governo, mandou construir igrejas cristãs e proibiu colocar lá estátuas dos imperadores, como era comum nos templos pagãos (325).

O imperador Constantino encontrava muita oposição em Roma, onde o paganismo era ainda muito forte. Esta oposição dos pagãos foi demonstrada principalmente durante os seus festejos de vigésimo aniversário do seu reinado e esfriou o seu interesse pela antiga capital do Império, até que, enfim, ele saiu definitivamente da Roma e fundou uma nova capital cristã junto ao estreito de Bósforo e chamou bispos cristãos para abençoa-la, dando-lhe o nome de Constantinopla. Nesta nova capital, no lugar dos templos pagãos começaram a ser construídas igrejas cristãs e no lugar de estátuas de ídolos pagãos eram colocados santos ícones.

O imperador Constantino revelou um grande interesse nas agitações causadas pelas heresias dos donatistas, principalmente de Ário, tentando de todos os modos reconciliar os que estavam divididos. Um dos maiores méritos dele foi a convocação do Primeiro Concílio Ecumênico na cidade de Nicéia em 325.

Apesar de que ele era devoto à santa Igreja, Constantino, de acordo com o costume daquela época, estava adiando seu batismo até os últimos dias de sua vida. Ao sentir a aproximação da morte, Constantino, demonstrando uma grande devoção por este importante sacramento, foi batizado e morreu em paz, quando orava, em 21 de maio de 337. A história agraciou ele com o epíteto "Grande." Por seus muitos serviços prestados ao cristianismo, a Igreja chama ele de igual-aos-apóstolos.

 

Tropário:

Senhor, o Teu apóstolo entre os reis viu no céu a imagem de Tua Cruz, e o seu chamamento, igual ao de Paulo, não foi feito pelos homens, e ele colocou a capital do seu reino em Tuas mãos. Por isso sempre salvaste ele pelas orações de Nossa Senhora, ó único Benevolente.

 

 

 

Exaltação da Santíssima Cruz

do Nosso Senhor.

27 de setembro (14 de setembro no estilo velho).

O primeiro mérito da rainha Helena era a educação cristã que ela deu ao seu filho Constantino, desta forma preparando-o para a aceitação do cristianismo (veja acima), quando os outros filhos dos aristocratas eram educados em paganismo e desprezavam o cristianismo. O segundo mérito era o achado da Cruz do Nosso Senhor.

No intuito de achar a Cruz do Nosso Senhor, no ano de 326 a imperatriz Helena viajou para Jerusalém. Lá disseram a ela, que a Cruz estava enterrada no lugar, onde os pagãos construíram um templo em honra da Vênus. Quando, por ordem da Helena, demoliram o prédio e começaram a cavar a terra, acharam três cruzes e perto deles uma tabuinha com a inscrição: "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus."

Para determinar, qual era a cruz do Nosso Senhor, trouxeram um morto e começaram a colocá-lo encima das cruzes, um após o outros. Na deposição nas duas primeiras cruzes não aconteceu nenhum milagre. Porém, quando colocaram o morto encima da terceira cruz, o morto ressuscitou e assim ficou comprovada a cruz do Nosso Salvador.

Quando o povo ficou sabendo do milagre, todos queriam ver a santa Cruz. Daí o patriarca de Jerusalém Makários e a imperatriz Helena foram até um lugar alto e lá levantaram a cruz. Todos, vendo a cruz do Nosso Senhor, rezavam com lágrimas: "Senhor, tenha piedade de nos."

Em memória deste acontecimento, a Igreja estabeleceu a festa da Exaltação da Santíssima e Vivificante Cruz do Nosso Senhor. Esta festa pertence às maiores festas e é comemorada no dia 27 de setembro. Neste dia a cruz é levada solenemente até o centro da igreja para adoração. Durante o reinado do Constantino, foi restabelecido o nome de Jerusalém no lugar de Aelia Capitolina, dado pelo imperador Adriano (117-138).

A imperatriz Helena construiu várias igrejas na Terra Santa: a basílica de Ressurreição (e do Santo Sepulcro) do Nosso Senhor na Gólgota, onde todo ano, na noite de Páscoa, desce o fogo celestial; no monte das Oliveiras (de onde Nosso Senhor ascendeu ao Céu); em Belém (onde Nosso Senhor nasceu como homem) e no Hebron, perto do carvalho no vale de Mamré, onde Deus apareceu ao Abraão.

 

Tropário à Cruz:

Salvai, Senhor, o Teu povo e abençoai o Teu patrimônio, aos cristãos ortodoxos daí a vitória sobre os adversários, guardando com a Tua cruz os povos.

 

 

Santa Eufrosínia,

Duquesa da Cidade de Pólotsk.

5 de junho (23 de maio no estilo velho).

Santa Eufrosínia (cujo nome era Predislava), era filha do duque da cidade de Pólotsk, Jorge Vsévolodovich. Ela foi criada em ideais de cristianismo e desde a infância gostava de livros. Quando cresceu, ela desprezou os bens fantasmagóricos do mundo e secretamente entrou para um dos conventos, e como religiosa, se empenhou na transcrição dos livros sacros.

Após alguns anos ela fundou um convento perto da cidade de Pólotsk, que recebeu o nome de Salvador-Eufrosínia. Organizando tudo lá, ela viajou até Jerusalém para adorar o Santo Sepulcro. Lá ela morreu no ano de 1173. As suas relíquias foram trazidas de lá até Kiev, onde repousam intactas na gruta de são Teodósio.

 

Tropário:

Por ti, madre, se salvam os que te imitam: aceitaste a cruz e seguiste a Cristo, e com os teus atos ensinaste a desprezar o corpo, pois é coisa passageira; porém, cuidar da alma, que é eterna. Portanto, santa Eufrosínia, o teu espírito se alegra junto com os anjos.

 

 

Santo Igor.

18 de junho (5 de junho no estilo velho).

O duque Igor de Tchernigov, fiel servo de Deus, subiu no trono no ano de 1146. Os moradores de Kiev, que não gostavam dos membros da família dos Olgovichi, dos quais ele era descendente, o traíram e entregaram ao duque Iziaslav da cidade de Pereiaslavl, e proclamaram este Iziaslav duque de Kiev. Santo Igor abnegou a vida no mundo e entrou para o mosteiro Feodorov, foi ordenado lá com o nome de Inácio e recebeu lá a mais alta consagração ("skhima"). No dia 19 de setembro de 1147 uma multidão de amotinados penetrou no mosteiro, quando ele estava rezando na igreja diante do ícone de Nossa Senhora, matou-o barbaramente, arrastando o seu corpo pelas ruas de Kiev.

Quando se verificou que muitos milagres aconteceram após as orações ao santo duque, mais tarde, no dia de 5 de junho de 1150, as suas relíquias foram trasladadas de Kiev para Tchernigov e depositadas na igreja de Transfiguração. "E a partir disto, — diz o cronista, — a memória do são duque Igor é lembrada." No livro sobre ícones, ele é descrito como uma pessoa de estatura média, com rosto trigueiro, cabelo comprido, barba pequena e estreita. São duque Igor é venerado como mártir junto com os santos duques Boris e Gleb.

 

 

Santo Mártir Leonidas.

(e outros martirizados junto com ele).

18 de junho (5 de junho no estilo velho).

Os mártires Leonidas, Marciano, Nicandro e outros viveram no Egito. Eles foram martirizados na sua pátria durante o reinado do imperador Maximiano (285-305) e morreram na prisão, sofrendo sede e fome.

 

Tropário:

Senhor, o Teu mártir Leonidas, nos seus sofrimentos recebeu de Ti, nosso Senhor, a coroa eterna: pois teve a Tua força que venceu os torturadores e aniquilou os débeis assaltos dos demônios. Salve as nossas almas por suas orações.

 

 

Os Mártires Alexandre e a Virgem Antonina.

23 de junho (10 de junho no estilo velho).

A pátria da pia virgem Antonina era uma das regiões administradas pela Roma — a Trácia — hoje Bulgária. Durante o reinado de Maxencio (305-312) ela foi levada até o administrador da região, que tentou convence-la a adorar os ídolos pagãos. Após a decidida recusa dela, ela foi torturada e ultrajada. Um soldado de 23 anos, Alexandre, que era um fervoroso cristão, decidiu libertar a mártir da sua horrível prisão. Ele foi até a prisão dela e ofereceu a ela a sua roupa. Antonina trocou a roupa e saiu da prisão.

Quando este ato nobre do soldado foi descoberto, Alexandre foi horrivelmente torturado. Quando a santa Antonina soube disto, ela veio juntar-se ao seu salvador e junto com ele receber a coroa dos mártires. O breu foi derramado para os dois e eles foram jogados num buraco incandescente e tampados com a terra (isto aconteceu por volta do ano de 313). Mais tarde as suas relíquias, através das quais aconteceram muitos milagres, foram trasladadas até a Constantinopla e depositadas no mosteiro do são Máximo.

 

Tropário:

Senhor, os Teus mártires, nos seus sofrimentos receberam de Ti, nosso Senhor, as coroas eternas: pois tiveram a Tua força que venceu os torturadores e aniquilou os débeis assaltos dos demônios. Salve as nossas almas por suas orações.

 

 

Santo Mártir Leôncio.

(e também Ipati e Teodulo).

1 de julho (18 de julho no estilo velho).

Santos mártires Leôncio, Ipati e Teodulo foram martirizados durante o reinado do imperador Vespasiano (70-79), na cidade de Trípoli Fenícia. São Leôncio era grego de nascença, e no exercito romano exercia o cargo de comandante. Ele era muito inteligente, sabia ler e escrever, era casto, era muito bom com os pobres e era hospitaleiro. O regente soube, que Leôncio exortava as pessoas a não renderem cultos aos deuses pagãos. O regente mandou o seu tribuno Ipatio com um destacamento de soldados para a Trípoli, para prender Leôncio . Durante o trajeto, Ipatio ficou muito doente, à beira da morte. Um anjo apareceu e lhe disse: "Se queres ficar bom, então clama três vezes, junto com os teus soldados: Deus do Leôncio, ajuda-me." Eles fizeram assim e o tribuno ficou curado.

Na cidade, Ipatio e seu soldade Teodulo encontraram um homem, que os convidou para a sua casa. Este homem era o próprio Leôncio, o qual os ensinou sobre o cristianismo e ambos foram batizados por ele. Mais tarde o próprio regente chegou até a cidade. Quando ele soube, o que aconteceu, ele mandou torturar Leôncio, Ipatio e Teodulo. Os santos Ipatio e Teodulo foram decapitados e o são Leôncio morreu durante o espancamento. Os cristãos sepultaram os santos mártires perto do porto de Trípoli.

 

Kondákio:

Envergonhaste a perfídia dos torturadores, e acusaste as adorações ateístas dos Helenos, brilhaste com a tua sabedoria divina, mostrando a todos os homens os ensinamentos da vida piedosa, mártir, sábio em Deus. Por tudo isso veneramos a tua memória, Leôncio sábio.

 

 

São João Batista.

7 de julho, 20 de janeiro, 9 de março, 7 de junho, 11 de setembro e 6 de outubro

(24 de junho, 7 de janeiro, 24 de fevereiro, 25 de maio, 29 de agosto e 23 de setembro no estilo velho).

O profeta são João Batista é o mais venerado santo após a Virgem Maria. Ele é lembrado e festejado nas seguintes datas: 6 de outubro — concepção, 7 de julho — nascimento, 11 de setembro — decapitação, 20 de janeiro — Sinaxe do são João Batista, ligado à Festa de Teofania, 9 de março — 1a e 2a Revelações da sua cabeça, 7 de junho — a 3a Revelação, 25 de outubro — a trasladação da sua mão direita da ilha de Malta para a Gatchina (perto de São Petersburgo).

O profeta João Batista era filho do sacerdote Zacarias (da geração de Aarão) e da justa Isabel (da geração de Davi). Eles moravam perto de Hebron, nas montanhas, ao sul de Jerusalém. Ele era parente do Nosso Senhor Jesus Cristo por parte de sua mãe e nasceu 6 meses antes Dele. Conforme nos relata o Evangelho, o arcanjo Gabriel apareceu ao seu pai no templo, anunciando o nascimento do seu filho. E eis, na justa família de pais idosos, que não tiveram filhos, enfim nasce um filho que eles sempre pediram a Deus.

Pela graça de Deus ele não foi morto no meio de milhares crianças massacradas em Belém e seus arredores. São João cresceu num deserto inóspito, preparando-se através de uma vida austera para a grande missão — jejuando, rezando e meditando sobre as coisas Divinas. Ele vestia uma veste rústica, de pêlos de camelo e um cinturão de couro, e comeu mel silvestre e gafanhotos. Ele permaneceu lá no deserto até, aos trinta anos, ser chamado pelo Senhor para a pregação ao povo judeu.

Obedecendo à esta chamada, o profeta João foi até o rio Jordão, para preparar o povo para a recepção do esperado Messias (Cristo). Preparando-se para a festa de purificação, o povo costumava vir até o rio para as abluções rituais. E foi aqui que João começou pregar a eles a penitencia e o batismo para a remissão dos pecados. A essência de sua pregação visava a mostrar ao povo que antes de lavar o corpo, é necessário purificar-se espiritualmente, e desta maneira preparar-se para a aceitação do Evangelho. Naturalmente, o batismo de João ainda não era o batismo cristão, efetuado pela obra Divina. O sentido deste batismo era preparar o povo para o batismo futuro pela água e pelo Espirito Santo.

Numa das orações o profeta João é comparado à uma estrela da manhã, que com o seu brilho excedia o brilho de todas as outras estrelas e anunciava a manhã do dia abençoado, iluminado pelo Sol espiritual de Cristo (Mal. 4:2). Quando a espera de Messias chegou ao seu ponto culminante, o Próprio Salvador do mundo, Senhor Jesus Cristo veio até João no rio Jordão para ser batizado. O batismo de Cristo foi acompanhado por fenômenos milagrosos — a descida do Espirito Santo na forma de um pombo e a voz de Deus Pai do céu: "Este é o Meu Filho dileto ..."

Tendo recebido a revelação a respeito de Jesus Cristo, o profeta João dizia ao povo: "Este é o Cordeiro de Deus, que toma sobre Si os pecados do mundo." Quando dois dos discípulos de João ouviram isto, eles logo seguiam Jesus Cristo. Estes dois discípulos eram João o Teólogo e André, o Primeiro Chamado, irmão do Simão Pedro.

Com o ato de batismo, o profeta João como que terminasse a sua missão profética. Ele não tinha medo de mostrar todos os vícios e pecados tanto dos homens simples, como dos poderosos. Por tudo isto ele logo sofreu.

O rei Herodes Antipas (filho do Herodes Grande) mandou prender o profeta João e mete-lo na prisão porque o profeta o acusava de ter abandonado a sua legitima esposa (filha do rei da Arábia, Arefa) e convivendo em concubinato com a Herodíades. Herodíades era esposa do irmão de Herodes, Felipe.

Herodes promoveu um banquete no dia do seu aniversário, do qual participaram muitos convidados. Salomé, filha da ímpia Herodíades, dançava uma dança sensual e Herodes, junto com os outros convidados, ficou tão fascinado, que jurou à Salomé cumprir qualquer desejo dela, até presentea-la com a metade do seu reino. A bailarina, ensinada pela sua mãe, pediu lhe dar num prato a cabeça de João Batista. Herodes respeitava João como profeta e portanto entristeceu-se com este pedido. Porém, ele teve vergonha de quebrar o juramento e assim mandou o guarda para a prisão para decapitar o profeta. A cabeça do João foi entregue à moça, a qual levou-a até a sua mãe. Herodíades, após ter profanado a cabeça do santo, a jogou num lugar imundo. Os discípulos do João Batista sepultaram o corpo dele na cidade de Sebaste, na Samária.

No ano 38 d.C. Herodes foi castigado pelo seu crime: o seu exército foi derrotado por Arefa, que empreendeu a campanha militar contra ele para vingar a desonra de sua filha, abandonada por Herodes por causa da Herodíades, e no ano seguinte, o imperador de Roma, Calígula, condenou Herodes e o deportou para uma prisão.

Conforme a tradição, o Evangelista Lucas, que visitava várias cidades, pregando o Evangelho, levou consigo da Sebaste uma parte da relíquia do grande profeta — a sua mão direita. No ano 959, quando os maometanos conquistaram a Antioquia, (durante o reinado do imperador Constantino Porfirogenito), o diácono Jó trasladou a mão do Precursor da Antioquia para a Calcedonia, de onde ela foi levada para a Constantinopla e onde ela foi guardada até a tomada da cidade pelos turcos. Depois, a mão direita do são João Batista foi guardada em São Petersburgo, na igreja de Nosso Senhor Aquiropita, no Palácio de Inverno.

A santa cabeça do são João Batista foi encontrada por uma mulher piedosa, Joana, e sepultada numa urna no monte das Oliveiras. Mais tarde, um asceta que estava cavando o solo, preparando o lugar para alicerces de uma nova igreja, achou a relíquia e a guardou consigo. Antes da sua morte, temendo a profanação por parte dos ímpios, ocultou-a na terra no mesmo lugar onde ela foi achada. Durante o reinado do imperador Constantino Grande, dois monges vieram para Jerusalém, para orar no Santo Sepulcro. São João Batista apareceu a um deles em sonho indicando, onde estava enterrada a sua cabeça. A partir desta data, os cristãos começaram a festejar o Primeiro Achado da cabeça do São João Batista.

Foi sobre o João Batista que Jesus disse: "Entre os nascidos de mulher não existe profeta nenhum maior do que João Batista." João Batista é glorificado pela Igreja como "um anjo, apóstolo, mártir, profeta, círio e amigo de Cristo, o selo dos profetas e intercessor da velha e nova graça, e entre os nascidos, a mais venerável e luminosa voz do Verbo."

 

Tropário:

Na louvada memória do justo, tu, Precursor, és o testemunho do Senhor: foste de verdade mais venerável do que os profetas, pois recebeste a honra de batizar Messias nas águas do rio; sofreste com alegria pela verdade, anunciaste àqueles que estavam ainda no inferno a vinda de Deus feito Homem, Que redime os pecados do mundo e nos dá a grande graça.

 

 

Santa Mártir Leonida.

8 de julho (25 de junho de est. velho).

Sabemos muito pouco sobre o martírio e a morte da madre Leonida e das outras freiras, junto com ela martirizadas. No ano de 310 a madre Leonida foi decapitada, a madre Livia queimada vida e a santa Eutropia faleceu durante a tortura.

 

Tropário:

Senhor, a Tua cordeira Leonida está clamando: a Ti, meu Esposo, amo, e a Ti procurando, estou sofrendo, me crucificando e me sepultando no Teu batismo, por Ti estou sofrendo para viver junto Contigo, portanto, receba-me como uma oblação imaculada, pois foi com grande amor que me sacrifiquei por Ti. Por orações dela, salve as nossas almas, ó Misericordioso.

 

 

Santo Apóstolo Pedro.

12 de julho (29 de junho no estilo velho).

O apóstolo Pedro, cujo nome antes do encontro com o Nosso Senhor, era Simão, era filho de um pescador, Jonas, da Betsaida de Galiléia, e irmão do apóstolo André, o Primeiro Chamado, o qual o levou até Cristo. São Pedro era casado e tinha a sua casa em Cafarnaum. Ele foi chamado pelo Cristo durante o seu trabalho de pescaria no lago de Genezaré, e sempre demonstrava uma grande lealdade e decisão de seguir o Mestre, pelo que foi agraciado por uma proximidade especial ao Mestre, junto com os apóstolos Tiago e João Teólogo.

Ele era forte de espírito e apaixonado e logicamente ocupou um lugar de destaque entre os apóstolos de Cristo. Ele foi o primeiro a reconhecer o Nosso Senhor Jesus Cristo como o Messias e por isto recebeu o nome de Pedra — Pedro. Nosso Senhor prometeu fundar a Sua Igreja sobre a pedra da fé do Pedro, e as portas do inferno não a vencerão.

O apóstolo Pedro renegou três vezes Jesus, mas esta sua renegação ele lavou com as lágrimas de arrependimento, e graças a este seu arrependimento, Nosso Senhor, após a Sua ressurreição o reintegrou três vezes na dignidade apostólica, em conformidade com as três vezes de sua renegação, confiando-lhe os cuidados do Seu rebanho. Conforme a tradição, toda manhã, ao ouvir o cantar do galo, o apóstolo Pedro se lembrava da sua covarde renegação, chorando amargamente.

O apóstolo Pedro foi o primeiro a ajudar à propagação e fundação da Santa Igreja, depois da descida do Espírito Santo. No dia de Pentecostes ele proferiu um sermão tão convincente, que 3 000 pessoas se converteram para o cristianismo. Um pouco mais tarde, ele curou um paralítico de nascença, e proferindo o seu segundo sermão, levou outras 5 000 pessoas ao Cristo. A sua força espiritual era tão grande, que até a sua sombra, que caía sobre os doentes, os curava (Atos 5:15). O livro dos Atos, nos capítulos 1-12, conta sobre a sua atividade apostólica.

O neto do Hérodes Grande, Hérodes Agripa Primeiro, começou a perseguir os cristãos no ano de 42. Ele mandou matar o apóstolo Tiago Zebedeu e mandou aprisionar o apóstolo Pedro. Os cristãos, prevendo a morte do apóstolo, rezaram fervorosamente por ele. À noite aconteceu o milagre: um Anjo mandado do Céu entrou na prisão do Pedro, as correntes se abriram e ele saiu da prisão sem nenhum obstáculo. Após este milagre, temos só mais uma menção sobre o apóstolo Pedro no livro dos Atos, no relato sobre o Concílio dos Apóstolos.

É somente da tradição que sabemos mais sobre ele. Sabemos, que ele pregava o Evangelho nas margens do mar Mediterrâneo, na Antioquia (onde ordenou bispo Evodio). O apóstolo Pedro pregava na Ásia Menor aos judeus e aos prosélitas (gentios, convertidos para o judaísmo), depois — no Egito, onde ordenou Marcos como o primeiro bispo da Igreja de Alexandria. De lá ele passou para a Grécia (Aquaia) e pregou no Corinto, depois foi para a Roma, Espanha, Cartago e Bretanha. Conforme a tradição, o apóstolo Marcos escreveu o seu Evangelho, ditado pelo apóstolo Pedro, para os cristãos romanos. As Escrituras Sagradas do Novo Testamento contêm duas epístolas do apóstolo Pedro.

A sua primeira epístola é dirigida aos "que peregrinam, dispersos no Ponto, na Galácia, na Ásia e na Bitínia" — províncias da Ásia Menor. O apóstolo visava a fortalecer os irmãos quando surgem mal-entendidos nas comunidades, e durante as perseguições por parte dos inimigos de Cristo. Naquela época também surgiram inimigos internos, hereges e gnósticos. Valendo-se da ausência do apóstolo, eles começaram a deturpar os seus ensinamentos sobre a liberdade cristã e proteger toda e qualquer imoralidade.

A Segunda epístola é dirigida aos mesmos cristãos da Ásia Menor. Nesta epístola o apóstolo adverte enfaticamente dos gnósticos imorais. Estes gnósticos são muito parecidos com aqueles acusados pelo apóstolo Paulo nas suas epístolas ao Timóteo e Tito, e pelo apóstolo Tiago — na sua epístola. Estes ensinamentos corruptos ameaçavam a fé e a integridade dos cristãos. Foi naquela época que começaram a se espalhar os ensinamentos gnósticos, heresias, que ajuntaram diversos elementos de judaísmo, cristianismo e paganismo. Esta epístola foi escrita um pouco antes da morte do apóstolo Pedro: "Sei, que dentro em breve devo deixar este meu corpo, conforme O Nosso Senhor Jesus Cristo me revelou."

No fim da vida, o apóstolo Pedro veio para a Roma, onde, no ano de 67, foi crucificado de cabeça para baixo. Este acontecimento é descrito no romance "Quo Vadis," de Henryk Sienkiewicz.

 

 

Santo Apóstolo Paulo.

12 de julho (29 de junho no estilo velho).

São Paulo, cujo nome hebreu inicialmente era de Saulo, pertencia à tribo de Benjamim e nasceu na cidade de Tarso, na Cilicia, na Ásia Menor. Esta cidade era famosa por sua academia grega e por instrução de seus habitantes. Paulo tinha todos os direitos de um cidadão romano, porque era natural de Tarso e descendia dos judeus que eram libertados da escravidão dos cidadãos romanos. Primeiro, Paulo foi educado em Tarso e provavelmente lá também conheceu a cultura pagã, pois nos seus discursos e suas epístolas temos uma clara evidencia do seu conhecimento dos escritores pagãos.

A instrução seguinte ele recebeu em Jerusalém, que naquela época era famosa por sua academia do mestre Hamaliel, um profundo conhecedor das Leis e Escrituras e que, mesmo pertencente ao partido dos fariseus, era uma pessoa livre de preconceitos e amador da cultura grega. E foi aqui, que o jovem Saulo aprendeu a fazer as barracas, o que lhe ajudou a ganhar dinheiro para a sua própria sustentação.

O jovem Saulo provavelmente se preparava para ser um rabino e por isso, logo após o término de seus estudos, ele se mostrou como um forte defensor das tradições fariséias e perseguidor dos cristãos. Pode ser que ele foi até designado por sinédrio a ser testemunha da morte do primeiro mártir Estevão e depois foi oficialmente incumbido de perseguir os cristãos até fora da Palestina e Damasco.

Nosso Senhor o escolheu como o "Seu instrumento preferido" e no caminho para o Damasco o chamou. Durante a sua viagem para o Damasco, Saulo foi iluminado por uma luz muito brilhante, por causa da qual ele ficou cego e caiu no chão. Uma voz da luz disse: "Saulo, Saulo, porque Me persegues?" Saulo perguntou: "Quem És?" — Jesus respondeu: "Eu sou Jesus, a Quem persegues." Nosso Senhor mandou Saulo ir até o Damasco, onde ele iria receber as instruções, o que fazer. Os companheiros do Saulo ouviram a voz de Cristo, porém não viram a luz. O cego Saulo foi conduzido até Damasco, onde recebeu os ensinamentos cristãos e no terceiro dia foi batizado por Ananias. Durante o batismo, no momento da imersão na água, Saulo recuperou a visão. Desde aquele momento ele se transformou no fervoroso missionário do cristianismo, que antes ele perseguia. Ele viajou para a Arábia, onde ficou durante um certo tempo, e depois voltou para Damasco, para difundir a fé cristã.

Os judeus ficaram furiosos com a sua conversão para o cristianismo e por isso ele fugiu para Jerusalém, onde se juntou a um grupo de cristãos e conheceu os apóstolos. Após um atentado à sua vida por parte de judeus, ele voltou para a sua cidade natal, Tarso. No ano de 43, Barnabé chamou ele para a Antioquia para ajudar na propagação do cristianismo e depois viajou junto com ele para Jerusalém para onde trouxe ajuda aos necessitados.

Logo, após a volta de Jerusalém — por ordem do Espírito Santo — Saulo junto com Barnabé empreenderam a sua primeira viagem apostólica, que durou de 45 até 51. Os apóstolos viajaram por toda a ilha de Chipre e desde então, quando Saulo converteu o procônsul Sergio Paulo, Saulo começa a ser chamado de Paulo. Durante estas suas viagens missionárias Paulo e Barnabé fundaram núcleos cristãos nas cidades da Ásia Menor: Antioquia Pissidiaca, Iconia, Listra e Derbia. No ano de 51 são Paulo participou do Concílio dos Apóstolos em Jerusalém, onde era contra a necessidade por parte dos gentios manter os rituais da lei Mosaica.

Após o seu retorno à Antioquia, o apóstolo Paulo, na companhia de Silas, empreendeu a sua segunda viagem apostólica. Primeiro, ele visitou todas as igrejas fundadas por ele na Ásia Menor e depois foi até a Macedonia, fundando comunidades em Filipas, Tessalonica e Beria. Em Listra ele adquiriu o seu discípulo preferido, Timóteo, e da Troada, ele continuou a sua viagem junto com o apóstolo Lucas, que se juntou a ele. Da Macedonia, são Paulo passou para a Grécia, onde pregava em Atenas e Corinto. Em Corinto, ele ficou por um ano e meio e de lá mandou duas epístolas aos Tessalonicenses. A sua segunda viagem durou do ano de 51 até 54. Depois são Paulo viajou para Jerusalém, visitando no caminho Efésio e Cesaréia e depois, de Jerusalém, foi para a Antioquia.

Após uma curta permanência em Antioquia, o apóstolo Paulo empreendeu a sua terceira viagem apostólica (anos 56-58), visitando primeiro, como de costume, as igrejas fundadas anteriormente na Ásia Menor. Depois ele ficou em Efésio, onde durante 2 anos pregava diariamente na escola de Tiranna. Foi de lá que ele escreveu a sua segunda epístola aos Galatas (por causa do partido dos judaistas, que lá estava se propagando rapidamente), e sua primeira epístola aos Coríntios (por causa das desordens de lá e também como uma resposta à carta deles). Por causa da revolta do povo, desencadeada pelo ourives Demétrio contra o apóstolo, são Paulo saiu do Efésio e foi para a Macedonia, e depois para Jerusalém.

Em Jerusalém houve uma revolta do povo contra o apóstolo e por causa disso, ele foi encarcerado, primeiro durante a gestão do procônsul Felix, e depois durante a gestão do procônsul Festo. Isto aconteceu no ano de 59, e dois anos mais tarde, de acordo com o desejo do apóstolo, são Paulo, que era um cidadão romano, era mandado para o julgamento do imperador romano. Após um naufrágio perto da ilha de Malta, o apóstolo chegou a Roma somente no ano de 62 e lá ele gozava de muita condescendência por parte das autoridades romanas e pregava livremente. Foi de Roma que ele mandou as suas epistolas para Filipenses (agradecendo ao mesmo tempo pela ajuda material, enviada a ele, a qual foi trazida por Epafroditas), aos Colossenses, aos Efésios e ao Filémon, habitante de Colosso (por causa do servo dele, Onisimo, que havia fugido). Todas estas três epístolas eram escritas no ano de 63 e enviadas com Tikhico. E foi também da Roma que logo foi escrita a epístola aos hebreus na Palestina.

Ninguém sabe ao certo o que aconteceu depois com o apóstolo Paulo. Alguns acham, que ele ficou em Roma e por ordem do imperador Nero foi martirizado no ano de 64. Mas, também é provável, que após o seu encarceramento, que durou dois anos, e após a defesa da sua atividade missionária ante o senado e o imperador, o apóstolo Paulo foi absolvido e viajou de novo para o Oriente. Podemos achar indícios desta hipótese nas suas epístolas Timóteo e ao Tito. Após a sua longa permanência na ilha de Creta, ele deixou lá o seu discípulo Tito para ordenação dos padres em todas as cidades, o que significa, que Tito foi ordenado bispo da igreja de Creta. Mais tarde, em sua epístola, o apóstolo ensina ao Tito quais são os deveres dos bispos. Desta mesma epístola podemos concluir que ele pretendia passar o inverno na cidade de Nicópolis, perto da sua cidade natal de Tarso.

Na primavera do ano de 65 ele visitou outras igrejas da Ásia Menor e em Melita deixou o doente Trofim, por causa do qual houve o tumulto contra o apóstolo Paulo em Jerusalém, que teve como conseqüência a sua primeira prisão. Não se sabe, se o apóstolo passou pelo Êfeso, pois ele havia dito, que os efésios não o veriam mais; porém, ao que parece, ele ordenou Timóteo bispo para a igreja de Êfeso. Depois, o apóstolo passou pela Tróade, chegando até a Macedonia. Lá ele ficou sabendo sobre os primeiros ensinamentos heréticos em Êfeso e escreveu a sua primeira epístola ao Timóteo. Ele ficou durante um certo tempo em Corinto e no caminho se encontrou com o apóstolo Pedro. Junto os dois continuaram a sua viagem através a Dalmácia e Itália, e chegaram até a Roma. Lá eles se separaram, ficando o apóstolo Pedro em Roma. No ano de 66, o apóstolo Paulo viajou sozinho para ocidente, chegando, provavelmente, até a Espanha.

Após a sua volta para a Roma, ele foi novamente jogado na prisão, onde ele ficou até a sua morte. Uma tradição diz, que após a sua volta para a Roma ele pregava até na corte do imperador Nero e converteu a sua concubina predileta. Por isto ele foi novamente julgado, mas conforme as suas próprias palavras, pela misericórdia de Deus foi livrado dos dentes do leão na arena do circo; porém, foi novamente jogado na prisão.

Após nove meses de prisão, no ano de 67, ele, sendo um cidadão romano, foi decapitado perto de Roma. Isto se deu no 12o ano do reinado de Nero.

Analisando a vida do apóstolo Paulo, podemos notar que ela se divide em duas etapas distintas. Até a sua conversão, o apóstolo Paulo, então Saulo, era um rigoroso fariseu, cumprindo a lei mosaica e ele tinha convicção de que seria justificado pelas suas obras de lei e sua fé fervorosa, que beirava o fanatismo. Após a sua conversão ele se transformou no apóstolo de Cristo que se entregou totalmente à divulgação do Evangelho e era completamente feliz com isto. Ao mesmo tempo, ele se dava a conta de que ele por si só era impotente para cumprir esta missão e atribuiu todo o seu trabalho e mérito à Graça de Deus. Ele tinha absoluta certeza de que toda a sua vida antes da sua conversão era um enorme erro, pecado, e o conduzia à condenação. Somente a toda poderosa Graça de Deus o levou para o caminho da salvação. A partir daquele momento, tudo o que apóstolo Paulo quer, é ser digno deste chamamento Divino. Ele sabe perfeitamente, que não existe — e nem poderá existir — nenhum mérito perante Deus: tudo é graça de Deus.

O apóstolo Paulo escreveu 14 epístolas, que resumem os ensinamentos cristãos. Estas epístolas, graças à sua grande erudição e perspicácia, se destacam por sua originalidade.

Ambos os apóstolos, Pedro e Paulo, se empenharam muito na divulgação do cristianismo e é justo, que eles são denominados "os pilares" da Igreja e considerados como apóstolos supremos.

Que Deus salve nossas almas pelas orações dos apóstolos Pedro e Paulo!

Tropário aos Apóstolos Pedro e Paulo:

Apóstolos supremos e doutores do mundo, roguem ao Nosso Senhor que Ele dê a paz ao mundo e uma grande graça a nossas almas.

 

 

Veja na primeira edição do livro sobre a vida dos santos o significado da santidade, na segunda edição — os mártires por Cristo, na terceira — sobre a vida monástica e ascese, e na quinta — sobre os desvairados por causa do Cristo.

 

Os nomes dos santos por ordem alfabética se encontram no final da primeira edição.

 

Folheto Missionário número PA3

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Redator: Bispo Alexandre Mileant

 

(saints_3_p.doc, 05-17-2002)

 

 

 

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Folheto Missionário no. A-3

Edição da Igreja da Proteção de Nossa Senhora

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Redator: Bispo Alexandre Mileant